Depois de saciados, limpos e alimentados, estamos indo de barquinho até a casa de Selena buscar nosso filho.
Chegamos na casa da amiga passando as dez e meia da manhã, os italianos são pessoas muito desconfiadas com estrangeiros, mas comigo é diferente por causa de Jess, espero que a família dela seja da mesma maneira, sei que ela disse que os irmãos mais velhos são tranquilos, mas meu nervosismo em não me indispor com nenhum deles é enorme.
Hoje vi meu filho com os olhos abertos pela primeira vez, sorriu quando o peguei no colo. Não quero mais soltá-lo, estamos de volta ao barquinho indo para casa do meu sogro. Jess ao meu lado enquanto converso com Marco. E tento decorar todos os detalhes do meu menino.
— Ele tem os seus olhos, Lyon.
— E a sua boca.
— Somos bons em fazer filho bonito.
11 meses depois Jessica Essa segunda gravidez está mais difícil do que imaginei, meus hormônios estão muito descompassados, muita fome e sensibilidade e só entrei no quinto mês, há dezesseis longas semanas pela frente. Somente o que me conforta é estar com o pai do meu bebê me amparando e cuidando de mim. Enlouqueceu de euforia quando engravidei. Demorou até mais do que esperávamos, visto que nos esforçamos diariamente. E continuamos a fazer isso, Lyonel não enjoou de mim como sempre tive medo de que aconteceria. Ele me ama de verdade e isso me conforta e acalma, apesar dos dias de baixa autoestima. Hoje é um desses dias, olho meu corpo e me condeno por estar assim, mesmo estando grávida e sabendo ser temporário. Na gravidez de Marco eu me achava linda, talvez porque eu não tinha um Deus grego despertando olhares por onde passa. Meu marido não me deixa
JESS Não sou uma garota normal, aos 18 anos saí do meu país em busca de autoconhecimento ou talvez fugir de mim mesma, cruzei o atlântico com uma mala e muitos pesadelos nem eram sonhos, complexada desde criança por não ter o corpo “padrão” e por viver na cidade mais romântica da Itália, eu sempre quis fugir. Sou maluca? Talvez, mas viver em um lugar por toda a vida, que respira amor e beleza e não se sentir amada e bonita é uma merda. Há quase sete anos que vivo aqui em Nova York, e claro que isso não mudou em nada os meus complexos e pesadelos, continuo com minhas sessões de terapia com as quais convivo desde a adolescência, o que mudou somente foi a profissional que me trata e a língua que domino com perfeição sem nenhum sotaque. Eu não achei que aceitar a sugestão da minha psiquiatra seria tão excitante, quer dizer nunca tinha entrado em um clube BDSM, mas como ela sugeriu essa última alternativa para ajudar com meus traumas, mergulhei de cabeça nisso. Cara
JESSNunca pensei que minha rotina aqui em NY viraria uma 'rotina' maçante, não que seja ruim esse sossego ou essa vida sem emoções, porque tenho tudo o que preciso, uma boa casa, moro sozinha, não devo satisfações a ninguém e tenho liberdade de ir e vir.Meu trabalho de escritora que começou como um hobby já me rendeu uma boa grana e não dependo mais da mesada de papai, mas minha vida social poderia ser mais agitada, penso eu.Não tenho amigos para me divertir, fora o pessoal do meu antigo emprego nessa cafeteria, nenhum. E todas essas pessoas não têm a minha idade, não consigo me abrir com eles, nossas conversas não têm um ponto em comum, mesmo os conhecendo há anos e eles me tratando com um membro da família.Os Tyller, donos desse café me acolheram há cinco anos, quando chegu
JESS DOIS ANOS ANTES— Então, Jessica, como passou esses últimos quinze dias?— Nenhuma novidade Dra. Elisabeth.— E os pesadelos?— Continuam, infelizmente.— Podemos trocar a medicação para dormir por um relaxante mais potente.— Acho que não é questão de medicação, estou com alguns sentimentos estranhos.— Por favor, fale sobre eles.— Uma inquietude, uma vontade de partir, encontrar um novo emprego, um lugar desconhecido e estabelecer uma nova rotina.— Conversou com alguém sobre isso?— Não, só com você.— Ok. E a meta da última consulta, em conhecer alguém, fazer um amigo?— Fracassei, não consegui sair, me arrumei, mas antes de sair mirei-me uma última vez no espelho e desisti.
LYONELO dia no escritório graças a Deus passou voando, nem acredito que a agenda semanal está completa. Consegui passar por mais uma semana sem o estresse habitual do mês passado, minha mãe também me deu folga dos jantares dela, deve ter sido porque os Gladstone viajaram.Não aguentava mais os assuntos deles. E para piorar a filha é um cordeirinho, se eu a mandar atirar-se da sacada, suspeito que fará isso.Tudo bem que convivo com mulheres desse tipo a vida toda, mas ultimamente tornou-se tão cansativo essas garotas subservientes, aceitam o que a família impõe, o que a sociedade exige, até o que o namorado quer que façam, elas fazem para agradar, não me interesso mais nesse tipo de mulher. Ultimamente ando tão focado no trabalho que raramente penso em relacionamentos. Os caras até me chamaram para conhecer um clube que foi reinaugurado, mas que nunca tinha ouvido falar, apesar de funcionar há anos. Disseram que agora o novo
JESS DIAS ATUAISEstou aqui em minha cabine, sozinha me preparando para mais uma quinta feira de apresentação, meu coração já não acelera de nervosismo e emoção como antes, me pergunto se era isso mesmo que faltava na minha vida, conhecer e incorporar a perversão nela.Lembro-me que há dois anos entrei aqui pela primeira vez, recordo como estava nervosa e preocupada com o que eu veria, quem eu encontraria, se a perversão me chocaria. Por ser um clube fechado sabia o tipo de frequentadores, ricaços da alta sociedade.Confesso que estava apreensiva, mas como eu não tinha amigos, namorado, e vida social mesmo sabendo ser tudo por minha escolha, porque não conseguia me abrir a isso, queria mudanças e fazer parte disso poderia ajudar. A minha imagem complexada que enchia o espelho cada vez que vestia uma roupa bonita para sair, as pa
JESS UM ANO E MEIO ANTESA maratona de aprendizado do mundo BDSM é realmente exaustiva em todos os aspectos, saio todas as tardes para me encontrar com Trevor. Seis meses somente na teoria, às vezes treinamos cenas, nós dois, mas sinto que é só a ponta do iceberg.Pedi um tempo para me dedicar aos livros que ele me passou, agora estamos treinando postura, e comportamento.Ele me fez desfilar por horas com calçados altíssimos, dançar com eles também. Confesso que meus dias são tomados por essas atividades, o pouco que sobra eu escrevo, tenho prazos e preciso cumprir.Trevor me matriculou em aula de pole dance, quase surtei quando descobri, mas ele ressaltou a importância, tanto para o preparo físico, quanto para experiência em seduzir. Meu corpo mudou, não está esteticamente magro, mas consegui me sentir mais bonita, minha c
LYONELAqui no silêncio do meu escritório, desde quinta-feira passada, não desligo daquela mulher. Por mais que eu tente, alguma coisa mudou. Estou lutando contra isso, mas a necessidade de vê-la novamente está tomando conta de mim. Hoje é segunda, estou contando os minutos para encerrar o expediente e ir até aquele clube. Minha mente dispersa não está contribuindo em nada, por esse motivo preciso resolver isso, tirar de vez essa cisma.Meus devaneios são interrompidos pela minha assistente indicando que minha mãe está a minha espera.Terceira vez que ela vem até a empresa, nem quando meu pai era vivo, ela se indignava a vir.Depois que ele faleceu, nossa relação mudou, não sei se é por saudades dele ou dependência, já que ela é sozinha. Me convida para seus jantares e recepções, tudo bem que