JESS
Não sou uma garota normal, aos 18 anos saí do meu país em busca de autoconhecimento ou talvez fugir de mim mesma, cruzei o atlântico com uma mala e muitos pesadelos nem eram sonhos, complexada desde criança por não ter o corpo “padrão” e por viver na cidade mais romântica da Itália, eu sempre quis fugir. Sou maluca? Talvez, mas viver em um lugar por toda a vida, que respira amor e beleza e não se sentir amada e bonita é uma merda. Há quase sete anos que vivo aqui em Nova York, e claro que isso não mudou em nada os meus complexos e pesadelos, continuo com minhas sessões de terapia com as quais convivo desde a adolescência, o que mudou somente foi a profissional que me trata e a língua que domino com perfeição sem nenhum sotaque.
Eu não achei que aceitar a sugestão da minha psiquiatra seria tão excitante, quer dizer nunca tinha entrado em um clube BDSM, mas como ela sugeriu essa última alternativa para ajudar com meus traumas, mergulhei de cabeça nisso. Caramba e como adorei esse lugar! Não é tão assustador como nas minhas pesquisas na internet, ao contrário, me senti parte daquele ambiente de cara, não eu Jessica DiMateo, mas outra pessoa, uma mulher que eu nem sabia que existia, talvez meu alterego, não sei ainda, mas quero descobrir. Quem sabe esse pedaço perdido que tanto me falta seja isso, me tornar essa pessoa que não conheço e que está presente, forte, poderosa, sabendo exatamente o que quer e o que a faz sentir parazer, uma Dominante.
LYONEL
Me levanto enlouquecido da poltrona de couro e vou até o bar, preciso de uma bebida e uma forte, para ver se acalmo minha respiração e o meu pau. Porra! Que performance foi essa? Minhas cabeças pulsam. E quem era aquela mulher? Ela agia como se fosse a dona desse clube, monopolizou todos os olhares, inclusive o meu, por isso não entendi, nunca me atraiu esse tipo de mulher, dominante, impetuosa e arrogante, ah sim! Ela tinha um olhar altivo de quem sabia que todos a desejavam e queriam estar no lugar do escravo que dava prazer a ela, sério, e o corpo dela nem é o que eu costumo me interessar, mas porra é lindo, exuberante, cheio de curvas e redondinho nos lugares certos.
— Ei cara, me vê um whiskey duplo sem gelo! — Quando o barman retorna com a bebida, eu solto:
— Quem é a dominante que acabou de sair do salão?
— Carmen Corleonne? É a atração do clube, é sua primeira vez em um clube desses?
Recebo um sorriso displicente, noto o flerte. Respondo amigavelmente, mas de uma forma que ele entenda que ele não é meu tipo.
— Não, não, eu jogo há anos, mas nesse é a primeira vez. Então, como faço para conhecê-la, conversar com ela?
— Você está vendo aquela pilha de cartões vermelhos no canto do balcão? — Aceno afirmativamente.
— São todas as pessoas que solicitaram ‘conhecê-la’. Isso mesmo ele responde fazendo o sinal de aspas nessa palavra.
— Posso te colocar na fila se deseja candidatar-se como um possível escravo, claro se assim ela te escolher — Derrubo meu whisky em um gole rápido e solto afiado:
— Escravo? Tenho cara de escravo? Nem escravo, nem switcher, eu sou um Dom.
Com isso pago o drink atirando a nota no balcão e saio pisando duro irritado pela porta afora. Vociferando a palavra ‘escravo’ até meu carro. Jamais seria capacho de uma mulher, mesmo uma que fez meu pau pulsar sem ao menos me olhar.
JESSNunca pensei que minha rotina aqui em NY viraria uma 'rotina' maçante, não que seja ruim esse sossego ou essa vida sem emoções, porque tenho tudo o que preciso, uma boa casa, moro sozinha, não devo satisfações a ninguém e tenho liberdade de ir e vir.Meu trabalho de escritora que começou como um hobby já me rendeu uma boa grana e não dependo mais da mesada de papai, mas minha vida social poderia ser mais agitada, penso eu.Não tenho amigos para me divertir, fora o pessoal do meu antigo emprego nessa cafeteria, nenhum. E todas essas pessoas não têm a minha idade, não consigo me abrir com eles, nossas conversas não têm um ponto em comum, mesmo os conhecendo há anos e eles me tratando com um membro da família.Os Tyller, donos desse café me acolheram há cinco anos, quando chegu
JESS DOIS ANOS ANTES— Então, Jessica, como passou esses últimos quinze dias?— Nenhuma novidade Dra. Elisabeth.— E os pesadelos?— Continuam, infelizmente.— Podemos trocar a medicação para dormir por um relaxante mais potente.— Acho que não é questão de medicação, estou com alguns sentimentos estranhos.— Por favor, fale sobre eles.— Uma inquietude, uma vontade de partir, encontrar um novo emprego, um lugar desconhecido e estabelecer uma nova rotina.— Conversou com alguém sobre isso?— Não, só com você.— Ok. E a meta da última consulta, em conhecer alguém, fazer um amigo?— Fracassei, não consegui sair, me arrumei, mas antes de sair mirei-me uma última vez no espelho e desisti.
LYONELO dia no escritório graças a Deus passou voando, nem acredito que a agenda semanal está completa. Consegui passar por mais uma semana sem o estresse habitual do mês passado, minha mãe também me deu folga dos jantares dela, deve ter sido porque os Gladstone viajaram.Não aguentava mais os assuntos deles. E para piorar a filha é um cordeirinho, se eu a mandar atirar-se da sacada, suspeito que fará isso.Tudo bem que convivo com mulheres desse tipo a vida toda, mas ultimamente tornou-se tão cansativo essas garotas subservientes, aceitam o que a família impõe, o que a sociedade exige, até o que o namorado quer que façam, elas fazem para agradar, não me interesso mais nesse tipo de mulher. Ultimamente ando tão focado no trabalho que raramente penso em relacionamentos. Os caras até me chamaram para conhecer um clube que foi reinaugurado, mas que nunca tinha ouvido falar, apesar de funcionar há anos. Disseram que agora o novo
JESS DIAS ATUAISEstou aqui em minha cabine, sozinha me preparando para mais uma quinta feira de apresentação, meu coração já não acelera de nervosismo e emoção como antes, me pergunto se era isso mesmo que faltava na minha vida, conhecer e incorporar a perversão nela.Lembro-me que há dois anos entrei aqui pela primeira vez, recordo como estava nervosa e preocupada com o que eu veria, quem eu encontraria, se a perversão me chocaria. Por ser um clube fechado sabia o tipo de frequentadores, ricaços da alta sociedade.Confesso que estava apreensiva, mas como eu não tinha amigos, namorado, e vida social mesmo sabendo ser tudo por minha escolha, porque não conseguia me abrir a isso, queria mudanças e fazer parte disso poderia ajudar. A minha imagem complexada que enchia o espelho cada vez que vestia uma roupa bonita para sair, as pa
JESS UM ANO E MEIO ANTESA maratona de aprendizado do mundo BDSM é realmente exaustiva em todos os aspectos, saio todas as tardes para me encontrar com Trevor. Seis meses somente na teoria, às vezes treinamos cenas, nós dois, mas sinto que é só a ponta do iceberg.Pedi um tempo para me dedicar aos livros que ele me passou, agora estamos treinando postura, e comportamento.Ele me fez desfilar por horas com calçados altíssimos, dançar com eles também. Confesso que meus dias são tomados por essas atividades, o pouco que sobra eu escrevo, tenho prazos e preciso cumprir.Trevor me matriculou em aula de pole dance, quase surtei quando descobri, mas ele ressaltou a importância, tanto para o preparo físico, quanto para experiência em seduzir. Meu corpo mudou, não está esteticamente magro, mas consegui me sentir mais bonita, minha c
LYONELAqui no silêncio do meu escritório, desde quinta-feira passada, não desligo daquela mulher. Por mais que eu tente, alguma coisa mudou. Estou lutando contra isso, mas a necessidade de vê-la novamente está tomando conta de mim. Hoje é segunda, estou contando os minutos para encerrar o expediente e ir até aquele clube. Minha mente dispersa não está contribuindo em nada, por esse motivo preciso resolver isso, tirar de vez essa cisma.Meus devaneios são interrompidos pela minha assistente indicando que minha mãe está a minha espera.Terceira vez que ela vem até a empresa, nem quando meu pai era vivo, ela se indignava a vir.Depois que ele faleceu, nossa relação mudou, não sei se é por saudades dele ou dependência, já que ela é sozinha. Me convida para seus jantares e recepções, tudo bem que
LYONELO clube estava particularmente agitado esta noite. Eu tinha frequentado quase todos os dias da semana passada e essa esperando encontrá-la, seis dias especificamente sem vê-la, será que ela não se apresenta no clube diariamente porque há algo que a impede? Um namorado talvez, mais que isso e se ela é casada com uma vida paralela a essa, marido e filhos, NÃO. Meu peito agora aperta com esse pensamento, recuso-me a imaginar isso, ela vai ser minha, tem que ser. Meu Deus, como posso desejar tanto uma mulher se só a vi uma vez? Nem a toquei, nem sei se ela notou a minha presença com a multidão de caras babando assistindo ela encenar.Não me importo, algo nela me afetou, despertou algo adormecido aqui dentro, preciso tê-la e descobrir por que ela não sai da minha cabeça. Apanho meu habitual whiskey duplo, sento-me no meu lugar p
Jess um ano antesNão dormi nada bem noite passada, lógico hoje é o dia da minha estreia no clube. Por mais que Trevor esteja comigo em todos os momentos de preparação, sei que quando chegar a hora terei que abrir a porta vermelha a minha frente e encarar tudo sozinha.Meu coração está acelerado desde que comecei a me arrumar hoje. Não estou preparada para vaias e zombarias, se isso acontecer, não sei o que farei. Trevor me assegurou que estou totalmente pronta, há um ano treino para isso, mas agora agir como uma mulher poderosa e segura de si diante de um clube lotado, na maioria por homens, esperando uma beldade aparecer diante deles, eu não sei se tenho coragem para isso. Minhas pernas fraquejam de nervosismo. E isso de maneira nenhuma deve ser demonstrado perante eles, fraqueza, timidez e ne