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MICHAEL
MICHAEL
Por: Déia
Capítulo 1

Bastardo. Filho da mãe. Filho da puta. Filho de uma cadela. Desgraçado. Esses foram só alguns dos apelidos carinhosos que Michael Smith ganhou ao longo dos seus 28 anos de vida. Uma vida miserável diga-se de passagem.

Fruto de uma pulada de cerca de sua mãe Lizzie, Michael aprendeu desde cedo que o mundo para ele não seria fácil. Olhares tortos, dedos apontados e julgamentos precipitados.

Seu pai biológico encheu o útero da sua mãe com seu esperma quente e grosso, segundo ela, e desapareceu do mapa. Sua mãe estava bêbada demais para se lembrar do nome do seu estuprador.

Porque sim, era mais fácil alegar que foi estuprada do que assumir que era uma puta vadia. O marido da sua mãe, Tommy, ignorava a sua existência e passou a desconfiar da paternidade dos filhos mais velhos: Marc e Kay.

Sendo assim, sem pai e sem mãe, Michael aos nove anos de idade, já fumava maconha e cometia pequenos furtos para sustentar o vício que para ele se tornou uma rota de fuga.

Lizzie e Tommy foram encontrados mortos em um canal. A polícia disse que foi acerto de contas entre quadrilhas rivais e estavam ocupados demais para investigar o assassinato de dois usuários de drogas com uma extensa ficha criminal.

O velho Tommy pagava de marido traído, mas estava metido em sujeira até o pescoço. Para Michael não fez diferença. Ele e os irmãos jogaram um pouco de terra sobre os caixões dos pais e cada um seguiu o seu caminho.

Michael com sua mente perversa e doentia, em pouco tempo se tornou o maior traficante de drogas e armas de Los Angeles. Protegido pela polícia em troca de informações valiosas e muito dinheiro, Michael tem a chave dos portões do inferno. Ele é o juiz, o réu e o executor.

Traficante em âmbito nacional e internacional, o filho de uma cadela se tornou um dos homens mais ricos e poderosos do país.

Michael entrou no escritório da sua luxuosa mansão e foi até o bar. Ele se serviu de uma generosa dose de uísque e virou o copo de uma vez na boca. O líquido cor de âmbar queimou a sua garganta, o estômago vazio e até mesmo o peito ardeu.

Michael colocou o copo vazio sobre o balcão de mogno envernizado e respirou fundo olhando pela janela. O céu nublado, com nuvens esparsas e cinzentas, anunciava chuva.

- Prometeu ao médico só beber quando escurecer.

- Eu já estou na escuridão, Dominic.

Michael não virou para olhar o seu segurança. Melancólico, perguntou:

- Tudo pronto?

- Sim. Os homens já estão a caminho de Long Beach. Você, Milan e eu saímos em trinta minutos.

Uma última olhada para o céu carregado e Michael virou para olhar Dominic, seu fiel cão de guarda há três anos.

O segurança brutamontes tem a pele escura, corte de cabelo militar, dois metros de altura, cem quilos de músculos e vestia o habitual terno preto, camisa social branca, gravata preta e a pistola .40 estava na cintura. É o uniforme oficial de toda a equipe de segurança de Michael.

Ele assentiu lentamente.

- Mentiras correm mais rápido do que verdades. Eu quero John morto.

Dominic franziu a testa.

- Nós não íamos apenas dar um susto nele?

Michael sorriu exibindo os dentes brancos e perfeitos. Um sorriso diabólico.

- Eu estou entediado.

Dominic olhou para o homem a sua frente. Michael lembra um anjo. Alto, forte e imponente. Sua pele é clara como a neve, lábios e bochechas rosados, nariz aristocrático, brilhantes olhos verdes contornados pela grossa sobrancelha escura, barba e cabelos negros e um queixo quadrado que lhe dá um ar de arrogância e prepotência. Com sua beleza angelical, estilo vigoroso, intensidade no olhar e uma voz tão cavernosa quanto a noite, Michael é o diabo em forma de anjo. Rebelde. Fora da lei. Herói.

Dominic assentiu.

- É claro, chefe. Como você quiser.

O segurança virou para sair do escritório mas voltou ao se lembrar de uma coisa.

- Uma candidata a vaga de empregada virá amanhã às 08:00h para a entrevista.

Michael suspirou.

- Outra? Elas são todas incompetentes.

Dominic sorriu.

- Você as deixa desconfortáveis. A sua reputação te precede e houve apenas três candidatas a vaga.

Michael arqueou a sobrancelha grossa e escura.

- Mesmo?

- Sim. - Dominic caminhou até a porta e olhou para Michael. - Se continuar colocando todas para correr, em breve, você mesmo terá que ir para o fogão.

- Eu te demiti recentemente, Dominic?

O segurança negro sorriu.

- Não. Sem mim, você já estaria morto.

Michael fechou o semblante.

Na garagem da luxuosa mansão em Beverly Hills, Milan fumava encostado em uma das três BMW blindada. O segurança igualmente grande e forte como Dominic, também trajava um terno preto sob medida e portava a arma na cintura.

Porém, Milan de origem italiana, é branco, olhos azuis, cabelos negros e barba escura. Belo e jovem, é o mais novo dentre a equipe de segurança que conta ainda com Arthur, Thomas e Romeo.

Homens treinados e capacitados para o trabalho exaustivo que é proteger Michael Smith, um homem que faz inimigos com a mesma frequência com que troca de roupa.

Ao ver Dominic se aproximar, Milan deu uma última tragada no cigarro, jogou a bituca no chão e apagou com a sola do sapato social preto.

- E então?

- Mudança de planos. - Dominic respirou fundo. - John morre.

- Por quê?

- Porque Michael está entediado.

Resignados, os dois seguranças se preparam para mais um assassinato.

Na primeira cheirada, Michael viu fogos de artifício. Uma sensação de euforia dominou todo o seu ser. Ele abaixou a tampa e sentou no vaso sanitário branco. Michael encostou a cabeça na parede fria e fechou os olhos. Seu corpo flutuava e sua mente entorpecida estava vazia. Nem passado, nem futuro. Tudo desaparece quando está sob o efeito de cocaína.

No começo tentou seguir o lema: Quem vende não usa. Não deu certo. Dinheiro, carros, mulheres, festas regadas a sexo, álcool e drogas que ele nem sabia que existiam. Aos vinte e oito anos, alcoólatra, fumante e usuário de cocaína, Michael sente que não está muito longe do fundo do poço.

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