Cada olhar vazio, cada gesto hesitante, cada palavra que morre antes de sair dos lábios dela é a prova do meu sucesso. Blair está destruída. Mas então, por que não sinto alívio? Por que não me sinto vitorioso? Não há satisfação, não há paz. Apenas um vazio que parece maior a cada segundo.Meus olhos se perdem no reflexo distorcido nas portas do elevador. É como se eu não reconhecesse o homem que me encara de volta. Por um momento, o silêncio é absoluto, pesado, até que algo me faz virar. Lá está Mariah, parada na escada, me esperando com aquele sorriso insinuante que sempre parece prometer mais do que pode cumprir. Ela me olha como se soubesse que eu vou segui-la, como se tivesse certeza de que essa noite será inesquecível. Como se esta fosse a vitória que ambos estávamos esperando.Por tanto tempo, era isso que nós dois queríamos: magoar Blair. Ela, por ciúme, por vingança própria. Eu, por rancor, por uma ferida que nunca consegui deixar cicatrizar. E juntos, fomos perfeitos em noss
Seus argumentos cortam como lâminas, mas eu mantenho o foco. As imagens começam a aparecer na tela: corredores vazios, o elevador subindo, Alex em busca de Blair. Respiro fundo, tentando organizar os pensamentos que Mariah insiste em bagunçar.“Eu já disse,” murmuro, minha voz firme apesar do tumulto interno. “Eu não vou discutir meu casamento com você.” É tudo que ela terá de mim. Não porque ela não tenha razão – parte de mim sabe que ela tem – mas porque a verdade que está se formando na minha cabeça é algo que nem eu consigo explicar.“Ela não vai voltar,” Mariah declara, o tom ácido enquanto caminha de um lado para o outro, os saltos ecoando no piso como um martelo na minha paciência. “Se ela tem o mínimo de amor-próprio, Ethan, ela não vai voltar! Você acha que depois de tudo que fez ela vai simplesmente…”“Chega, Mariah!” Minha voz explode, cortando a dela como uma faca. Minhas mãos se chocam contra a mesa com força, o som reverberando pelas paredes do escritório. O impacto faz
Sem esperar por uma resposta, ela se vira, os saltos estalando contra o chão enquanto caminha em direção à porta. Antes de sair, ela para, a mão na maçaneta, e se vira apenas o suficiente para me lançar um último olhar por cima do ombro. “Boa sorte tentando consertar o que você destruiu,” diz ela, o tom ácido, quase cortante. E então, ela se vai, a porta se fechando com um clique seco que deixa o escritório mergulhado no silêncio.Por um instante, o vazio pesa ao meu redor. Mas não tenho tempo para me preocupar com as ameaças de Mariah ou o que ela pode fazer. Minhas mãos voltam ao teclado, os olhos fixos na tela. Preciso ver Blair. Preciso saber que Alex a encontrou. Porque, apesar de tudo, ela é a única coisa que importa agora.E então, finalmente, a vejo. Blair surge nas câmeras, correndo para fora do prédio como se estivesse fugindo de tudo que a mantinha presa ali. Ela não olha para trás, nem por um segundo, como se o simples ato de virar a cabeça pudesse prendê-la novamente. Há
Então, finalmente, Alex levanta a cabeça, os olhos agora cheios de algo que não consigo ler. Mas a palavra que ele diz faz o ar escapar dos meus pulmões, como se a vida tivesse me sido arrancada de dentro. “Ela sofreu um acidente, senhor,” ele diz, a voz baixa e controlada, mas a tensão em suas palavras é inegável. “Atropelamento. Ela deu entrada no hospital.”As palavras batem contra mim como um soco no estômago, uma força brutal que me faz perder o equilíbrio. O mundo ao meu redor começa a girar lentamente. Eu não consigo processar o que ouvi. Atropelamento? Blair... no hospital?Minhas mãos tremem, as chaves caem do meu aperto, mas meu corpo está paralisado. Não consigo fazer nada além de olhar para Alex, esperando que ele me diga que é mentira, que é uma piada. Mas o olhar dele, cheio de pesar, não deixa margem para dúvida. Eu sei que ele não está mentindo.Sem palavras, sem mais nada, me viro e corro em direção à saída. O som dos meus passos é abafado pela batida acelerada do me
É estranho, como uma memória antiga que volta com uma intensidade quase palpável. Durante nosso casamento, mesmo nos dias em que fingia odiá-la, eu sentia isso. Eu chegava em casa, cansado e de alma pesada, mas sempre havia algo que me fazia sentir que eu ainda tinha um lugar no mundo. Era ela. Era o olhar dela, sempre sereno, sempre acolhedor. Era o som dos passos dela no corredor, tão suaves, mas com uma força que me dava segurança. Eu sempre a esperava, como se fosse a única coisa que importasse. Cada vez que o elevador parava no andar, a ansiedade que se acumulava em meu peito não era de medo, mas de expectativa. O coração batia mais forte só de saber que ela estava ali, esperando por mim, que eu estava voltando para ela.Mesmo quando tudo ao nosso redor parecia desmoronar, mesmo quando eu queria acreditar que a raiva e o ódio eram tudo o que sentíamos, a verdade era que ela sempre foi a âncora que me impedia de me perder completamente. Eu podia odiá-la, mas não conseguia me af
Sem pensar, me viro, e antes que ela tenha tempo de reagir, puxo seu corpo para o meu. Minhas mãos a envolvem com uma força quase desesperada, fechando meus braços ao redor dela, apertando-a contra mim como se fosse a única coisa que ainda me conectasse à realidade. Eu a sinto pequena em meus braços, tão frágil, tão vulnerável. E ela não resiste. Não se afasta. Em vez disso, ela se deixa ir, apoiando a cabeça no meu peito, permitindo que o peso da dor que a consumia encontre algum tipo de alívio no momento.O choro dela se intensifica, e eu posso sentir cada tremor que passa por seu corpo, cada suspiro entrecortado, cada soluço que escapa de seus lábios. Ela está quebrada, e não posso fazer nada para apagar o que aconteceu. Mas, nesse momento, posso apenas estar ali para ela.“Ethan…” Blair murmura, a voz dela quase inaudível, um sussurro de dor que só posso ouvir porque ela está tão perto de mim.Eu fecho os olhos, sentindo meu próprio peito apertar com a emoção que transborda de m
“E naquela noite,” continuo, minha voz mais baixa, marcada pela raiva que começa a se formar em meu peito, “ele decidiu sozinho tirar você da minha vida. Ele achou que isso era a coisa certa. E depois, ele me assistiu definhar. Ele sabia que eu estava no fundo do poço porque tinha perdido você. E, mesmo assim, ele escolheu, dia após dia, se calar, fingir que foi um acidente, e não um crime que ele cometeu.” Sinto a raiva crescer mais dentro de mim, como um fogo que queima lentamente, mas constantemente.Blair estende a mão e, de maneira quase instintiva, acaricia meu joelho. O toque dela, suave e reconfortante, é a única coisa que ainda me mantém ancorado à realidade. Mas, ao mesmo tempo, é como se ela me puxasse de volta para um lugar que eu não consigo escapar. Eu coloco minha mão sobre a dela, sentindo sua pele quente e pequena contra a minha, buscando alguma calma que, por mais que tente, não consigo encontrar.“Eu não sei o que vou fazer quando ver ele,” admito, a raiva tomando
Estaciono o carro na garagem, o motor já em silêncio, mas a escuridão ali dentro parece mais densa, mais opressiva, à medida que fico alguns segundos apenas encarando aquele vazio. Não sinto raiva de Alex, nem frustração. Sinto, apenas, o peso do vazio. Se eu soubesse, se eu tivesse ao menos desconfiado que Blair estava viva todo esse tempo, eu não teria me perdido nesse abismo de álcool e drogas. Eu teria lutado contra a tormenta que me consumiu, tomado decisões diferentes. Mas, como sempre, o destino parece brincar com a gente, e eu nunca vi as cartas que estavam sobre a mesa.A atmosfera dentro do carro parece impregnada com o cheiro dela, como se de alguma forma ela ainda estivesse aqui, tão próxima, tão tangível. Fecho os olhos e me deixo invadir pela memória de ter Blair nos meus braços. Abraçar. Confortar. Naqueles momentos, ela não era apenas uma mulher em minha vida, mas a única coisa que eu ainda acreditava valer a pena. Naqueles anos passados, quando eu era um homem queb