A trilha sinuosa que levava ao território Varkos era marcada por penhascos íngremes e florestas densas, pelas quais os ventos não passavam com facilidade. Cada passo parecia mais pesado, não pela dificuldade do terreno, mas pelo silêncio que pairava entre o grupo. Kamar e Sakyr mantinham-se à retaguarda, atentos a cada som, enquanto Kael liderava.Althea, ainda sentindo o peso da separação, manteve-se calada durante a jornada que já durava três dias, alternando entre suas formas lupina e humana. Mesmo sem olhar diretamente para ela, Kael quebrou o silêncio com seu tom provocador habitual, embora houvesse um toque de suavidade em suas palavras.— Você sempre foi tão quieta, Lykir? Ou é o ar daqui que sufoca o seu espírito?Althea ergueu o olhar para ele, o cenho franzido.— Não estou de humor para suas gracinhas, Kael.Ele riu baixo, um som rouco e natural.— Bom, se quer permanecer envolta nesse manto de melancolia, tudo bem. Mas vou avisar: o território Varkos não é gentil com quem c
A pequena gruta revelou-se uma visão fascinante: uma piscina natural de água cristalina, refletindo as luzes suaves dos cristais que adornavam as paredes. O cheiro das ervas misturava-se ao vapor que subia da água, criando uma atmosfera ao mesmo tempo relaxante e revigorante.— Banhos medicinais — explicou Kael, indicando a piscina. — As ervas aquecem o corpo e aliviam a mente. É o remédio perfeito para um coração pesado.Althea olhou para a piscina e depois para ele, surpresa.— Não sabia que os Varkos eram tão... sofisticados.— Há muito que você não sabe sobre nós, Lykir. Entre na água e talvez aprenda algo.Ela hesitou, mas o calor tentador da água era irresistível. Depois de tanto tempo carregando tensões nos ombros, sentiu o desejo de ceder por um momento. Primeiro, mergulhou os pés na água, apreciando o calor agradável que parecia envolver sua pele, e, em seguida, deixou-se afundar até os ombros, sentindo a resistência do líquido dar espaço a uma sensação de leveza.Kael entrou
A entrada para a floresta de Nyrathas era marcada por árvores altas e retorcidas, cujos galhos se entrelaçavam, formando um dossel tão denso que quase não deixava a luz atravessar. O ar ali era diferente, carregado de um frescor úmido e ao mesmo tempo pesado, como se cada respiração exigisse esforço.Eryon parou na beira da trilha, seus olhos absorvendo o máximo de informações sobre o terreno à sua frente, embora dentro dele algo gritasse que nada o prepararia para o que enfrentariam ali. Ele apertou as lâminas curvas em suas mãos, sentindo o segurança do peso do metal, um lembrete do que era real e palpável. Eyle e Lukon estavam logo atrás, o silêncio entre eles mais carregado do que o próprio ar da floresta.— Esse lugar... — começou Lukon, sua voz quebrando o silêncio. — É como se estivesse vivo.— Porque está — respondeu Eyle, seu tom mais pragmático. — Nunca estive aqui, mas reza a lenda que Nyrathas não é como as outras. Ela não é apenas uma floresta, é algo que sente, observa..
Eryon sentia os braços de Althea ao redor de seu corpo, o rosto dela enterrado em seu peito como se nunca mais quisesse soltá-lo. Sua respiração era irregular, quase entrecortada, enquanto um leve tremor em sua voz quebrava o silêncio.— Eu sabia que te encontraria. — O sussurro dela, carregado de alívio e emoção, cravou-se fundo no coração dele.Ele a segurou com igual intensidade, o coração acelerado, os dedos deslizando pelos cabelos escuros dela até alcançar a mecha prateada, que parecia brilhar com uma luz etérea. Naquele momento, tudo ao redor desapareceu, como se a própria floresta respeitasse a singularidade do reencontro.— Você está bem? — Ele perguntou, segurando o rosto dela entre as mãos, os polegares acariciando suavemente suas bochechas enquanto procurava por qualquer sinal de dor ou exaustão.Althea assentiu, mas seus olhos cinzentos brilhavam com lágrimas que teimavam em cair.— Eu sinto tanto a sua falta, Eryon.Antes que ele pudesse responder, Althea o puxou para um
Eryon pôs-se em pé, os sentidos em alerta máximo.— Quem está aí? — Ele perguntou, a voz firme, mas carregada de exaustão.Das sombras, uma figura surgiu. Uma mulher alta e esguia, diferente de qualquer outra que ele já havia visto. Sua pele era pálida, quase translúcida, e seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade que parecia atravessar Eryon. Tinha uma beleza etérea, sim, mas de uma forma que parecia quase maligna. Vestia algo que parecia feito de fios de luz e trevas, os contornos de seu corpo destacando-se em uma perfeição quase sobrenatural.— Até que enfim nos encontramos, Eryon.A voz feminina era doce, sedutora, mas carregava algo que o fazia estremecer.— Quem é você? — Ele ergueu as lâminas curvas em um movimento instintivo, os músculos tensos enquanto dava um passo para trás.A mulher sorriu, um sorriso que parecia conter mil segredos. Seus longos cabelos, de um cobre profundo, ondulavam como se tocados por um vento invisível.— Eu sou Miralen — disse ela, a voz acari
O som da respiração de Althea ecoava pelo silêncio da caverna. Ela abriu os olhos, mas a escuridão ao seu redor não era a de um sono tranquilo. Era pesada, sufocante, e algo nela dizia que não estava sozinha.— Eryon? — Sua voz soou fraca, quase um sussurro.De repente, um brilho dourado atravessou a escuridão. Os olhos dele, tão familiares, cor de mel, pareciam buscar os seus. Ele estendeu a mão, e o gesto carregava uma ternura que Althea quase não se permitia lembrar. Por um instante, o peso que ela carregava pareceu diminuir. Tudo parecia certo.O toque dele foi como um bálsamo para o peito apertado dela, até que o calor suave de sua mão se transformou em algo gelado e penetrante, um frio que subiu por seu braço e roubou seu fôlego.— Eryon... — ela chamou, mas sua voz se perdeu na crescente escuridão.O sorriso dele desapareceu, e sua figura começou a se desfazer, consumida por sombras que rodopiavam ao redor dela.— Você não pode me salvar, Althea. — A voz dele soava distante, di
O grupo continuou a jornada, adentrando ainda mais as cavernas sagradas do território Varkos.A atmosfera era densa, cada passo ecoando como um lembrete da vastidão daquele lugar. As paredes pareciam pulsar com vida própria, adornadas por musgos luminescentes que desenhavam padrões quase naturais, quase deliberados.— Preparada para o próximo desafio, Lykir? — Kael quebrou o silêncio, um sorriso desafiador brincando nos lábios, mas havia algo diferente no tom dele, mais contido, quase respeitoso.— Sempre. — A resposta de Althea veio rápida, carregada de determinação, mas sua voz tinha um toque de cansaço que ela não conseguiu esconder.Kael riu baixo, mas seus olhos vermelhos brilhavam com uma seriedade incomum.— Quero lhe mostrar um lugar especial para nós. Tenho certeza de que vai se surpreender.Althea começara a notar as sutis mudanças em Kael. Ele estava mais próximo, menos inclinado a provocá-la como costumava fazer. Os comentários ácidos e sarcásticos deram lugar a um tom qua
Uma figura alta, envolta em sombras densas, começou a emergir. Seus olhos brilhavam como chamas, mas não havia calor neles. A intensidade daquele olhar parecia atravessar Althea, expondo todas as suas incertezas e medos. A presença era esmagadora, como se o ar ao redor dela fosse engolido pela entidade.— Quem é você? — Althea tentou falar, mas sua voz saiu fraca, quase inaudível.A figura não respondeu de imediato. Em vez disso, continuou a observá-la, como se estudasse cada fibra da alma de Althea. Quando finalmente falou, sua voz ecoou como um trovão distante, profunda e reverberante, mas sem emoção.— Você caminha entre mundos sem saber o que guarda dentro de si.O chão sob seus pés parecia instável, como se estivesse flutuando em uma teia de luz e sombras. Althea deu um passo para trás, o corpo rígido pela tensão.— O que você quer? — Ela perguntou, forçando sua voz a soar firme, embora sua determinação vacilasse sob o peso daquela presença.A entidade inclinou a cabeça, e as som