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Capítulo 1: Sob a Luz da Lua dos Antigos

A Lua dos Antigos brilhava cheia e majestosa no céu, banhando o Vale da Harmonia com sua luz prateada. Era mais do que um fenômeno celeste; era um símbolo de poder e reverência.

Havia tempos em que essa mesma lua transformava os primeiros lykor, despertando seu lado selvagem e os tornando escravos da fúria. Sob a luz dela, eles perdiam a razão, consumidos pela sede de sangue e pela força incontrolável. Mas, com os séculos, a evolução trouxe equilíbrio. Os lykor aprenderam a dominar suas transformações, e a lua cheia deixou de ser apenas uma fonte de temor, tornando-se a chave de sua força.

Agora, em noites como esta, sua luz intensificava não apenas seus sentidos e habilidades, mas também o vínculo espiritual com sua essência lupina. Althea podia sentir o poder pulsando sob sua pele, mesmo em sua forma humana, como se a energia da lua a chamasse para algo maior, algo que ela ainda não compreendia completamente. A jovem era herdeira do clã Lykir, conhecidos por sua forte ligação com os ventos e pela capacidade de correr mais rápido que qualquer outro lobo.

Aquele era um local sagrado, onde as tribos se reuniam uma vez a cada geração, nas semanas que antecediam o eclipse lunar, para renovarem seus votos com a deusa Arktas. As chamas das tochas tremulavam ao ritmo da leve brisa noturna, lançando sombras dançantes sobre os rostos devotos reunidos ao redor do grande círculo de pedra.

Althea segurava com força o pequeno medalhão em forma de lobo que pendia em seu pescoço, quando viu uma figura atravessar o círculo de pedra — um homem alto, coberto por uma capa de pele que escondia seu rosto — e prontamente, algo dentro dela despertou. O mesmo algo que ela passara anos tentando enterrar. Seu peito apertou e, por um instante, ela sentiu como se o ar tivesse sumido. Ele estava ali. Eryon.

Ele se movia com o mesmo porte imponente de antes e quando seu rosto finalmente se revelou, Althea pode perceber que o tempo havia deixado nele suas marcas, provas das batalhas que enfrentara desde a última vez que se viram.

“Por que você voltou?”, pensou, sentindo uma mistura de raiva e anseio crescer dentro dela.

E logo os olhos de Eryon — cheios de intensidade — encontraram os de Althea, com aquele mesmo brilho cor de mel, que tantas vezes acendeu seus desejos mais íntimos. Ela desviou o olhar, sentindo suas defesas ruírem. E imediatamente reuniu forças para não deixar transparecer o quanto estava impactada. Resolveu que só se permitiria sentir raiva dele.

A cerimônia prosseguiu e a presença de Eryon destoava, até que Althea o perdeu de vista. Ele não fazia parte de nenhum dos clãs reunidos ali e, portanto, não tinha um lugar definido no círculo. Há anos, ele havia se exilado, como quem carrega um segredo daqueles capazes de envolver alguém numa rede de conjecturas e elucubrações até consumir todos que ama. Seu retorno era um enigma.

Sarya, a mais antiga sacerdotisa do Vale da Harmonia, ergueu um artefato sagrado e anunciou em voz alta:

— O eclipse está próximo, e com ele vem o cumprimento da Profecia dos Antigos. Uma união entre luz e trevas decidirá o destino de nosso mundo.

Murmúrios se espalharam pela multidão. Todos conheciam a profecia — falava de dois seres destinados a guiar os lykor em tempos de crise. Um seria marcado pela luz da lua; o outro, pelas sombras do desconhecido. Althea tentou afastar o pensamento que insistia em ligá-la às palavras da sacerdotisa. Ela não queria ser definida por um destino alheio. Seus passos, suas escolhas — tudo era dela. Mas o retorno de Eryon, depois de dez anos, abalara suas certezas de uma forma que ela ainda nem conseguia mensurar.

Assim que a cerimônia terminou, ele apareceu ao lado dela.

— Althea. — Sua voz era grave, mas havia algo de suave nela, como se proferisse um pedido de desculpas velado.

— Você não deveria estar aqui — ela respondeu, forçando um tom gélido. Seus olhos, muito mais belos do que a ridícula memória de Eryon podia lembrar, o encararam como duas tempestades prestes a desabar.

— Não consegui me manter longe. Algo está para acontecer. Você sente isso tanto quanto eu.

— Se é sobre a profecia, esqueça. Eu não sou obrigada a acreditar que eu tenha qualquer relação com isso.

Eryon sorriu de leve, mas havia dor no gesto.

— Está na hora de ouvirmos o vento, Althea. É por isso que estou aqui.

— Então, depois te tanto tempo, a velha profecia te fez voltar? — Ela não foi capaz de esconder o rancor em suas palavras.

— Você sabe o que me fez voltar, Althea. A única coisa da qual não posso fugir, da qual nós dois não podemos fugir. — Ele enfatizou as últimas palavras, fixando seus olhos de pôr-do-sol nos tentadores lábios de Althea. — Quero provar que posso escolher. E minha escolha é você.

Seu coração acelerou, lembrando o quanto ele podia ser direto e objetivo, quando decidia expressar claramente os seus anseios. No entanto, Althea se recusava a ceder. Tudo que Eryon havia feito no passado — a partida sem explicação, os segredos, a maneira como ele desapareceu no momento em que ela mais precisava — ainda a assombrava.

— Você não pode simplesmente voltar e esperar que eu aceite e acredite em tudo que diz. Existe muita coisa em jogo, agora. Muito mais do que antes.

— Eu sei. Por isso estou aqui...

Antes que Eryon pudesse continuar, um som torpe cortou a noite, ecoando por todo o vale. Os guardiões do círculo correram para proteger as sacerdotisas, e a multidão se agitou. Uma figura encapuzada, envolta por uma aura negra, surgiu no centro do círculo e ar ficou denso, preenchido do aroma característico de magia proibida, e anunciou:

— A escolha de vocês já foi feita. E o eclipse trará o fim de todos os reinos. — E ao erguer suas mãos, uma explosão de luz negra rasgou o céu.

Eryon puxou Althea para trás de uma rocha, e olhando-a com toda verdade e firmeza, falou:

— Eu sei que você não confia em mim, mas precisamos lutar juntos.

Althea encarou aqueles olhos intensos por um breve momento. No passado, ela acreditou cegamente nele. Agora, não podia ignorar a desconfiança que cresceu dentro dela. Mas a verdade era que, neste momento, lutar ao lado dele era a única escolha que fazia sentido.

— Tudo bem. Mas depois disso, você me contará a verdade. Toda ela.

Eryon assentiu, e juntos se prepararam para enfrentar a figura que trazia consigo o medo e as trevas do passado e o presságio de um futuro incerto.

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