Mavie Neumann
Da janela reforçada com barras de ferro, acompanho os dias passando lenta e dolorosamente. A cada dia que passa, vejo minha alegria e vontade de viver indo ralo abaixo. Não consigo dormir por causa dos pesadelos, e não consigo comer pelo medo de eles me doparem e assim causar algum dano físico. Pode ser paranóia, mas não consigo confiar. Soa tudo tão mal e errado, que prefiro me privar de comida e descansos longos, já que em meus sonhos só aparecem gritos, correntes e sangue.
Sentada na poltrona, observo o céu noturno e totalmente úmido lá fora. Hoje choveu o dia inteiro, e assim como o dia estava péssimo, o meu humor estava igual. Me sinto cansada, fraca e dolorida, entretanto, prometi a mim mesma que iria lutar até minhas últimas forças, e não vou me entregar, pois sei que serei resgatada. Meu pai havia me garantido isso.
De repente, me lembrei da nossa última conversa antes de ele me empurrar para aquele lugar solitário e secreto.
“Nunca na minha vida vou poder pagar o que fiz.”
Fechei os olhos com força à medida que as lágrimas desciam pelos meus olhos. A dor era tão grande, que eu nem havia percebido quando cheguei no banheiro.
Abrindo a torneira, deixei o som da água preencher o silêncio daquele quarto. Minha vida não fazia mais sentido sem meu pai. Eu não sabia o que havia acontecido para ele morrer. Eu não sabia o que ele havia feito de tão grave para saber que iria morrer, pois ele havia me avisado que talvez não voltaria vivo.
Com meus pensamentos atordoados, entrei na banheira com a água fria. Minha pele ardia à medida que meu corpo era coberto pela água, e fechando meus olhos, deitei minha cabeça na beira da banheira enquanto sentia as minhas lágrimas quentes se misturam com a água fria e tudo foi ficando cada vez mais nublado e distante de mim. Meus pensamentos de repente não estavam conflitantes, nada parecia tão dolorido como a segundos atrás, e prendendo minha respiração com força, fechei meus olhos com força e me forcei a ficar embaixo d'água quando de repente sou puxada para cima com força e brusquidão.
— Caralho.
Fui sacudida, à medida que fui levantada da banheira e a água escorria do meu corpo, roupa e cabelos. Meu queixo tremia quando fui colocada em cima da pia com agilidade, e só me dei conta do que estava acontecendo, quando Ghost está semicerrando seu queixo e me olhando com muita raiva nos olhos. Batendo com força, ele esbravejou enquanto suas mãos ficaram espalmadas em cada lado da minha perna. Seus olhos estavam fixos no meu rosto mas de repente vi ele descer, e acompanhando-o, vi que ele estava olhando para minha camiseta branca, que a essa altura está transparente, deixando a mostra meu sutiã preto de renda sem bojo.
Estremecendo, abracei meu próprio corpo para esconder minha nudez daqueles olhos afiados e tão intensos e inspirando pelo nariz, ele se afastou enquanto pegava um roupão, voltando em minha direção, ele murmurou rouco. Sua voz estava mais afiada que o normal.
— Não faça nada idiota, Florzinha.
Ele depositou o roupão seco sobre meu corpo molhado e trêmulo e continuou sem olhar nos meus olhos.
— Esse corredor é cercado por seguranças.
Estremeci com esse comentário e só piorou quando ele disse, dessa vez, me olhando fixamente nos olhos.
— Não me obrigue a colocar vigilancia aqui dentro desse quarto 24 horas por dia.
Seu rosto de repente ficou muito próximo do meu, e desviei para o lado, deixando-o ainda mais próximo do meu ouvido e então ele sussurrou.
— Não teste minha paciência, Mavie.
Ele de repente, levantou sua mão e puxou meu queixo para olhá-lo nos olhos, e quando nos entreolhamos, senti algo atravessar meu ventre de um jeito incomum. Ele é tudo o que eu desconheço em uma pessoa. Ele desperta coisas que nunca senti em minha vida.
— Você me pertence, então não tem o direito de tirar sua vida.
Ele de repente pegou meu queixo entre seus dedos e me puxou para si, ficando a centímetros de distância, e algo se rebelou em meu peito. Meu coração coração começou a palpitar em meu peito freneticamente, me deixando em estado de alerta com aquela aproximação toda.
— Não faça besteiras e se alimente.
Me soltando, ele se afastou e murmurou enquanto se direcionava para a torneira.
— Se eu quisesse matar você, com certeza não seria através de comida, Florzinha.
Estremecendo, consegui reunir forças e descer da pia, quando ele finalmente fechou a torneira e me analisou enquanto vestia o grande e quente roupão que estava sob meus ombros.
— Eu não… Consigo…
Gaguejei um pouco atrapalhada e me interrompendo, ele arqueou uma sobrancelha e murmurou.
— Não consegue o que?
Com a testa franzida, ele continuou.
— Não consegue comer?
Negando em um gesto, abracei meu corpo e murmurei.
— Não consigo confiar.
Nesse instante, ele abriu os botões da manga de sua camisa preta e disse em meio a um sorriso, enquanto revelava um antebraço musculoso e cheio de tatuagens. Suas veias saltadas estavam muito evidentes e de repente, minha boca secou.
— Não trabalhamos com confiança…
Ele enfiou as mãos em seus bolsos e se aproximou devagar, e engolindo em seco, vi um sorriso surgir em seu rosto, indicando que estava se divertindo.
— E sim com obediência.
Franzindo a testa, passei a língua pelos lábios e neguei em um gesto, mas então ele disse.
— O que você não entendeu ainda é que está aqui como minha convidada, mas está agindo como prisioneira.
Ele se afastou e eu então respondi.
— Como eu poderia me sentir diferente? Faz dias que eu vejo tudo através dessa janela cercada com barras e ferro e…
Me interrompendo, ele murmura.
— Florzinha, você precisa concordar comigo que isso é inteiramente responsabilidade sua.
Franzi minha testa em confusão e descrença e respondi.
— Minha responsabilidade?
Andando em direção ao homem mais excitante e aterrorizante que vi em minha vida, eu respondi sem nem um pingo de amor à vida.
— Você quer dizer que o fato de eu estar presa num cativeiro é inteiramente minha culpa?
Eu continuei avançando contra ele e prossegui já aumentando meu tom de voz pois eu sei que agora não tem mais saída. Esse homem me salvou somente para me matar com suas proprias mãos.
— Como a culpa se tornou minha?
Ele jogou a cabeça para trás em uma gargalhada alta. Seu peito sacudia em meio ao humor que o tomou de repente.
— Florzinha, você invadiu minhas terras.
E fechando os olhos em negação, tentei puxar o ar para me acalmar, mas ele continuou a falar.
— A propósito, a culpa é sua, sim, pois ficou tentando fugir a cada nova oportunidade.
Eu olhei para ele e murmurei já cansada.
— Nada disso faz sentido para mim, Ghost.
Mavie NeumanA expressão dele mudou mais uma vez. Seus olhos fixaram nos meus enquanto me analisava e eu continuei. — Antes eu estava no meu quarto, lendo meus romances e assistindo meus filmes clichês quando de repente, meu pai me colocou em uma passagem secreta e disse que eu deveria fugir e que em breve eu seria resgatada.A cabeça do homem pendeu incrédula para o lado e ele perguntou com a testa franzida. — Você está falando sério?Eu apenas o encarei e confirmei com um gesto, quando ele de repente começou a rir e disse bem humorado. — Sério que você gosta de romance e assiste clichês?Ele soltou uma gargalhada que de repente me fez sentir vergonha por ter falado algo tão tolo e íntimo para um homem como ele e prossegui na defensiva. — Eu não sei fazer outra coisa.Enxugando as lágrimas dos olhos, ele diz. — Então quer dizer que você caiu de paraquedas na realidade? Ele mudou sua expressão rapidamente, enquanto me analisava fixamente, e se aproximando de mim, recuei alguns p
Vincent BlakeDescobrimos a poucos dias que Mavie de fato desconhecia a verdadeira face do homem que a criava. Quando descobriram a morte de Saymon Neumann, logo entramos em uma delicada situação, pois Saymon Neumann era uma pessoa influente na nossa máfia, mas também guardava um segredo muito importante da máfia inimiga, e por isso, estão tentando nos atingir de todos os lados, pois eu possuo o tesouro que eles tanto querem, mas a questão é que não sabemos o que irão fazer caso coloquem suas mãos sujas nesse tesouro.Óbvio, eu amo a sensação de ter algo que os inimigos desejam. É muito gratificante a sensação de poder, e saber que somos os melhores, só deixa a situação mais satisfatória, pois ninguém irá levá-la de mim, e ainda assim, podemos desfrutar de bons e agradáveis momentos no calabouço, pois estão tentando capturar a garota e desse jeito, a minha diversão nunca acaba. Depois de mais um dia longo de trabalho, voltei para minha mansão e soube que Mavie não está se alimentando
Vincent BlakeMe inclinando em sua direção, levei minhas mãos em seu joelho ferido e o apertei entre meus dedos, aumentando a força à medida que ele gritava em desespero. — Você vai se arrepender por ser mal educado com desconhecidos, especialmente um desconhecido como eu.Cuspindo mais uma vez, ele falou cerrando os dentes pela dor. Suor brotava pelos seus poros, assim como seu medo. — Você vai morrer de uma forma ou de outra…Nesse momento eu confirmei em um gesto e respondi. — Sim, e por isso, quero os piores ao meu lado.Nesse momento segurei seu joelho com uma mão e enfiei meu dedo indicador em sua ferida que sangrava muito.Meu dedo entrou em sua carne profundamente. Aos berros, seus dedos apertaram meu braço com força na tentativa e parar a minha exploração,mas afastando-o, eu continuei. — Veremos se você não vai abrir a boca para falar o que preciso.Comecei a mexer em sua carne com meu dedo, a cada grito, fui invadindo ainda mais a sua pele, aprofundando meu dedo através d
Vincent BlakeEu fui até o painel de controle da porta e cliquei em alguns botões, liberando o código de acesso das armas, quando Mavie murmurou. — O que é Lamborghini?Sacudindo a cabeça, ergui as mãos e resmunguei. — Como assim você não conhece uma Lamborghini?Ela deu de ombros e ficou em silêncio como se fosse óbvio e pegando algumas pistolas e adagas, eu murmurei. — O carro plotado em preto fosco. Me aproximei do carro e abri a porta, deixando Mavie entrar primeiro, em seguida, coloquei as armas aos seus pés e murmurei. — Não se preocupe, nem uma está engatilhada.Ela engoliu em seco quando colocou o cinto de segurança, e fechando a porta, eu dei a volta e me acomodei em meu banco, enquanto a porta da garagem era aberta, eu colóquio meu cinto, e alguns segundos já foi possível ver que a entrada estava cercada, mas como eu quebro regras, simplesmente dei a ré, pegando a todos que estavam pelo caminho desprevenidos.Alguns conseguiram escapar, mas outros não tiveram a mesma ch
Mavie NeumannQuando acordei, estava sozinha dentro do carro enquanto as armas estavam todas sob meus pés e me encolhendo, olhei a volta a procura do Ghost e de longe consegui ver alguém andando em direção ao nosso carro.Droga.Cadê ele?Me encolhi no assento na tentativa de me esconder, quando de repente alguém destravou a porta do carro e a abriu e ergui os braços para me proteger quando ouço Vincent murmurar. — Acordou, Florzinha, finalmente.Fechando os olhos, soltei o ar pelo alívio de vê-lo e perguntei. — Como você me deixa sozinha desse jeito?Arqueando a sobrancelha, Ghost se acomodou em seu assento e respondeu travando as portas. Todo o painel estava desligado, então estávamos no escuro total. — Não deixei você sozinha, Mavie. Estava ali fora esperando você acordar.Eu desviei a atenção do seu rosto depois de ouvir a sua e resposta e perguntei. — O que vamos fazer agora?Ele encostou sua cabeça no banco e fechou os olhos enquanto respirava fundo, foi possível ver o momen
Mavie NeumannIsso não soa normal.Na verdade, não deveria nem sentir essas coisas depois de ele mesmo confessar que havia matado meu pai. O único espelho de família que tive em toda a minha vida. Meu pai.De repente, senti meu peito se apertar ao lembrar do dia em que Ghost disse propositalmente que havia matado meu pai e de repente aquele conflito de sentimentos se desfez, deixando apenas a mágoa, raiva e dor se infiltrar em meu peito, criando um bolo amargo e pesado em minha garganta. Algo muito difícil de ser engolido.Lágrimas já rolavam pelas minhas bochechas quando lembrei de algo que sempre guardei com muito carinho em meu coração.Eu e meu pai estávamos sentados juntos em um banco no meio da nossa estufa. Era primavera e as flores estavam florescendo lindamente. Tinha rosas vermelhas, orquídeas, Lírios de Calla e Camomila que eram as minhas preferidas.Ele disse que as cultivava por que minha mãe sempre foi apaixonada por flores, e que elas eram da mesma origem da minha mãe,
Vincent Blake Observei Mavie subir a escadaria em uma velocidade menor a que ela veio. Algo motivou essa garota a vir até aqui, e obviamente tem haver com os livros que comprei. Nos últimos dias, está sendo surreal de insuportável passar esse tempo perto dela depois daquela discussão. Pensei que estávamos bem, mas tudo desmoronou quando ela entrou no banheiro, e por incrível que pareça, isso está me irritando. Mexeu diretamente em meu humor diário, pois prefiro ficar o dia inteiro dentro desse carro ao invés de ficar ignorando e sendo ignorado. Soltando o ar com força, comecei a andar em direção ao quarto quando meu celular começou a vibrar em meu bolso, olhando para a tela, vejo que Liam está me ligando depois de longos dias solitários nessa merda de cidade dos infernos. — Vincent, já está tudo pronto para a viagem de vocês amanhã. Comprimindo o lábio, engoli em seco e respondi satisfeito. — Certo, me mande as coordenadas.Encerrei a ligação e enfiei o celular em meu bolso enqua
Vincent Blake— Nada substitui a importância dele para mim, seja ele meu pai ou não.Eu engoli em seco e disse compreendendo pela primeira vez a dor que ela está sentindo. Eu realmente estou entendendo o que ela sente. — Eu sei, mas precisei fazer aquilo por que se não fosse eu, seria outro soldado e…Ela de repente explodiu em lágrimas a menos de um metro de mim e gritou furiosa, enquanto olhava profundamente em meus olhos. Suas bochechas estão vermelhas pela raiva. Seus lábios carnudos entreabertos e seus olhos escuros estão fixos aos meus. — E por que? O que ele fez de tão errado que eu não paguei também?Eu a encarei nervoso pela primeira vez em anos, a muito tempo eu não me sentia desse jeito. Como se estivesse sendo subjugado, submetido a alguém e inalando o ar com força pelas narinas, respondi tentando controlar cada maldita palavra que seria dita. — Todo maldito soldado da Ghost sabe que é contra a lei mentir, e ele fez isso na minha cara, Mavie. Não foi só uma vez. Dei opo