O sol mal havia começado a se levantar no horizonte quando Charles já estava de pé. Depois de se alongar rapidamente, ele saiu para correr pelos arredores da cabana, mantendo seu ritmo impecável, como um verdadeiro profissional. O ar fresco da manhã e o som das folhas farfalhando ao vento eram seus únicos companheiros, já que Cássia, sua protegida, dormia profundamente sem a menor preocupação no mundo.
No caminho de volta, ele percebeu que a situação da despensa da cabana era crítica —praticamente um deserto alimentar. Sem pensar duas vezes, parou no pequeno mercadinho da cidade mais próxima e comprou algumas coisas essenciais: ovos, pão, leite e, claro, café, porque lidar com Cássia sem café poderia ser um risco à sua própria sanidade.
Quando chegou, colocou as sacolas sobre a mesa e começou a guardar os mantimentos, mas logo ouviu um barulho vindo do corredor.
— Bom dia! — A voz preguiçosa de Cássia ecoou pelo ambiente enquanto ela bocejava e alongava os braços. — Onde você estava tão cedo?
Charles, sem tirar os olhos do que fazia, respondeu calmamente:
— Saí para correr.
Ela franziu o cenho, ainda meio sonolenta.
— Correr? A essa hora? No meio da floresta? Você tá fugindo de alguma coisa?
— Hábito, senhora. — Ele respondeu de forma prática.
Cássia revirou os olhos e riu.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer para você parar de me chamar de ‘senhora’? Isso me faz sentir casada com um senhor de 80 anos.
— Bom, considerando que seu marido é um político, acho que a comparação não está tão errada. — Ele respondeu, com um meio sorriso.
Cássia riu, ainda grogue de sono.
— Toque, Charles! Finalmente uma piada! Estou orgulhosa de você.
Ele apenas balançou a cabeça, voltando ao que fazia.
— Você já está com fome? — perguntou, ignorando a provocação.
— Sempre! Mas vou me trocar primeiro e já volto.
Ela desapareceu pelo corredor, e Charles usou o tempo para preparar o café da manhã. Com habilidade, ele fez panquecas douradas, torradas crocantes e ovos fritos. Quando Cássia voltou, já, mais desperta, os dois se sentaram para comer.
O silêncio tomou conta da mesa. Enquanto Charles comia tranquilamente, Cássia parecia distante, mexendo distraidamente no garfo. Seu olhar estava perdido, claramente remoendo pensamentos. A ideia de fugir, de estar sendo ameaçada, e principalmente a história mal contada de Henrique, seu marido, não saía da sua cabeça.
“Será que eu realmente conheço o homem com quem me casei?” — ela pensou.
Depois do café, Charles foi para fora mexer no carro, verificando se tudo estava em ordem. Cássia, entediada, pegou o celular e tentou ligar para sua melhor amiga, Molie. Sem resposta. Então, decidiu mandar uma mensagem.
"Oi, amiga, tudo bem? Preciso da sua ajuda."
Não demorou muito e o celular vibrou com uma resposta.
"Cássia, mulher, onde você está?! Acabei de saber do ataque à sua casa! Você está bem?"
Cássia sorriu levemente ao ver a preocupação da amiga e digitou rápido:
"Estou bem. Posso te ligar?"
"Estou em uma reunião, mas te ligo em cinco minutos."
Cinco minutos pareciam uma eternidade. Cássia correu até a cozinha, bebeu um copo d’água como se estivesse competindo em uma maratona e voltou para o sofá, ansiosa. Finalmente, seu telefone tocou.
— Molie, que saudade!
— Amiga, me conta tudo! O que aconteceu? Onde você está? Fala rápido que eu tenho pouco tempo!
Cássia respirou fundo e começou:
— Depois do ataque na minha casa, Henrique decidiu que eu precisava fugir. Ele contratou um guarda-costas e agora estamos escondidos em uma cabana no meio da floresta.
Do outro lado da linha, Molie ficou em silêncio por dois segundos, antes de soltar uma risada animada.
— Peraí... você tá escondida no meio do nada... com um guarda-costas?
— Sim… — respondeu Cássia, já prevendo o que vinha a seguir.
— E ele é gostoso?
Cássia gargalhou.
— Menina, ele é lindo, sexy e um verdadeiro soldado de filme de ação. Mas ainda não sei se é gostoso... preciso provar primeiro.
Molie caiu na gargalhada.
— Amiga, você tá há anos na seca! Casada com aquela geladeira. Se j**a nesse guarda-costas misterioso!
As duas continuaram rindo, mas, para a tristeza de Cássia, a ligação foi curta.
— Preciso ir, mas me liga se precisar de alguma coisa, tá? E, por favor, aproveita essa oportunidade, porque essas coisas só acontecem em filme!
Após se despedir, Cássia jogou o celular no sofá e suspirou.
"Será que realmente só acontece em filme?" — Pensou, mordendo o lábio.
Ela olhou pela janela e viu Charles ainda mexendo no carro, com a camiseta colada ao corpo, destacando os músculos.
Talvez Molie estivesse certa.
O entardecer trouxe consigo nuvens pesadas e carregadas. Charles, atento como sempre, percebeu que um temporal se aproximava e resolveu verificar se tudo estava em ordem do lado de fora. O vento começava a sacudir as árvores e um cheiro de terra molhada tomava conta do ar. Ele olhou para o céu escuro e decidiu que era melhor voltar para dentro antes que a tempestade começasse de vez. Assim que entrou, as primeiras gotas de chuva começaram a cair, seguidas de trovões distantes. O ambiente estava silencioso, apenas o som da chuva batendo no telhado preenchia o espaço. Charles pegou o celular e tentou ligar para Henrique, esperando receber novas instruções. Nada. Ele tentou novamente. Ainda nada. Com um suspiro frustrado, ele tentou o telefone do escritório. Nenhuma resposta. Cássia, que estava deitada no sofá folheando uma revista sem muito interesse, percebeu sua expressão preocupada e arqueou a sobrancelha. — O que houve? Não conseguiu falar com Henrique? Charles balançou a cabeç
A chuva caía forte quando Henrique apareceu na porta da cabana. Seu terno estava impecável, mesmo com o temporal castigando lá fora. Ele parecia determinado, mas Charles não se impressionou. Cruzou os braços e, sem rodeios, perguntou com seriedade: — Por que está aqui?Henrique o ignorou por um momento e olhou diretamente para Cássia. — Eu vim ver minha mulher. Charles estreitou os olhos. — Mas, senhor... Henrique ergueu a mão, cortando qualquer protesto. — Se acalme, Charles. Eu só preciso conversar com minha esposa. Cássia ficou parada, olhando para ele como se estivesse diante de um alienígena. Eles estavam casados há cinco anos, mas, durante esse tempo, pareciam dois estranhos. Henrique nunca fora do tipo carinhoso, e agora estava ali, na chuva, agindo como um marido preocupado. Algo estava errado. E ficou ainda mais estranho quando Henrique se aproximou dela, deslizou a mão pelo seu rosto e perguntou com um tom de voz quase... suave: — Como você está, querida? Cássia arr
Cássia sorriu de lado, cruzando os braços enquanto o observava. Ele estava ali, tão concentrado, tão sério, como se cozinhar fosse uma missão de vida ou morte.Ah, mas ela sabia que tinha mexido com ele. Sabia que aquele beijo mais cedo não tinha sido coisa só dela. E se Charles queria fingir que nada aconteceu… bem, ela não iria facilitar. Cássia sorriu maliciosamente. Ah, então ele queria bancar o indiferente? Pois bem, ela poderia jogar esse jogo. — O que temos para o jantar, chef Lamartine? — perguntou, deslizando as mãos pelo balcão e inclinando-se ligeiramente para espiar a panela, sem disfarçar a proximidade entre os dois. Charles, que já estava tenso, sentiu cada terminação nervosa do seu corpo acender como fogos de artifício. Mas ele era um profissional. Um homem disciplinado. E definitivamente não iria ceder tão fácil. Ele pigarreou, manteve os olhos fixos na comida e respondeu em um tom firme: — Sopa. Simples e eficiente. Agora, se puder dar um passo para trás… você pod
Cássia suspirou enquanto pegava os pratos e os colocava sobre a mesa. Talvez estivesse exagerando nas provocações. Charles não era um cara que entrava fácil no jogo, e claramente, ele não estava achando tanta graça assim. Ele virou-se para pegar a panela de sopa, sua expressão séria como sempre, e começou a servir os pratos sem sequer olhar para ela. Cássia mordeu o lábio, tentando pensar em uma forma de amenizar o clima. — Desculpa se te aborreci. — Ela quebrou o silêncio, apoiando o cotovelo na mesa e olhando para ele com um sorriso meio sem jeito. — Fiquei nervosa com a visita surpresa do Henrique e… bem, tentei descontrair. Acho que passei um pouquinho do limite. Charles continuou em silêncio por alguns segundos, pegou sua colher e começou a beber a sopa como se ela não tivesse falado nada. Cássia arqueou as sobrancelhas. — Uau. Tudo isso é ranço de mim ou você é sempre assim, feito um agente secreto sem emoções? Ele não respondeu. Só continuou comendo, como se estivesse em
Depois do jantar, Cássia lançou um olhar furtivo para Charles, ponderando se deveria provocá-lo mais um pouco. Mas antes que pudesse bolar um plano genial para tirá-lo do sério, sentiu o celular vibrar no bolso. "Ah, salvou-se por pouco, senhor guarda-costas de gelo," pensou, rindo para si. Ela se levantou da mesa com um alongamento exagerado, só para ver se Charles reagia de alguma forma. Nada. Nem um desvio de olhar. O homem era um verdadeiro robô de terno. — Bom, vou para a sala. Não se divirta muito lavando a louça. Charles apenas ergueu uma sobrancelha, sem interromper o trabalho meticuloso de enxaguar os pratos. — Não se preocupe, Cássia. Eu me contenho. Ela revirou os olhos e seguiu para a sala, afundando-se no sofá com um suspiro. Pegou o celular e viu que era uma mensagem da sua melhor amiga, Molie. "Amiga, você está viva? Porque se não responder, vou supor que foi sequestrada pelo seu guarda-costas gostoso e agora está vivendo um romance proibido no meio da floresta."
Cássia entrou no quarto e fechou a porta atrás de si com um suspiro pesado, encostando-se contra a madeira como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu coração ainda batia forte, suas bochechas estavam em chamas, e todo o seu corpo parecia ter sido eletrificado pelo pequeno embate com Charles. — Ai, meu Deus… — murmurou para si, passando as mãos pelo rosto. Era oficial: ela estava completamente ferrada. Porque uma coisa era admitir para sua amiga, entre risinhos e emojis sugestivos, que Charles era um colírio para os olhos. Outra coisa completamente diferente era sentir, na pele, o efeito que ele tinha sobre ela. E o pior? Ela tinha certeza de que ele sentia o mesmo. O jeito que ele ficou rígido quando ela encostou nele na cozinha. O olhar que ele lançou para ela quando leu a mensagem. O maldito sorrisinho torto, cheio de provocação. Ah, ele sabia. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Cássia fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos in
Cássia tocou no peitoral de Charles com as pontas dos dedos, ela sentiu o peito dele estremecer. O toque de Cássia era leve, hesitante, mas carregado de um perigo silencioso. Charles sentiu. Seu peito tremeu sob os dedos dela, um reflexo traidor de tudo o que ele estava se obrigando a ignorar. O banheiro, já abafado pelo vapor quente, parecia agora uma câmara de tortura. A umidade no ar misturava-se ao calor crescente entre os dois, tornando a atmosfera insuportável. Charles prendeu a respiração. — Se ao menos o problema fosse só o calor... pensou ele. Mas não era. Ele ouvia a respiração acelerada de Cássia, captava o cheiro suave de sabonete misturado ao perfume natural da pele dela. O corpo pequeno e delicado tão próximo ao seu o fazia perder completamente o foco. Ela estava perto demais. E Charles, por Deus, ele lutava contra cada impulso de agarrá-la e beijá-la ali mesmo. Mas ele não podia. Ele sabia que não podia. Ele era um profissional. E estava ali para protegê-la,
Quando chegou à cozinha, ele viu uma sombra se movendo rapidamente do lado de fora. Alguém estava ali.Mas antes que pudesse persegui-lo, um cheiro forte atingiu suas narinas. Gás. — Merda! — xingou baixinho, correndo até o fogão. O cano de gás estava rompido, vazando uma quantidade absurda. Aquilo podia explodir a qualquer momento. Sem perder tempo, ele correu de volta para o quarto e sacudiu Cássia. — CÁSSIA, ACORDA!Ela abriu os olhos lentamente, piscando várias vezes, visivelmente confusa. — O quê? — murmurou, bocejando. — Você tá maluco? — Precisamos ir! AGORA! — ele praticamente rugiu, puxando as cobertas de cima dela. — Mas... — Cássia sentou-se na cama, esfregando os olhos. — Já é de manhã? Eu juro que só pisquei e...— CÁSSIA, O GÁS! A CASA VAI EXPLODIR! Ela pulou da cama na mesma hora, esquecendo completamente o sono. Começou a enfiar tudo na bolsa de qualquer jeito, pegando roupas, celular, até um tubo de creme dental sem tampa. — O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! — ela pe