PV Marylin DarlinghtonNão sei como, mas consegui dormir na banheira, e acordei com a sensação de estar sendo observada, senti o mesmo frio subir por todo meu corpo, quando abri os olhos e vi um vulto passar pela pequena fresta da porta entreaberta, levantei e corri em direção à sombra, mas quando alcancei as escadas para descer para o segundo andar, já não a vi mais.Olhei em volta e desci os andares, até o escritório, abri a porta verificando se não havia ninguém lá e entrei, tranquei a porta e respirei fundo. Peguei a toalha que deixei em cima da mesa do escritório e me cobri. — Pensei que tinha um acordo com você — disse para o nada, peguei as bolsas com roupas e as puxei para mim, examinando cada uma, escolhendo um vestido branco, com grandes girassóis amarelos, e uma calcinha branca de algodão simples, eu estava com fome, tinha que enfrentar o que quer que estivesse lá fora. — Vou sair e estou vestida, e não entrarei mais no seu quarto — disse abrindo a porta e olhando pelo ext
Marylin Darlinghton15 dias depois...Saí do galpão, anotando em meu caderno o que restava dos meus suprimentos, contava detalhadamente cada um e em seguida eu voltava para o meu pequeno plantio que crescia cada vez mais, regava-os, replantava, mexia na terra, voltava para dentro sentava no escritório e como um presidiário eu marcava quanto dias tinha se passado, anotava cada momento em uma agenda, depois cozinhava uma nova receita que depois de ler e reler e errar eu acertava o ponto, e a tarde eu sentava no sofá, acendia a lareira e pegava um dos vários livros de romance que na infância eu não li, essa semana era Orgulho e Preconceito, com a vela ao meu lado eu lia, absorvendo cada palavra enquanto a luz de fora ia sendo substituída e o castelo era tomado pela escuridão e pelo frio, já não acendia as luzes há 15 dias, estava economizando cada vela, cada fósforo que acendia, e aos poucos me acostumei a cada canto e a escuridão sendo tomada, já não sentia a necessidade da luz, a não s
PV Marylin DarlinghtonA noite havia se passado e o dia também ainda mais rápido, e, mesmo assim, a curiosidade batia cada vez mais forte, conforme as horas passavam, com perguntas rolando em minha mente a cada instante, tinha ele saído da chuva e ido para o galpão? Será que ele estaria lá agora? O que aconteceria amanhã de manhã quando eu tivesse que ir até o galpão pegar suplementos, e as ferramentas para mexer no plantio, ele ainda estaria lá, ou apenas sinais de que um dia ele esteve?As perguntas em minha cabeça estavam produtivas acompanhando o cair da chuva que agora já diminuiu sua força, deixando apenas o frescor, e os pequenos tilintar como se fosse uma peça de teatro e aquele fosse seu final meigo e apaixonante.Aproximei-me da janela no primeiro andar, e observei a vista que me acompanhava todos os dias, o grande mar, e o grande céu, não sabia por que, mas senti lágrimas descendo pelo meus olhos, lembrando que a menina forte e livre ainda convivia com aquela que estava s
PV Marylin Darlinghton3 dias depois...Ele não tinha aparecido mais desde que tinha desaparecido no mar, e eu tinha me segurado o máximo para não o procurar, mas as noites estavam ficando cada vez mais geladas, e era impossível dormir sem a lareira ligada e pelo menos dois grossos cobertores. Não imaginava o que ele passava lá fora, e isso me perturbava, e era por esse motivo que estava eu ali novamente, preparando mais do que uma muda temporária de roupa e de cobertores que depois de fuxicar um pouco havia suposto que provavelmente seriam dele, a maioria eram peças masculinas do seu tamanho.Olhei para os moletons que escolhi a dedo junto com os cobertores, a escova de dente, e o sabonete. Fechei a bolsa de pano e peguei o prato de comida que preparei exatamente para ele, hoje tinha tentado fazer pão, e tinha por sorte acertado de primeira, consegui colocar uns três no prato, junto com a sopa de legumes, não o sustentaria por muito tempo, mas o esquentaria por essa noite.Saí do cas
PV René CarvalierMorrer, se tornou algo desejável há muito tempo, viver nessa ilha começou a se tornar insuportável. No começo a solidão, a liberdade era algo bom. Precioso até. Mas então as memórias começaram a me possuir, o castelo já não parecia mais apenas um local de boas lembranças, e começou a virar uma prisão e então veio a floresta e a solidão que antes bem-vinda virou um tormento nas noites de pesadelos, e a liberdade? A liberdade começou a perder o sentido diante da visão que começou a me tomar. A visão e percepção que eu estava em um ciclo sem fim, preso em mim mesmo, em minhas lembranças boas e ruins. No começo, e bom, ultimamente no fim também comecei a tentar me encontrar de novo. Encontrar o homem que disseram que eu era, mas cada vez que me aproximava dele mais confuso eu ficava, mais as lembranças não faziam sentido. Se eu era aquele homem como eu me deixei chegar até aqui? Como deixei tudo aquilo acontecer comigo e com ela?Parei ao perceber onde estava. Castelo. M
PV Marylin DarlinghtonEu pensei que não o veria mais, ou encontraria seu corpo por entre as árvores, mas ali estava ele no meu sofá tremendo de frio e febre, algumas horas depois que eu havia oferecido ajuda, sua perna parecia ainda mais ferida que antes e sangue pingava dela para o sofá, para o chão e para minhas mãos, peguei a bacia com água fria e coloquei ao seu lado molhando um pano, colocando-o em seu rosto, não tinha remédio para febre, esperava que a compressa ajudasse a diminuí-la, e os delírios, antes que ele acordasse, observei seus olhos fechados, ele parecia não sentir nada, a não ser pela sua boca que emitia sons desconexos, nada de palavras, nem de gritos, apenas sons, como gemidos de dor.Ele estava apagado desde que eu o encontrei 30 minutos atrás, caído em frente à minha porta, ele parecia ter enfrentado uma guerra inteira para ter chegado até aqui, não apenas uma floresta. Ele não bateu, ele não fez nada, eu senti e quando olhei para fora lá estava ele. Peguei tudo
PV Marylin Darlinghton3 dias depois...Ele não tinha aparecido mais desde que tinha desaparecido no mar, e eu tinha me segurado o máximo para não o procurar, mas as noites estavam ficando cada vez mais geladas, e era impossível dormir sem a lareira ligada e pelo menos dois grossos cobertores. Não imaginava o que ele passava lá fora, e isso me perturbava, e era por esse motivo que estava eu ali novamente, preparando mais do que uma muda temporária de roupa e de cobertores que depois de fuxicar um pouco havia suposto que provavelmente seriam dele, a maioria eram peças masculinas do seu tamanho.Olhei para os moletons que escolhi a dedo junto com os cobertores, a escova de dente, e o sabonete. Fechei a bolsa de pano e peguei o prato de comida que preparei exatamente para ele, hoje tinha tentado fazer pão, e tinha por sorte acertado de primeira, consegui colocar uns três no prato, junto com a sopa de legumes, não o sustentaria por muito tempo, mas o esquentaria por essa noite.Saí do cas
PV René CarvalierMorrer, se tornou algo desejável há muito tempo, viver nessa ilha começou a se tornar insuportável. No começo a solidão, a liberdade era algo bom. Precioso até. Mas então as memórias começaram a me possuir, o castelo já não parecia mais apenas um local de boas lembranças, e começou a virar uma prisão e então veio a floresta e a solidão que antes bem-vinda virou um tormento nas noites de pesadelos, e a liberdade? A liberdade começou a perder o sentido diante da visão que começou a me tomar. A visão e percepção que eu estava em um ciclo sem fim, preso em mim mesmo, em minhas lembranças boas e ruins. No começo, e bom, ultimamente no fim também comecei a tentar me encontrar de novo. Encontrar o homem que disseram que eu era, mas cada vez que me aproximava dele mais confuso eu ficava, mais as lembranças não faziam sentido. Se eu era aquele homem como eu me deixei chegar até aqui? Como deixei tudo aquilo acontecer comigo e com ela?Parei ao perceber onde estava. Castelo. M