Embora estejamos distantes, tudo que aprendo e faço aqui é pelos meus entes queridos
-- Mantenha o foco! Você precisa abrir a água sozinha se quiser sobreviver! – a voz trovejante do dragão de corais se sobressaía mesmo em meio à tempestade.
Ondas maiores do que Inaê imaginava ser possível surgiam a cada cinco minutos, e ela tinha que empenhar toda a sua mente para criar uma abertura na água, onde ficaria, incólume, enquanto a onda seguia ou quebrava às suas costas, uma cena que seria fantástica se não fosse tão assustadora.
Inaê começara aquilo de manhã cedo, e não sabia há quanto tempo estava ali, no meio do que devia ser a tempestade mais demorada e violenta da História.
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Aconteceu que Inaê ficou mesmo resfriada, então não pôde sair no dia seguinte, confinada no quarto, aos cuidados de uma Sango excessivamente preocupada. Ela não foi trabalhar, trazia remédios a cada hora e insistia que permanecesse deitada, embora Inaê argumentasse que se sentia bem o bastante para andar. -- Você é pior que meu pai – comentou depois de tomar um chá para baixar a febre. Dario não deixava a cabeceira das filhas quando doentes. Lembrar disso trouxe um aperto a seu peito. No fim da tarde ela já estava bem, e saiu com Sango e Ashima para um festival que acontecia na cidade. Quase todos usavam aquelas roupas típicas, que Ashima explicara se chamarem quimono, aqueles especificamente do estilo yukata. Sango lhe emprestara
Inaê abriu os olhos e foi ofuscada pelas luzes fortes que só podiam ser de um hospital. Sentiu uma pontada ao mover o braço e notou um acesso ligado a uma bolsa de soro, então se lembrou de recuperar sua prancha de windsurfe após horas de tentativas, e nada além. Onde estava? Será que as ondas a levaram para alguma terra desconhecida? -- Acordou, Haier-sama? – um enfermeiro se aproximou da cama. Estava em Uminami, mas não sabia como voltara – Nos deu um susto. -- O que aconteceu? -- Vossa Excelência não voltou por horas, e à tarde um dos ryu-sama
-- Então isso é o céu – Ashima olhava para cima com as mãos sobre os olhos ofuscados e a boca entreaberta. Sango ergueu os braços para sentir o vento entre os dedos. -- Só tinha visto desenhos e gravações das nuvens e do sol. -- Mas como vocês não estão acostumados, é melhor não ficarem muito tempo aí, ou podem acabar com fotoqueratite, queimadura solar nos olhos – Inaê alertou – E eu só tenho um par de óculos escuros. -- O mar é verde? – a curandeira baixou o rosto para a água –
-- Mãe das ilhas! O que foi aquilo?! – Marisol ofegou tentando acompanhar o ritmo de Chris. Depois do que houve no farol oeste, ele precisava saber que o norte estava intacto, e corria a toda velocidade. Impulsionado por esse desejo, ele facilmente se distanciou dos outros, e só parou ao avistar a construção de longe, ainda intacta em sua eterna vigília do horizonte. Mas ele mal pôde respirar aliviado antes que um tremor chacoalhasse o chão com uma brutalidade que derrubou Chris e fez estalar todo o penhasco. E ele viu em câmera lenta o farol norte desmoronar e afundar em direção ao mar. -- Oh, Chris – Marisol chegou e envolveu seus ombros com o braço, sentindo-o tremer. &nbs
Me distanciei de tudo que conhecia para proteger aqueles que eu amava. E após todo esse tempo, é hora de retornar O submarino não permaneceu muito tempo aberto, uma vez que era mais rápido debaixo d’água. Depois que a maioria das dúvidas de Sango e Ashima fora sanada, Inaê lembrou que podia entendê-los, mas nenhum dos dois saberia se comunicar com os delfinos. Para não precisar servir de tradutora, a jovem fez o mesmo que Sango, passando mentalmente seu conhecimento linguístico. -- Entende o que eu falo? – perguntou no idioma delfino. Os primos assentiram, para seu completo alívio. Não estava cem por cento confiante no sucesso. A viagem submersa durou dois dias e meio, umas três vezes
Incapaz de se manter de pé, Inaê caiu sentada, se sentindo mais cansada do que jamais estivera. Marisol se ajoelhou ao seu lado e a abraçou. -- É você mesmo, irmãzinha? Não acredito que está aqui, graças a todos os astros – ela tremia, à beira das lágrimas. Ao redor, outros também se agitavam. A jovem se levantou, trêmula, para saudar os ilhéus, que se empurravam para chegar a ela. -- A princesa nos salvou! -- É ela! Ela está aqui! -- A princesa Inaê está de volta! -- Viu
Depois de retirar a bala de seu quadril em um procedimento bem menos complicado que o esperado, Aquamarine entrou imediatamente em contato com o rei e relatou o que acontecera na ilha. Hesitou na hora de falar de Inaê e só encarou o microfone, até a voz do rei chiar impaciente no radiotransmissor: -- E então? Prossiga. -- Encontrei a moça de quem o senhor falou, a princesa de olhos verdes. -- E? – ele cobrou após um momento de silêncio, a voz tomada por uma mal disfarçada apreensão. Aquamarine engoliu em seco.  
A chegada do veleiro Sombra do Fogo a Lunae foi atrasada devido à embarcação não ser motorizado e à furtividade exigida pela missão. Quando o continente apareceu no horizonte, a pequena tripulação ancorou o navio e aguardou escurecer para se aproximar da costa. Janaína, Thomas e Kay, membros da Marinha e da Força Policial, desceram em um bote e seguiram para a praia deserta ao lado do porto. Janaína tinha experiência em missões de infiltração, fizera algumas na companhia de Meri e Dario, na época da guerra com a Ilha Hipocampo. O porto estava deserto exceto por vigias em rondas, todos com lanternas na mão. Thomas apontou seu rifle de pressão para o mais próximo e atirou. O homem caiu com um baque surdo, sem saber o que o a