Capítulo 3

Vincent Blake

— Você me conhece desde quando eu tinha uns 14 anos?

Perguntei, olhando-o nos olhos e assentindo ele deu um meio sorriso como se lembrasse disso e respondeu.

— Sim, você já era um bom garoto na época.

Sorri ao ouvir seu comentário pois lembro exatamente o dia em que o conheci e desviei a atenção do seu rosto e murmurei.

— Quando eu era pequeno, eu tinha uma mãe, sabia?

Cruzei minha perna esquerda acima do joelho direito e descansei minhas costas no encosto da cadeira e vi ele me analisando em silêncio e continuei.

— A minha mãe era uma mulher linda, inteligente e muito carinhosa. Sempre me tratou muito bem. Era muito acolhedora e amável.

Olhei para minhas mãos e murmurei enquanto senti meu peito se apertar ao lembrar dela.

— Ela era tudo para mim.

O homem franziu a testa ao ouvir o que eu dizia.

— Um dia, meu pai descobriu suas traições, e a confrontou.

Soltei um suspiro audível e prossegui enquanto recebi total atenção.

— Aquele dia foi único na minha vida.

Nesse momento me remexi na cadeira e depositei meus cotovelos acima dos joelhos e perguntei olhando em seus olhos enquanto me inclinava para frente.

— Sabe o motivo de ter sido um dia único?

Ele arqueou as sobrancelhas em confusão e negou em um gesto quando respondeu.

— Não, filho. O que houve?

Eu olhei para a máscara que estava em minhas mãos e respondi direcionando minha atenção para ele novamente.

— Foi o dia que meu pai a matou.

Naquele momento, o homem que estava de frente para mim pareceu estremecer inteiro. Seus olhos estavam brilhantes e arregalados. Ele sabia o que estava prestes a acontecer mesmo sem eu dizer nada. Ele sabe que o que acabei de contar era apenas um motivo que justificava a sua morte.

Seria seu fim.

Isso será divertido e rápido, apesar de eu ainda querer adiar um pouco mais.

— Minha mãe morreu por ter sido mentirosa, e como você já sabe, não aceitamos traidores entre nós.

Ele engoliu em seco e pareceu pensar um pouco antes de murmurar.

— Eu… não fazia ideia…

Eu assenti e sorri de lado, me ajeitando em minha cadeira e falei.

— Águas passadas, não é mesmo?

Ele assentiu ainda com seus olhos arregalados e eu disse enquanto fixava meus olhos em todo seu rosto.

— Por acaso…

Deixei a frase no ar e franzi a testa em dúvida enquanto o olhava.

— Você tem algo que queira compartilhar comigo?

Seu rosto desviou um pouco da minha direção e suas sobrancelhas arquearam juntas.

Ele negou em um gesto lento, como se estivesse em dúvidas internamente e praguejando por dentro, celebrei por ele ter escolhido a opção mais divertida.

Ele resolveu mentir e eu adoro quando isso acontece.

— Não tenho nada que mereça ser relembrado…

Ele desceu suas mãos até as coxas e secou as palmas das mãos, e eu acompanhei seu gesto a cada segundo e assenti com um sorriso de lado quando ele concluiu.

— Como você disse, são águas passadas.

Eu sorri abertamente quando o encarei por alguns segundos e perguntei.

— Tem certeza que não quer compartilhar nada?

Nesse momento me levantei da cadeira devagar, e senti toda a sua atenção em mim quando comecei a ajustar a máscara em minhas mãos para eu colocá-la mais uma vez em meu rosto.

— Eu tenho certeza que você tem algo escondido.

Já com a máscara em meu rosto, peguei uma marreta que estava encostada ao lado da mesa e a arrastei pelo chão enquanto eu andava em direção ao miserável que estava mentindo na minha cara.

— Não, eu não tenho, Blake. 

Ouvi o velhote responder enquanto seus olhos se arregalaram com a minha aproximação até que levantei a marreta e posicionei a cabeça de ferro em seu joelho direito, pressionando com força para baixo, e minha mão esquerda foi em seu ombro e murmurei em seu ouvido enquanto meus dedos apertavam seu ombro, mais precisamente o nervo trêmulo.

— Vou dar a chance de você correr por 20 segundos à minha frente, já que preferiu omitir e mentir na minha cara.

Eu me afastei e o olhei nos olhos fixamente com um largo sorriso e finalizei enquanto demonstrava minha total diversão.

— Se eu pegar você, irei mata-lo por ter acolhido uma inimiga.

Nesse momento o medo nublou seus olhos. Ele finalmente deixou claro o que fez. As veias em suas têmporas saltaram de repente.

Ele estava aterrorizado.

— Essa é sua chance.

Tirei a marreta de sua coxa e me afastei enquanto comandei alto.

— Abram a porta.

Não deu tempo nem de respirar, e o homem levantou e saiu correndo em direção a porta, que foi aberta rapidamente, e sorrindo em diversão, soltei a marreta e andei em direção a porta quando peguei uma das minhas minhas armas preferidas que estavam junto de outras sob a mesa. Minha escolha já havia sido feita enquanto eu sorria em aprovação para as armas poderosas em cima do móvel.

Minha escolha foi um fuzil russo modelo SVLK-14S, uma das armas mais poderosas do mundo e que tem alto poder de dano e sorrindo, encontrei meu alvo a alguns metros de distância a frente e fechei um olho enquanto ajustava a mira e destravei a proteção do fuzil, prendendo o ar, senti meu coração martelar em meu peito quando eu murmurei.

— De meus cumprimentos ao Satã por mim.

E atirei uma, duas, três vezes seguidas.

A adrenalina se espalhou pelo meu corpo quando vi sangue jorrando por todo o corredor e gargalhei enquanto entreguei o fuzil para um dos soldados enquanto os outros também riram do meu comentário.

Aqui todos tinham um senso de humor tão fodido quanto o meu, por isso sempre me senti em casa quando estou no calabouço.

Nenhum de nós pode ser considerado como pessoas normais, no entanto, cada um tem a sua consciência. Cada um aqui trabalha de acordo com que concorda e confia, e até hoje nunca tivemos problemas, pois as regras sempre foram bem claras e todos trabalham em prol ao bem maior, ou seja, o Ghost é o bem maior.

Respeitar a irmandade nunca será algo a ser feito pela metade, ou é ou não.

Assim que fizemos silêncio enquanto nos dirigimos pelo último quarto do corredor, senti meu peito vibrar em adrenalina. Havia uma poça de sangue que escorria em direção ao quarto da culpada pelos meus armazéns queimados e ao saber que finalmente irei colocar minhas mãos nela, sinto meus dedos caçarem por satisfação até que a porta foi aberta e apontei o dedo para um soldado pegar o corpo sem vida do Saymon e levá-lo para ser incinerado quando de repente encontrei uma mulher com cabelos longos e escuros envolta  a poça de sangue diante dos meus pés.

Seus olhos lacrimejados, rosto sujo, lábios trêmulos e o corpo ensanguentado foi algo que me fez sentir uma atração animalesca. Nada normal. Não que eu seja normal, mas ver uma mulher apavorada envolta por tanto sangue, me deixou com a adrenalina correndo em minhas veias de um jeito incomum. Apesar de ser uma intrusa, metida a malvada, a garota também era linda mesmo nessas condições tão precarias.

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