Lua dos Antigos - Luz e Sombra
Lua dos Antigos - Luz e Sombra
Por: Elisa Santacruz
Prólogo

Parada à sua frente, seus cabelos escuros emolduravam o rosto marcado por um rastro de lágrimas que brilhava à luz da lua. Ela não chorava de forma descontrolada, isso não combinava com quem ela era. Mas havia algo na postura de Althea — nos ombros que lutavam para não cair, na respiração que ela segurava para não soltar um soluço — que rasgava Eryon por dentro.

— Você não precisa fazer nada agora, Eryon — disse ela, a voz baixa, mas carregada de um peso que ele conhecia bem. — Não agora.

Ele sabia o que ela estava dizendo, mesmo que não dissesse as palavras exatas. Ela estava sozinha. Precisava dele. E ele a estava deixando.

— Mas precisaria fazer em algum momento. Não temos escolha — disse, mas até para ele a frase soou falsa.

— Sempre há escolha. Você que decidiu fugir.

A palavra atingiu-o como uma lâmina. Fugir. Ele queria negar, mas como poderia? Era isso que parecia. Talvez até fosse verdade.

— Você não entende, Althea...

— Então me explique. Só desta vez. Só me diga a verdade, Eryon.

Ela o encarou com aqueles olhos cinzentos, tão profundos e intensos que ele sentiu o lobo dentro de si despertar, inquieto. Era isso que ela fazia com ele: desarmava-o facilmente, desde a primeira vez que se viram.

Mas ele não podia contar. Não podia dizer que acreditava ser um erro, que o sangue que corria em suas veias era uma maldição e, acima de tudo, não podia dizer que acreditava que esse abismo dentro de si a arrastaria junto, se ele ficasse.

— Eu só quero que você esteja segura.

— Segura? — A risada dela era amarga, quase cruel. — Segura de quem? De você?

E de novo, ele não pode responder.

— Eu não vou implorar para que você fique, Eryon. Mas o que você está fazendo agora... isso é covardia. Não combina com você.

As palavras dela o atingiram como um soco, mas ele não podia culpá-la. Althea tinha razão. Ele estava deixando-a sozinha quando ela mais precisava, e, omitindo tanto, ele nunca a faria entender que ele fazia isso por amor.

Eryon deu um passo à frente, segurando o rosto dela com as mãos.

— Althea...

Ela tentou desviar o olhar, mas ele não deixou.

— Eu te amo, — ele sussurrou. — mais do que qualquer coisa.

Os olhos dela se encheram de lágrimas novamente, e desta vez, ela soou menos contida.

— Então fique.

Ele fechou os olhos, sentindo o coração quebrar dentro do peito. Como ele queria poder ficar.

Eryon inclinou a cabeça e a beijou. Um beijo diferente de todos os outros que já deu em seus lábios. Ele colocou tudo naquele toque: cada palavra que não podia dizer, cada promessa que não podia fazer, cada pedaço de seu coração que pertencia a ela.

Althea o puxou para mais perto, os dedos deslizando pela sua nuca, os corpos se moldando como se fossem feitos para se encaixar. Ele sentiu o lobo rugir, quase emergindo, e a urgência de tomá-la como sua era esmagadora. Mas ele sabia que não podia.

Com um esforço que chegava a doer, ele se afastou, respirando com dificuldade.

— Eu não posso fazer isso, Althea. Não enquanto eu não souber quem eu sou.

Ela piscou, confusa e com o rosto ainda corado pelo desejo.

— Eu sei quem você é, Eryon.

— Mas eu não sei! — Sua voz num tom mais áspero que ele pretendia, ou mesmo, do que ela merecia dele.

Ela deu um passo para trás, os braços caindo ao lado do corpo como se estivesse desistindo de segurá-lo.

— Então vá. — disse ela, a voz quase um sussurro. — Vá e descubra. Mas saiba que você está deixando para trás a única pessoa que nunca teve dúvidas sobre quem você é.

Eryon sentiu as palavras dela como um golpe, mas sabia que não podia voltar atrás. Após um longo último olhar, ele se virou e forçou sua presença para longe dali.

Ele podia ouvir o som da respiração dela atrás de si, os soluços que ela tentava esconder. E era como se aquilo o puxasse de volta.

Quando chegou ao limite do bosque, ele olhou para trás. Althea ainda estava lá, tão forte e ao mesmo tempo tão frágil sob a luz da lua. Ele queria correr de volta, segurá-la, dizer que ficaria, torná-la sua companheira.

Mas não o fez.

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