Isabela Thorne, ou apenas Bela, completou 18 anos e se viu sozinha e desamparada em um mundo cruel e injusto. Ao completar a maior idade ela se viu do lado de fora dos altos muros do Orfanato Saint Joseph.
Abandonada na instituição desde os seus quinze dias de vida, Bela não conhece absolutamente nada do mundo. Ao longo dos seus dezoito anos, ela viu crianças brancas, loiras e de olhos azuis serem adotadas por casais que não podiam ter filhos. Crianças mais velhas do que ela.
Bela ganhava alguns olhares curiosos e seu coraçãozinho se enchia de esperança. Mas com lágrimas nos olhos, ela via garotas e garotos brancos irem para um novo lar com seus pais adotivos.
A Madre Superiora dizia apenas que Bela não preenchia os requisitos. Bela não sabia o que essa palavra significava até os seus nove anos de idade. Em uma discussão entre crianças maldosas ela foi chamada de "Preta". Eis o que significava não preencher os requisitos.
Ela não tinha cabelos loiros, olhos azuis e muito menos a pele clara. A partir deste dia, Bela deixou de sonhar com um quarto rosa só para ela, lindas bonecas, vestidos rodados e pais amorosos que a beijariam ao anoitecer.
Porém, tinha um requisito que Bela parecia preencher muito bem. Limpar, lavar e cozinhar. E assim, os anos se passaram. Crianças chegaram, crianças partiram. Bela dividia o tempo entre os estudos e ajudar na cozinha.
Em alguns dias ela sentia gratidão por ter um teto sobre a sua cabeça e comida no seu estômago. Em outros, a revolta era inevitável. Se a sua própria mãe não a quis, o que as outras pessoas teriam para ela? Flores? Dificilmente.
Vestindo sua melhor roupa, camiseta branca, calça jeans escuro, sapatilhas pretas e com o cabelo castanho escuro amarrado em um rabo de cavalo, Bela foi colocada em um táxi e a Madre Superiora entregou para o motorista um papel com um endereço e dinheiro suficiente para pagar a corrida.
- Boa sorte, Bela. - A Madre Superiora tentou sorrir. - Venha nos visitar.
Bela sorriu.
- Obrigada por tudo Madre. Eu sentirei saudades. - "Quando começou a mentir com tanta facilidade?"
No banco do passageiro, Bela estava deslumbrada com Los Angeles. A cidade dos anjos. Apesar do dia frio e chuvoso, ela não deixou de observar as ruas amplas, bem sinalizadas, com palmeiras e poucos prédios. Para ela que só conhecia os muros cinzentos do orfanato, e o uniforme na cor verde claro, tudo era um show de cores, vida e beleza sem igual.
O motorista do táxi de origem latina, apontou para a direita.
- O famoso letreiro de HOLLYWOOD.
Bela quase colou o nariz no vidro do carro.
- É incrível. Nem parece que eu morei aqui a minha vida toda.
O motorista riu.
- Você morou no orfanato. Agora vamos entrar em Beverly Hills. Só quem caga dinheiro mora aqui.
Bela achou o comentário extremamente rude. No entanto, ela logo se viu transportada para outro mundo. Propriedades imponentes, hotéis, limusines, galerias, cafés, vitrines e pessoas elegantes formavam uma luxuosa obra de arte a céu aberto.
Michael não acordou de bom humor. A cabeça doía e o estômago embrulhava. Dominic entrou no quarto. O segurança estava sério.
- Bom dia.
- Bom dia uma porra. - Michael pegou o box de Marlboro e enquanto acendia o primeiro cigarro do dia, recostou na cabeceira da cama. - O que fizeram com a garota?
Dominic suspirou.
- Ela teve o mesmo destino que John. Seus corpos foram concretados na fundação do Edifício Walli. Aliás, o mestre de obras pediu mais material.
Sonolento, Michael tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente.
- Dessa vez o delegado vem. Um capitão e uma puta desaparecidos.
- O porto não estava movimentado por causa da chuva, mas a sua presença com certeza foi notada. Chloe Sullivan saiu para fazer um programa na sua casa e não retornou para a agência. E ainda temos Gael.
Michael fechou os olhos.
- Isso é um pesadelo. Me acorda, Dominic.
O segurança se manteve impassível.
- O que vai dizer ao delegado ?
Michael abriu os olhos verdes e sorriu de forma inocente.
- Eu não sai de casa ontem e não recebi nenhuma prostituta.
Dominic não riu da piada ruim.
- Eu não sei se você percebeu Michael, mas você está perdendo o controle. E isso não é bom para você, para os negócios e muito menos para mim.
Michael esboçou um pequeno sorriso angelical.
- Às vezes eu não consigo controlar as trevas em que habito. É mais forte do que eu, Dom.
- Os homens estão apreensivos.
- Eu acho que essa não seria a palavra correta. Eu diria que estão se cagando de medo.
Dominic endureceu o olhar.
- Eu diria que estamos de saco cheio de você deliberadamente se colocar em perigo. Nós sabemos qual é o nosso trabalho. Proteger você. Mas isso é loucura.
Pensativo, Michael terminou de fumar e apagou a bituca no cinzeiro.
- Você acha que eu sou louco, Dominic?
- Eu acho que você deixou fama e dinheiro subirem para a sua cabeça. Você não é intocável, Michael. Você está cavando a própria sepultura, e eu diria que ela já está bem funda.
Michael teve o seu momento de dúvida e fraqueza. Porém, ele não teve tempo de clarear os pensamentos. Dominic deu o ultimato.
- Vista-se e desça. Uma das candidatas a vaga de empregada te espera no escritório. É melhor você causar uma boa impressão se não quiser comer pizza de novo.
Michael fechou os olhos. Era só o que faltava, outra empregada incompetente.
Se por fora a mansão branca de dois andares com suas grandes sacadas e terraços é de tirar o fôlego, por dentro é ainda mais impressionante. Bela foi conduzida por um segurança negro por um ambiente de requinte e sofisticação.Esculturas, obras de arte e lustres compõe a decoração luxuosa. Tons neutros e claros como o branco, bege e cinza, trazem bastante elegância e leveza para os ambientes.Uma porta foi aberta e Bela seguiu o segurança para dentro de um escritório enorme, com estante de madeira embutida, repleta de livros, mesa retangular de vidro com cadeiras giratórias, jogo de sofá de couro preto e uma parede de pedra com lareira. A luz do dia entrava pelas enormes janelas de vidro.- Sente-se. - O segurança apontou para o sofá. - Eu vou chamar Michael.Bela obedeceu. Desnorteada com tanto luxo e riqueza, ela colocou sua mala com os poucos pertences no chão ao lado do sofá e tentou focar no seu objetivo. Conseguir o emprego.É comum
Luke Ford, 48 anos, branco, corpo atlético, estatura mediana, cabelos loiros com entradas nas têmporas, aguçados olhos azuis, nariz reto, lábios finos e queixo protuberante.Frio, calculista e Delegado do 13º Distrito Policial de Beverly Hills, Califórnia. Escoltado por seis policiais, Luke adentrou na mansão. Conhece de longa data Michael e cada um dos integrantes da sua quadrilha.Entre os policiais da cidade, Luke acredita ser um dos poucos a não integrar a folha de pagamento de Michael Smith.Protegido pela Corregedoria, Secretária de Segurança Pública e até mesmo pelo Governador, o traficante continua em liberdade, mandando e desmandando em todo o Estado.Tráfico de drogas, armas e política envolvidos, Luke foi até a mansão apenas para não parecer incompetente. A sua frente, a cavalaria estava alinhada.Romeo, Milan, Dominic, Arthur, Thomas e Michael ao centro. Ele sorriu e fez uma leve reverência com a cabeça.- Delegado
Imediatamente, Michael apelou. Ele puxou uma cadeira, sentou e apoiando os dois cotovelos na mesa, levou as mãos ao rosto.- Eu estou cego.Bela mordeu o lábio inferior. Será que tinha exagerado? Agiu por reflexo e indignação. Com cuidado, ela se aproximou, pegou Michael pelos pulsos e abaixou as mãos dele. Apenas uma leve vermelhidão abaixo do olho esquerdo e um pequeno inchaço.Ela olhou para ele brava.- O senhor vai sobreviver.- Tem certeza? - Michael gemeu. - Está doendo muito. Não é melhor colocar uma compressa de gelo?Por alguns segundos, Bela se perdeu na imensidão dos olhos verdes e nos lábios rosados e carnudos. Ela abriu a geladeira duplex de inox e pegou um saco de ervilha congelada.Michael não perdeu tempo. Ele abriu as pernas para que Bela pudesse chegar bem perto. Porém, alertou:- Devagar com isso.Bela colocou o saco congelado sobre o machucado. Entre as pernas de Michael e inclinada sobre ele, Bela foi assola
Ao anoitecer, Milan assumiu o seu plantão na guarita atrás dos enormes portões automáticos da mansão. Ele olhou para as câmeras de segurança e uma movimentação suspeita na rua chamou a sua atenção. Milan pegou o Walk Talk.- Arthur, dá uma olhada do outro lado da rua.O segurança negro que estava no terraço pegou o binóculo de visão noturna. Ao ver duas Mercedes Benz se aproximando da entrada da casa em alta velocidade, Arthur praguejou.- Gael.Pelo Walk Talk Milan avisou o resto da equipe.- Gael está aqui. Levem Michael para o esconderijo.O segurança pegou o fuzil AK-47 e saiu da guarita.A passos largos, Michael foi escoltado por Thomas e Romeo até o esconderijo subterrâneo construído especialmente para sua proteção em casos de invasão. O abrigo seria usado pela primeira vez. Michael tinha Bela firmemente presa em seus braços.Dominic se juntou a Milan e Arthur na linha de frente. Mesmo contra
Preocupado com Bela, Michael foi até o quarto dela. Ele bateu na porta.- Bela?Ela não respondeu. Michael olhou no relógio. Quase três horas da manhã. Ele teve que esperar a remoção dos corpos e o reboque dos carros.Michael abriu a porta. A luz do quarto estava acesa. Bela adormeceu com a roupa que estava. Deitada de lado, ela estava descoberta. Michael entrou sem fazer barulho, pegou uma coberta no armário e a cobriu. Ele sorriu. Bela parecia um anjo.Cansado e com sono, Michael apagou a luz, tirou o sapato e se enfiou na cama de solteiro. Ele entrou debaixo da coberta e abraçando Bela por trás, a puxou para si.Ela estava exausta demais para acordar. Foram muitas emoções para um só dia. Michael suspirou profundamente e pela primeira vez em muito tempo ele não precisou usar drogas para dormir. O cheiro suave de jasmim o levou ao mundo dos sonhos em questão de minutos.Bela acordou assustada e teria ca
Bela permaneceu na cozinha cumprindo com as suas obrigações. Com seis homens para alimentar, ela tinha muito o que fazer. Michael foi o único a não aparecer para o café da manhã.Por um lado, Bela ficou triste por não vê-lo. Por outro, ela ficou aliviada por não precisar encara-lo depois de acordar nos braços dele.Ao tomar café com os seguranças, Bela percebeu que eles possuem um código de irmandade. Um por todos, todos por um. Sozinhos são fortes, juntos são imbatíveis.Por alguma razão desconhecida, Bela não ficou com medo por estar entre criminosos e assassinos. Não aqueles a sua frente.Bela ouviu os gritos e foi informada por Romeo que Michael tinha sofrido um pequeno acidente doméstico. Ela ficou angustiada até Milan e Dominic voltarem com ele do hospital e praticamente carrega-lo escada acima.E novamente foi informada por Romeo que o chefe estava com muita dor e não iria almoçar. Na ve
Bela viu Michael fechar os olhos e se inclinar sobre ela. Nada do que tinha vivido, visto ou ouvido dentro dos muros do Orfanato poderia tê-la preparado para aquele momento.Ao sentir os lábios quentes e molhados de Michael sobre os dela e sua barba arranhar o seu rosto, Bela se perdeu de si mesma. Seus lábios se abriram sozinhos para receber a língua molhada de Michael.Uma chegada e uma partida. Um fim e um começo. Bela fraquejou. Michael a sustentou em seus braços fortes. O beijo começou como uma carícia suave, com Michael dando selinhos úmidos nos lábios de Bela.Seus lábios se encaixaram perfeitamente. Suas línguas se tocaram, brincando, experimentando, se conhecendo. Michael foi um bom professor. Bela foi uma excelente aluna.Ela se deixou guiar e seguia todos os movimentos de Michael. Seus lábios se uniram ainda mais, suas línguas se enroscaram, salivas foram trocadas e o beijo ficou mais molhado e arde
Michael precisou da ajuda de Dominic para tomar banho. Nos braços de Bela, ele tinha até se esquecido do maldito tornozelo que estava doendo consideravelmente. Quando Dominic o ajudou a deitar na cama e apoiou o tornozelo em um travesseiro, Michael estava exausto.Ele dobrou o braço sobre a testa e fechou os olhos.- Eu preciso beber alguma coisa.- Vai beber analgésico.- Eu pensei em alguma coisa mais forte.- Vai sonhando. Toma.Michael abriu os olhos e pegou o copo com água e o comprimido. De má vontade tomou o remédio e devolveu o copo a Dominic.Ele perguntou com desdém:- Não vai dormir aqui, vai?- Sim. Milan e eu achamos alguns papelotes. Mas eu sei que você tem mais escondido.Michael deu um suspiro profundo.- Olha, eu agradeço muito o que vocês estão tentando fazer. Mas eu sou um viciado, Dominic. E por hora, eu pretendo continuar sendo.Dominic sentou na poltro