Capítulo 7

Mavie Neumann

Da janela reforçada com barras de ferro, acompanho os dias passando lenta e dolorosamente. A cada dia que passa, vejo minha alegria e vontade de viver indo ralo abaixo. Não consigo dormir por causa dos pesadelos, e não consigo comer pelo medo de eles me doparem e assim causar algum dano físico. Pode ser paranóia, mas não consigo confiar. Soa tudo tão mal e errado, que prefiro me privar de comida e descansos longos, já que em meus sonhos só aparecem gritos, correntes e sangue.

Sentada na poltrona, observo o céu noturno e totalmente úmido lá fora. Hoje choveu o dia inteiro, e assim como o dia estava péssimo, o meu humor estava igual. Me sinto cansada, fraca e dolorida, entretanto, prometi a mim mesma que iria lutar até minhas últimas forças, e não vou me entregar, pois sei que serei resgatada. Meu pai havia me garantido isso.

De repente, me lembrei da nossa última conversa antes de ele me empurrar para aquele lugar solitário e secreto.

“Nunca na minha vida vou poder pagar o que fiz.”

Fechei os olhos com força à medida que as lágrimas desciam pelos meus olhos. A dor era tão grande, que eu nem havia percebido quando cheguei no banheiro.

Abrindo a torneira, deixei o som da água preencher o silêncio daquele quarto. Minha vida não fazia mais sentido sem meu pai. Eu não sabia o que havia acontecido para ele morrer. Eu não sabia o que ele havia feito de tão grave para saber que iria morrer, pois ele havia me avisado que talvez não voltaria vivo.

Com meus pensamentos atordoados, entrei na banheira com a água fria. Minha pele ardia à medida que meu corpo era coberto pela água, e fechando meus olhos, deitei minha cabeça na beira da banheira enquanto sentia as minhas lágrimas quentes se misturam com a água fria e tudo foi ficando cada vez mais nublado e distante de mim. Meus pensamentos de repente não estavam conflitantes, nada parecia tão dolorido como a segundos atrás, e prendendo minha respiração com força, fechei meus olhos com força e me forcei a ficar embaixo d'água quando de repente sou puxada para cima com força e brusquidão.

— Caralho.

Fui sacudida, à medida que fui levantada da banheira e a água escorria do meu corpo, roupa e cabelos. Meu queixo tremia quando fui colocada em cima da pia com agilidade, e só me dei conta do que estava acontecendo, quando Ghost está semicerrando seu queixo e me olhando com muita raiva nos olhos. Batendo com força, ele esbravejou enquanto suas mãos ficaram espalmadas em cada lado da minha perna. Seus olhos estavam fixos no meu rosto mas de repente vi ele descer, e acompanhando-o, vi que ele estava olhando para minha camiseta branca, que a essa altura está transparente, deixando a mostra meu sutiã preto de renda sem bojo.

Estremecendo, abracei meu próprio corpo para esconder minha nudez daqueles olhos afiados e tão intensos e inspirando pelo nariz, ele se afastou enquanto pegava um roupão, voltando em minha direção, ele murmurou rouco. Sua voz estava mais afiada que o normal.

— Não faça nada idiota, Florzinha.

Ele depositou o roupão seco sobre meu corpo molhado e trêmulo e continuou sem olhar nos meus olhos.

— Esse corredor é cercado por seguranças.

Estremeci com esse comentário e só piorou quando ele disse, dessa vez, me olhando fixamente nos olhos.

— Não me obrigue a colocar vigilancia aqui dentro desse quarto 24 horas por dia.

Seu rosto de repente ficou muito próximo do meu, e desviei para o lado, deixando-o ainda mais próximo do meu ouvido e então ele sussurrou.

— Não teste minha paciência, Mavie.

Ele de repente, levantou sua mão e puxou meu queixo para olhá-lo nos olhos, e quando nos entreolhamos, senti algo atravessar meu ventre de um jeito incomum. Ele é tudo o que eu desconheço em uma pessoa. Ele desperta coisas que nunca senti em minha vida.

— Você me pertence, então não tem o direito de tirar sua vida.

Ele de repente pegou meu queixo entre seus dedos e me puxou para si, ficando a centímetros de distância, e algo se rebelou em meu peito. Meu coração coração começou a palpitar em meu peito freneticamente, me deixando em estado de alerta com aquela aproximação toda.

— Não faça besteiras e se alimente.

Me soltando, ele se afastou e murmurou enquanto se direcionava para a torneira.

— Se eu quisesse matar você, com certeza não seria através de comida, Florzinha.

Estremecendo, consegui reunir forças e descer da pia, quando ele finalmente fechou a torneira e me analisou enquanto vestia o grande e quente roupão que estava sob meus ombros.

— Eu não… Consigo…

Gaguejei um pouco atrapalhada e me interrompendo, ele arqueou uma sobrancelha e murmurou.

— Não consegue o que?

Com a testa franzida, ele continuou.

— Não consegue comer?

Negando em um gesto, abracei meu corpo e murmurei.

— Não consigo confiar.

Nesse instante, ele abriu os botões da manga de sua camisa preta e disse em meio a um sorriso, enquanto revelava um antebraço musculoso e cheio de tatuagens. Suas veias saltadas estavam muito evidentes e de repente, minha boca secou.

— Não trabalhamos com confiança…

Ele enfiou as mãos em seus bolsos e se aproximou devagar, e engolindo em seco, vi um sorriso surgir em seu rosto, indicando que estava se divertindo.

— E sim com obediência.

Franzindo a testa, passei a língua pelos lábios e neguei em um gesto, mas então ele disse.

— O que você não entendeu ainda é que está aqui como minha convidada, mas está agindo como prisioneira.

Ele se afastou e eu então respondi.

— Como eu poderia me sentir diferente? Faz dias que eu vejo tudo através dessa janela cercada com barras e ferro e…

Me interrompendo, ele murmura.

— Florzinha, você precisa concordar comigo que isso é inteiramente responsabilidade sua.

Franzi minha testa em confusão e descrença e respondi.

— Minha responsabilidade?

Andando em direção ao homem mais excitante e aterrorizante que vi em minha vida, eu respondi sem nem um pingo de amor à vida.

— Você quer dizer que o fato de eu estar presa num cativeiro é inteiramente minha culpa?

Eu continuei avançando contra ele e prossegui já aumentando meu tom de voz pois eu sei que agora não tem mais saída. Esse homem me salvou somente para me matar com suas proprias mãos.

— Como a culpa se tornou minha?

Ele jogou a cabeça para trás em uma gargalhada alta. Seu peito sacudia em meio ao humor que o tomou de repente.

— Florzinha, você invadiu minhas terras.

E fechando os olhos em negação, tentei puxar o ar para me acalmar, mas ele continuou a falar.

— A propósito, a culpa é sua, sim, pois ficou tentando fugir a cada nova oportunidade.

Eu olhei para ele e murmurei já cansada.

— Nada disso faz sentido para mim, Ghost.

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