PV Marylin Darlinghton
Sempre ouvi falar daquele sentimento bonito de quando uma mulher apaixonada entra no altar e olha em direção ao noivo, ali esperando, sorrindo para ela, diziam os apaixonados que aquele momento ficava em câmera lenta, como se tudo parasse e só existisse os dois naquele local, todas essas sensações segundo os apaixonados vinham através do amor, da paixão e de todo os sentimentos desconhecidos que rodeavam o casal.
Eu nunca sonhei em sentir esse sentimento, porque eu sempre soube que aquele momento lindo e que todos queriam um dia viver, significava a prisão de dois corpos, que ficariam ligados um ao outro, sem que eles pudessem viver a liberdade que eles tinham, que todos nós tínhamos, mesmo que ela fosse pouca, essa prisão que eles tanto almejavam só terminaria quando um deles percebessem que não valia a pena perder a liberdade para estar ali presos numa corrente de ouro, que jamais se quebraria se não fosse o desejo de lutar pelo animal dentro de nós que desejava mais do que qualquer coisa correr livre sem ter ninguém para se preocupar além de si mesmo. Correr sem olhar para atrás, apenas olhando para frente, sem ter medo de perder nada além daquele sentimento de liberdade que todos nós possuíamos, mas que apenas não tínhamos coragem de lutar para senti-lo de verdade como eu, que lutava acima de tudo. Mas que estava agora o deixando ir, dando passos cada vez mais devagar para chegar até o homem que me esperava ali no final do altar, William me observava de forma atenta, sorrindo como se eu fosse a coisa mais preciosa de todas, um sorriso no qual um dia acreditei, assim como acreditei no “Eu te amo”, que ele disse tantas vezes para mim, no qual eu retribuía, assim como suas carícias que me passavam proteção, desejo e prazer, tudo uma verdadeira mentira.
E, mesmo assim, aqui estava eu, olhando em sua direção, sentindo medo e dor pela liberdade que estava deixando para trás, meu ego, minha natureza, entrando nesse altar, estava deixando meu amor burro me levar, meu medo me vencer e me fazer perder tudo que eu mais almejava em todo meu ser, eu nunca tinha me sentido assim, era como se uma tristeza profunda possuísse meu ser, era um sentimento terrível. Respirei fundo ao chegar a William que pegou minha mão puxando-a delicadamente, cumprimentando-me com um beijo na boca, um selinho simples, que antes trazia um sentimento de pura felicidade, mas que agora eu percebia o quão frio era.
A cerimônia começou, a cada palavra do padre todos pareciam ficar mais emocionados, aquilo tudo devia ser emocionante para mim, mas infelizmente era como estar numa cadeira elétrica, esperando ligarem, para finalmente eu morrer com uma profunda dor, intensa e contínua, até parar de lutar e me deixar ser carregada pela escuridão.
Olhei para William que parecia querer tanto quanto eu que aquilo acabasse, ele não me olhava, apenas olhava para frente como se eu não estivesse ao seu lado segurando em sua mão, desejando que ele me amasse de verdade, porque eu o amava de uma forma tão intensa e burra que eu mesma me mataria se pudesse. Eu não havia escolhido amá-lo, eu apenas sentia. Se eu pudesse escolher, não escolheria sentir esse sentimento. Eu o odiaria se pudesse, eu o mataria se pudesse, mas não escolhíamos quem nosso coração amava, apenas podíamos decidir se o coração mandava ou não nessa decisão.
Observei William se virar para mim, assim como eu para ele, depois de tanto tempo tínhamos que nos encarar de verdade, sem desviar o olhar um do outro, como eu fazia quando ele me batia, eu nunca conseguia encará-lo depois, não por medo, mas por vergonha de não conseguir reagir.
No começo eu fugia e até batia de volta, mas depois de um tempo eu não aguentava mais e apenas me encolhia por vergonha de não ter forças para lutar pela minha vida, minha liberdade.
Respirei fundo, esperando o padre perguntar se William me aceitava como sua legítima esposa, ele sorriu antes de responder, deixando meu coração com um compasso a menos, quando ele respondeu um sonoro e enorme sim, fazendo minha vez chegar mais rápido, senti minhas mãos começarem a suar, meu corpo começar a esquentar como se não tivesse um vento congelante batendo contra minha pele. Senti pela primeira vez o peso enorme do vestido, os meus saltos apertando meus dedos e minhas pernas tremerem.
Virei-me para o padre focando em suas palavras:
— Marylin Darlinghton é de livre e espontânea vontade que aceita William Gauthier como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe?
O padre olhou para mim sorrindo, esperando minha resposta, assim como William, que apertava minha mão firme, começando a me machucar cada vez mais ao decorrer da minha demora, olhei para ele, vendo raiva começar a ser refletida pelos seus olhos castanhos e seu belo rosto, abaixei a cabeça respirando fundo, sentindo o medo e a vergonha me tomar. Eu nunca baixei a cabeça, nunca tive medo, eu sempre sentia felicidade, sempre levantava a cabeça, tinha coragem para correr atrás da minha liberdade, mesmo sabendo os problemas que ela sempre podia me causar, mas agora, aqui estava eu, prestes a dizer sim para um homem que não me amava, que me levaria a perder o meu ser, um homem que me mataria em algum momento ou me faria cometer os piores dos atos. Em algum momento eu me mataria, porque não me via mais no espelho, via apenas uma mulher com hematomas, com dor transparecendo no olhar, com uma tristeza profunda na alma, que jamais iria se curar. Eu não sentia mais meu espírito livre, mas eu ainda ouvia seus sussurros e ali naquele altar improvisado numa casa à beira-mar eu escutei assim como eu senti quando o vento me bateu e sussurros vieram a mim.
SALVE-SE.
Aquela única palavra cortante bateu em mim como o vento gelado que tinha me deixado, levantei a cabeça e encarei William, puxei minha mão com força, levantei meu vestido e corri passando por todas aquelas pessoas que me encaravam chocadas, mas aquilo não me preocupou nem um pouco, apenas corri, temendo ser seguida e capturada pelos homens de William, que em breve estariam me caçando e com medo dessa simples ideia eu não consegui olhar para trás.
Olhei para os lados percebendo que não tinha mais saída além do porto.
Observei todos aqueles barcos parados, desligados e guardados, totalmente seguros, como eu gostaria de estar agora, eu não tinha para onde ir.
Eu estava sozinha, pela primeira vez correndo para salvar minha liberdade, mas sem ter nenhuma saída à frente.
Parei exausta, com os pés doendo dentro do salto e sem ter coragem nenhuma de tirar eu apenas olhei em volta, estava presa novamente e com um futuro incerto, parecendo cada vez mais impossível.
Não sei quanto tempo fiquei parada ali, mas sem dúvida, fiquei tempo suficiente para ser achada, porque quando tive coragem de voltar a andar eu nem sequer tive oportunidade, senti olhos me seguindo e sem olhar para trás, corri em frente, era final de semana nenhum daqueles barcos iriam sair tão cedo, eu estava morta, foi quando ouvi um barulho de motor forte e estrondoso, perto o suficiente para sentir o cheiro do motor queimando, apressei meus passos, chegando a tempo para ver o barco afastando-se da passarela, estava perto o suficiente para mim pular, mas também longe o suficiente para eu cair. Senti o vento bater forte como as ondas à frente, assim como o sussurro que aquela rajada forte trazia.
PULE!
Era uma ordem e sem pensar, corri o resto da passarela e pulei me segurando na beirada do barco, meus saltos caíram batendo contra a água, sendo levados para baixo pelo motor do barco, trazendo um impulso para não acontecer o mesmo comigo, usei toda minha força para subir e finalmente consegui me jogar para dentro do barco, caindo em cima de redes e mais redes de pescaria. Eu tinha conseguido. E só esse pensamento me fez sorrir, mas não o suficiente para ter coragem de olhar para trás e ver o porto e os homens de William. Continuei deitada e sorrindo com os olhos fechados, recebendo o sol e a brisa do mar, sentindo o barco se afastar cada vez mais e mais da minha prisão, eu não sei quando dormi, mas estava tão cansada e tão atormentada que caí em um sono profundo e só acordei quando senti alguém me chutar, fazendo com que eu abrisse os olhos e desse de cara com um homem alto e forte, que provavelmente tinha a minha idade, talvez mais pela altura e pelo corpo musculoso, ele me olhava curioso.
— Pai, acho que pescamos uma sereia – disse sorrindo, fazendo um velho senhor careca e de intensos olhos azuis aparecer atrás dele também curioso.
— Não me lembro de ter jogado a rede – disse, estendendo a mão para mim, olhei para sua mão e respirando fundo a peguei.
PV Marylin DarlinghtonOs dois homens me olhavam curiosos, pensei que talvez eles me expulsariam do barco, mas não foi o que aconteceu, eles me deram roupas que ficaram extremamente grandes, mas que eram confortáveis, eles não pediram explicações. Apenas me olhavam e esperavam por algo que eu dissesse além de obrigada. — As roupas ficaram grandes, mas eram as únicas que tínhamos aqui que caberia em você, era da minha filha antes dela decidir se casar – disse o senhor mais velho, observando como a roupa estava sobrando em meu corpo de modelo. — Ela era um pouco mais robusta que você — comentou sorrindo, ele mostrava um olhar de saudade no rosto. — Ela está muito longe? — Sem dúvida meu pai sentiria o mesmo que ele, e isso me entristecia, se ao menos o tivesse escutado, agido diferente, eu estaria com ele, sem precisar ter medo da minha sombra. — Ela acabou de se casar, está morando em Atenas, pelo menos por enquanto – disse com pesar. — Eu não queria que ela se casasse sabe, ela é t
PV Marylin DarlinghtonUma semana depois...Viajar pelos mares era a melhor sensação que se poderia viver, o vento e a água batiam contra você, juntos como uma faca cortante, mas em vez de ser dolorosa, era como uma massagem que te fortalecia. Meu mundo tinha se resumido àquele barco, comecei a ajudar Ulisses e Aquiles em tudo, nunca tinha sentido meus braços tão pesados, e minhas costas doloridas como estavam agora. Tudo doía, mas eu me sentia plena, sem problemas, mesmo que estivesse fedendo a peixe. — O que iremos comer hoje, Mary? — perguntou Aquiles, encostando-se ao meu lado, colocando o braço em cima do meu ombro. Não tinha como ser mais abusado do que ele. — Hoje teremos peixe frito com arroz — falei, vendo-o fazer careta antes de reclamar, que era o que ele mais fazia o dia todo e infelizmente não podia culpá-lo. Peixe era a única coisa que eles comiam, e só tinha três formas. Cru, cozido ou frito, os três com o mesmo tempero e com os mesmos acompanhamentos. Eu não reclama
PV Marylin DarlinghtonAssim que desci do barco uma rajada de vento veio em minha direção como se me desse boas-vindas, era refrescante e novo de uma forma que eu não entendia, sentia que estava de volta com a minha liberdade e com um pouco do meu eu.Andei pelas ruas acompanhando Ulisses e Aquiles, observando aqueles rostos novos e desconhecidos, sorridentes e alegres, aqui era o oposto de tudo que vivi nos últimos meses, o sol acima de mim queimava e revigorava cada célula do meu corpo, cada machucado do meu coração, e cada pensamento ruim da minha mente. Era um novo mundo, novas pessoas, um novo começo surgia aqui. — Mary. — Virei-me para Ulisses que sorria me observando. — Você combina com esse país, e essa cor fica bonita em suas bochechas, parece uma menina com um brinquedo novo.Sorri em sua direção, um sorriso que há muito tempo eu não dava e o respondi: — Eu acabei de ganhar algo maior que qualquer brinquedo — respondi e andei alguns passos à sua frente antes de Aquile
PV Marylin DarlinghtonAssim que saí do templo encontrei Ulisses encostado na moto, desci as escadas e parei em sua frente. — Agora irei te mostrar o restante da cidade.***Ulisses me mostrou toda a cidade de Atenas em quase três horas de passeio, paramos para comer, e fazer as compras para o almoço que sua esposa prepararia para nós.Agora estávamos na última parada para irmos de volta a Pireu. Ulisses estacionou em frente a uma grande loja com belas vestimentas na vitrine. — Essa é a melhor loja de Atenas. Aqui há compra e venda de tecidos, assim como tem a melhor costureira da cidade.Desci da moto carregando a sacola que continha a última parte da minha vida na Riviera Francesa.Passei pela porta que Ulisses abriu para mim e no mesmo momento paralisei no lugar. — Divertido, não é? — Incrível seria a palavra certa.Aquela loja era diferente de tudo que eu já tinha visto, tecidos circundavam as paredes, e o teto era de várias cores diferentes, não tinha começo nem fim, parecia
PV Marylin Darlinghton Ulisses dirigiu para casa de forma rápida e ansiosa enquanto passávamos pelas ruas, pelos moradores e turistas que curtiam o sol, a ansiedade de Ulisses tinha passado para mim enquanto dirigia, então quando paramos comecei a me preocupar, enquanto ele ficava calmo. — Ela vai adorar você — disse ele enquanto segurava as sacolas deles e as minhas e me guiava em direção à entrada da casa.Uma mulher apareceu em nossa frente, carregando uma enorme travessa, ela parou notando nossa presença. Ela olhou em minha direção sorridente e em seguida olha para Ulisses com os olhos cheios de lágrimas, antes de deixar a travessa em cima da mesa de centro e correr para os braços dele. Afastei-me e observei a cena, sorrindo. Ela era uma mulher morena e de lindos olhos azuis e profundos, tinha um sorriso encantador no rosto, mesmo que já tivesse algumas marcas da idade, ela tinha um ar puro e feliz, e observando os dois ao longe dava para sentir o amor deles, a paixão ainda
PV Marylin DarlinghtonOlhei para as ruas de Pireu, seria minha última volta, minhas últimas compras nessa cidade por um longo tempo.Acompanhei Ulisses pela feira dos pescadores, rindo com as piadas e as explicações de Aquiles que me acompanha com o braço ao meu redor, ele não me largou desde que soube da minha viagem para a Ilha do Pescador. — Você poderia ficar mais um pouco, posso te ensinar a pilotar o barco, a pescar com arpão, a cozinhar um bom camarão, a beber conhaque sem engasgar, tenho tanta coisa para te ensinar, Mary. — Desde quando você cozinha? — Desde o momento em que você disse que vai para a ilha do pescador. Posso cuidar de você, Mary, posso te ensinar as coisas boas da vida e posso te proteger, ninguém vai te machucar se eu estiver ao seu lado. — Olhei para Ulisses que tinha parado de andar para olhar para mim e Aquiles, ele sorriu para mim e voltou a andar. — Aquiles, eu... Preciso me encontrar, encontrar de novo minha liberdade, mesmo que seja em uma ilha, eu
PV Marylin DarlinghtonA viagem de barco para meu novo destino foi rápida e constante como as batidas do meu coração que estavam aceleradas, o pescador me ajudou a colocar todos os meus mantimentos em cima da areia tão rápido quanto ele podia e em seguida partiu, sem me dar a chance de agradecê-lo. Eu o vi partir deixando-me a sós com a ilha e seu enorme castelo.Olhei em volta, peguei as sacolas mais pesadas levando-as para o grande castelo que se erguia, as nuvens negras que começava a se formar no céu me preocupavam, subi à costa de pedra que se erguia como um grande muro de proteção ao redor do castelo até finalmente enxergá-lo em todo seu esplendor e em seu estado degradado à minha frente.Coloquei as sacolas em frente à porta que em breve eu abriria e desci a costa novamente para pegar o restante das sacolas, conseguindo trazer todas, parei em frente a porta e respirando fundo, peguei a chave que tanto eu guardara, coloquei na velha fechadura que rangeu como se há décadas não fo
PV Marylin Darlinghton Um novo dia, um novo recomeço. A tempestade tinha ido embora, e agora eu começaria a fazer daquele castelo minha casa.Levei todas as sacolas com meus suplementos para a enorme cozinha, depois subi os andares entrando em cada quarto e abrindo suas enormes janelas, andar por andar.E só então abri a porta do meu castelo, recebendo o quente calor que o sol me oferecia, e a bela vista da minha ilha e do seu enorme mar, me atrevi a andar em direção à floresta que se estendia, mas fui impedida ao ouvir um barulho vindo do galpão, era grande e parecia ser um motor de barco, andei em direção ao galpão atrás do castelo, sentindo um frio que não conduzia com o enorme calor que fazia, entrei no celeiro notando sua porta aberta, a qual eu não deixei na noite passada, observei o enorme gerador de energia rodar, o teto do galpão estava aberto, e o sol irradiava em direção aos seis painéis solares que não existiam na noite passada. — Como isso é possível? — Olhei em vo