O som ritmado das botas pesadas contra o solo ecoava pela vila, enquanto Eryon era conduzido à sala de justiça. Althea caminhava ao seu lado, o olhar tempestuoso e a postura ereta, cada fibra de seu ser denunciando sua frustração contida. Os oito soldados que os escoltavam mantinham um círculo apertado ao redor deles, e à frente, os anciãos seguiam em silêncio, como juízes já certos do veredicto.— Isso é um erro. — Althea rompeu o silêncio, sua voz carregada de autoridade. — Se realmente fosse um interrogatório pacífico, não precisariam de uma escolta como essa.O ancião à sua frente, um homem de cabelos brancos trançados e olhos severos, sequer virou a cabeça.— A escolta é praxe, prezada líder Lykir. — Ele respondeu, sua voz grave e desprovida de emoção. — Os anciãos têm prerrogativa de proteção. Você deveria saber.— Não me tome por tola, ancião Eldrin. — Althea apertou o passo, emparelhando-se ao ancião. — O que estão escondendo?Eldrin finalmente virou o rosto para ela, o olhar
O silêncio que se seguiu às palavras de Eryon foi avassalador. Os anciãos se entreolharam, trocando olhares furtivos carregados de inquietação. A luz da tocha tremulante projetava sombras dançantes nas paredes, refletindo a tensão crescente no ambiente.O líder dos anciãos, Eldrin, pigarreou, recompondo-se rapidamente.— Nomes não mudam a realidade, garoto. Você foi criado em Veyara como um Daelen. E é assim que será julgado.Eryon sorriu de canto, sua postura ainda relaxada, mas seu olhar ardia com um brilho dourado intenso. Ele sabia que aquela revelação causaria repercussões que iriam muito além daquela sala. Os Seylir tinham medo da verdade, medo do que sua linhagem representava.— E eu pensava que estava aqui justamente pela linhagem que carrego, pelo nome que deveria ter. Estaria o filho sendo cobrado pelos supostos erros de seus pais?Os anciãos não responderam de imediato. Suas mentes, no entanto, estavam em alvoroço."Ele sabe muito... e há uma magia forte dentro dele", a voz
Os olhares dos líderes e representantes se voltaram para Malakai e Arkor, esperando explicações. O ancião Seylir ajustou sua postura, buscando manter a compostura. — São acusações graves, líder Lykir. E, no entanto, meras palavras jogadas ao vento. — Malakai sorriu, mas seus olhos estavam carregados de desafio. — Se houve uma invasão, o que exatamente vocês estavam tentando esconder em seus aposentos? — O que lhe leva a crer que tinha algo a esconder? A privacidade do quarto de qualquer lykor, sobretudo uma líder de clã, não deve ser preservada? — Althea respondeu, sentindo o sangue ferver dentro de si. Antes que Malakai pudesse responder, Kael interveio, cruzando os braços sobre o peito. — Que conveniente, não? Primeiro, invadem os aposentos de uma líder, depois transformam um interrogatório ilegítimo em prisão sob acusações forjadas e agora, me parece que querem plantar uma dúvida quanto à conduta da líder Lykir. Eu diria que estão desesperados para manter alguma verdade enterra
Na cela fria e úmida, Eryon mantinha-se sentado contra a parede de pedra, os olhos fechados. Ele escutava cada ruído ao redor, sentindo a energia do lugar pulsar com algo mais profundo e obscuro. Ele abriu os olhos quando sentiu uma mudança sutil na atmosfera. Um arrepio percorreu sua espinha. As correntes presas aos seus pulsos estavam levemente quentes, uma sensação estranha, como se absorvessem algo dele. "Isso não é uma prisão comum", pensou. Ele inspirou profundamente, expandindo seus sentidos. Foi então que ouviu algo ainda mais perturbador. O som de passos ecoou pelo corredor de pedra. Eryon manteve-se imóvel, forçando sua respiração a parecer mais fraca, o corpo curvado como se estivesse debilitado. A porta rangeu ao ser aberta, e as sombras de três figuras se projetaram na parede. Eldrin, Arkor e Malakai entraram na cela, os olhos avaliando-o com desprezo. — Olhem para ele — Malakai zombou, cruzando os braços. — O grande herdeiro de Kalyndor, reduzido a isto. Que vergonh
Enquanto isso, a cidade de Veyara fervilhava. O eclipse estava próximo e as festividades transformavam as ruas em um espetáculo de luzes e cores. Tambores ecoavam, acompanhados por cantos ancestrais que reverberavam pelas construções de pedra escura. Bandeiras de tecido fino ondulavam ao vento, refletindo a luz das tochas e dos cristais que pendiam dos telhados e dos umbrais das portas. O cheiro de incensos e especiarias pairava no ar, misturando-se ao aroma de vinho quente e carne assada servida nas praças. Althea movia-se com pressa entre a multidão, ignorando os olhares que lhe lançavam. Ao seu lado, Sakyr a seguia, atento a qualquer ameaça. Não podiam perder mais tempo. Quando finalmente alcançaram o templo de Veyara, Althea sentiu o impacto do ambiente. Ela pediu a Sakyr que voltasse a sala de justiça e a esperasse lá, para em seguida entrar no local, que mais parecia um refúgio silencioso em meio ao caos festivo. Aquela mulher que antes fora uma sacerdotisa estava diante d
Eryon e Althea correram pelas ruas de Lykaria, os sons da multidão e do caos da batalha ainda ecoando ao longe. A Lua dos Antigos, quase completamente encoberta pelo eclipse, projetava sombras inquietantes sobre a cidade, como se o mundo inteiro prendesse a respiração, aguardando o inevitável.Ao alcançarem a borda do bosque, eles diminuíram o ritmo, os corações ainda disparados não apenas pela corrida, mas pelo peso do que havia acontecido minutos antes, no Salão de Justiça da Vila de Veyara. O ar estava impregnado com a energia crua do eclipse, uma pulsante e eletrizante presença que fazia a pele de Eryon formigar e o corpo de Althea se arrepiar.Ele parou sob a copa de uma árvore antiga, os ombros largos subindo e descendo com a respiração pesada. Althea o observava, sentindo o calor do próprio sangue correr acelerado em suas veias. Havia algo diferente nele. Algo novo.— Você está bem? — Ela perguntou, a voz mais suave do que pretendia.Eryon passou a mão pelos cabelos castanhos e
Althea e Eryon permaneceram conectados por longos minutos, as respirações se misturando, os corações batendo em um mesmo ritmo. O fenômeno era natural para os lykor, um presente da lua, garantindo a continuidade de suas linhagens. Mas algo era diferente com Eryon. A energia em torno dele não se dissipava. Althea jamais imaginou que poderia experimentar algo assim, algo tão intenso, tão certo.— Assim está confortável para você, minha luz? — Eryon sussurrou para Althea, enquanto envolvia seu corpo, estabilizando-o.— Estou bem, meu amor. Na verdade, nunca me senti tão completa, antes. — Ela disse, enquanto suas mãos permaneciam voltadas para a cabeça de Eryon, os dedos entrelaçados em seus cachos rebeldes.— Só vai durar mais alguns instantes, logo poderemos nos movimentar. — Por mim, tudo bem ficar assim para sempre. Literalmente grudada em você. — Althea sussurrou manhosa, enquanto forçava suavemente a cabeça contra o seu peito.Quando a escuridão começou a se dissipar, de repente,
A lua cheia brilhava sobre a imensidão de Veyara quando Althea e Eryon retornaram de sua corrida pela floresta, ainda sob suas formas lupinas. A energia da transformação fluía entre eles como um elo inquebrável, e cada movimento era um lembrete de que agora estavam completos.A conexão entre seus corpos era uma extensão de algo muito mais profundo: um chamado ancestral, uma promessa selada pelo próprio eclipse.No entanto, a tranquilidade do momento se dissipou quando sentiram o cheiro do sangue e ouviram o choque de aço contra aço ecoando pelos arredores do templo. O caos tomava conta de Veyara. Gritos de guerra rasgavam o ar, e o solo tremia sob o impacto de corpos colidindo, garras rasgando carne e presas se cravando em inimigos. A poeira e o sangue se misturavam no ar carregado de uma energia selvagem. Instintivamente, ambos aceleraram o passo, suas patas se movendo com precisão letal pela terra sagrada.Quando alcançaram o local onde a batalha era travada, a cena diante deles era