Era um campo infinito, recheado de uma paisagem que mudava constantemente — montanhas se tornavam rios, florestas se dissolviam em desertos. No centro desse mundo mutável, duas presenças que pareciam emanar uma energia ancestral emergiram: uma radiante e envolta em luz prateada, a outra cercada por sombras escuras, mas com olhos dourados que cintilavam.Suas formas pareciam familiares. Cada gesto, cada movimento trazia uma sensação de déjà vu. Elas não falavam, mas suas presenças comunicavam uma história de eras passadas, de uma luta eterna entre luz e escuridão, onde ambos coexistiam em um intrincado equilíbrio.Althea sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O aperto de Eryon era vívido ao redor de sua mão.— Sua presença é tão real! Mas tenho quase certeza de que estou sonhando.Eryon assentiu, os olhos fixos nas figuras.— Sim. Também sinto você aqui, mas esse sonho é meu ou seu?Althea apertou a mão de Eryon de volta, tentando encontrar sentido na experiência.— Não sei dizer. Pa
A vila estava agitada, o tão esperado eclipse, aguardado por trinta anos, aconteceria no último dia da próxima Lua dos Antigos. Membros de todos os clãs chegavam a todo momento, transformando os arredores em uma grande celebração.O grupo aguardou Kamar, enviado como batedor, retornar com notícias do templo. A expectativa era de encontrar o local fortemente protegido, e eles precisavam encontrar uma maneira de acessa-lo. Mas sua expressão indicava algo diferente. — O templo está... totalmente desprotegido! — Anunciou o Varkos, sem esconder sua surpresa. — Não há guardas, nem mesmo sinal das sombras que enfrentamos antes.Althea e Eryon trocaram um olhar preocupado. Algo não estava certo. Eles contavam encontrar Eirlys lá, com suas grotescas criaturas, para garantir que ninguém impediria seus planos.— Pode ser uma armadilha — murmurou Althea, a suspeita tingindo suas palavras.— Ou então, chegamos cedo demais — acrescentou Eryon.Eles discutiram entrei si sobre os próximos passo, Kae
Após a longa noite de vigília, o grupo de lykor finalmente se reuniu na clareira, sob a luz pálida do amanhecer. O cansaço era visível nos rostos de todos.Kael, com seu olhar habitualmente incisivo, tomou a palavra primeiro:— Como líder, informo que tenho um quarto reservado na estalagem Chama do Crepúsculo — anunciou, sua voz firme, mas com uma ponta de exaustão. — Preciso de uma boa cama e um banho decente.Todos trocaram olhares, tinham até desacostumado com o som de sua voz, já que Kael estava mais calado do que o habitual. Althea sabia que a presença da essência de Eryon em seu corpo pesava sobre ele. Os sentimentos que Kael nutria por ela ainda eram intensos, e a rivalidade com Eryon só se agravara ao saber que ele havia experimentado o que Kael desejava com todo o seu ser.— Vamos todos para a vila, então — sugeriu Eryon, tentando desviar a atenção. — Com o festival do Eclipse em andamento, a Vila de Veyara estará lotada. Precisamos de uma estratégia para nos misturar.A prop
Parada à sua frente, seus cabelos escuros emolduravam o rosto marcado por um rastro de lágrimas que brilhava à luz da lua. Ela não chorava de forma descontrolada, isso não combinava com quem ela era. Mas havia algo na postura de Althea — nos ombros que lutavam para não cair, na respiração que ela segurava para não soltar um soluço — que rasgava Eryon por dentro.— Você não precisa fazer nada agora, Eryon — disse ela, a voz baixa, mas carregada de um peso que ele conhecia bem. — Não agora.Ele sabia o que ela estava dizendo, mesmo que não dissesse as palavras exatas. Ela estava sozinha. Precisava dele. E ele a estava deixando.— Mas precisaria fazer em algum momento. Não temos escolha — disse, mas até para ele a frase soou falsa.— Sempre há escolha. Você que decidiu fugir.A palavra atingiu-o como uma lâmina. Fugir. Ele queria negar, mas como poderia? Era isso que parecia. Talvez até fosse verdade.— Você não entende, Althea...— Então me explique. Só desta vez. Só me diga a verdade,
A Lua dos Antigos brilhava cheia e majestosa no céu, banhando o Vale da Harmonia com sua luz prateada. Era mais do que um fenômeno celeste; era um símbolo de poder e reverência.Havia tempos em que essa mesma lua transformava os primeiros lykor, despertando seu lado selvagem e os tornando escravos da fúria. Sob a luz dela, eles perdiam a razão, consumidos pela sede de sangue e pela força incontrolável. Mas, com os séculos, a evolução trouxe equilíbrio. Os lykor aprenderam a dominar suas transformações, e a lua cheia deixou de ser apenas uma fonte de temor, tornando-se a chave de sua força.Agora, em noites como esta, sua luz intensificava não apenas seus sentidos e habilidades, mas também o vínculo espiritual com sua essência lupina. Althea podia sentir o poder pulsando sob sua pele, mesmo em sua forma humana, como se a energia da lua a chamasse para algo maior, algo que ela ainda não compreendia completamente. A jovem era herdeira do clã Lykir, conhecidos por sua forte ligação com os
O círculo de pedra estava em caos. A figura encapuzada invocava criaturas grotescas das sombras, seres retorcidos que pareciam vibrar entre o mundo real e o espiritual. Uivos de lykor ecoavam pelo vale enquanto os guardiões se preparavam para o combate.Eryon correu em direção aos invasores, empunhando seu par de lâminas curvas. Althea o seguiu, sentindo sua transformação começar. Em segundos, ela era uma grande loba em sua forma completa. Suas patas tocavam o chão com firmeza, os sentidos aguçados captando cada som e cheiro ao seu redor. Ela sentia o sangue correr quente em suas veias, a força de gerações de lykor fluindo por seu corpo.Com as lâminas em suas mãos cortando a escuridão como se fossem extensões de sua vontade, Eryon avançou contra as criaturas. Ao seu lado, Althea investiu, seus dentes reluzindo sob a luz da Lua dos Antigos enquanto rasgava a primeira criatura. Elas não eram feitas de carne, mas de pura sombra, dissipando-se ao contato com o aço ou a mordida feroz de u
— Ainda discutindo, Lykir? — Disse Kael, acomodando todo aquele volume viril na calça que acabara de vestir, com um sorriso malicioso para Althéa e, em seguida, um olhar de desdém para Eryon.O líder dos Varkos tinha uma figura imponente, o corpo esculpido por músculos e decorado com tatuagens vermelhas, como seus olhos. Seus cabelos longos eram de um tom bordô, assim como sua barba cheia e curta, que emoldurava suas feições angulares. Era extremamente atraente e muito consciente do efeito que sua aparência causava. — Não temos tempo para seus dramas pessoais. O eclipse está chegando, e a profecia está se desenrolando mais rápido do que pensávamos. — Kael alfinetou.Althea respirou fundo, colocando de lado suas emoções.— O que descobriu?O Varkos afastou qualquer tom jocoso de sua voz, antes de se pronunciar.— Eirlys não pode estar agindo sozinha. Há algo... ou alguém... que a controla. Precisamos descobrir quem ou o quê.Lobos de outros clãs se juntaram a eles e enquanto discutiam
Em uma noite, há quase trinta anos, a Lua dos Antigos estava alta no céu, envolta em uma majestade prateada, e seus raios dançavam sobre o Espelho da Lua. O eclipse lunar começara transformando o céu em uma pintura sombria e sagrada, e os lykor observavam, em silêncio, o ritual aguardado por toda uma geração. O ar estava denso, carregado de uma energia antiga que pulsava ao mesmo tempo como uma promessa e um presságio de tempos decisivos.Afastada da multidão, em uma clareira protegida pelos carvalhos ancestrais, Lyanna, líder do clã Lykir, enfrentava o momento mais doloroso e sagrado de sua vida. Sobre uma manta de linho bordada com o símbolo da Lua dos Antigos, as contrações se intensificavam, em correntes que traziam a vida e, ao mesmo tempo, arrancavam suas forças. Seus lábios, apertados, mal deixavam escapar um som, mas o suor que escorria por seu rosto denunciava o esforço e o sofrimento. Ela segurava a terra úmida com força, buscando naquele contato um pouco da firmeza que come