Capítulo 1

JESS

Nunca pensei que minha rotina aqui em NY viraria uma 'rotina' maçante, não que seja ruim esse sossego ou essa vida sem emoções, porque tenho tudo o que preciso, uma boa casa, moro sozinha, não devo satisfações a ninguém e tenho liberdade de ir e vir.

Meu trabalho de escritora que começou como um hobby já me rendeu uma boa grana e não dependo mais da mesada de papai, mas minha vida social poderia ser mais agitada, penso eu.

Não tenho amigos para me divertir, fora o pessoal do meu antigo emprego nessa cafeteria, nenhum. E todas essas pessoas não têm a minha idade, não consigo me abrir com eles, nossas conversas não têm um ponto em comum, mesmo os conhecendo há anos e eles me tratando com um membro da família.

Os Tyller, donos desse café me acolheram há cinco anos, quando cheguei perguntando uma vaga de garçonete, estava assustada com o desconhecido futuro que me aguardava aqui, insegura com as incertezas de viver sozinha pela primeira vez, mas eu propus me desafiar, precisava disso. Me deram a vaga, ensinaram-me o ofício e me ajudaram a encontrar uma casa não muito longe do trabalho, um bairro bom, tranquilo e agradável de viver. Depois que decidi deixar o emprego para me dedicar à escrita, eles me apoiaram e continuaram meus amigos como se nada tivesse mudado.

Sou muito grata a esse casal. Mas a emoção da novidade de um país estrangeiro já não impulsiona mais os meus dias, já dominei a língua, estudei anos, contratei até uma fonoaudióloga para que eu não tivesse nenhum sotaque da minha língua materna.

Porém, meus problemas não resolvidos na Itália continuam sem solução, meus complexos e pesadelos, minha reclusão da vida social não mudaram. Lá eu tinha tudo isso, mas tinha minha família e minha melhor amiga para pelo menos conversar, tudo bem que fazemos chamadas de vídeo e ligações toda semana, mas não é a mesma coisa.

Eu achei que era isso que eu precisava para me encontrar, ficar longe da minha zona de conforto. Não que papai tenha facilitado, fez questão de me bancar até há alguns meses, eu compreendo suas preocupações, o segmento de perfumaria vai de vento em popa na Europa e ele é um dos melhores perfumistas da Itália, os negócios iam bem na época que vim e ele queria garantir meu bem-estar mesmo longe de mim, essa foi a condição para me deixar esse tempo sozinha da família e eu concordei.

Mas depois de anos aqui, sinto que estou desanimando de viver em NY, preciso conversar com minha psiquiatra sobre esses sentimentos estranhos.

É o que farei em minha próxima sessão.

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