Luna
Ao entrar em meu quarto, o ser sem face estava lá e desta vez sorrindo sorrindo para mim. Olhei pela janela e vi minha mãe sendo arrastada de dentro de uma carruagem pelo meu avô, então não pensei duas vezes e pulei da janela, caí em cima dos arbustos e um pouco longe de onde podiam me ver. Não consegui ficar onde eu estava e não fazer nada. Meu sangue ferveu quando vi meu pai olhando a cena com desdém e ao redor da minha mãe, estavam vários lobos, apenas esperando as ordens de para atacar. Andei devagar e sem fazer barulho por entre as rebites até que os nossos olhares se encontraram, mas nossos lábios continuaram parados. Tínhamos o dom da telepatia e nesse momento eu senti sua dor, suas preces e uma mãe desesperada pedindo para que eu fugisse dali o mais rápido possível, mas eu não seria tão covarde para fazer isso. Lá no fundo do meu ser eu tinha medo e sentia que iria perdê-la, por mais que eu fosse forte, jamais conseguiria deter tantos deles de uma só vez, mas não pensei duas vezes quando sai das árvores, revelando quem eu era de verdade e a fera que ali dentro de mim habitava. Mas ainda sim eu era apenas uma garota com medo de seus medos.— Você consegue, Luna. Seja corajosa e a salve. — Minha tia estava ao meu lado, suas mãos seguravam um colar de pedras verdes, ela estendeu a mão e o pôs em meu pescoço seu colar de âmbar.Corri o mais rápido que eu pude até chegar na minha mãe. O ser sem rosto permanecia me olhando quando meu pai segurou meu braço e me levou ao chão.— Olhe e veja ela ser morta por trair a família e principalmente, por trair a mim. — Suas mãos seguravam meu rosto fortemente, mas eu o forcei para o lado até que alcancei sua mão e mordi o mais forte que pude.Eu só queria chegar perto dela, mas fui atacada por um lobo, puxei minha adaga e cravei em sua barriga, o fazendo cair em cima de mim. Uma multidão de soldados e alguns híbridos invadiram nossa casa, formando a atenção dos lobos, mas não a do meu avô que estava tentando segurar os braços da minha mãe de todas as formas.— Seu velho inútil. — Disse revirando os olhos e pedindo força aos deuses.A irá me dava mais energia e desde criança minha mãe me ensinou tudo que eu preciso saber, além da minha tia que sempre me ensinou tudo que sabe e por sermos iguais eu aprendi fácil e já sabia conjurar feitiços que poderia levar a morte e esse era um dos momentos certos para se usar.— Bruxa! — As pessoas que estavam próximas falavam em alto e bom tom, enquanto minha mãe sorria orgulhosa em ver que eu aprendi muito bem tudo que ela me ensinou.A energia tomou meu corpo e quando olhei, dos meus dedos saiam chamas e eu estava sendo movida pela fúria. Antes que as coisas pudessem se agravarem, imediatamente vi meus olhos nos do meu avô e o vi arder em chamas, implorando pelo perdão. Vi minha mãe tentar correr, mas ser pega pelos braços por meu pai, vi os lobos todos indo em sua direção. Levitei e invoquei a fera que vivia presa dentro de mim, esperando apenas uma oportunidade para ser exposta e caiar a destruição dos que estivesse perto. E novamente aquele ser sem rosto estava ao meu lado, mas desta vez sorrindo como se estivesse se divertindo com a cena que estava diante de seus olhos.— Eu sempre soube que dentro dessa garota meiga, habitava uma fera incontrolável. — Seu riso era estridente, foi ouvido por todos e tinha o poder de deixar os mais fracos loucos.Alguns lobos estavam evacuando, outros caindo e sendo torturados pelo riso e os que sobraram estavam cercando novamente a minha mãe.— Você criou um monstro, agora enfim saberá como eu realmente sou. Você me fez assim, papai. — Disse caminhando em direção ao Ulisses, o qual eu nunca tive o mínimo de afeto. — Solte-a se quiser sobreviver. — Pedi vendo o mesmo esboçar um sorriso enquanto via minha mãe sofrer.Meu avô estava apenas agonizando, cessei a chama do seu corpo e o fiz gritar de dor, fixando meus olhos ao dele e interligando nossos pensamentos de forma com que ele sentisse a minha raiva, isso era incontrolável em momentos de desesperos nos quais eu estava me encontrando agora.— Ulisses, solte-a, eu o imploro. — Sua voz quase inaudível não causou nenhuma comoção em seu filho e o mesmo continuava a me desafiar, o que eu não estava achando ruim ,pois há muitos anos estava esperando por esse momento.— Não pai, o senhor me controlou distante anos e agora está mais que na hora de eu me controlar sozinho. Aliás, isso aqui seria taxado como traição e o senhor sabe qual a punição para os traidores! Léia me deu uma filha bastarda e bruxa, o senhor sabe que eu nunca tive tolerância para traição.— Como pode falar isso com tanta convicção? Você a traia com a empregada, ou acha mesmo que eu a santa boba que achavam que eu era? — Deixei um riso escapar, mas sem deixar o velho escapar. — Eu sei de todo seu passado, papai.Meus cabelos negros estavam se transformando em raios, como se eu fosse capaz de explodir a qualquer momento. Assim como meus dedos, meu corpo também estava em chamas e isso foi o suficiente para que eu deixasse a irá tomar conta de mim e por fim libertei a fera que estava querendo sair. Abrir os braços, fechei os olhos e desejei com todo o meu coração para que minha mãe sobrevivesse, mas de repente as tropas de Malvim estavam invadindo nosso território. Minha mãe foi a primeira a ser alvejada por um flecha em seu peito, falecendo ainda nos braços de Ulisses, o mesmo teve seu corpo preso a uma estaca. Fixei meus olhos nos dele e suguei toda sua energia, levando-o a uma morte lenta e vendo seu corpo ficar seco e definhando ali mesmo na minha frente. Neste momento eu era apenas uma garota sendo movida pela raiva e a dor. Já não havia nada que eu pudesse fazer pela minha mãe, mas ainda sim me posicionei ao seu lado e peguei seu corpo, correndo o mais depressa que eu pude, adentrando a floresta e colocando-a ao lado de uma figueira.— Mãe… — Às minhas lágrimas molhavam o chão e faziam as flores morrerem.— Sobreviva, Luna. Me perdoe por ter falhado em algumas coisas, deveria ter lhe poupado algumas coisas e a preparado para outra. — Sua mão alisava meu rosto enquanto ela ainda sorria.— A senhora não errou em nada. — Ajoelhei ao seu lado e implorei por misericórdia. — A senhora não pode me deixar sozinha, a senhora não pode morrer.— Meu legado na terra chegou ao fim e esse é o meu momento. Tudo está sendo exatamente como eu já previa, minha filha. Agora vá, corra para o mais longe que puder, eles não vão descansar enquanto não a encontrar. Vá até este endereço e confie nas vozes, os ocultos estão do seu lado.— Eu te amo mãe, te amarei por toda minha vida.— Eu sempre amarei você, minha filha. Minha pequena feiticeira Luna. — Após a última lágrima cair, vi seu corpo virando cinzas e sendo levada pelo vento, restando apenas aquela flecha na grama tão morta quanto a minha alma.Eu a obedeci e corri para o mais longe que eu pude, quando já não suportou mais. Após algumas horas, percebi que eu já estava muito longe e já não conseguia ouvir mais nada além do som das águas da cachoeira que estava a minha frente, parei bem na beirada de um precipício e por pouco não caí. Meu corpo estava no limite, eu já não tinha mais forças e então eu me ajoelhei, gritei e chorei até que não suportei a exaustão e ali mesmo eu adormeci.LancelotAs tropas de Malvim causaram um grande estragado, Merlin não conseguiu fazer nada pela minha matriz e agora só restou a destruição, o medo e a dor. As crianças estavam assustadas e todas as cabanas no chão. Eu queria poder gritar até que a dor fosse embora, mas eu não conseguia controlar o meu monstro e no momento da raiva e descontrole eu arranquei a cabeça de todos os soldados de Malvim, mas ele fugiu e eu não iria ficar em paz até fazer o mesmo com sua cabeça.Merlin não apareceu em nenhum momento para me ajudar, eu estava desamparado e com minha matriz morta, mas tinha que velar seu corpo e cremá-lo, assim como sempre foi a tradição.Meu monstro corria o mais rápido que conseguia, eu estava caçando tudo que surgia à minha frente, descontroladamente e com sede de vingança. A lua estava cheia pairava sobre mim enquanto eu me acalmava, sentido meu corpo fraco demais para continuar correndo. Um corpo caído me chamou a atenção e logo meus sentidos o farejaram, não estava morta. Era uma humana, pequena e toda machucada.— Eu estou bem, apenas me cansei e acabei por me perder. — Ela estava acordada, porém, muito cansada e seu rosto estava roxo, como se estivesse apanhando bastante.— De onde vem e o que você é?— Sou Luna, venho de Oneduz e acabei por me perder. Minha mãe foi morta por lobos e pelas tropas de Malvim, vocês conhecem? — Seu olhar perdido vagava enquanto ela olhava para o horizonte como se não estivesse dando a mínima importância para mim.— Os conheço. Sou Lancelot, venha comigo, aqui é perigoso demais a noite para uma garota perdida, além disso há um maldito feiticeiro vagando por aqui.— Eu não me importo de passar a noite aqui, a morta será bem-vinda. A tenho como uma bela amiga. — Ela estava chorando e sem ação alguma.— Também perdi minha mãe hoje, sei exatamente o tamanho de sua dor. Venha comigo, terá onde dormir e se aquecer esta noite. — Lhe estendi a mão e ela aceitou, mas estava fraca demais para se manter de pé. A peguei em meus braços e de repente ela desmaiou. Será uma longo caminho, mas espero não me arrepender.Luna Acordei sendo carregada pelos braços de Lancelot, bom, eu pelo menos sabia o nome dele e que ele estava me ajudando e tão triste quanto eu. A única coisa que eu sei é que ele odeia feiticeiros, faria qualquer coisa para soltar ao menos uma faísca dos meus dedos, só pra ver qual seria sua reação, ele me mataria?— Pode me pôr no chão, por favor? — Pedi sem fazer muito movimento. — Há quanto tempo está acordada? — Sua voz estava cansada. — Tenha certeza que não muito. — Após me colocar no chão, eu firmei meus pés na terra e então eu vi que já era noite e estava tudo escuro. — Eu só preciso de alguns minutos e vou ficar bem, conseguirei andar sozinha. — Mesmo que ande sozinha, iríamos demorar mais que o esperado, está fraca e se continuar assim por muito tempo não vai sobreviver. — Não estou morrendo, apenas cansada. — Respondi em meio a um longo suspiro, quase caí ao encostar minha mão em uma árvore que eu poderia jurar que estava ao meu lado, mas estava muito longe e eu estav
Merlin Foram dias difíceis, mas eu estava pronto para enfrentar tudo que estivesse por vir. Abnerzy estava sempre ao meu lado, digamos que sua companhia na maioria das vezes não era tão ruim assim. — Onde pensa que irás chegar bebendo feito louco? A bebida lhe fará vergonha, não lhe dará super poderes, Merlin. — Sua voz rouca e estridente, também era horrível e quando ela estava brava, conseguia ser ainda mais horrenda. — Você calada é uma ótima companhia, já quando abre a boca… — Sorri deixando o cálice que estava em minha mão, derramar o líquido no chão que absorveu cada gota derramada. — Olha só o que você fez. — Você é um ser humano desprezível! — Abnerzy me dava as costas enquanto olhava para o horizonte, parecia estar pensativa em alguma coisa..— Errou, eu não sou completamente um humano. Eles são inúteis e não servem para nada. — Fala isso porque passou dois séculos sem saber da existência da sua filha? Para um Mago, você anda bem desinformado ultimamente. Seria mais útil
Merlin — Nós queremos chuva, Merlin. Ou vai me dizer que os boatos são verdadeiros? O Rei Pedragon estava me mantendo preso, até que eu conseguisse fazer chover, mas os deuses não estavam ao meu lado e eu só tinha uma saída; os amigos das sombras. — Não tenho culpa se o tempo não está não favorecendo, estou fazendo o melhor possível, mas o tempo está nos desfavorecendo. Talvez seja verdade os boatos, talvez eu não esteja podendo conjurar magia no momento, não sei o que houve com elas ou o porquê de terem sumido de repente. Na verdade, já fazem dois séculos e Abnerzy pode estar certa, preciso sair daqui urgente. — Preciso de mais dois dias. Dois dias e eu faço chover, ou melhor, os deuses farão chover. — Disse indo até o meu quarto que ficava no alto da torre. Andava pelo quarto procurando uma solução, até que Abnerzy surgiu sorrindo e ultrapassando a janela, levitando enquanto olhava para um penhasco. — Merlin, até quando vai esconder sua verdade? Vai passar a sua vida inteira
Luna Minha expansão de domínio estava baixa, preciso treinar mais minhas habilidades ou iria acabar perdendo o domínio dos meus feitiços. Avistei de longe a bandeira do reino de Padragon, sabia que Lancelot estava lá. Quando um feiticeiro é salvo por outro alguém que não é feiticeiro também, o corpo sofre um choque de realidade, permitindo que as energias entre eles se interligarem e mesmo que, Lancelot não saiba disso, eu estou sentindo seu corpo implorando por socorro. A floresta estava mais escura que o normal, faíscas cinzas estavam sendo soltas dentre as árvores, tem alguém usando a expansão de domínio nesse exato momento! — Que os ocultos me protejam! Não posso deixá-lo morrer, devo minha gratidão a ele. — Apoiei o calcanhar em um tronco que tinha a minha frente, fechei os olhos e senti meus poderes vindo a minha mente de forma invasiva, como se algum demônio estivesse por perto querendo que Lancelot morresse. Havia uma forte presença de demônios ocultos e era com eles que
Luna Ouvi os gritos de Lancelot, mas me limitei a tentar levantar. Minha cabeça estava doendo muito. Meei ficou ao meu lado durante todo o meu processo de "restauração". As dores estão quase insuportáveis. Atingi o meu limite para salvar quem já salvou a minha vida. Mas agora, eu estava querendo fugir para bem longe e poder fazer isso do meu jeito, nunca me curei deitada e em repouso, era no mínimo estranho. — Queria poder expressar minha gratidão por isso. Espero um dia lhe recompensar por cuidar de mim. — Você salvou a vida dele, acha mesmo que ele seria capaz de machucá-la? — Meei era inocente demais, embora se camuflasse tão bem entre eles, isso não iria durar para sempre. — Sim. Não o subestime, ele nem mesmo sabe se controlar ainda. Quando foi que ele se tornou um Alpha? — Há poucos dias. Danira era quem guiava a alcateia e ela veio a falecer, desde então Lancelot teve que tomar a frente. Mas, você o salvou, ele deveria ao menos ter agradecimento a você. — Ele não me deve
Lancelot— Onde está o vinho? Não vai receber seu tio como deveria ser? — Luna olhava para Merlin como se o conhecesse. Mas, ele não fazia correspondência aos seus olhares, era como se ela não estivesse ali. — A quem veio matar desta vez? — Falo em alto e bom tom, cercando Merlin e o que ele tenha como seu guia. — Apenas dar as boas vindas a sua amiga, soube que… soube que as tropas de Pedragon estavam os perseguindo e vim lhes oferecer a minha ajuda. Sem segundas intenções. — Como você ousa vir aqui e querer me insultar quando me oferece suas magias fajutas, que há muito tempo já não existem mais. Ou vai nos dizer que os rumores são mentiras? — Algumas pessoas gargalhavam enquanto Merlin se servia de um vinho que pertencia a mim. — Eu não sei o que as pessoas andam dizendo, mas se prestasse mais atenção nelas, iria descobrir coisas mais interessantes ainda. Então, quem é a garota? Alguma integrante de Onedusa ou de Kodo? — Não, sou apenas uma camponesa que foi salva por Lancelot
Luna Sem muita opção eu caminhei até a árvore onde estava Merlin, com o capuz cobrindo seu rosto e a garrafa de vinho ao seu lado. Se eu dissesse que estava tudo bem estaria mentindo, mais cedo Lancelot estava se insinuando para mim e eu feito uma tonta acreditando, por um fio não me entreguei. Sentei ao lado de Merlin e peguei a garrafa ao seu lado, sorvendo alguns goles do líquido sem pensar duas vezes. Essa era a segunda vez em que eu estava bebendo, a primeira vez ainda foi na presença de minha mãe e foi em comemoração de alguma coisa que aquele velho idiota fez.— Não deveria estar aqui. Está frio e meu sobrinho não quer perto de mim. — Você finge muito bem, poderia jurar que estava dormindo. — Suspirei e mirei o nada, sentindo o frio tomar conta do meu corpo e a raiva tomar conta da minha mente. — Lancelot não se importa comigo. A verdade é que eu acho que minha hora aqui já chegou. Eu preciso resolver algumas pendências que deixei para trás e não vejo porque ficar aqui. — Co
Luna Seus aposentos estavam como se não tivesse nada fora do lugar. O grande espaço no chão, coberto com panos de seda e algodão, era como se fosse um convite para meu corpo que estava tão cansado, mas não esquecerei do que vi ainda a pouco, a pouca vergonha que estava diante dos meus olhos e sem dúvida alguma, eu nunca vou de deitar ali, sem chances. — Coma, você não jantou! — Ordenou em um tom de voz alto e grave enquanto segurava uma bandeja de pedra em mãos.— Obrigada, mas não estou com fome. Preciso ver como Merlin está, não vou dormir aqui dentro com você nem morta. — Me desvencilhei dele já esperança de sair, mas fui impedida de o fazer quando ele se pôs a minha frente, deixando que bandeja caísse em cima do meu pé. — Não vou deixar você sair daqui, Luna. Está sob minhas ordens! — Ele não poderia estar falando sério, ou poderia? — Eu sei que não sou bem-vinda aqui e não sei o motivo pelo qual está tentando me ajudar, mas já deu Lancelot. Você já salvou a minha vida e eu já