— Filha, não demore para voltar! — grita minha mãe da cozinha.
— Estarei aqui na hora do jantar! — aviso-a. Pego minha bolsa e vou para o ponto de ônibus em frente à minha casa, onde espero por aproximadamente dez minutos. Ao entrar, pago a passagem e fico em pé por causa da superlotação e assim que estou perto do meu destino, aperto o sinal para parar no próximo ponto, onde fica a praça em que normalmente vou nos meus dias e horários livres. Ao descer percebo as pessoas correndo, caminhando, fazendo exercícios, crianças de colo e no carrinho. Olho para uma árvore que oferece uma boa sombra e me encaminho até ela me sentando na grama. Tiro da minha mochila o meu caderno de desenhos, estojo e começo a olha ao redor à procura de uma paisagem ou pessoas para desenhar. Meu olhar recai em um homem muito bonito. Bonito não! Na verdade, um homem espetacular, sentado em um banco trajando roupas de ginastica enquanto fala no celular obviamente irritado com a pessoa do outro lado da linha. Forço minha visão para observá-lo melhor. Ele é muito musculoso, isso se nota de longe. Sua boca é avermelhada e seu rosto marcado por feições duras e delineadas, que no momento estão rígidas. Não consigo ver seus olhos, mas o que se destaca é seu cabelo preto com pontas castanhas. Abro meu caderno rapidamente em uma página em branco e trabalhando intensamente começo a desenhá-lo, pois a qualquer momento ele pode ir embora. Olho para cima buscando por seus traços, suas linhas de expressões o que me salva é que ele ainda está no celular me dando mais tempo. Rabisco rapidamente e logo seu rosto aparece em um passe de mágica. Começo a dar os últimos retoques, deixando-o mais espetacular do que já é. Olho para cima buscando-o uma última vez, porém não o encontro, provavelmente foi embora enquanto aplicava os últimos detalhes. Começo a passar meu dedo no desenho para dar uma leve esfumada, todavia, um par de tênis para na minha frente forçando-me a olhar para cima. — Olá — O mesmo homem que estava ao celular estende a mão sorrindo para mim e em um ato desesperado jogo meu caderno de desenhos dentro da bolsa. Seu sorriso é tão lindo que fico hipnotizada. Olho para sua mão e ele arqueia uma sobrancelha para mim. Deus! Ele deve estar pensando que eu sou burra ou algo parecido! Estendo minha mão pensando que seria apenas um aperto, mas ele me puxa para cima fazendo-me ficar em pé e rapidamente retiro minha mão da sua pele por causa do arrepio que percorre meu corpo. — Eu sou Joshua — O lindo homem diz e eu fico mortificada em meu lugar encarando-o — E você é? — Ah... Eve, Everly — Meu Deus! Não acredito que estou gaguejando! Inesperadamente sinto meu rosto muito quente e tento olhar para qualquer lugar menos para ele. — Eu vi você desenhando — Ele diz — Posso ver? — Eu não desenho muito bem — digo rapidamente tentando me livrar de seu pedido — Deixe-me julgar — Ele sorri. Pego meu caderno dentro da bolsa, rezando para Deus que ele olhe somente as primeiras páginas. Ele começa a folhear e eu torço meus dedos nervosamente. — Você desenha muito bem! — comenta impressionado — Faz faculdade de Artes? — Não — respondo nervosa. Eu ainda estou no começo do terceiro ano do colegial, mas ele não precisa saber disso, ele me verá apenas como uma criança quando souber que não faço faculdade nenhuma. — Deveria fazer uma faculdade de Artes, você é muito talentosa — Então ele olha para mim e abre um sorriso que posso nomear como gigantesco. Ele olha de mim para o caderno várias vezes. Oh, Deus! A terra que está embaixo dos meus pés, por favor, engula-me! — Ah, eu sempre venho aqui — digo e meu coração começa a bater mais rápido — Desenho as pessoas e as paisagens — digo, pois em parte é verdade. Droga, tenho certeza de que as minhas bochechas devem estar pegando fogo! Eu me sinto quente, muito quente. — Entendo — diz ainda sorrindo — Você é muito boa — Me entrega o caderno e coloco-o rapidamente dentro da bolsa querendo me livrar dele o mais rápido possível — Pelo menos terei um lugar em seu caderno — Ele diz e eu sorrio sem graça. — Me desculpe — digo olhando-o e agora posso ver seus olhos, são cor de mel, contudo, olhando atentamente, consigo observar pequenos pontos verdes. Eu nunca tinha visto essa cor nos olhos de uma pessoa antes. — Não se desculpe, ao menos quando você olhar, irá se lembrar de mim. — Oh, minha santa! Por que ele disse isso? Eu preciso ir embora! — Pois é — digo a primeira palavra que surge em minha mente para me livrar desse momento constrangedor — Eu preciso ir. — Claro, eu te ofereceria uma carona se não estivesse praticando exercícios físicos. Que eu definitivamente não iria aceitar, ele é um completo estranho. — Você é gentil, obrigada por ter me deixado desenhá-lo sem a sua permissão. Então ele faz uma coisa impensável que eu não poderia imaginar. — Você tem celular? — Sim, por quê? — pergunto confusa. — Pegue-o. Então ele pega o dele em seu bolso traseiro e encosta no meu, a tecnologia estava definitivamente ao meu favor onde apenas um toque do seu celular no meu compartilhava nosso contato. — Agora você tem meu número e eu tenho o seu. Se quiser me desenhar de novo, é só ligar — tenho vontade de escancarar minha boca com os sentidos explícitos em suas palavras. — Ah, sim — digo, uma vez que acho que palavras coerentes não sairiam da minha boca. — Foi um imenso prazer conhecê-la, Everly. Assinto freneticamente, devo estar parecendo uma retardada. Então ele pega minha mão e beija levemente. Será que ele sabe em que século estamos? — Até mais — ele sorri estranhamente, entretanto não perco tempo tentando entender. Começo a andar mais que apressada para o ponto de ônibus e quando olho para trás, ele ainda está me observando.Chego em casa escorrendo suor devido ao calor escaldante, passo reto pela minha mãe apenas gritando um “eu cheguei!”, e subo direto para o meu quarto. Ao entrar, jogo minha bolsa na cama e vou para o banheiro. Ligo a água para ela ir mornando enquanto me dispo em frente ao espelho, ao estar completamente nua olho-me em frente ao espelho e fico desgostosa com o que vejo. Magra demais, pálida demais, estranha demais. Acho que é por isso que eu nunca consegui um namorado. Na verdade, já consegui um, Brandon Mayers, porém ele não conta, tudo foi uma completa mentira, era apenas uma aposta. Como que o capitão do tipo de futebol iria querer ficar comigo? E no final de tudo ele conseguiu a grande quantia de dinheiro, porque fui burra o suficiente para acreditar que um garoto lindo e popular como ele ficaria comigo. Me lembro de chorar por uma semana, não por ele e sim por ser burra o suficiente por ter acreditado, fui motivo de risos por semanas, mas não me importo mais, isso aco
Fujo correndo da sala de aula e acabo esbarrando em várias pessoas no caminho, eles olham para mim como se estivessem assistindo o demônio fugindo da cruz, os alunos dessa escola já não tinham uma boa impressão sobre mim devido a maldita aposta e neste momento com toda a certeza piorou. Ainda não consigo acreditar que o homem que conheci em uma praça é o meu professor, quando o vi pensei que ele poderia ser dono de seu próprio negócio ou algo do gênero, mas ele leciona, e para completar minha frustração, tenho uma dificuldade imensa em sua matéria. Agora tenho o número do homem que eu conheci na praça que acaba por ser meu professor. Ao chegar no meu armário a escola está quase deserta, abro-o e coloco meus materiais usados no dia de hoje, fecho-o e alguém esbarra em mim levando-me ao chão. Esse só pode ser meu dia! Olho para ver quem me derrubou e vejo o maldito Brandon! O babaca nem ao menos parou seu caminho para me ajudar. — Desculpe Eve — Eu pensava que ele não
Desperto na mesma posição em que fiquei ontem, mas agora estou completamente coberta pelo lençol e Dylan nem ao menos me chamou para ir para a cama. Me sento, entretanto, meus músculos do pescoço protestam, tento virar minha cabeça para o lado, o que só acaba por piorar a dor. Me levanto e vou para a cozinha onde pego a caixa de remédios, tomo um Advil e subo para o quarto, meus olhos se arregalam ao constatar a hora pelo relógio na cabeceira. Já são quase nove horas! Não há mais chances de ir para a escola. Vou para o banheiro e tiro o lençol jogando-o no canto do chão e ligo a água. Ao entrar, meus músculos do pescoço relaxam na água quente e acabando com a tensão. Saio do banheiro e coloco minha casual calça jeans e uma blusa branca, penteio meus cabelos e deixo-os secar naturalmente. Desço para a cozinha e encontro Dylan olhando pensativamente para a geladeira e por um momento fico confusa. Onde ele dormiu? — Bom dia, Eve — Ele diz quase cantando e sorri — Como você
Quando o intervalo chega já me sinto melhor devido ao analgésico. Não voltei mais para a sala de aula, fiquei em “observação”, o que foi completamente desnecessário, e assim que o sinal soou, a enfermeira insistiu para que eu comesse algo e me deu um discurso sobre bebidas alcoólicas, completamente desnecessário também, pois eu NUNCA MAIS ficarei bêbada novamente na minha vida! Fui em direção ao refeitório, peguei uma bandeja e coloquei o hambúrguer mais “saudável” que a escola insiste em dar, peguei um mini bolinho e uma caixinha de suco. Busco por Dylan no refeitório e encontro-o sentado no fundo acenando para mim igual uma bicha louca, tento não começar a rir e ando até a mesa. — Eve! Você definitivamente parece melhor! — Agora estou melhor já que vomitei todas as minhas tripas para fora — digo sarcástica. — Você vomitou na sala? — Dylan faz uma expressão de “Oh meus Deus!” como se fosse uma grande coisa. — Na verdade, eu saí correndo e meu “professor” veio atr
Muitas vezes dizem que o destino brinca com você, sempre achei isso uma puta idiotice, quem acredita em destino? Sinceramente? Eu não. Mas fico me perguntando repetidamente qual foi a intervenção maldita que colocou um homem correndo no parque, o homem que eu desenhei, o homem que é a droga do meu professor! Ok, não é para tanto assim, eu acho. O pior é que desde então eu não paro de pensar nele, o que é totalmente errado. Errado também é eu ter escondido em meu quarto um retrato nu, acho que a minha mãe teria um enfarto assim que olhasse, ainda mais por saber que foi um homem, mesmo que ‘gay’, me retratou. — Everly, onde você está? Preciso da sua atenção aqui — A conselheira começa a estalar os dedos na minha frente e saio dos meus pensamentos. — Me desculpe — murmuro — Sobre o que a senhora estava falando? A conselheira é uma mulher já em seus sessenta anos, cabelos pretos pintados na altura do pescoço e acima do peso, ela suspira profundamente como se não qu
— Você está bem, Everly? Congelo em minha risada, na verdade eu e Dylan congelamos, ele olha para trás de mim e arregala os olhos. Eu definitivamente conheço essa voz. Viro-me para trás e deparo-me com um Joshua, sua preocupação está estampada na sua face. — Você está bem, Everly? — pergunta novamente, olho-o de cima abaixo, ele está vestindo roupas casuais, uma calça jeans surrada que já viu dias melhores, uma blusa de linho branca e tênis. Joshua arqueia a sobrancelha esperando por uma resposta. — Nós estamos bem, senhor Joshua — Dylan intercepta vendo que eu estou no mundo da lua, ele se coloca ao meu lado praticamente se colando em mim, vejo Joshua tencionar, mas seus olhos não demonstram nada — Na verdade, eu e Eve vamos a sorveteria. — Vamos? Acordo e olho para Dylan. Nós vamos? Olho para a sorveteria. Bem pensado Dylan! — Você gostaria de tomar sorvete com a gente? — arregalo meus olhos para Dylan. Que porra de ideia é essa? Olho para Joshua esp
Everly 1 semana depois. A prova é colocada na minha mesa, espero o professor Joshua se virar e entregar as provas dos outros alunos e finalmente encaro o papel na minha frente. 2. Eu tirei 2. Meus ombros desmoronam para baixo como se o mundo tivesse caído sobre eles. Como vou para a faculdade? O que vou fazer para me formar? Esfrego as mãos em meu rosto tentando aliviar a frustração que sinto dentro de mim, está mais para um vulcão prestes a entrar em erupção. O sinal soa, parece que Deus ouviu meus pensamentos, porque o que eu mais quero é sair daqui, chegar em casa e enterrar meu rosto no travesseiro. — Everly, espere um minuto, por favor? — paro minha quase corrida para a saída, outras alunas que estão saindo olham para mim com óbvia inveja. Danem-se elas. Danem-se todos. Volto-me para Joshua, ele espera os outros alunos saírem para então ficarmos sozinhos. — Everly, sua nota não foi... — Não o deixo terminar e explodo. — Não foi boa! Eu sei! Eu
Ele quer que eu o desenhe agora? Eu dormi no apartamento do meu professor, faltei a aula, e ainda continuo no apartamento dele. O quão maluca eu sou? Ao invés de ir embora, estou aqui, vestindo uma roupa sua, e olhando-o sem saber o que dizer. — Eu quero que você me desenhe. Assinto, foi essa a proposta. — Você pode se sentar no sofá — encontro minha voz. Ele assente, vai até o sofá e eu vou até sua pequena mesa onde está minha bolsa. Tiro meu caderno de artes e um lápis próprio para desenhos. Pego uma cadeira da mesa e coloco bem distante de Joshua. Decido não apenas pintar seu rosto, somente pegar metade do seu tórax e ir subindo. Não sei quanto tempo exatamente fico desenhando, minutos, horas, eu não sei, apenas me dou por satisfeita quando fica pronto e fico feliz com o resultado. — Acabei! — digo vitoriosa. Joshua, no mesmo instante sai do sofá e entrego-o a folha, ele olha por um bom tempo e sorri de um modo que deixou todo o meu corpo arrepiado