Liberte-me!
Liberte-me!
Por: Autora Nalva Martins
1

Um sonho despedaçado.

O que é preciso para conquistar a verdadeira felicidade? Eis uma pergunta que eu não sei responder. A alguns anos atrás eu pensei ser a garota mais sortuda desse mundo pois estava me casando com um homem extremamente bonito, elegante, educado, extrovertido e rico. Essa última parte era irrelevante, já que nada me faltava. Além disso, eu tinha uma família que amava e amigos eu amava. Mas isso ficou no passado. Meu nome é Eva Cross e para você entender melhor a minha história, terei que voltar um pouquinho para momentos bem tempestuosos, logo após a melhor lua de mel que qualquer mulher desejaria ter...

Ele entrou em casa como sempre faz e imediatamente um empregado se aproxima, e segura o seu terno escuro, depois, o seu chapéu e seus olhos correm imediatamente para os meus. Como sempre, estou em pé feito uma estátua no centro da enorme e luxuosa sala de visitas, minhas mãos estão unidas na frente do meu corpo e no meu rosto tem um sorriso grande. No entanto posso lhes garantir, não é um sorriso de felicidade. Ele caminha em minha direção e seus passos são milimetricamente calculados e precisos. Contudo, Logan para a poucos centímetros de mim e imediatamente os seus olhos escuros como carvão me avaliam. Meu coração acelera demasiadamente, mas acredite, não é por amor a esse homem. Meu marido ergue as suas mãos e segura com delicadeza em cada lado do meu rosto, beijando-me com suavidade na boca. Retribuo esse gesto de carinho, mas, me afasto sutilmente assim que o beijo acaba.

— Vou tomar um banho, querida e volto para jantarmos em alguns minutos. — Ele avisa afastando-se e caminha para as escadas. Só então consigo respirar direito. Todos os dias é sempre a mesma coisa, porém, nem sempre foi dessa maneira que o recebi em nossa linda casa. Deus sabe o quanto o amava e por esse amor eu era capaz de tudo, e ele era o homem mais apaixonado e carinhoso que já conheci na vida. Logan Cross era filho único, portanto, o único herdeiro da família também, e após a morte de seus pais em um trágico acidente de avião, ele assumiu as indústrias de exportações de pedras preciosas da família. Uma grande responsabilidade que ele administra com maestria.

— Como foi o seu dia, querida? — Desperto com sua indagação suave e tiro os meus olhos do meu prato para olhá-lo em seus olhos.

— Foi bem tranquilo — respondo baixo e evasiva, porém, ele me lança um olhar rígido, exigindo que eu continue sem ao menos emitir um som. — Li um bom livro na biblioteca hoje.

— Hum, que bom! Sei o quanto gosta desses livros e fico feliz que não perdeu o gosto pela leitura.

— E, eu passei um tempo no jardim como sempre. — Ele meneia a cabeça positivamente, levando uma porção da comida a sua boca e por fim, ergue as sobrancelhas.

— E depois? — Fico em silêncio, pois não tenho muito o que dizer.

— Nada. Fiquei o resto do dia no nosso quarto. — Ele olha para o meu prato intocado e depois para mim.

— Não vai comer? — Puxo mais uma respiração.

— É que... não estou com fome.

— Coma! — O tom frio em sua voz me faz arrepiar inteira e obediente, eu seguro o garfo, forçando uma pequena porção da comida na minha boca.

Como estava dizendo, nem sempre foi assim. Conheci Logan na festa de aniversário do meu pai e para falar a verdade, nem sei como ele foi parar lá. Ele era um jovem bem sorridente, sempre comunicativo e muito, muito educado. Lembro-me que ele chamava a atenção das garotas por onde passava devido a sua beleza e masculinidade, porém, foi de mim que ele se aproximou nesse dia e confesso que a sua conversa me envolveu de um jeito encantador. Ele tinha o dom de me fazer sorrir com poucas palavras ou com algum gesto e acreditem, foi amor à primeira vista. Não demorou muito para ele começar a frequentar a minha casa, fazer amizade com os meus amigos e tornar-se íntimo da família Ferri. Meu pai era um homem de negócios excepcional e como bons homens de negócios, eles logo se entenderam muito bem. O pedido de casamento não veio em menos de três meses de namoro e isso causou uma felicidade eufórica na família e pouco menos de trinta dias já estávamos casados. E acreditem, eu me considerava a mulher mais feliz desse mundo.

— Sua família ligou para você? — Solto um suspiro baixo demais.

— Não. — Não entendo o porquê dessa pergunta. Ele mais que ninguém sabe essa resposta. Após a nossa maravilhosa lua de mel nas ilhas Cayman que durou trintas dias inteiros, Logan começou a mudar o seu comportamento e algumas semanas depois, ele se encarregou de afastar todos de mim. Minha família, os meus amigos, todos. Não sobrou ninguém, pois ele me cercou de todas as formas possíveis e desde então somos só nós dois. Levou um tempo para a minha ficha cair e descobrir que eu não me tornei a tão consagrada senhora Cross de fato e sim a sua prisioneira, além de sua prostitua de luxo.

— Terei que fazer algumas ligações no meu escritório. — Ele avisa, passando o guardanapo no canto da boca e após largar o tecido branco em cima da mesa, Logan se levanta da sua cadeira e me fita os meus olhos. — Quero que vá para o nosso quarto e fique pronta para mim, subirei em alguns minutos — fala e simplesmente me dá as costas para sair do cômodo. Ofego assim que ele deixa a sala de jantar e sinto os meus olhos se encherem de lágrimas, pois sei exatamente o que espera por mim naquele quarto.

Como é possível que um amor tão lindo se transforme em um ódio tão profundo?

Com amargor em meu paladar, largo os talheres em cima do prato quase intocado e me levanto para fazer o que me pediu. O ritual é sempre o mesmo desses longos três anos. Eu me dispo, tomo um banho com leite de rosas, me seco, ponho uma calcinha de renda negra, um sutiã meia taça da mesma cor, fazendo um conjunto sensual. Ponho um espartilho negro com lacinhos de ceda vermelhos que evidenciam os meus seios, e uma tiara rendada no meio de uma das minhas coxas. Prendo os meus cabelos em um rabo de cavalo e faço uma maquiagem pesada que realça o verde escuro dos meus olhos para o momento. Por fim, borrifo o seu perfume preferido atrás das orelhas e nos meus pulsos, e ponho os saltos altos. Não há um sorriso em meu rosto, nem a emoção de aguardá-lo com ansiedade, menos ainda o prazer de saber que logo estarei deitada com ele na cama extremamente espaçosa. Apenas me olho no espelho e sinto um nó sufocar a minha garganta, e a vontade de chorar retorna com força. No entanto, respiro profundamente e encaro a porta de madeira escura através da imagem do espelho, no exato momento que ela se abre. Logan passa por ela e seus olhos sérios demais logo prendem os meus. Sob o esse olhar sério e duro, ele começa a se desfazer da sua gravata e dá alguns passos em minha direção. Chego a ouvir os sons das batidas do meu coração tão forte dentro dos meus ouvidos e me forço a engolir o medo, porém, fica difícil respirar. Ele continua a andar, dessa vez abrindo os botões da sua camisa de mangas longas e quando já está perto o suficiente, Logan leva as mãos aos meus ombros e aproxima a sua boca do meu ouvido.

— Para cama! — ordena com um sussurro rouco. — Eu queria que esse momento passasse tão rápido quanto um raio e que eu não sentisse nada, mas sei que ele fará questão que eu sinta cada dor, cada aperto e cada sensação de humilhação. Como um cão adestrado acato a sua ordem, pois sei exatamente o que faria comigo se o desobedecesse. Silenciosa, eu subo na cama, engatinho sobre ela e me posiciono bem no meio do colchão. Daqui o observo abrir os punhos da camisa e em seguida ele se livra do tecido deixando-o caída pelo chão. Foco o meu olhar no peitoral e no abdômen bem definido. Como mencionei, Logan é um homem bonito, viril e extremamente atraente, e se não fosse essa sua personalidade fria, possessiva e abusiva, talvez seríamos um casal feliz. Ele leva as mãos ao cinto da sua calça agora, desafivela e o arruma cuidadosamente em cima do colchão. Engulo em seco apenas pelo fato de o objeto não ser descartado como as primeiras peças. Suas mãos seguem para o botão da calça social, ele o abre e depois o zíper, para enfim, livrar-se dela também. — Sabe, Eva, — Ele diz, enquanto anda lentamente pelo quarto. — Essas poucas palavras fazem o meu coração falhar algumas batidas, pois posso sentir a maldade no som áspero que a frase carrega. Logan abre a primeira gaveta de uma cômoda antiga, o único móvel desse cômodo em contraste com os móveis luxuosos do quarto, e ao fazer isso, estremeço ainda mais por dentro. — Na minha família nunca houve um maldito divórcio antes. Nascemos para um único amor e somente a morte tem o dom de nos separar. — Encho os pulmões de ar, pois é a única coisa que consigo fazer nesse momento. Eu não entendo aonde ele quer chegar com essa conversa. Não faz sentido algum, não para mim. Quando se afasta da cômoda, Logan tem algo na palma da mão e ele balança o objeto bem diante dos meus olhos. O desespero me consome internamente e eu faço não com a cabeça.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo