3. Ameaças

Cássia nem fazia ideia, mas a ambição de Henrique era um buraco muito mais fundo do que ela poderia imaginar. Para ela, ele era apenas um marido frio, indiferente e infiel. Mas, na verdade, ele era um estrategista calculista, movido por um único objetivo: poder.

Depois de quase cinco anos de casamento — cinco longos anos de traições, frieza e sexo sem graça — Cássia finalmente tomou a decisão que deveria ter tomado no primeiro mês: procurou um advogado e deu entrada no divórcio.

Mas Henrique? Ah, ele não era do tipo que aceitava derrotas. E, definitivamente, não ia deixar que sua esposa "inconveniente" atrapalhasse seus planos.

Quando recebeu a notícia do pedido de divórcio, ele trincou os dentes, apertou os punhos e praguejou tão alto que o assistente dele pensou que um terremoto estava começando.

— Mas que droga, Cássia! Logo agora?!

Henrique estava prestes a realizar o sonho da sua vida: tornar-se prefeito. E, para isso, precisava manter a imagem perfeita de um marido dedicado e apaixonado. Uma separação estragaria tudo.

— Ela acha mesmo que pode me deixar assim? No meio da campanha? — ele resmungou, andando de um lado para o outro. — Não, não… isso não vai acontecer.

O que Cássia não sabia era que todo o império que Henrique construiu — suas festas luxuosas, seus jantares com empresários, sua campanha política brilhante — tudo isso foi financiado pelo dinheiro dela. Sim, ele dependia dela mais do que gostaria de admitir.

E agora, com a eleição tão perto, ela queria ir embora?

De jeito nenhum.

Henrique sabia que precisava agir rápido. Seu plano para o poder não incluía divórcios nem manchetes escandalosas. Ele não aceitaria que Cássia estragasse o momento mais importante da sua vida.

E, claro, ele não jogava limpo.

Faltavam apenas duas semanas para as eleições quando Henrique chegou em casa com um ar devastado, como se tivesse acabado de escapar por um triz de um desastre monumental.

Ele entrou pela porta sem o menor vestígio de seu habitual charme arrogante. Estava sério, abatido, com a testa franzida e os ombros tensos, como se carregasse o peso do mundo.

Cássia, que estava confortavelmente deitada no sofá degustando uma taça de vinho e assistindo a um reality show qualquer, arqueou a sobrancelha ao vê-lo.

— Nossa, o que aconteceu? Perdeu a eleição antes mesmo de ganhar? — brincou, girando o líquido na taça.

Henrique suspirou dramaticamente e passou a mão pelo rosto, como se estivesse se preparando para contar a notícia mais alarmante de sua vida.

— Não é brincadeira, Cássia. Eu estou correndo perigo.

Ela revirou os olhos.

— Você sempre está. Perigo de perder dinheiro, perigo de manchar sua reputação, perigo de tomar um golpe de um político mais esperto… Qual é a ameaça da vez?

Henrique ignorou o tom sarcástico dela e se jogou em uma poltrona, parecendo derrotado.

— Estou recebendo cartas ameaçadoras há semanas. No começo, achei que era só provocação de adversários políticos, então não dei muita atenção. Mas hoje… hoje foi diferente.

Ele fez uma pausa dramática e olhou para ela, esperando uma reação.

— Diferente como?

Henrique se inclinou para a frente, segurando a mão dela com uma intensidade que a fez estremecer.

— Me seguiram, Cássia. Um carro misterioso me perseguiu pelas ruas da cidade. Tentei despistá-los, mas eles quase me fizeram capotar. Foi por pouco… muito pouco.

Cássia arregalou os olhos. Ok, agora ele tinha a atenção dela.

— Meu Deus! Mas… mas você está bem?

Ele assentiu lentamente.

— Estou. Mas poderia não estar.

Naquela noite, Cássia rolou de um lado para o outro na cama, inquieta. Seu cérebro simplesmente não desligava.

— Será que Henrique está falando a verdade? — murmurou para si.

Claro, seu marido tinha o dom de ser dramático, mas e se, por acaso, dessa vez ele estivesse certo? E se realmente houvesse um perigo iminente?

— Bom, se for verdade… eu estou frita. Se for mentira… bom, aí é só mais um dia normal nesse casamento. — Suspirou e cobriu o rosto com o travesseiro.

Depois de muito revirar possibilidades na mente, o sono finalmente venceu.

Mas mal sabia ela que o dia seguinte traria surpresas.

Um dia, no entardecer, ao chegar em casa, Cássia notou algo estranho: Henrique estava na sala.

E isso era muito suspeito.

Normalmente, ele chegava tarde, ocupado demais com reuniões políticas e esquemas que ela preferia nem saber. Mas ali estava ele, sentado no sofá, bebendo um whisky e suspirando como se carregasse o peso do mundo nos ombros.

Cássia franziu o cenho.

— Ok, o que foi agora? A eleição foi cancelada? Roubaram sua coleção de ternos azul-marinho?

Henrique suspirou dramaticamente e fez um olhar de “pobre homem injustiçado pela vida”.

— Temos outro problema, Cássia. As ameaças aumentaram.

Ela cruzou os braços.

— Ah, que novidade.

— Não é só comigo… — Ele abaixou a voz, como se estivesse prestes a revelar um segredo mortal. Seus olhos fixaram-se nos dela, intensos. — Agora estão envolvendo você.

Cássia piscou.

— O quê?!

Henrique fez mais uma pausa dramática — porque, claro, ele adorava um suspense — e então continuou:

— Hoje, o alarme da casa disparou. Liguei para Ermelinda, mas ela estava no mercado. Então corri para casa e, quando cheguei…

Nova pausa.

— …encontrei nosso quarto invadido.

Os olhos de Cássia se arregalaram.

— Como assim, invadido?!

— Picharam a parede. De vermelho.

— De vermelho? Mas que cafona.

— Cássia! O foco aqui não é a estética do crime!

Ela ergueu as mãos em rendição.

— Ok, ok. Continue.

Henrique respirou fundo, como se estivesse prestes a dizer algo aterrorizante.

— Escreveram uma mensagem… um aviso para que eu desista da eleição… ou sofreremos as consequências.

Dessa vez, um calafrio real percorreu a espinha de Cássia.

— Mas… você chamou a polícia, certo?

— Sim, claro. Eles estão lá em cima, investigando.

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