Em meio à multidão de lykor que discutia em tons baixos a beleza do que haviam presenciado. Althea e Eryon se aproximaram novamente. Ele inclinou-se para ela, sua voz baixa e tão carregada de ternura que fazia seu coração acelerar ainda mais:— Está tudo bem, minha luz?— Sim. Estou feliz por fazer parte desse momento tão especial. — Disse, tentado afastar o desconforto que as palavras de Kael lhe causaram.— O que aquele Varkos estava falando com você? — Perguntou, preocupado.— Nada que deva tomar um segundo sequer de nossa atenção, eu te garanto. — Ela o abraçou, enterrando o rosto no peito forte dele, buscando a tranquilidade de seu toque.— Logo será o nosso momento, minha luz. Do nosso jeito, mas tão especial quanto o que vimos agora.Althea sorriu de lado, os olhos brilhando com uma mistura de empolgação e carinho.— Eu também penso nisso. Quero que o nosso ritual seja único, algo que represente não só nossos clãs, mas quem somos juntos.Eryon tocou de leve a mão dela, o gesto
Na manhã seguinte Althea e Eryon estavam na estalagem Vento Prateado. Sentados à mesa de um pequeno salão de pedra iluminado por velas, esperavam Malakai, o ancião Seylir que finalmente concordara em recebê-los. O aroma de pães frescos e ervas quentes pairava no ar, mas não fazia muito para aliviar a tensão entre os dois.Quando Malakai chegou, estava sozinho. Sua aparente felicidade ao vê-los contrastava com o comportamento típico dos anciões. Ele sorria de forma calorosa, como um avô reencontrando os netos após uma longa jornada. Eryon e Althea trocaram um olhar incrédulo antes de cumprimentá-lo com educação.— Espero que a espera não tenha sido longa — disse Malakai, acomodando-se na cadeira.Antes de voltar a falar, ele reclamou de alguns itens e esbravejou com a mulher que demorou de vir atendê-lo.— Estou morto de fome. Vamos, comam, crianças! Althea e Eryon começaram a se servir, escolhendo entre as opções da farta mesa posta para eles três.— Vocês estão hospedados onde mesmo
Sakyr estava sentado em uma mesa da estalagem Chama do Crepúsculo, terminando seu desjejum. Ele mastigava lentamente, os sentidos sempre atentos ao ambiente, quando viu um ancião usando trajes que denunciavam sua ligação com o clã Seylir entrar acompanhado de dois outros lykor. O movimento chamou sua atenção imediatamente.Um dos lykor ficou parado junto à porta, com postura vigilante, enquanto o outro foi até o balcão e gesticulou para o estalajadeiro. Sakyr apurou sua audição, focando-se na conversa que acontecia a alguns metros dali.— Qual é o quarto dela? — Perguntou o lykor, empurrando algumas moedas na direção do atendente.O estalajadeiro hesitou por um momento antes de olhar para o ancião e, então, murmurar algo. Sakyr ouviu claramente o nome de Althea ser mencionado. Ele engoliu o último pedaço de pão e ajeitou a postura na cadeira, observando enquanto o lykor entregava mais moedas e apontava para o ancião, indicando que estavam juntos.Enquanto o ancião subia em direção aos
A floresta de Nyrathas nunca estava em silêncio completo. As copas densas filtravam a luz do sol, tingindo o chão de tons de verde e dourado, enquanto sussurros mágicos dançavam entre as árvores. Para aqueles que ousavam entrar, era um lugar de maravilhas e terrores, e para Eirlys, uma necessidade perigosa.Caminhando pelos caminhos tortuosos, Eirlys sabia que estava em risco. Aqueles que passavam por Nyrathas não saíam os mesmos, e ela passara muito tempo ali. Os antigos segredos da floresta sussurravam verdades insuportáveis, enlouquecendo os que tentavam decifrar suas mensagens. Foi assim que ela ganhou o título de sacerdotisa caída. Mas Eirlys não temia. Ela havia aprendido a suportar a verdade, qualquer que fosse ela, e a sempre usá-la como combustível.Agora, com o eclipse iminente, o tempo estava se esgotando. A floresta, com seus segredos antigos e sussurros enigmáticos, nunca deixava Eirlys partir sem respostas. Era como se Nyrathas lhe concedesse clareza e discernimento, gui
O peso do cansaço estava tornando-se insuportável, mas Eirlys forçou-se a manter a voz firme.— Sua mente está corrompida, Miralen. O que você se tornou não é liberdade. É autodestruição.Miralen gargalhou, um som perturbador, cheio de desespero, que reverberou pelas árvores ao redor. A risada parecia um reflexo de sua alma partida, uma mistura de raiva e loucura.— Poupe-me de seus julgamentos, sacerdotisa caída! Olhe para si mesma! Você também cedeu às sombras de Nyrathas. Não somos tão diferentes assim.Eirlys sentiu a acusação perfurar sua armadura emocional, mas não tinha tempo para refletir. O chão tremeu sob seus pés novamente, e ela quase perdeu o equilíbrio com a próxima explosão de energia de Miralen. A sensação de impotência começava a tomar conta dela. O medo de não conseguir conte-la crescia dentro dela, como uma sombra ameaçando engolir sua determinação.“Eu não posso falhar, Deusa, me ajude”, pensou, enquanto convocava cada fragmento de força que ainda lhe restava para
O quarto da estalagem parecia menor com o peso da tensão. Althea mantinha a postura firme, enquanto Eryon andava de um lado para o outro, o lobo inquieto rugindo dentro dele. Os dois anciões Seylir, Malakai e Arkor, ambos imobilizados, impedidos de se transformarem ou de acessarem os objetos canalizadores de poder, facilmente identificados por Eryon.Eles estavam sentados, um de frente para o outro, se olhado com severidade. Malakai havia acabado de fazer uma revelação que arrancara um olhar furioso de Arkor, mas agora, ambos estavam calados."Não podemos ter nosso povo associado às aberrações daqueles bruxos. Controle sua língua." Arkor disparou, a voz ecoando como uma ordem ancestral.Malakai ergueu os olhos, sem recuar. "Mas não era a sua garganta que sentia o fio da lâmina desse híbrido, não é?" Retrucou com amargura.Eryon, parado próximo à porta, captou a conversa mental dos dois. Ele concentrou-se, fechando os olhos por um momento, buscando não vazar sua própria presença na con
Eryon e Althea estavam sentados em silêncio no quarto abafado da estalagem. Ambos estavam perdidos em pensamentos, tentando reunir os fragmentos deixados pelos anciãos Seylir. Era como montar um quebra-cabeça sem todas as peças.— Nada concreto. — Murmurou Althea, quebrando o silêncio. Ela esfregava as têmporas, como se o toque pudesse organizar o caos em sua mente. — Os anciãos nos deram fragmentos, mas nenhum deles forma uma imagem completa.Eryon, de pé perto da janela, virou-se parcialmente para ela. O luar atravessava as frestas e desenhava sombras em seu rosto.— Talvez essa fosse a intenção, — ele respondeu, a voz carregada de frustração contida. — Eles sabem sobre minha origem, mas se esquivaram de qualquer associação com as pesquisas do meu pai.Althea suspirou, cruzando os braços enquanto observava o chão, como se ali estivesse a resposta.— O que será que Malakai quis dizer com um acordo para a criação de algo, ou alguém? — Disse ela, mais para si mesma do que para Eryon.
Eryon sentia o coração martelar dentro do peito, cada batida ecoando a ira contida por anos de mentiras. Althea, ao seu lado, não desviava o olhar de Eirlys, os olhos cinzentos brilhando com um misto de desconfiança e expectativa. A noite era densa, e o vento sussurrava entre as árvores como se o próprio mundo contivesse a respiração, aguardando a revelação.— Fale — Eryon exigiu, a voz carregada de gelo. Seus punhos estavam cerrados, como se a tensão do momento pudesse estilhaçá-lo a qualquer instante.Eirlys inspirou profundamente, sua expressão marcada pelo peso do passado. Seus olhos vagaram pelo bosque, como se buscassem a força que lhe faltava na noite que os envolvia.— Seu pai, Nykolos, era um bruxo brilhante. Um homem que ousou desafiar o destino e pagar o preço por isso. Ele descende da linhagem real de Valtaria, um dos reinos mais antigos e influentes do continente bruxo de Kalyndor. Ainda muito jovem, perdeu a mãe em circunstâncias misteriosas e foi entregue aos cuidados d