O impacto das palavras de Eirlys reverberava no ar. Eryon cerrou os punhos, o queixo travado em uma mistura de raiva e confusão. O bosque ao redor parecia se fechar, como se a própria natureza absorvesse a grandiosidade do que estava sendo dito.— Continue. — Ele finalmente disse, cruzando os braços sobre o peito. — E qual é o papel que você supõe que temos a desempenhar nisso tudo? — Ele cuspiu as palavras, sua paciência por um fio.Eirlys encontrou seu olhar com firmeza.— Quando Lyra engravidou, Nykolos e sua tutora acreditaram que você era a chave para a libertação das entidades desaparecidas. Até eu acreditei nisso. Mas quando você nasceu antes do eclipse, algo não batia com o que dizia a profecia.— Qual profecia? São tantas, que começo a acreditar que não passam de falácias e lendas — Eryon estreitou os olhos, seu tom impaciente.Eirlys respirou fundo antes de recitar, quase como se as palavras tivessem sido gravadas em sua mente desde tempos imemoriais:"Quando a lua se oculta
O som ritmado das botas pesadas contra o solo ecoava pela vila, enquanto Eryon era conduzido à sala de justiça. Althea caminhava ao seu lado, o olhar tempestuoso e a postura ereta, cada fibra de seu ser denunciando sua frustração contida. Os oito soldados que os escoltavam mantinham um círculo apertado ao redor deles, e à frente, os anciãos seguiam em silêncio, como juízes já certos do veredicto.— Isso é um erro. — Althea rompeu o silêncio, sua voz carregada de autoridade. — Se realmente fosse um interrogatório pacífico, não precisariam de uma escolta como essa.O ancião à sua frente, um homem de cabelos brancos trançados e olhos severos, sequer virou a cabeça.— A escolta é praxe, prezada líder Lykir. — Ele respondeu, sua voz grave e desprovida de emoção. — Os anciãos têm prerrogativa de proteção. Você deveria saber.— Não me tome por tola, ancião Eldrin. — Althea apertou o passo, emparelhando-se ao ancião. — O que estão escondendo?Eldrin finalmente virou o rosto para ela, o olhar
O silêncio que se seguiu às palavras de Eryon foi avassalador. Os anciãos se entreolharam, trocando olhares furtivos carregados de inquietação. A luz da tocha tremulante projetava sombras dançantes nas paredes, refletindo a tensão crescente no ambiente.O líder dos anciãos, Eldrin, pigarreou, recompondo-se rapidamente.— Nomes não mudam a realidade, garoto. Você foi criado em Veyara como um Daelen. E é assim que será julgado.Eryon sorriu de canto, sua postura ainda relaxada, mas seu olhar ardia com um brilho dourado intenso. Ele sabia que aquela revelação causaria repercussões que iriam muito além daquela sala. Os Seylir tinham medo da verdade, medo do que sua linhagem representava.— E eu pensava que estava aqui justamente pela linhagem que carrego, pelo nome que deveria ter. Estaria o filho sendo cobrado pelos supostos erros de seus pais?Os anciãos não responderam de imediato. Suas mentes, no entanto, estavam em alvoroço."Ele sabe muito... e há uma magia forte dentro dele", a voz
Os olhares dos líderes e representantes se voltaram para Malakai e Arkor, esperando explicações. O ancião Seylir ajustou sua postura, buscando manter a compostura. — São acusações graves, líder Lykir. E, no entanto, meras palavras jogadas ao vento. — Malakai sorriu, mas seus olhos estavam carregados de desafio. — Se houve uma invasão, o que exatamente vocês estavam tentando esconder em seus aposentos? — O que lhe leva a crer que tinha algo a esconder? A privacidade do quarto de qualquer lykor, sobretudo uma líder de clã, não deve ser preservada? — Althea respondeu, sentindo o sangue ferver dentro de si. Antes que Malakai pudesse responder, Kael interveio, cruzando os braços sobre o peito. — Que conveniente, não? Primeiro, invadem os aposentos de uma líder, depois transformam um interrogatório ilegítimo em prisão sob acusações forjadas e agora, me parece que querem plantar uma dúvida quanto à conduta da líder Lykir. Eu diria que estão desesperados para manter alguma verdade enterra
Na cela fria e úmida, Eryon mantinha-se sentado contra a parede de pedra, os olhos fechados. Ele escutava cada ruído ao redor, sentindo a energia do lugar pulsar com algo mais profundo e obscuro. Ele abriu os olhos quando sentiu uma mudança sutil na atmosfera. Um arrepio percorreu sua espinha. As correntes presas aos seus pulsos estavam levemente quentes, uma sensação estranha, como se absorvessem algo dele. "Isso não é uma prisão comum", pensou. Ele inspirou profundamente, expandindo seus sentidos. Foi então que ouviu algo ainda mais perturbador. O som de passos ecoou pelo corredor de pedra. Eryon manteve-se imóvel, forçando sua respiração a parecer mais fraca, o corpo curvado como se estivesse debilitado. A porta rangeu ao ser aberta, e as sombras de três figuras se projetaram na parede. Eldrin, Arkor e Malakai entraram na cela, os olhos avaliando-o com desprezo. — Olhem para ele — Malakai zombou, cruzando os braços. — O grande herdeiro de Kalyndor, reduzido a isto. Que vergonh
Enquanto isso, a cidade de Veyara fervilhava. O eclipse estava próximo e as festividades transformavam as ruas em um espetáculo de luzes e cores. Tambores ecoavam, acompanhados por cantos ancestrais que reverberavam pelas construções de pedra escura. Bandeiras de tecido fino ondulavam ao vento, refletindo a luz das tochas e dos cristais que decoravam os templos. O cheiro de incensos e especiarias pairava no ar, misturando-se ao aroma de vinho quente e carne assada servida nas praças.Althea movia-se com pressa entre a multidão, ignorando os olhares que lhe lançavam. Ao seu lado, Sakyr a seguia, atento a qualquer ameaça. Não podiam perder mais tempo.Quando finalmente alcançaram o templo de Veyara, Althea sentiu o impacto do ambiente. Ela pediu a Sakyr que voltasse a sala de justiça e a esperasse lá, pra em seguida entrar no local, que mais parecia um refúgio silencioso em meio ao caos festivo. Aquela mulher que antes fora uma sacerdotisa estava diante do altar, os olhos fechados, os
Parada à sua frente, seus cabelos escuros emolduravam o rosto marcado por um rastro de lágrimas que brilhava à luz da lua. Ela não chorava de forma descontrolada, isso não combinava com quem ela era. Mas havia algo na postura de Althea — nos ombros que lutavam para não cair, na respiração que ela segurava para não soltar um soluço — que rasgava Eryon por dentro.— Você não precisa fazer nada agora, Eryon — disse ela, a voz baixa, mas carregada de um peso que ele conhecia bem. — Não agora.Ele sabia o que ela estava dizendo, mesmo que não dissesse as palavras exatas. Ela estava sozinha. Precisava dele. E ele a estava deixando.— Mas precisaria fazer em algum momento. Não temos escolha — disse, mas até para ele a frase soou falsa.— Sempre há escolha. Você que decidiu fugir.A palavra atingiu-o como uma lâmina. Fugir. Ele queria negar, mas como poderia? Era isso que parecia. Talvez até fosse verdade.— Você não entende, Althea...— Então me explique. Só desta vez. Só me diga a verdade,
A Lua dos Antigos brilhava cheia e majestosa no céu, banhando o Vale da Harmonia com sua luz prateada. Era mais do que um fenômeno celeste; era um símbolo de poder e reverência.Havia tempos em que essa mesma lua transformava os primeiros lykor, despertando seu lado selvagem e os tornando escravos da fúria. Sob a luz dela, eles perdiam a razão, consumidos pela sede de sangue e pela força incontrolável. Mas, com os séculos, a evolução trouxe equilíbrio. Os lykor aprenderam a dominar suas transformações, e a lua cheia deixou de ser apenas uma fonte de temor, tornando-se a chave de sua força.Agora, em noites como esta, sua luz intensificava não apenas seus sentidos e habilidades, mas também o vínculo espiritual com sua essência lupina. Althea podia sentir o poder pulsando sob sua pele, mesmo em sua forma humana, como se a energia da lua a chamasse para algo maior, algo que ela ainda não compreendia completamente. A jovem era herdeira do clã Lykir, conhecidos por sua forte ligação com os