Mavie Neumann
Em desespero, envolvi minhas mãos no tecido da roupa da pessoa que estava ali me sacudindo a segundos atrás e sussurrei em meio aos soluços.
— Por favor… O meu pai.
Fechei meus olhos sentindo a névoa do sono e confusão ainda se dissolvendo conforme a realidade e desespero ainda estavam fazendo pagassem pelo meu cérebro.
— Me diga que ele está bem, eu imploro.
Me encolhi sentindo as lágrimas descerem pelas minhas bochechas livremente enquanto eu fechava com força meus olhos, para que quando eu os abrisse, pudesse enxergar sem vestígios de sono e confusão a expressão daquela pessoa, mas quando abri meus olhos, para meu espanto, quem estava ali comigo, era o Ghost.
Seus olhos estavam brilhando enquanto me encarava como um falcão. Sua expressão estava impenetrável, exceto pelo brilho fixo de suas íris escuras.
Seus lábios numa linha firme e fixa se separaram de repente, quando ele levou suas duas mãos e envolveu meus pulsos e disse.
— Você teve um pesadelo, Florzinha?
Naquele momento, seu tom de voz estava neutro enquanto sua expressão estava impassível. Enquanto minha atenção estava totalmente em seu rosto, virei o rosto e então percebi que ele estava sentado no colchão ao meu lado. Olhando-o mais uma vez, pude ver que ele estava usando sua habitual roupa preta, porém, sem o coldre de couro, e as mangas estavam enroladas até seus cotovelos. O que para minha surpresa, acabou recebendo uma atenção maior, pois sua pele exposta era branca e coberta por tatuagens. Consegui identificar uma cobra envolta ao seu próprio corpo, uma aranha, um rosto estranho e uma borboleta.
— Responda a minha pergunta, Mavie.
Minha atenção voltou para a expressão do Ghost, que estava me analisando com aquela mesma expressão de segundos atrás e soltando meus pulsos, ele prossegue.
— É muito feio quando as pessoas perguntam algo e não recebem resposta.
Engolindo em seco, pisquei algumas vezes, incrédula por ser repreendida por ele. Justamente por ele. A pessoa cujo, me mantém em cárcere a dias em uma mansão que eu desconheço, onde só tenho permissão para vegetar no quarto.
— Eu…
Gaguejei enquanto me acomodava no colchão e respondi.
— Você não acha que é fora de contexto você cobrar educação e respeito de mim?
Eu me arrependi quando soltei a última palavra, pois a expressão neutra que estava esse tempo todo no seu rosto foi substituída rapidamente pela diversão e sorrindo de lado, ele enfiou as mãos em seus bolsos e respondeu enquanto fixava sua atenção em meu rosto mais uma vez.
— Acho que você esqueceu quem manda aqui, não é?
Ele fez um gesto negativo com a cabeça enquanto franzia a testa e prosseguiu ao virar suas costas para mim.
— Deveria ter deixado você no meio do seu pesadelo para saber o quão alto poderia gritar.
Nesse instante, engoli em seco, quando vi pela primeira vez uma expressão que parecia combinar com sua idade. Eu acredito que esse homem que se diverte com meu medo esteja beirando aos seus 24 anos. Ghost se aproximou devagar e continou.
— Porém, acho que você gritando acordada e lúcida é muito mais interessante.
Sua sobrancelha direita se arqueou e desafio enquanto sua língua passava lentamente pelos seus dentes em meio a um sorriso e nervosa, engoli em seco e murmurei.
— Por que você tem essa necessidade de brincar com as pessoas?
Ele de repente se apoiou na cômoda e cruzou os braços, com um sorriso, respondeu.
— É isso que eu faço.
Seus olhos estavam fixos em mim quando ele se afastou da cômoda e veio andando em minha direção lentamente, e engolindo em seco, vejo que ele está jogando comigo.
— É isso que eu sou, Florzinha.
Ele parou a menos de um metro de distância e concluiu.
— Eu brinco com os pesadelos dos meus escolhidos.
Neguei com a cabeça e respondi.
— Não acredito nisso.
Ele sorriu de lado e falou.
— E por que ? Não viu o suficiente?
Eu neguei com a cabeça e continuei encarando-o quando respondi.
— Se você fosse tão ruim desse jeito que diz, você não teria se importado com meus gritos de desespero.
Nesse momento, vi o brilho da diversão sumir do seu rosto e uma carranca tomou toda a sua face. Seus olhos que antes brilhavam fortemente, dessa vez pareciam sem vida quando ele disse.
— Aqui vai a prova de que sou exatamente o que falei.
Ele se curvou quando veio em minha direção e a cada vez que eu me afastava e me encolhia da sua aproximação, mais ele avançava e quando fiquei presa entre a parede e ele, fechei meus olhos quando o arrepio percorreu meu corpo inteiro, pois seu perfume invadiu meu campo olfativo mas fiquei completamente sem ar quando ele disse.
— Eu matei o seu pai.
Nesse momento abri meus olhos e as lágrimas já se formaram, nublando totalmente a minha visão. Meu coração bombeava fortemente em meu peito e só piorou quando ele falou.
— E se você acha que me conhece, está totalmente errada.
Naquele momento, nem percebi quando ele havia saído do quarto. Estava totalmente entorpecida com a notícia que havia recebido, ou melhor, a confirmação do meu sonho.
Eles haviam matado o meu pai. Ele matou meu pai.
Em meio às lágrimas, meu desespero foi crescendo em meu peito à medida que a realidade recaia sobre mim. Um homem que nunca me machucou de repente confessa que tirou a vida de uma pessoa que amo só porque eu o irritei.
Se isso não é ruim, então eu não sei de mais nada.
Mavie NeumannDa janela reforçada com barras de ferro, acompanho os dias passando lenta e dolorosamente. A cada dia que passa, vejo minha alegria e vontade de viver indo ralo abaixo. Não consigo dormir por causa dos pesadelos, e não consigo comer pelo medo de eles me doparem e assim causar algum dano físico. Pode ser paranóia, mas não consigo confiar. Soa tudo tão mal e errado, que prefiro me privar de comida e descansos longos, já que em meus sonhos só aparecem gritos, correntes e sangue.Sentada na poltrona, observo o céu noturno e totalmente úmido lá fora. Hoje choveu o dia inteiro, e assim como o dia estava péssimo, o meu humor estava igual. Me sinto cansada, fraca e dolorida, entretanto, prometi a mim mesma que iria lutar até minhas últimas forças, e não vou me entregar, pois sei que serei resgatada. Meu pai havia me garantido isso.De repente, me lembrei da nossa última conversa antes de ele me empurrar para aquele lugar solitário e secreto.“Nunca na minha vida vou poder pagar
Mavie NeumanA expressão dele mudou mais uma vez. Seus olhos fixaram nos meus enquanto me analisava e eu continuei. — Antes eu estava no meu quarto, lendo meus romances e assistindo meus filmes clichês quando de repente, meu pai me colocou em uma passagem secreta e disse que eu deveria fugir e que em breve eu seria resgatada.A cabeça do homem pendeu incrédula para o lado e ele perguntou com a testa franzida. — Você está falando sério?Eu apenas o encarei e confirmei com um gesto, quando ele de repente começou a rir e disse bem humorado. — Sério que você gosta de romance e assiste clichês?Ele soltou uma gargalhada que de repente me fez sentir vergonha por ter falado algo tão tolo e íntimo para um homem como ele e prossegui na defensiva. — Eu não sei fazer outra coisa.Enxugando as lágrimas dos olhos, ele diz. — Então quer dizer que você caiu de paraquedas na realidade? Ele mudou sua expressão rapidamente, enquanto me analisava fixamente, e se aproximando de mim, recuei alguns p
Vincent BlakeDescobrimos a poucos dias que Mavie de fato desconhecia a verdadeira face do homem que a criava. Quando descobriram a morte de Saymon Neumann, logo entramos em uma delicada situação, pois Saymon Neumann era uma pessoa influente na nossa máfia, mas também guardava um segredo muito importante da máfia inimiga, e por isso, estão tentando nos atingir de todos os lados, pois eu possuo o tesouro que eles tanto querem, mas a questão é que não sabemos o que irão fazer caso coloquem suas mãos sujas nesse tesouro.Óbvio, eu amo a sensação de ter algo que os inimigos desejam. É muito gratificante a sensação de poder, e saber que somos os melhores, só deixa a situação mais satisfatória, pois ninguém irá levá-la de mim, e ainda assim, podemos desfrutar de bons e agradáveis momentos no calabouço, pois estão tentando capturar a garota e desse jeito, a minha diversão nunca acaba. Depois de mais um dia longo de trabalho, voltei para minha mansão e soube que Mavie não está se alimentando
Vincent BlakeMe inclinando em sua direção, levei minhas mãos em seu joelho ferido e o apertei entre meus dedos, aumentando a força à medida que ele gritava em desespero. — Você vai se arrepender por ser mal educado com desconhecidos, especialmente um desconhecido como eu.Cuspindo mais uma vez, ele falou cerrando os dentes pela dor. Suor brotava pelos seus poros, assim como seu medo. — Você vai morrer de uma forma ou de outra…Nesse momento eu confirmei em um gesto e respondi. — Sim, e por isso, quero os piores ao meu lado.Nesse momento segurei seu joelho com uma mão e enfiei meu dedo indicador em sua ferida que sangrava muito.Meu dedo entrou em sua carne profundamente. Aos berros, seus dedos apertaram meu braço com força na tentativa e parar a minha exploração,mas afastando-o, eu continuei. — Veremos se você não vai abrir a boca para falar o que preciso.Comecei a mexer em sua carne com meu dedo, a cada grito, fui invadindo ainda mais a sua pele, aprofundando meu dedo através d
Vincent BlakeEu fui até o painel de controle da porta e cliquei em alguns botões, liberando o código de acesso das armas, quando Mavie murmurou. — O que é Lamborghini?Sacudindo a cabeça, ergui as mãos e resmunguei. — Como assim você não conhece uma Lamborghini?Ela deu de ombros e ficou em silêncio como se fosse óbvio e pegando algumas pistolas e adagas, eu murmurei. — O carro plotado em preto fosco. Me aproximei do carro e abri a porta, deixando Mavie entrar primeiro, em seguida, coloquei as armas aos seus pés e murmurei. — Não se preocupe, nem uma está engatilhada.Ela engoliu em seco quando colocou o cinto de segurança, e fechando a porta, eu dei a volta e me acomodei em meu banco, enquanto a porta da garagem era aberta, eu colóquio meu cinto, e alguns segundos já foi possível ver que a entrada estava cercada, mas como eu quebro regras, simplesmente dei a ré, pegando a todos que estavam pelo caminho desprevenidos.Alguns conseguiram escapar, mas outros não tiveram a mesma ch
Mavie NeumannQuando acordei, estava sozinha dentro do carro enquanto as armas estavam todas sob meus pés e me encolhendo, olhei a volta a procura do Ghost e de longe consegui ver alguém andando em direção ao nosso carro.Droga.Cadê ele?Me encolhi no assento na tentativa de me esconder, quando de repente alguém destravou a porta do carro e a abriu e ergui os braços para me proteger quando ouço Vincent murmurar. — Acordou, Florzinha, finalmente.Fechando os olhos, soltei o ar pelo alívio de vê-lo e perguntei. — Como você me deixa sozinha desse jeito?Arqueando a sobrancelha, Ghost se acomodou em seu assento e respondeu travando as portas. Todo o painel estava desligado, então estávamos no escuro total. — Não deixei você sozinha, Mavie. Estava ali fora esperando você acordar.Eu desviei a atenção do seu rosto depois de ouvir a sua e resposta e perguntei. — O que vamos fazer agora?Ele encostou sua cabeça no banco e fechou os olhos enquanto respirava fundo, foi possível ver o momen
Mavie NeumannIsso não soa normal.Na verdade, não deveria nem sentir essas coisas depois de ele mesmo confessar que havia matado meu pai. O único espelho de família que tive em toda a minha vida. Meu pai.De repente, senti meu peito se apertar ao lembrar do dia em que Ghost disse propositalmente que havia matado meu pai e de repente aquele conflito de sentimentos se desfez, deixando apenas a mágoa, raiva e dor se infiltrar em meu peito, criando um bolo amargo e pesado em minha garganta. Algo muito difícil de ser engolido.Lágrimas já rolavam pelas minhas bochechas quando lembrei de algo que sempre guardei com muito carinho em meu coração.Eu e meu pai estávamos sentados juntos em um banco no meio da nossa estufa. Era primavera e as flores estavam florescendo lindamente. Tinha rosas vermelhas, orquídeas, Lírios de Calla e Camomila que eram as minhas preferidas.Ele disse que as cultivava por que minha mãe sempre foi apaixonada por flores, e que elas eram da mesma origem da minha mãe,
Vincent Blake Observei Mavie subir a escadaria em uma velocidade menor a que ela veio. Algo motivou essa garota a vir até aqui, e obviamente tem haver com os livros que comprei. Nos últimos dias, está sendo surreal de insuportável passar esse tempo perto dela depois daquela discussão. Pensei que estávamos bem, mas tudo desmoronou quando ela entrou no banheiro, e por incrível que pareça, isso está me irritando. Mexeu diretamente em meu humor diário, pois prefiro ficar o dia inteiro dentro desse carro ao invés de ficar ignorando e sendo ignorado. Soltando o ar com força, comecei a andar em direção ao quarto quando meu celular começou a vibrar em meu bolso, olhando para a tela, vejo que Liam está me ligando depois de longos dias solitários nessa merda de cidade dos infernos. — Vincent, já está tudo pronto para a viagem de vocês amanhã. Comprimindo o lábio, engoli em seco e respondi satisfeito. — Certo, me mande as coordenadas.Encerrei a ligação e enfiei o celular em meu bolso enqua