A chuva caía forte quando Henrique apareceu na porta da cabana. Seu terno estava impecável, mesmo com o temporal castigando lá fora. Ele parecia determinado, mas Charles não se impressionou. Cruzou os braços e, sem rodeios, perguntou com seriedade: — Por que está aqui?Henrique o ignorou por um momento e olhou diretamente para Cássia. — Eu vim ver minha mulher. Charles estreitou os olhos. — Mas, senhor... Henrique ergueu a mão, cortando qualquer protesto. — Se acalme, Charles. Eu só preciso conversar com minha esposa. Cássia ficou parada, olhando para ele como se estivesse diante de um alienígena. Eles estavam casados há cinco anos, mas, durante esse tempo, pareciam dois estranhos. Henrique nunca fora do tipo carinhoso, e agora estava ali, na chuva, agindo como um marido preocupado. Algo estava errado. E ficou ainda mais estranho quando Henrique se aproximou dela, deslizou a mão pelo seu rosto e perguntou com um tom de voz quase... suave: — Como você está, querida? Cássia arr
Cássia sorriu de lado, cruzando os braços enquanto o observava. Ele estava ali, tão concentrado, tão sério, como se cozinhar fosse uma missão de vida ou morte.Ah, mas ela sabia que tinha mexido com ele. Sabia que aquele beijo mais cedo não tinha sido coisa só dela. E se Charles queria fingir que nada aconteceu… bem, ela não iria facilitar. Cássia sorriu maliciosamente. Ah, então ele queria bancar o indiferente? Pois bem, ela poderia jogar esse jogo. — O que temos para o jantar, chef Lamartine? — perguntou, deslizando as mãos pelo balcão e inclinando-se ligeiramente para espiar a panela, sem disfarçar a proximidade entre os dois. Charles, que já estava tenso, sentiu cada terminação nervosa do seu corpo acender como fogos de artifício. Mas ele era um profissional. Um homem disciplinado. E definitivamente não iria ceder tão fácil. Ele pigarreou, manteve os olhos fixos na comida e respondeu em um tom firme: — Sopa. Simples e eficiente. Agora, se puder dar um passo para trás… você pod
Cássia suspirou enquanto pegava os pratos e os colocava sobre a mesa. Talvez estivesse exagerando nas provocações. Charles não era um cara que entrava fácil no jogo, e claramente, ele não estava achando tanta graça assim. Ele virou-se para pegar a panela de sopa, sua expressão séria como sempre, e começou a servir os pratos sem sequer olhar para ela. Cássia mordeu o lábio, tentando pensar em uma forma de amenizar o clima. — Desculpa se te aborreci. — Ela quebrou o silêncio, apoiando o cotovelo na mesa e olhando para ele com um sorriso meio sem jeito. — Fiquei nervosa com a visita surpresa do Henrique e… bem, tentei descontrair. Acho que passei um pouquinho do limite. Charles continuou em silêncio por alguns segundos, pegou sua colher e começou a beber a sopa como se ela não tivesse falado nada. Cássia arqueou as sobrancelhas. — Uau. Tudo isso é ranço de mim ou você é sempre assim, feito um agente secreto sem emoções? Ele não respondeu. Só continuou comendo, como se estivesse em
Depois do jantar, Cássia lançou um olhar furtivo para Charles, ponderando se deveria provocá-lo mais um pouco. Mas antes que pudesse bolar um plano genial para tirá-lo do sério, sentiu o celular vibrar no bolso. "Ah, salvou-se por pouco, senhor guarda-costas de gelo," pensou, rindo para si. Ela se levantou da mesa com um alongamento exagerado, só para ver se Charles reagia de alguma forma. Nada. Nem um desvio de olhar. O homem era um verdadeiro robô de terno. — Bom, vou para a sala. Não se divirta muito lavando a louça. Charles apenas ergueu uma sobrancelha, sem interromper o trabalho meticuloso de enxaguar os pratos. — Não se preocupe, Cássia. Eu me contenho. Ela revirou os olhos e seguiu para a sala, afundando-se no sofá com um suspiro. Pegou o celular e viu que era uma mensagem da sua melhor amiga, Molie. "Amiga, você está viva? Porque se não responder, vou supor que foi sequestrada pelo seu guarda-costas gostoso e agora está vivendo um romance proibido no meio da floresta."
Cássia entrou no quarto e fechou a porta atrás de si com um suspiro pesado, encostando-se contra a madeira como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu coração ainda batia forte, suas bochechas estavam em chamas, e todo o seu corpo parecia ter sido eletrificado pelo pequeno embate com Charles. — Ai, meu Deus… — murmurou para si, passando as mãos pelo rosto. Era oficial: ela estava completamente ferrada. Porque uma coisa era admitir para sua amiga, entre risinhos e emojis sugestivos, que Charles era um colírio para os olhos. Outra coisa completamente diferente era sentir, na pele, o efeito que ele tinha sobre ela. E o pior? Ela tinha certeza de que ele sentia o mesmo. O jeito que ele ficou rígido quando ela encostou nele na cozinha. O olhar que ele lançou para ela quando leu a mensagem. O maldito sorrisinho torto, cheio de provocação. Ah, ele sabia. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Cássia fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos in
Cássia tocou no peitoral de Charles com as pontas dos dedos, ela sentiu o peito dele estremecer. O toque de Cássia era leve, hesitante, mas carregado de um perigo silencioso. Charles sentiu. Seu peito tremeu sob os dedos dela, um reflexo traidor de tudo o que ele estava se obrigando a ignorar. O banheiro, já abafado pelo vapor quente, parecia agora uma câmara de tortura. A umidade no ar misturava-se ao calor crescente entre os dois, tornando a atmosfera insuportável. Charles prendeu a respiração. — Se ao menos o problema fosse só o calor... pensou ele. Mas não era. Ele ouvia a respiração acelerada de Cássia, captava o cheiro suave de sabonete misturado ao perfume natural da pele dela. O corpo pequeno e delicado tão próximo ao seu o fazia perder completamente o foco. Ela estava perto demais. E Charles, por Deus, ele lutava contra cada impulso de agarrá-la e beijá-la ali mesmo. Mas ele não podia. Ele sabia que não podia. Ele era um profissional. E estava ali para protegê-la,
Quando chegou à cozinha, ele viu uma sombra se movendo rapidamente do lado de fora. Alguém estava ali.Mas antes que pudesse persegui-lo, um cheiro forte atingiu suas narinas. Gás. — Merda! — xingou baixinho, correndo até o fogão. O cano de gás estava rompido, vazando uma quantidade absurda. Aquilo podia explodir a qualquer momento. Sem perder tempo, ele correu de volta para o quarto e sacudiu Cássia. — CÁSSIA, ACORDA!Ela abriu os olhos lentamente, piscando várias vezes, visivelmente confusa. — O quê? — murmurou, bocejando. — Você tá maluco? — Precisamos ir! AGORA! — ele praticamente rugiu, puxando as cobertas de cima dela. — Mas... — Cássia sentou-se na cama, esfregando os olhos. — Já é de manhã? Eu juro que só pisquei e...— CÁSSIA, O GÁS! A CASA VAI EXPLODIR! Ela pulou da cama na mesma hora, esquecendo completamente o sono. Começou a enfiar tudo na bolsa de qualquer jeito, pegando roupas, celular, até um tubo de creme dental sem tampa. — O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! — ela pe
Depois de horas intermináveis, finalmente chegaram ao destino. A cabana ficava na cidade ao sul da floresta. Era pequena, isolada e cercada por um matagal tão alto que parecia abandonada há décadas. Cássia saiu do carro primeiro, olhando ao redor com desconfiança. — De todas as opções possíveis, você escolheu a versão assassino em série do Airbnb? — É segura. — Charles respondeu, saindo do carro e pegando as sacolas. — Só se estivermos fugindo da civilização. — retrucou, chutando um galho no chão. Ele ignorou o comentário, foi até a entrada, pegou um vaso ao lado da porta, tirou uma chave escondida embaixo dele e abriu. — O quarto fica lá em cima. Se quiser descansar, os lençóis estão na cômoda. Cássia revirou os olhos. — Ah, que romântico. Eu quero descansar depois de fugir de uma explosão e perder meu celular para sempre. Mas, apesar da ironia, ela realmente estava exausta. Subiu as escadas e entrou no quarto sem nem olhar para trás. Charles percebeu, ele viu os olhos dela