A chegada de Althea foi uma explosão de energia. Sua forma lupina, elegante e imponente, desceu o barranco como uma força da natureza. Ela mal se importou com a nudez ao assumir a forma humana, os olhos prateados brilhando com a intensidade de mil tempestades.Eyle veio logo atrás, apressada e um tanto descomposta, ajustando sua capa. Com um movimento fluido, estendeu outra para Althea, que a aceitou sem tirar os olhos de Miralen.Uma roda de espectadores começou a se formar, atraída pelo espetáculo inegável. Os murmúrios da multidão eram abafados, mas curiosos. Miralen não parecia perturbada. Ao contrário, exalava uma confiança desconcertante, como se controlasse todos ali.— Então, você é Miralen. — Althea disse com desdém, envolta em uma calma que mascarava sua fúria.A bruxa sorriu, um sorriso lento e carregado de malícia. Voltou-se para Eryon, ignorando Althea por completo.— Vejo que você já falou a ela sobre mim, querido.Althea soltou um murmúrio de incredulidade, já Eryon per
Althea parou numa clareira, os ombros tensos e os braços cruzados firmemente sobre o peito. Seu olhar distante parecia perdido entre as árvores que balançavam ao ritmo do vento. O coração ainda pulsava acelerado, carregando a raiva e a confusão que a dominavam. Foi então que sentiu o aroma dele.O cheiro inconfundível de madeira queimada misturada a uma nota terrosa e fresca, como o aroma de chuva tocando o solo seco. Aquilo a desarmou de imediato. Fechou os olhos, e uma maré de emoções invadiu sua mente. Quando Eryon se colocou em sua frente, os olhos de Althea se encheram de lágrimas que ela lutava para conter.— Minha luz, minha urgência em te ter dominou minha mente. Me perdoe. Venha aqui, eu preciso sentir o seu calor e as batidas do seu coração. — A voz dele era baixa e rouca, carregada de arrependimento.Ela inclinou levemente a cabeça, os olhos marejados e a expressão endurecida de insatisfação. Sem dizer uma palavra, virou de costas, recusando-se a encarar aqueles olhos que s
O dia seguinte trouxe uma calma aparente para Althea e Eryon, mas as questões que rondavam suas mentes estavam longe de serem resolvidas. Agora faltavam apenas quatro dias para o eclipse da Lua dos Antigos, e eles estavam na biblioteca, mergulhados em livros antigos e registros esquecidos, tentando encontrar qualquer informação relevante sobre Nykros. As pilhas de manuscritos ao redor deles apenas refletiam a vastidão de suas dúvidas.Enquanto Althea estava concentrada em um volume pesado, Eryon não conseguia evitar que fragmentos da noite anterior invadissem sua mente. Sob a luz das estrelas, Althea tinha dominado completamente seu corpo, e desde então, seus pensamentos. Ele ainda podia sentir a intensidade com que ela se movia sobre ele, seus quadris encaixados, as mãos dela estimulando as zonas erógenas do próprio corpo enquanto gemia suavemente. Uma lembrança sensual e avassaladora, que fez Eryon desconcentrar-se dos livros à sua frente.Althea ergueu os olhos por cima das páginas
A noite em Veyara estava envolta em uma brisa suave, carregando o aroma de flores noturnas e o murmúrio constante do vento através das árvores. O centro da vila servia como palco natural para um ritual de companheiros. Lykor de diferentes clãs se reuniram, suas posturas e olhares respeitosos demonstrando a admiração pelo evento que estava prestes a acontecer. A união entre membros de clãs diferentes não era proibida, mas era incomum. Ainda mais quando envolvia clãs quase opostos como os Varkos, com sua conexão inegável com a terra, e os Lykir, que viviam em harmonia com a força do vento. Essa raridade tornava o momento ainda mais significativo, especialmente com a proximidade do eclipse da Lua dos Antigos.Lukon, com sua presença robusta e enraizada, representava os Varkos em toda a sua força. O contraste entre sua conexão com a terra e a leveza de Eyle, que parecia quase dançar com o vento ao seu redor, criava uma harmonia impressionante. Naquele momento, todos presentes presenciavam
Em meio à multidão de lykor que discutia em tons baixos a beleza do que haviam presenciado. Althea e Eryon se aproximaram novamente. Ele inclinou-se para ela, sua voz baixa e tão carregada de ternura que fazia seu coração acelerar ainda mais:— Está tudo bem, minha luz?— Sim. Estou feliz por fazer parte desse momento tão especial. — Disse, tentado afastar o desconforto que as palavras de Kael lhe causaram.— O que aquele Varkos estava falando com você? — Perguntou, preocupado.— Nada que deva tomar um segundo sequer de nossa atenção, eu te garanto. — Ela o abraçou, enterrando o rosto no peito forte dele, buscando a tranquilidade de seu toque.— Logo será o nosso momento, minha luz. Do nosso jeito, mas tão especial quanto o que vimos agora.Althea sorriu de lado, os olhos brilhando com uma mistura de empolgação e carinho.— Eu também penso nisso. Quero que o nosso ritual seja único, algo que represente não só nossos clãs, mas quem somos juntos.Eryon tocou de leve a mão dela, o gesto
Na manhã seguinte Althea e Eryon estavam na estalagem Vento Prateado. Sentados à mesa de um pequeno salão de pedra iluminado por velas, esperavam Malakai, o ancião Seylir que finalmente concordara em recebê-los. O aroma de pães frescos e ervas quentes pairava no ar, mas não fazia muito para aliviar a tensão entre os dois.Quando Malakai chegou, estava sozinho. Sua aparente felicidade ao vê-los contrastava com o comportamento típico dos anciões. Ele sorria de forma calorosa, como um avô reencontrando os netos após uma longa jornada. Eryon e Althea trocaram um olhar incrédulo antes de cumprimentá-lo com educação.— Espero que a espera não tenha sido longa — disse Malakai, acomodando-se na cadeira.Antes de voltar a falar, ele reclamou de alguns itens e esbravejou com a mulher que demorou de vir atendê-lo.— Estou morto de fome. Vamos, comam, crianças! Althea e Eryon começaram a se servir, escolhendo entre as opções da farta mesa posta para eles três.— Vocês estão hospedados onde mesmo
Sakyr estava sentado em uma mesa da estalagem Chama do Crepúsculo, terminando seu desjejum. Ele mastigava lentamente, os sentidos sempre atentos ao ambiente, quando viu um ancião usando trajes que denunciavam sua ligação com o clã Seylir entrar acompanhado de dois outros lykor. O movimento chamou sua atenção imediatamente.Um dos lykor ficou parado junto à porta, com postura vigilante, enquanto o outro foi até o balcão e gesticulou para o estalajadeiro. Sakyr apurou sua audição, focando-se na conversa que acontecia a alguns metros dali.— Qual é o quarto dela? — Perguntou o lykor, empurrando algumas moedas na direção do atendente.O estalajadeiro hesitou por um momento antes de olhar para o ancião e, então, murmurar algo. Sakyr ouviu claramente o nome de Althea ser mencionado. Ele engoliu o último pedaço de pão e ajeitou a postura na cadeira, observando enquanto o lykor entregava mais moedas e apontava para o ancião, indicando que estavam juntos.Enquanto o ancião subia em direção aos
A floresta de Nyrathas nunca estava em silêncio completo. As copas densas filtravam a luz do sol, tingindo o chão de tons de verde e dourado, enquanto sussurros mágicos dançavam entre as árvores. Para aqueles que ousavam entrar, era um lugar de maravilhas e terrores, e para Eirlys, uma necessidade perigosa.Caminhando pelos caminhos tortuosos, Eirlys sabia que estava em risco. Aqueles que passavam por Nyrathas não saíam os mesmos, e ela passara muito tempo ali. Os antigos segredos da floresta sussurravam verdades insuportáveis, enlouquecendo os que tentavam decifrar suas mensagens. Foi assim que ela ganhou o título de sacerdotisa caída. Mas Eirlys não temia. Ela havia aprendido a suportar a verdade, qualquer que fosse ela, e a sempre usá-la como combustível.Agora, com o eclipse iminente, o tempo estava se esgotando. A floresta, com seus segredos antigos e sussurros enigmáticos, nunca deixava Eirlys partir sem respostas. Era como se Nyrathas lhe concedesse clareza e discernimento, gui