Uma vez escutei num sonho alguém me dizendo que a felicidade está dentro de nós mesmos e que nós a aprisionamos. Confesso que demorei muito tempo a entender o que isso significava e me atentei muito mais às curvas do corpo e a doce voz da bela mulher que pronunciou essa frase ao meu ouvido, em meus sonhos. Sempre quis encontrar essa mulher, achava que como num filme ela pudesse ser alguém de outra vida que surgiria a qualquer momento em minha frente me encantando repleta de enigmas como uma sereia.
Depois de ter sofrido alguns duros golpes da vida e de ter perdido um pouco da ingenuidade de criança e do romantismo apaixonado de adolescente comecei a tentar procurar o que podia significar aquela frase de uma forma mais objetiva e apesar de ter chegado a respostas bem satisfatórias eu ainda sabia que faltava algo a ser descoberto.Eu sentia que minha vida sempre me espreitava de longe pronta para me apunhalar com golpes de espada e risadas soluçantes. Sentia-me um pássaro sem asas no meio de raposas selvagens.Não, eu nunca estava satisfeito. Eu sempre queria mais, mas não como os outros. Não queria mais do mundo pra mim, queria mais de mim pro mundo, mesmo olhando pros lados e não sentindo fazer parte daquilo tudo.E durante as guerras que enfrentei percebi que o mundo não se muda, as coisas são assim, começam e terminam dentro dos mesmos objetivos. A vida não é um desses objetivos.Quanto mais pessoas nascem mais e mais a morte começa a ser um assunto corriqueiro, conversa de botequim, fofoca de donas de casa. A crise da fé muito confundida com a religião é um fator fundamental para tanto. O avanço científico fez com que os homens começassem a ter mais conhecimento do que não é verdade. Não conseguem jamais descobrir a verdade pois provar a mentira se tornou muito mais simples. A sociedade vai se transformando em um amontoado de deformidades sem razão de existência.Talvez por isso que tudo acabou banalizado, perdeu o sentido. Talvez por esse motivo também ainda existam pessoas que se apegam no que eu escrevo, quando falo da relação entre prazer físico e sentimento, da diferença sutil entre desejo intenso e vulgarização. Quando escrevo contos eróticos eu exporto meus sonhos e idealizações, mas eu vivo esses sonhos com tanta realidade, que faço eles existirem de verdade na mente de quem lê. Na leitura a gente sai do mundo de carne e osso e embarca dentro da nossa própria mente, num mundo criado por outra pessoa. O segredo do meu sucesso como escritor está na forma como eu permito que meus leitores gostem do que encontram em suas próprias mentes, mais do que do mundo real. Ou de como algumas coisas conseguem mudar a realidade e sair do imaginário, criar novas práticas, substituir antigos conceitos.A praia é o lugar que mais me faz sentir o que escrevo e por incrível que pareça não é o barulho do mar que me causa essa sensação, mas a sua brisa, a forma como o ar se comporta em seu movimento. Parece que ele consegue saber o momento certo de ser suave e o momento certo de ser forte, o momento de te envolver e o momento de te jogar longe. Na praia nada impede a ação do vento, ele se comporta de forma natural, sem barreiras. E tudo isso por incrível que pareça me faz pensar. Penso no comportamento das pessoas e em como elas usam sua sensualidade nesse ambiente. Observar nos permite além de perceber coisas que jamais imaginaríamos, criar outras ainda mais inimagináveis.E num dia como outro qualquer, ali sentado, analisando e sentindo a praia como de costume, poucas pessoas ao redor, percebi uma mulher caminhando em direção ao mar, completamente vestida. Passos lentos, cabeça baixa, mãos trêmulas, não vi seus olhos, mas poderia jurar que estavam em lágrimas. Fiquei preocupado cada vez que ela se aprofundava mais. Quando num momento ela sumiu, confirmei minhas suspeitas, ela pretendia o suicídio, sai correndo em direção a ela.O mar estava revolto, as ondas ficando cada vez mais altas e as águas com uma força incrível dificultavam muito minha chegada até aquele ponto. Eu não conseguia mais vê-la, mergulhava e voltava procurando, mas não a encontrava. Um salva-vidas que me viu correr, veio atrás e ficamos desesperadamente tentando localizá-la. A maré subiu muito rápido e quando já estávamos quase sem esperanças eu senti algo tocar minhas pernas. Mergulhei e ali estava ela, agarrei-a junto ao meu corpo e com a ajuda do salva-vidas a trouxemos de volta à areia.Fiz o procedimento de ressuscitação mas ela não demonstrava reação. O salva-vidas assumiu meu lugar, continuou nas tentativas enquanto eu fui buscar socorro.Já era tarde! Ela não ia mais acordar...Como pode? Uma mulher linda, que parecia tão cheia de vida... o que teria feito ela colocar fim na própria existência?Se eu tivesse me antecipado... se tivesse tomado a atitude de seguir meu instinto, minha intuição do que ela pretendia fazer...Infelizmente o “se” não existe e o tempo não volta.Aquela noite eu não dormi, lembrando cada detalhe do que aconteceu, cada movimento, tentando entender os motivos.Ela não tinha documentos, identificação nenhuma, nada que pudesse dar resposta a todas aquelas perguntas.Resolvi levantar no meio da madrugada e sair. Fui até um bar, pois nos momentos de inquietação a gente tende a acreditar que o álcool pode ampliar nossos horizontes sobre coisas impossíveis de entender ou aliviar a dor de não saber o porquê.Depois de algumas doses de vodka com gelo e limão eu só pensava no olhar daquela mulher que eu não cheguei a conseguir ver.Eu sempre considerei o olhar de uma pessoa o reflexo da sua alma, e eu não consegui conhecer aquela alma. Não conseguia me conformar com isso, como aquela vida esteve em minhas mãos e eu não consegui nem olhar em seus olhos.Quando percebi que meus pensamentos iriam me obrigar a puxar um papel e uma caneta notei um desentendimento acontecendo ao meu lado em uma mesa. Um homem muito alterado flagrou sua mulher ali aos beijos com outro homem. As pessoas tentavam contê-lo, mas ele estava fora de si. Gritava a ponto das veias de seu pescoço quase atravessarem sua pele, as palavras que ele usava pra ferir parecia que estavam cada vez mais machucando a ele mesmo. Muitos tentavam controlá-lo, mas ele era muito forte e derrubava quem vinha pela frente. Pegou a moça pelo pescoço e a ergueu, olhou para sua expressão de desespero e a soltou. Gostava demais dela para machucá-la. Então se voltou para o rapaz que desesperado se ergueu e apontou uma arma para ele. Todos ficaram imóveis e o barulho de toda aquela bagunça silenciou por alguns segundos eternos. Quando o homem traído partiu para cima da arma com uma voadora, o tiro ecoou pelo bar e após o atirador ser dominado todos procuravam ver se alguém estava ferido, onde a bala tinha acertado...Eu não percebi, não senti dor... só vi quando abaixei a cabeça e percebi minha camisa branca se tornar vermelha de sangue. Fui sentindo muito frio e um desespero de quem perdeu o controle dos movimentos. Todo mundo correndo em minha direção e eu caí.Lembrei da minha mãe, da minha família, dos amigos, sim, eu vi minha vida toda passar em flashes.E minha independência que lutei tanto pra conquistar naquele momento era minha total solidão. Eu sabia que não tinha jeito mais. O tiro tinha sido no coração, eram poucos segundos pra morte.Ninguém iria vir, nem família, nem meus fãs, nem a mulher dos meus sonhos que nunca viraram realidade.O meu adeus não teria dono!O vento me levava pra longe e eu voava, literalmente, mas não conseguia controlar pra onde ir. Apenas via uma vastidão branca como nuvens passando por mim numa velocidade incrível e sentia o ar se deslocando pelo meu rosto? Essa constatação me fez pensar: Será que eu morri? Onde estou? O tiro! Mas sinto meu corpo, estou respirando e até onde consigo perceber não tenho ferimentos. A sensação de queda de repente começou a tomar conta do meu corpo e cada vez mais forte. Tinha certeza que se em algum momento eu tocasse o chão, eu iria me destruir na queda, senti como se fosse um corpo celeste, prestes a queimar rasgando o ar. E como eu esperava, atingi o chão com uma pancada espetacular. A dor foi descomunal, meus gritos pareciam ir e voltar aos meus ouvidos num eco contínuo. Mas em poucos segundos tive forças pra me levantar e nada havia acontecido comigo, o chão sofrera apenas algumas rachaduras. Mas que lugar era esse? Um imenso deserto onde não se via horizonte com um chão liso
O garoto corria enquanto correntes de ar passavam por sua cabeça e as rajadas num vai e vem indicavam que os guerreiros do vento procuravam por eleEle era esperto, sabia que podia ir mais rápido, que podia flutuar, voar, tentar ir pra longe num pensamento, mas preferiu ser cauteloso e não usar suas técnicas, ficando assim o mais escondido possível.Sua mente voltava a um passado recente:- Filho, sabe qual é nossa maior fraqueza, nosso único ponto fraco? - Era a voz suave do Rei Falcão que falava com o pequeno príncipe.- Não consigo imaginar que nosso povo tenha fraquezas, meu pai. - Respondeu o garoto, muito seguro de si.- Então, meu filho, essa é uma das nossas fraquezas, nosso excesso de confiança, nossa incapacidade de perceber que qualquer ser do universo é como uma balança e não existem caracter
A quantidade de vezes que eu coçava a cabeça, como um tique, cada vez que eu ficava assombrado ou que não compreendia alguma coisa, já era incontável.Tudo me surpreendia, cada mínimo detalhe. A forma como todos se organizavam, se mantinham em ordem, se respeitavam acima de tudo, era o que mais chamava minha atenção, talvez a principal diferença daquele lugar em comparação com a Terra. Era algo que eu não conseguia explicar exatamente. Todos eram cordiais uns com os outros, gentis, pacientes. A sensação que dava era que todos sentiam que tinham todo tempo do mundo, que não havia motivo para brigar ou para sempre querer mais pra si mesmo, aquela exigência de prioridade que eu vi tanto nas pessoas na minha outra vida.Nazerith me explicava um pouco mais sobre o funcionamento daquele planeta. Sua sociedade se auto geria. N
Eu já não sabia se pular naquele buraco tinha sido uma boa ideia. Comecei a cair num tobogã de vento. Não tinha paredes, mas o ar pressionava meu corpo e me carregava, cada hora para um lado, num imenso vazio. Parecia um poço sem fundo. Comecei a ter a sensação de que ficaria preso ali para sempre. Um desespero começou a tomar conta de mim. Parecia que quanto mais nervoso eu ficava, mais rápido o vento me levava e mais pressão o ar fazia contra meu corpo. Comecei a pensar o que o velho diria para mim naquele momento: "Se concentre, fique calmo, sinta o que está acontecendo a sua volta.Fechei os olhos, já que não enxergava por conta da escuridão, respirei bem fundo e comecei a prestar atenção em como o vento agia contra meu corpo, ele se chocava hora sobre minha cabeça, hora por meus pés e isso me virava de um
Com tudo aquilo que aconteceu, o novo rei por direito, ali sentado numa poltrona flutuante esperando o velho fazer calmamente um chá que mais parecia uma poção mágica, observando um relógio que tinha 5 ponteiros, os três tradicionais utilizados em qualquer mundo inicial e dois que saiam do plano horizontal, uma seta que apontava pra frente e girava no próprio eixo central e outra girava junto a esse eixo, apontado nas diagonais. Além do “tic, tac” ele também fazia um pequeno assobio contínuo. Não era qualquer lugar que tinha aquele relógio, ele mostrava a sincronia de diferentes planetas no tempo e sua leitura não era fácil.- Cada centímetro de inclinação pode significar rupturas entre galáxias, desproporções no espaço-tempo. – Explicou o ancião, que já
Escolhi uma direção e fui. Não havia Sol naquele céu para eu pensar em me guiar, usando alguma lógica que eu já tivesse aprendido, apesar de existir luz, vinda de todos os lados e não haver sombra. A única decisão que tomei foi a de escolher uma direção e ir em linha reta. As árvores eram espaçadas umas das outras, e não uma mata fechada, então, o risco de me perder ou ser forçado a andar em círculos não existia. Era realmente como um deserto, mas de paisagem incrível, de uma variedade de flora exuberante, nada que eu já tivesse visto na Terra. Andei por um punhado de tempo que não podia ser medido. Não anoitecia, mas a sensação é que já haviam passado dias, meu corpo estava exausto, minha fome e sede insuportáveis. Eu a controlava criando teorias, faze
Ao pousarmos, eu não estava mais sentindo a ponta dos meus dedos, as mãos formigavam, assim como meus braços.- Nazer, algo estranho está acontecendo - O rapaz dizia, como se estivesse sentindo o mesmo que eu.- Eu não estou conseguindo me mexer, os braços estão formando e agora as pernas também. - Eu disse quase caindo, sem conseguir direito parar em pé.- Está acontecendo o mesmo comigo. - O rapaz disse também.Nazer estava completamente inerte, sem saber o que fazer. Olhou para os lados e não viu nada, nem ninguém. Usou seus poderes com o vento para nos manter próximos e sustentados no ar, para não cairmos.- Nazer, meu coração está... lento... Sinto que vai... parar de bater. - Eu sentia o mesmo que ele e não conseguia sequer falar alguma coisa. Minha voz já não sai
Precisávamos entender quais poderiam ser os poderes do General César para conseguir mantê-lo aprisionado. Se ele possuísse o poder do teletransporte já não teríamos mais o que fazer. Nazer acreditava que não era o caso. Ele deve ter recebido alguma ajuda para conseguir chegar até ali. Era a hipótese que fazia mais sentido.- Nazer, ainda existem os calabouços subterrâneos do quartel? - Perguntei sabendo exatamente do que se tratava. Aos poucos minhas memórias e as de Henri eram uma só, como se tivéssemos vivido aquilo mesmo. Mas ainda tínhamos sentimentos e vontades independentes.- Não, não existem mais! O Rei Falcão deu ordem para que tudo que simbolizasse esse nosso passado sangrento e de repressão não existisse mais. - Respondeu.- Ainda existem os calabouços! - Disse, u