Cássia soltou um suspiro aliviado.
— Bom, ao menos isso.
Henrique olhou fixo para ela.
— Agora é só esperar que eles resolvam. Devido às ameaças, tomei uma decisão importante.
Ela estreitou os olhos.
— Que tipo de decisão?
Henrique fez um gesto discreto com a cabeça, apontando para alguém atrás dela.
Cássia virou-se e, pela primeira vez, seus olhos pousaram em um homem alto, elegantemente vestido, parado na sala de estar.
Ele não estava ali apenas presente, ele dominava o ambiente.
Corpo atlético, terno perfeitamente ajustado, postura firme, olhar intenso e um certo ar de mistério que fazia qualquer protagonista de filme de ação parecer um amador.
Cássia piscou algumas vezes, tentando assimilar a situação.
— O que significa isso? — perguntou, voltando-se para Henrique.
Ele colocou uma mão em seu ombro e murmurou:
— Contratei um guarda-costas para você. Você precisa sair de casa ainda hoje.
Cássia sentiu o estômago revirar.
— Espera… o quê?!
— É por segurança. Assim que eu resolver isso, você pode voltar.
Ela cruzou os braços, desconfiada.
— Ah, claro. E quem é esse sujeito?
Henrique fez um gesto na direção do homem misterioso.
— Este é Charles Lamartine. Seu novo guarda-costas.
E foi ali, naquele instante, que Cássia percebeu algo muito importante:
Charles Lamartine não era apenas um guarda-costas. Ele era perigosamente sexy.
Cássia nunca teve um guarda-costas antes, mas se soubesse que eles poderiam ser assim… bem, talvez tivesse contratado um só pela estética.
O destino, pelo visto, ainda sabia brincar com suas expectativas.
Após aquela apresentação formal — e ligeiramente constrangedora — Henrique decidiu que Cássia deveria arrumar suas coisas e passar alguns dias em um lugar seguro até que as eleições terminassem.
Ela ainda estava tentando digerir tudo. Ameaças, invasões, pichações de gosto duvidoso… E agora? Exílio forçado?
Mas o detalhe mais inesperado de toda essa confusão era, sem dúvidas, Charles Lamartine, seu novo guarda-costas.
Assim que os policiais deixaram a casa, Henrique e seu advogado foram para a delegacia, deixando-a sozinha com aquele monumento esculpido pelos deuses. E que monumento.
Cássia fingiu coçar a nuca enquanto olhava de canto de olho para ele.
Afinal, era impossível não olhar.
O cara era um daqueles espécimes raros de masculinidade perfeita. Os músculos bem torneados pareciam moldados sob medida dentro do terno impecável. O cabelo, curto no estilo militar, realçava ainda mais suas feições perfeitamente esculpidas. Ele tinha aquele ar austero, sério, de quem poderia ser um soldado da Rainha Elizabeth…
Aliás… aquela cara fechada dele…
Cássia cobriu a boca e riu baixinho ao imaginar Charles parado em frente ao Palácio de Buckingham, sem piscar, enquanto turistas tentavam arrancar alguma reação dele.
Mas sua diversão foi cortada quando notou que ele a encarava seriamente.
— Opa.
Melhor não rir na cara do segurança que deveria mantê-la viva. Com um suspiro discreto, decidiu quebrar o gelo:
— Qual é mesmo seu nome?
Afinal, nada mais justo do que saber o nome do homem com quem ficaria confinada pelos próximos dias.
Charles se endireitou ainda mais — se é que era possível — e respondeu num tom firme:
— Charles Lamartine, senhora.
— Senhora?! Cássia fez uma careta. — Não precisa desse "senhora", parece que eu tenho 50 anos e crio gatos sozinha.
Charles não esboçou reação.
— Certo… Cássia.
Ela abriu um meio sorriso, satisfeita.
Mas antes que pudesse continuar a conversa, ele completou:
— Precisamos nos apressar. Acho prudente que a senhora — digo, você — arrume suas coisas. Esta casa já foi alvo uma vez hoje. Não podemos correr riscos.
Cássia riu, como se ele tivesse acabado de contar uma piada.
— Nossa, você leva esse negócio de segurança bem a sério, hein?
Mas Charles não riu. Na verdade, o semblante dele ficou ainda mais fechado.
— Eu espero que você colabore para sua própria segurança. Seu marido já dispensou todos os empregados da casa. Estamos completamente sozinhos aqui.
Aquele detalhe passou como um choque pelo corpo de Cássia.
“Sozinhos. “
A mansão, antes movimentada, agora parecia grande demais. O coração dela disparou, e não era só pelo perigo iminente. Sem hesitar, girou nos calcanhares e correu para o quarto. Se era para fugir, então que fosse logo. Mas uma coisa era certa… Passar um tempo ao lado de Charles Lamartine prometia ser interessante.
DE VOLTA AO INÍCIO...A viagem foi longa. Tão longa que, em algum momento, entre o silêncio desconfortável e as árvores passando pela janela, Cássia simplesmente apagou. Encostada no vidro do carro, dormiu profundamente, alheia ao fato de que seu destino era uma casa isolada no meio do nada. Quando Charles finalmente estacionou atrás da casa, já era de madrugada. O lugar era cercado por árvores gigantescas, e a única iluminação vinha da lua filtrando-se entre as folhas. Ele suspirou ao olhar para o banco do passageiro. Cássia continuava desmaiada. — Ótimo!Com um pouco de relutância, saiu do carro e começou a retirar as malas. Mas, ao notar que ela sequer se mexia, decidiu que seria melhor acordá-la antes que precisasse carregá-la casa adentro. — Cássia — chamou, com sua voz firme. Nada. — Cássia, chegamos. Ela resmungou alguma coisa ininteligível e afundou ainda mais no banco. Charles revirou os olhos e se inclinou, tocando-lhe o ombro. — Se não acordar, vou ter que te carreg
O sol mal havia começado a se levantar no horizonte quando Charles já estava de pé. Depois de se alongar rapidamente, ele saiu para correr pelos arredores da cabana, mantendo seu ritmo impecável, como um verdadeiro profissional. O ar fresco da manhã e o som das folhas farfalhando ao vento eram seus únicos companheiros, já que Cássia, sua protegida, dormia profundamente sem a menor preocupação no mundo. No caminho de volta, ele percebeu que a situação da despensa da cabana era crítica —praticamente um deserto alimentar. Sem pensar duas vezes, parou no pequeno mercadinho da cidade mais próxima e comprou algumas coisas essenciais: ovos, pão, leite e, claro, café, porque lidar com Cássia sem café poderia ser um risco à sua própria sanidade. Quando chegou, colocou as sacolas sobre a mesa e começou a guardar os mantimentos, mas logo ouviu um barulho vindo do corredor. — Bom dia! — A voz preguiçosa de Cássia ecoou pelo ambiente enquanto ela bocejava e alongava os braços. — Onde você estav
O entardecer trouxe consigo nuvens pesadas e carregadas. Charles, atento como sempre, percebeu que um temporal se aproximava e resolveu verificar se tudo estava em ordem do lado de fora. O vento começava a sacudir as árvores e um cheiro de terra molhada tomava conta do ar. Ele olhou para o céu escuro e decidiu que era melhor voltar para dentro antes que a tempestade começasse de vez. Assim que entrou, as primeiras gotas de chuva começaram a cair, seguidas de trovões distantes. O ambiente estava silencioso, apenas o som da chuva batendo no telhado preenchia o espaço. Charles pegou o celular e tentou ligar para Henrique, esperando receber novas instruções. Nada. Ele tentou novamente. Ainda nada. Com um suspiro frustrado, ele tentou o telefone do escritório. Nenhuma resposta. Cássia, que estava deitada no sofá folheando uma revista sem muito interesse, percebeu sua expressão preocupada e arqueou a sobrancelha. — O que houve? Não conseguiu falar com Henrique? Charles balançou a cabeç
A chuva caía forte quando Henrique apareceu na porta da cabana. Seu terno estava impecável, mesmo com o temporal castigando lá fora. Ele parecia determinado, mas Charles não se impressionou. Cruzou os braços e, sem rodeios, perguntou com seriedade: — Por que está aqui?Henrique o ignorou por um momento e olhou diretamente para Cássia. — Eu vim ver minha mulher. Charles estreitou os olhos. — Mas, senhor... Henrique ergueu a mão, cortando qualquer protesto. — Se acalme, Charles. Eu só preciso conversar com minha esposa. Cássia ficou parada, olhando para ele como se estivesse diante de um alienígena. Eles estavam casados há cinco anos, mas, durante esse tempo, pareciam dois estranhos. Henrique nunca fora do tipo carinhoso, e agora estava ali, na chuva, agindo como um marido preocupado. Algo estava errado. E ficou ainda mais estranho quando Henrique se aproximou dela, deslizou a mão pelo seu rosto e perguntou com um tom de voz quase... suave: — Como você está, querida? Cássia arr
Cássia sorriu de lado, cruzando os braços enquanto o observava. Ele estava ali, tão concentrado, tão sério, como se cozinhar fosse uma missão de vida ou morte.Ah, mas ela sabia que tinha mexido com ele. Sabia que aquele beijo mais cedo não tinha sido coisa só dela. E se Charles queria fingir que nada aconteceu… bem, ela não iria facilitar. Cássia sorriu maliciosamente. Ah, então ele queria bancar o indiferente? Pois bem, ela poderia jogar esse jogo. — O que temos para o jantar, chef Lamartine? — perguntou, deslizando as mãos pelo balcão e inclinando-se ligeiramente para espiar a panela, sem disfarçar a proximidade entre os dois. Charles, que já estava tenso, sentiu cada terminação nervosa do seu corpo acender como fogos de artifício. Mas ele era um profissional. Um homem disciplinado. E definitivamente não iria ceder tão fácil. Ele pigarreou, manteve os olhos fixos na comida e respondeu em um tom firme: — Sopa. Simples e eficiente. Agora, se puder dar um passo para trás… você pod
Cássia suspirou enquanto pegava os pratos e os colocava sobre a mesa. Talvez estivesse exagerando nas provocações. Charles não era um cara que entrava fácil no jogo, e claramente, ele não estava achando tanta graça assim. Ele virou-se para pegar a panela de sopa, sua expressão séria como sempre, e começou a servir os pratos sem sequer olhar para ela. Cássia mordeu o lábio, tentando pensar em uma forma de amenizar o clima. — Desculpa se te aborreci. — Ela quebrou o silêncio, apoiando o cotovelo na mesa e olhando para ele com um sorriso meio sem jeito. — Fiquei nervosa com a visita surpresa do Henrique e… bem, tentei descontrair. Acho que passei um pouquinho do limite. Charles continuou em silêncio por alguns segundos, pegou sua colher e começou a beber a sopa como se ela não tivesse falado nada. Cássia arqueou as sobrancelhas. — Uau. Tudo isso é ranço de mim ou você é sempre assim, feito um agente secreto sem emoções? Ele não respondeu. Só continuou comendo, como se estivesse em
Depois do jantar, Cássia lançou um olhar furtivo para Charles, ponderando se deveria provocá-lo mais um pouco. Mas antes que pudesse bolar um plano genial para tirá-lo do sério, sentiu o celular vibrar no bolso. "Ah, salvou-se por pouco, senhor guarda-costas de gelo," pensou, rindo para si. Ela se levantou da mesa com um alongamento exagerado, só para ver se Charles reagia de alguma forma. Nada. Nem um desvio de olhar. O homem era um verdadeiro robô de terno. — Bom, vou para a sala. Não se divirta muito lavando a louça. Charles apenas ergueu uma sobrancelha, sem interromper o trabalho meticuloso de enxaguar os pratos. — Não se preocupe, Cássia. Eu me contenho. Ela revirou os olhos e seguiu para a sala, afundando-se no sofá com um suspiro. Pegou o celular e viu que era uma mensagem da sua melhor amiga, Molie. "Amiga, você está viva? Porque se não responder, vou supor que foi sequestrada pelo seu guarda-costas gostoso e agora está vivendo um romance proibido no meio da floresta."
Cássia entrou no quarto e fechou a porta atrás de si com um suspiro pesado, encostando-se contra a madeira como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu coração ainda batia forte, suas bochechas estavam em chamas, e todo o seu corpo parecia ter sido eletrificado pelo pequeno embate com Charles. — Ai, meu Deus… — murmurou para si, passando as mãos pelo rosto. Era oficial: ela estava completamente ferrada. Porque uma coisa era admitir para sua amiga, entre risinhos e emojis sugestivos, que Charles era um colírio para os olhos. Outra coisa completamente diferente era sentir, na pele, o efeito que ele tinha sobre ela. E o pior? Ela tinha certeza de que ele sentia o mesmo. O jeito que ele ficou rígido quando ela encostou nele na cozinha. O olhar que ele lançou para ela quando leu a mensagem. O maldito sorrisinho torto, cheio de provocação. Ah, ele sabia. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Cássia fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos in