O quarto da estalagem parecia menor com o peso da tensão. Althea mantinha a postura firme, enquanto Eryon andava de um lado para o outro, o lobo inquieto rugindo dentro dele. Os dois anciões Seylir, Malakai e Arkor, ambos imobilizados, impedidos de se transformarem ou de acessarem os objetos canalizadores de poder, facilmente identificados por Eryon.Eles estavam sentados, um de frente para o outro, se olhado com severidade. Malakai havia acabado de fazer uma revelação que arrancara um olhar furioso de Arkor, mas agora, ambos estavam calados."Não podemos ter nosso povo associado às aberrações daqueles bruxos. Controle sua língua." Arkor disparou, a voz ecoando como uma ordem ancestral.Malakai ergueu os olhos, sem recuar. "Mas não era a sua garganta que sentia o fio da lâmina desse híbrido, não é?" Retrucou com amargura.Eryon, parado próximo à porta, captou a conversa mental dos dois. Ele concentrou-se, fechando os olhos por um momento, buscando não vazar sua própria presença na con
Eryon e Althea estavam sentados em silêncio no quarto abafado da estalagem. Ambos estavam perdidos em pensamentos, tentando reunir os fragmentos deixados pelos anciãos Seylir. Era como montar um quebra-cabeça sem todas as peças.— Nada concreto. — Murmurou Althea, quebrando o silêncio. Ela esfregava as têmporas, como se o toque pudesse organizar o caos em sua mente. — Os anciãos nos deram fragmentos, mas nenhum deles forma uma imagem completa.Eryon, de pé perto da janela, virou-se parcialmente para ela. O luar atravessava as frestas e desenhava sombras em seu rosto.— Talvez essa fosse a intenção, — ele respondeu, a voz carregada de frustração contida. — Eles sabem sobre minha origem, mas se esquivaram de qualquer associação com as pesquisas do meu pai.Althea suspirou, cruzando os braços enquanto observava o chão, como se ali estivesse a resposta.— O que será que Malakai quis dizer com um acordo para a criação de algo, ou alguém? — Disse ela, mais para si mesma do que para Eryon.
Eryon sentia o coração martelar dentro do peito, cada batida ecoando a ira contida por anos de mentiras. Althea, ao seu lado, não desviava o olhar de Eirlys, os olhos cinzentos brilhando com um misto de desconfiança e expectativa. A noite era densa, e o vento sussurrava entre as árvores como se o próprio mundo contivesse a respiração, aguardando a revelação.— Fale — Eryon exigiu, a voz carregada de gelo. Seus punhos estavam cerrados, como se a tensão do momento pudesse estilhaçá-lo a qualquer instante.Eirlys inspirou profundamente, sua expressão marcada pelo peso do passado. Seus olhos vagaram pelo bosque, como se buscassem a força que lhe faltava na noite que os envolvia.— Seu pai, Nykolos, era um bruxo brilhante. Um homem que ousou desafiar o destino e pagar o preço por isso. Ele descende da linhagem real de Valtaria, um dos reinos mais antigos e influentes do continente bruxo de Kalyndor. Ainda muito jovem, perdeu a mãe em circunstâncias misteriosas e foi entregue aos cuidados d
O impacto das palavras de Eirlys reverberava no ar. Eryon cerrou os punhos, o queixo travado em uma mistura de raiva e confusão. O bosque ao redor parecia se fechar, como se a própria natureza absorvesse a grandiosidade do que estava sendo dito.— Continue. — Ele finalmente disse, cruzando os braços sobre o peito. — E qual é o papel que você supõe que temos a desempenhar nisso tudo? — Ele cuspiu as palavras, sua paciência por um fio.Eirlys encontrou seu olhar com firmeza.— Quando Lyra engravidou, Nykolos e sua tutora acreditaram que você era a chave para a libertação das entidades desaparecidas. Até eu acreditei nisso. Mas quando você nasceu antes do eclipse, algo não batia com o que dizia a profecia.— Qual profecia? São tantas, que começo a acreditar que não passam de falácias e lendas — Eryon estreitou os olhos, seu tom impaciente.Eirlys respirou fundo antes de recitar, quase como se as palavras tivessem sido gravadas em sua mente desde tempos imemoriais:"Quando a lua se oculta
O som ritmado das botas pesadas contra o solo ecoava pela vila, enquanto Eryon era conduzido à sala de justiça. Althea caminhava ao seu lado, o olhar tempestuoso e a postura ereta, cada fibra de seu ser denunciando sua frustração contida. Os oito soldados que os escoltavam mantinham um círculo apertado ao redor deles, e à frente, os anciãos seguiam em silêncio, como juízes já certos do veredicto.— Isso é um erro. — Althea rompeu o silêncio, sua voz carregada de autoridade. — Se realmente fosse um interrogatório pacífico, não precisariam de uma escolta como essa.O ancião à sua frente, um homem de cabelos brancos trançados e olhos severos, sequer virou a cabeça.— A escolta é praxe, prezada líder Lykir. — Ele respondeu, sua voz grave e desprovida de emoção. — Os anciãos têm prerrogativa de proteção. Você deveria saber.— Não me tome por tola, ancião Eldrin. — Althea apertou o passo, emparelhando-se ao ancião. — O que estão escondendo?Eldrin finalmente virou o rosto para ela, o olhar
O silêncio que se seguiu às palavras de Eryon foi avassalador. Os anciãos se entreolharam, trocando olhares furtivos carregados de inquietação. A luz da tocha tremulante projetava sombras dançantes nas paredes, refletindo a tensão crescente no ambiente.O líder dos anciãos, Eldrin, pigarreou, recompondo-se rapidamente.— Nomes não mudam a realidade, garoto. Você foi criado em Veyara como um Daelen. E é assim que será julgado.Eryon sorriu de canto, sua postura ainda relaxada, mas seu olhar ardia com um brilho dourado intenso. Ele sabia que aquela revelação causaria repercussões que iriam muito além daquela sala. Os Seylir tinham medo da verdade, medo do que sua linhagem representava.— E eu pensava que estava aqui justamente pela linhagem que carrego, pelo nome que deveria ter. Estaria o filho sendo cobrado pelos supostos erros de seus pais?Os anciãos não responderam de imediato. Suas mentes, no entanto, estavam em alvoroço."Ele sabe muito... e há uma magia forte dentro dele", a voz
Os olhares dos líderes e representantes se voltaram para Malakai e Arkor, esperando explicações. O ancião Seylir ajustou sua postura, buscando manter a compostura. — São acusações graves, líder Lykir. E, no entanto, meras palavras jogadas ao vento. — Malakai sorriu, mas seus olhos estavam carregados de desafio. — Se houve uma invasão, o que exatamente vocês estavam tentando esconder em seus aposentos? — O que lhe leva a crer que tinha algo a esconder? A privacidade do quarto de qualquer lykor, sobretudo uma líder de clã, não deve ser preservada? — Althea respondeu, sentindo o sangue ferver dentro de si. Antes que Malakai pudesse responder, Kael interveio, cruzando os braços sobre o peito. — Que conveniente, não? Primeiro, invadem os aposentos de uma líder, depois transformam um interrogatório ilegítimo em prisão sob acusações forjadas e agora, me parece que querem plantar uma dúvida quanto à conduta da líder Lykir. Eu diria que estão desesperados para manter alguma verdade enterra
Na cela fria e úmida, Eryon mantinha-se sentado contra a parede de pedra, os olhos fechados. Ele escutava cada ruído ao redor, sentindo a energia do lugar pulsar com algo mais profundo e obscuro. Ele abriu os olhos quando sentiu uma mudança sutil na atmosfera. Um arrepio percorreu sua espinha. As correntes presas aos seus pulsos estavam levemente quentes, uma sensação estranha, como se absorvessem algo dele. "Isso não é uma prisão comum", pensou. Ele inspirou profundamente, expandindo seus sentidos. Foi então que ouviu algo ainda mais perturbador. O som de passos ecoou pelo corredor de pedra. Eryon manteve-se imóvel, forçando sua respiração a parecer mais fraca, o corpo curvado como se estivesse debilitado. A porta rangeu ao ser aberta, e as sombras de três figuras se projetaram na parede. Eldrin, Arkor e Malakai entraram na cela, os olhos avaliando-o com desprezo. — Olhem para ele — Malakai zombou, cruzando os braços. — O grande herdeiro de Kalyndor, reduzido a isto. Que vergonh