Capítulo 5

Me aproximando da garota, eu a puxei pelos braços, e andamos em direção a mesa, e murmurei.

— Por que será que eu não consigo acreditar em você?

Eu a empurrei para cima da mesa, deixando-a curvada diante de mim e prendendo seu pequeno rosto entre minha mão e a madeira, murmurei num tom de voz baixo.

— Será que você precisa ser lembrada que está correndo risco de ser destruída lentamente e dolorosamente aqui dentro?

Eu me aproximei da garota que tremia deitada de bruços em cima da madeira polida, lágrimas banhavam suas bochechas quando ela disse.

— Eu não estou mentindo.

Eu me aproximei dela, inclinando um pouco meu corpo ao chegar perto dela e senti a porra de uma tensão fluir atraves da nossa aproximação e murmurei ignorando aquilo tudo. Aquele maldito calor estava ali também.

— Eu vou destruir você, Florzinha.

Nesse momento, me afastei da garota e apaguei as luzes, e no escuro, ela se encolheu e abraçou seu próprio corpo enquanto se levantou da mesa e na intenção de apenas aterroriza-la, abri a porta do quarto em silêncio, deixando evidente apenas os sons de passos e vozes altas enquanto permiti a entrada dos soldados na sala e quando acendi a luz mais uma vez, foi possível ver o medo tomar toda a sua face. 

Empalidecendo, Mavie olhava à sua volta enquanto entrava cada vez mais homens na pequena e apertada sala.

Andando em sua direção, eu parei a um metro de distância e perguntei enquanto analisava seu rosto pálido.

— Você tem mais alguma coisa para me dizer antes de começarmos a diversão?

Ela abriu os lábios trêmulos, e negando com a cabeça, seus olhos se arregalaram quando eu me aproximei devagar, e levando meus dedos pelas suas madeixas, puxei seu rosto em minha direção e arrancando minha máscara, a olhei fixamente, admirando o medo absoluto que cintilava em seus olhos, naquele momento o ar ficou preso em minha garganta quando pareceu que estávamos sozinhos naquele lugar. A cada segundo que passava, eu me sentia preso à nossa troca de olhares.

Nunca vi um brilho de medo parecer tão cativante daquela forma.

— Por favor, eu não vou suportar mais.

Ela engoliu em seco e manteve sua atenção em meu rosto quando finalizou.

— Se for para acabar comigo, faça rápido. Me mate, Ghost.

Naquele momento o meu corpo inteiro se arrepiou diante do apelido que ela proferiu.

Engoli em seco quando me vejo satisfeito com aquele apelido em meio a uma súplica pela sua vida.

Aproximando minha boca do seu ouvido, eu respondi sentindo um cheiro de sangue, suor e um perfume misturados e por Deus, como consegui identificar isso?

Uma mistura doce e caótica.

— Ninguém aqui irá tocar em você além de mim. 

Me afastei e apertei meus dedos ainda mais em suas madeixas e murmurei a milímetros do seu ouvido.

— Já falei, você me pertence. Sua vida me pertence.

Ela engoliu em seco e estremeceu quando eu acabei soltando-a.

— Você é minha.

Ela piscou algumas vezes e engoliu em seco quando se deitou de bruços em cima da mesa, e com os olhos fechados, respirou fundo quando ela retornou para sua posição.

Olhando ela se acalmar e aceitar o seu fim, me fez pensar por um momento.

Isso está errado. 

Eu sou o causador do caos e não posso deixá-la tão calma dessa forma.

Ela está entregando sua vida por livre e espontânea vontade.

Fechando meus olhos, engoli em seco quando vi o plano fodido que surgiu em minha mente em apenas alguns segundos. Me aproximando alguns passos adiante, eu murmurei.

— Você não vai se livrar de mim hoje, Florzinha.

De repente ela abriu os olhos e franziu a testa quando eu peguei em seus pulsos e a levantei, trazendo-a diretamente para meu peito.

Quando nossos corpos se chocaram, senti um calor absurdo me tomar. Mais uma vez. É algo que não sei nem explicar por que nunca senti nada parecido em minha fodida vida.

Engolindo em seco, eu levei minha mão em seu pescoço e murmurei.

— Seus dias agora me pertencem.

*************

Mavie Neumann

Abrindo meus olhos devagar, franzi a testa em confusão quando olhei a minha volta.

Acabei de acordar em um quarto que está iluminado somente por um abajur ao lado da minha cama, meus acolchoados na cor marfim e bordados em creme se destacam lindamente em meio a fraca luz do quarto escuro.

Engolindo em seco, sentei no colchão sentindo meus olhos lacrimejarem em emoção depois do reconhecimento. Fui resgatada pelas pessoas que meu pai havia dito. Ele estava certo. Finalmente vou ficar bem depois de sentir tanto medo.

Pisquei algumas vezes para me livrar das lágrimas que embaçaram minha visão e com muito alívio no peito, rapidamente joguei minhas pernas para fora da cama, desejando levantar e agradecer as pessoas que me trouxeram para meu lar em segurança quando vejo um poço de sangue no chão. 

O cheiro  metálico de repente substitui o cheiro de limpeza e flores que antes existia aqui, e sem controle das minhas emoções, senti meu peito se apertar. Com meus olhos arregalados, tentei me afastar daquele sangue do chão porém, a cada passo de distância, cada vez mais aparecia sangue. 

Em  todo lugar que eu pisava surgia o líquido viscoso com cheiro metálico e inconfundível. Era algo que já estava memorizado em mim profundamente depois de dias tão nebulosos, agressivos e sangrentos que eu havia passado.

Apressada,  cheguei à saída do quarto e girei a maçaneta para sair daquele lugar quando a porta finalmente foi aberta num rompante e então encontrei um corpo caído no chão. 

Com as mãos trêmulas, reconheci as roupas. Um bolo se formou em minha garganta, dificultando a passagem do ar. Meu corpo estremeceu por inteiro quando o reconheci. Eram as roupas que meu pai estava usando quando me colocou naquele túnel secreto.

Meu Deus. Não. Por favor…

Cobri a boca quando a ficha foi caindo aos poucos, lágrimas já estavam rolando pelo meu rosto quando franzi os lábios em desespero e engolindo em seco, minha garganta se apertou, levei minhas mãos trêmulas diretamente para o corpo sem vida que estava diante de mim e o virando de posição para ver seu rosto, senti o desespero e a dor se intensificarem através de soluços em minha garganta. Me engasgando de um jeito dolorido e agudo.

Meu pai estava morto diante dos meus olhos. Eles realmente o mataram.

A dor que senti foi tão forte que as lágrimas romperam através dos meus olhos. Meu peito pesou com a dor que senti, e a cada segundo que eu chorava enquanto absorvia a realidade a minha frente, o meu coração acelerava em disparado, me trazendo uma sensação de descontrole total e só piorou quando senti mãos me envolverem  pelas costas em meio aos meus soluços e gritei o mais desesperada possível…

Despertei com alguém cobrindo minha boca enquanto me sacudia bruscamente sob o colchão. Ouvia meu nome ser pronunciado num tom de comando e fui puxada para a realidade.

Abrindo meus olhos, senti o peso do sonho vir à tona e as lágrimas vieram junto aos  soluços de desespero. De repente, nada do que havia acontecido comigo até então era pior do que a sensação e medo de que algo ruim tivesse acontecido com meu pai. Nada mais iria me afetar se algo de pior acontece com ele.

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