Capítulo 6

Mavie Neumann

Em desespero, envolvi minhas mãos no tecido da roupa da pessoa que estava ali me sacudindo a segundos atrás e sussurrei em meio aos soluços.

— Por favor… O meu pai.

Fechei meus olhos sentindo a névoa do sono e confusão ainda se dissolvendo conforme a realidade e desespero ainda estavam fazendo pagassem pelo meu cérebro.

— Me diga que ele está bem, eu imploro.

Me encolhi sentindo as lágrimas descerem pelas minhas bochechas livremente enquanto eu fechava com força meus olhos, para que quando eu os abrisse, pudesse enxergar sem vestígios de sono e confusão a expressão daquela pessoa, mas quando abri meus olhos, para meu espanto, quem estava ali comigo, era o Ghost. 

Seus olhos estavam brilhando enquanto me encarava como um falcão. Sua expressão estava impenetrável, exceto pelo brilho fixo de suas íris escuras.

Seus lábios numa linha firme e fixa se separaram de repente, quando ele levou suas duas mãos e envolveu meus pulsos e disse.

— Você teve um pesadelo, Florzinha?

Naquele momento, seu tom de voz estava neutro enquanto sua expressão estava impassível. Enquanto minha atenção estava totalmente em seu rosto, virei o rosto e então percebi que ele estava sentado no colchão ao meu lado. Olhando-o mais uma vez, pude ver que ele estava usando sua habitual roupa preta, porém, sem o coldre de couro, e as mangas estavam enroladas até seus cotovelos. O que para minha surpresa, acabou recebendo uma atenção maior, pois sua pele exposta era branca e coberta por tatuagens. Consegui identificar uma cobra envolta ao seu próprio corpo, uma aranha, um rosto estranho e uma borboleta.

— Responda a minha pergunta, Mavie.

Minha atenção voltou para a expressão do Ghost, que estava me analisando com aquela mesma expressão de segundos atrás e soltando meus pulsos, ele prossegue.

— É muito feio quando as pessoas perguntam algo e não recebem resposta.

Engolindo em seco, pisquei algumas vezes, incrédula por ser repreendida por ele. Justamente por ele. A pessoa cujo, me mantém em cárcere a dias em uma mansão que eu desconheço, onde só tenho permissão para vegetar no quarto. 

— Eu… 

Gaguejei enquanto me acomodava no colchão e respondi.

— Você não acha que é fora de contexto você cobrar educação e respeito de mim?

Eu me arrependi quando soltei a última palavra, pois a expressão neutra que estava esse tempo todo no seu rosto foi substituída rapidamente pela diversão e sorrindo de lado, ele enfiou as mãos em seus bolsos e respondeu enquanto fixava sua atenção em meu rosto mais uma vez.

— Acho que você esqueceu quem manda aqui, não é?

Ele fez um gesto negativo com a cabeça enquanto franzia a testa e prosseguiu ao virar suas costas para mim.

— Deveria ter deixado você no meio do seu pesadelo para saber o quão alto poderia gritar.

Nesse instante, engoli em seco, quando vi pela primeira vez uma expressão que parecia combinar com sua idade. Eu acredito que esse homem que se diverte com meu medo esteja beirando aos seus 24 anos. Ghost se aproximou devagar e continou.

— Porém, acho que você gritando acordada e lúcida é muito mais interessante.

Sua sobrancelha direita se arqueou e desafio enquanto sua língua passava lentamente pelos seus dentes em meio a um sorriso e nervosa, engoli em seco e murmurei.

— Por que você tem essa necessidade de brincar com as pessoas?

Ele de repente se apoiou na cômoda e cruzou os braços, com um sorriso, respondeu.

— É isso que eu faço. 

Seus olhos estavam fixos em mim quando ele se afastou da cômoda e veio andando em minha direção lentamente, e engolindo em seco, vejo que ele está jogando comigo.

—  É isso que eu sou, Florzinha.

Ele parou a menos de um metro de distância e concluiu.

— Eu brinco com os pesadelos dos meus escolhidos.

Neguei com a cabeça e respondi.

— Não acredito nisso.

Ele sorriu de lado e falou.

— E por que ? Não viu o suficiente?

Eu neguei com a cabeça e continuei encarando-o quando respondi.

— Se você fosse tão ruim desse jeito que diz, você não teria se importado com meus gritos de desespero.

Nesse momento, vi o brilho da diversão sumir do seu rosto e uma carranca tomou toda a sua face. Seus olhos que antes brilhavam fortemente, dessa vez pareciam sem vida quando ele disse.

— Aqui vai a prova de que sou exatamente o que falei.

Ele se curvou quando veio em minha direção e a cada vez que eu me afastava e me encolhia da sua aproximação, mais ele avançava e quando fiquei presa entre a parede e ele, fechei meus olhos quando o arrepio percorreu meu corpo inteiro, pois seu perfume invadiu meu campo olfativo mas fiquei completamente sem ar quando ele disse.

— Eu matei o seu pai.

Nesse momento abri meus olhos e as lágrimas já se formaram, nublando totalmente a minha visão. Meu coração bombeava fortemente em meu peito e só piorou quando ele falou.

— E se você acha que me conhece, está totalmente errada.

Naquele momento, nem percebi quando ele havia saído do quarto. Estava totalmente entorpecida com a notícia que havia recebido, ou melhor, a confirmação do meu sonho.

Eles haviam matado o meu pai. Ele matou meu pai.

Em meio às lágrimas, meu desespero foi crescendo em meu peito à medida que a realidade recaia sobre mim. Um homem que nunca me machucou de repente confessa que tirou a vida de uma pessoa que amo só porque eu o irritei.

Se isso não é ruim, então eu não sei de mais nada.

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