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Capítulo 2: A figura encapuzada

O círculo de pedra estava em caos. A figura encapuzada invocava criaturas grotescas das sombras, seres retorcidos que pareciam vibrar entre o mundo real e o espiritual. Uivos de lykor ecoavam pelo vale enquanto os guardiões se preparavam para o combate.

Eryon correu em direção aos invasores, empunhando seu par de lâminas curvas. Althea o seguiu, sentindo sua transformação começar. Em segundos, ela era uma grande loba em sua forma completa. Suas patas tocavam o chão com firmeza, os sentidos aguçados captando cada som e cheiro ao seu redor. Ela sentia o sangue correr quente em suas veias, a força de gerações de lykor fluindo por seu corpo.

Com as lâminas em suas mãos cortando a escuridão como se fossem extensões de sua vontade, Eryon avançou contra as criaturas. Ao seu lado, Althea investiu, seus dentes reluzindo sob a luz da Lua dos Antigos enquanto rasgava a primeira criatura. Elas não eram feitas de carne, mas de pura sombra, dissipando-se ao contato com o aço ou a mordida feroz de um lobo.

No meio do tumulto, Althea percebeu uma presença familiar. Kael, o líder do clã Varkos, conhecido por sua ligação com a terra e pela brutalidade em combate, surgia no campo de batalha. Com ele, vinham seus guerreiros, os mais ferozes entre os lykor.

Kael rugiu, transformado em lobo, derrubando duas criaturas sombrias em um só salto para no instante seguinte, dois outros Varkos aplicarem suas mordidas fatais.

“Finalmente apareceu, Althea! Tinha medo de sujar as garras?” A voz de Kael soou na mente dela, carregada de sarcasmo. 

“Se quer provocar, Kael, escolha outro momento!” Ela rosnou, desviando de um ataque.

"Pare de uivar tanto. Se eu for morrer aqui, pelo menos quero que saibam que lutei ao lado de alguém que vale a pena."

Ela não respondeu. Não era hora para disputas internas. Kael sempre a desafiara, questionando sua liderança e zombando de sua “ausência” durante os últimos anos. Mas agora, seus esforços estavam alinhados. Pelo menos, por enquanto.

Eryon lutava ao seu lado, cada movimento calculado, cada golpe letal. Mas Althea notou que ele hesitava ao olhar para as sombras maiores, como se reconhecesse algo nelas. Em meio ao caos, ele gritou:

— Althea, temos que chegar à figura encapuzada. Se pegarmos ela, as sombras sucumbirão.

“Como ele sabe disso?” Ela rosnou, desviando de um ataque e rasgando uma criatura em dois.

Mostrando que ainda mantinha a assustadora capacidade de entende-la, na sua forma lupina, Eryon emendou:

— Eu sei porque já a enfrentei antes!

Novamente, o som agudo e perturbador cortou o ar, e o campo de batalha pareceu congelar, envolto em uma áurea de antecipação. Com um gesto, a figura encapuzada fez surgir um círculo de energia escura, que crescia ao seu redor. As criaturas cessaram seus ataques, formando uma barreira para proteger sua mestra.

— Vocês acham que podem resistir? — A voz penetrante ecoou. — Nem mesmo a união de seus clãs pode deter o que está por vir.

Kael avançou, ignorando o perigo, mas foi lançado para trás por uma onda de energia. Althea hesitou por um momento, antes de Eryon colocar a mão em seu dorso:

— Juntos!

Ela reconheceu nos olhos dele aquele fogo que queimava toda sua hesitação. Finalmente, assentiu.

Enquanto avançavam, Kael rugiu na mente de Althea:

“Vocês dois estão escondendo algo! O que sabem que não estamos vendo? Althea, explique-se!”

“Depois!” Ela respondeu, com a determinação da líder que era.

Juntos, Althea e Eryon romperam a barreira, seus ataques combinados criando uma abertura na muralha de sombras. Eles chegaram perto da figura, mas antes que pudessem atacar, ela retirou o capuz, revelando um rosto inesperado: Eirlys, uma antiga sacerdotisa da Lua dos Antigos.

— Vocês não entendem o que estão enfrentando — disse Eirlys. — Este mundo está podre. Apenas a escuridão pode purificá-lo.

Eryon congelou, sua respiração acelerando. Althea percebeu o impacto da revelação de intenções da sacerdotisa caída, mas a batalha continuava, e o destino de toda Lykaria pendia por um fio.

“Eryon, não permita que ela brinque com suas emoções!” Althea gritou em sua mente, ansiando que a ligação entre eles ainda fosse forte o suficiente para transmitir a mensagem.

Ele fechou os olhos por um momento, respirou fundo e se lançou contra Eirlys, determinado a terminar o que havia começado tempos atrás.

Mas, antes que Eryon e Althea pudessem atacar, ela desapareceu em uma explosão de sombras, deixando o vale em um silêncio aterrador. As criaturas sombrias que antes preenchiam o círculo de pedra haviam desaparecido, voltando pelo seu curso de origem.

Em poucos instantes, os outros clãs começaram a recuar e se agrupar para discutir os eventos. Enquanto isso, Eryon conduziu Althea para longe do tumulto, levando-a até uma clareira protegida pelos enormes carvalhos sagrados. Se antecipando as necessidades dela - como de costume - ele estendeu sua capa e ofereceu para que ela cobrisse sua nudez ao voltar a forma humana, virando o rosto para garantir-lhe privacidade.

— Você sabia que ela estava viva — acusou Althea, cobrindo o corpo e voltando-se para encará-lo com seus olhos, ainda prateados pela transformação parcial. — Como você sabia?

Eryon vacilou, era impossível não se afetar com a perspectiva do maravilhoso cheiro da lykor ficando impregnado em sua capa, e por fim, lhe respondeu com sinceridade. — Eu sabia. Descobri recentemente e ela tentou me manipular, mais uma vez. O que eu ainda não conhecia eram as intenções malignas dela. Essa história de escuridão purificar Lykaria é nova para mim. 

Althea riu, amarga. — Você sempre sabe mais do que diz. Sempre esconde algo. Assim como quando foi embora.

As palavras dela carregavam o peso do passado. Anos atrás, Eryon tinha feito sua escolha. Ele se afastou de Althea porque acreditava que sua maldição — a fusão de sangue de lobo com a magia proibida — o levaria à morte precoce e arrastaria a futura líder dos Lykir para as sombras do desconhecido.

Althea o observava, na esperança de uma explicação para suas atitudes.

— Você tem todos os motivos para pensar desse jeito — ele finalmente disse, sua voz carregada de algo que soava como arrependimento. — Mas vou lhe provar que mereço sua confiança.

O som de passos na floresta os interrompeu. Kael Varkos surgiu das sombras, completamente nu e com um sorriso de dentes ainda afiados, trazendo consigo a familiar tensão que sempre existira entre eles.

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