Althea e Eryon permaneceram conectados por longos minutos, as respirações se misturando, os corações batendo em um mesmo ritmo. O fenômeno era natural para os lykor, um presente da lua, garantindo a continuidade de suas linhagens. Mas algo era diferente com Eryon. A energia em torno dele não se dissipava. Althea jamais imaginou que poderia experimentar algo assim, algo tão intenso, tão certo.— Assim está confortável para você, minha luz? — Eryon sussurrou para Althea, enquanto envolvia seu corpo, estabilizando-o.— Estou bem, meu amor. Na verdade, nunca me senti tão completa, antes. — Ela disse, enquanto suas mãos permaneciam voltadas para a cabeça de Eryon, os dedos entrelaçados em seus cachos rebeldes.— Só vai durar mais alguns instantes, logo poderemos nos movimentar. — Por mim, tudo bem ficar assim para sempre. Literalmente grudada em você. — Althea sussurrou manhosa, enquanto forçava suavemente a cabeça contra o seu peito.Quando a escuridão começou a se dissipar, de repente,
A lua cheia brilhava sobre a imensidão de Veyara quando Althea e Eryon retornaram de sua corrida pela floresta, ainda sob suas formas lupinas. A energia da transformação fluía entre eles como um elo inquebrável, e cada movimento era um lembrete de que agora estavam completos.A conexão entre seus corpos era uma extensão de algo muito mais profundo: um chamado ancestral, uma promessa selada pelo próprio eclipse.No entanto, a tranquilidade do momento se dissipou quando sentiram o cheiro do sangue e ouviram o choque de aço contra aço ecoando pelos arredores do templo. O caos tomava conta de Veyara. Gritos de guerra rasgavam o ar, e o solo tremia sob o impacto de corpos colidindo, garras rasgando carne e presas se cravando em inimigos. A poeira e o sangue se misturavam no ar carregado de uma energia selvagem. Instintivamente, ambos aceleraram o passo, suas patas se movendo com precisão letal pela terra sagrada.Quando alcançaram o local onde a batalha era travada, a cena diante deles era
O caos ainda reinava na vila de Veyara. Os gritos de guerra ecoavam pelo campo de batalha, mas para Eryon, tudo ao seu redor parecia distorcido, como se o tempo se dobrasse e esticasse, tornando cada som abafado e cada movimento arrastado. Sua respiração vinha em arfadas irregulares, o peito queimando com a ausência abrupta de Althea. Ela havia desaparecido diante de seus olhos, levada por Miralen, arrancada dele como se fosse apenas um fragmento de fumaça ao vento.O vazio que se instalou dentro dele era quase insuportável, e por um instante, ele sentiu que não havia chão sob seus pés. O mundo parecia desmoronar, sua alma urrando com a necessidade de correr atrás dela, de tomá-la de volta. Mas ao invés disso, a batalha seguiu. Guerreiros caíam, gritos se espalhavam, e ele estava ali, preso no presente, consumido por uma fúria que precisava de um alvo imediato.Então ele viu Arkon.O traidor ainda estava de pé, canalizando energia lunar através de um cetro que usava para atacar os lob
Althea sentiu o chão se dissolver sob seus pés. A escuridão densa e opressora envolveu tudo ao seu redor, até que um súbito impacto a lançou contra o solo úmido. O ar estava pesado, impregnado com o cheiro de terra antiga e musgo, e quando abriu os olhos, viu-se rodeada por árvores colossais. As folhas sussurravam segredos em um idioma que sua alma quase compreendia. Estava em Nyrathas. A floresta parecia viva. O vento se movia entre os galhos como dedos invisíveis acariciando a pele, e a energia ao redor vibrava em um fluxo quase palpável. Althea sentiu cada batida de seu coração ressoar no ambiente, como se a própria Nyrathas estivesse provando sua presença. Um arrepio percorreu sua espinha. Não era apenas uma floresta. Era algo mais. Algo que via. Algo que sentia.Próxima a ela, Miralen cambaleou, respirando com dificuldade. Seu corpo tremia, os dedos se contraindo como se mal pudesse controlá-los. A viagem entre as sombras cobrara um preço alto. A bruxa estava exaurida, uma fina c
O silêncio da caverna foi quebrado pelo som de passos. Miralen surgiu da escuridão, trazendo consigo um prato de comida. Seu olhar se afilou ao ver que Althea não havia tocado na refeição da noite anterior.— Que desperdício — ela disse, a voz carregada de irritação. — Você sabe que seus filhotes precisam se alimentar.Althea ergueu o olhar, firme, e respondeu com serenidade calculada:— Meu espírito não pode suportar os grilhões. Estar presa me enfraquece. Como você espera que eu me alimente com essas correntes pesando em meus punhos?Ela disse isso com naturalidade, sua mente trabalhando rápido. Se conseguisse sair daquela masmorra improvisada, teria melhores chances de fuga ou de ser resgatada por Eryon. Miralen, no entanto, riu com escárnio.— Você fala como se fosse uma princesa de Kalyndor — zombou, cruzando os braços. — Mas não passa de uma cadela sarnenta. Seu único valor está no bem-estar dos bebês.A raiva subiu quente dentro de Althea. Com um movimento brusco, ela chutou o
A casa de pedra parecia ainda mais sufocante para Althea, agora que o choque inicial começava a ceder, dando lugar à dor crua da realidade. As chamas da lareira tremeluziam, projetando sombras alongadas nas paredes ásperas, enquanto um cheiro levemente adocicado de ervas queimadas se misturava ao aroma da refeição intocada sobre a mesa. O silêncio denso apenas realçava a fragilidade dos pais de Eryon, que continuavam suas tarefas como se não houvesse mais nada além do dever cego de servir.As lágrimas correram pelo rosto de Althea sem que ela percebesse. O peito doía. A visão de duas pessoas reduzidas a meros cascos vazios, era insuportável. Como Eryon suportaria ver os próprios pais assim? Será que esse estado de torpor poderia ser revertido?Miralen, observando seu sofrimento, soltou uma risada baixa e maldosa.— Que cena patética — murmurou, apoiando-se casualmente na mesa. — Lágrimas por dois velhos que já não servem para nada? Você é mais fraca do que eu imaginava.Althea levanto
A névoa prateada do sonho se dissipava lentamente, dando forma à silhueta imponente de Nykros. Seu olhar, profundo como um abismo estrelado, fixou-se em Althea com ternura e gravidade. Ela não hesitou.— Nykolos e Lyra... Eles precisam de ajuda — disse, sua voz embargada. — Miralen os mantém sob seu domínio. Eu vi o que ela fez com eles. Como posso libertá-los? Como posso impedi-la?Nykros a observou por um momento, seu olhar intenso parecendo atravessá-la, mas não respondeu de imediato. Althea respirou fundo, sentindo a frustração borbulhar dentro de si, mas tentou manter o respeito em sua voz.— Sei que há coisas que ainda não posso compreender, mas tenho muitas perguntas sem respostas. Eu preciso saber mais. Não posso caminhar às cegas. Não quando tantas vidas dependem disso.Ele continuou a encará-la, silencioso, como se pesasse suas palavras, antes de finalmente falar.— Você caminha entre luz e sombras, pequenina. E como toda chama que cresce, precisará de tempo para ver além da
A noite pairava densa sobre os arredores de Nyrathas, e a névoa sinuosa rastejava entre as árvores retorcidas como serpentes de fumaça. Os seis guerreiros se mantinham ocultos entre as sombras, seus olhos atentos ao ambiente carregado de energia antiga. A floresta parecia respirar, e cada som amplificado ecoava na escuridão.Eryon mantinha-se à frente do grupo, seus olhos fixos na imensidão escura que se estendia diante deles. A sensação inquietante em seu peito crescia a cada segundo.Kael, que estava mais atrás, soltou um suspiro impaciente. Seu corpo parecia vibrar de ansiedade, cada fibra sua tensa, pronta para a batalha. Ele não queria apenas resgatar Althea—ele ainda queria arrancá-la dos braços de Eryon.— E o que estamos esperando? — Kael perguntou, a irritação evidente em seu tom.— Assim que cruzarmos essa fronteira, Miralen saberá. — Sua voz era baixa, mas carregada de certeza. — A magia dessa floresta amplifica tudo... nossas presenças, nossas intenções. Ela vai sentir.—