PV Marylin DarlinghtonEu pensei que não o veria mais, ou encontraria seu corpo por entre as árvores, mas ali estava ele no meu sofá tremendo de frio e febre, algumas horas depois que eu havia oferecido ajuda, sua perna parecia ainda mais ferida que antes e sangue pingava dela para o sofá, para o chão e para minhas mãos, peguei a bacia com água fria e coloquei ao seu lado molhando um pano, colocando-o em seu rosto, não tinha remédio para febre, esperava que a compressa ajudasse a diminuí-la, e os delírios, antes que ele acordasse, observei seus olhos fechados, ele parecia não sentir nada, a não ser pela sua boca que emitia sons desconexos, nada de palavras, nem de gritos, apenas sons, como gemidos de dor.Ele estava apagado desde que eu o encontrei 30 minutos atrás, caído em frente à minha porta, ele parecia ter enfrentado uma guerra inteira para ter chegado até aqui, não apenas uma floresta. Ele não bateu, ele não fez nada, eu senti e quando olhei para fora lá estava ele. Peguei tudo
PV Marylin DarlinghtonOuvi um pequeno resmungo e me virei contra o chão duro dando de cara com os olhos azuis do fantasma, ele estava sentado me observando. Por que ele estava sentado? Levantei-me e observei sua perna que felizmente havia parado de sangrar, mas precisava ser limpa novamente. — Por que está tentando se levantar? Eu disse a você que precisa descansar e deixar essa perna imóvel — falei, pegando o cobertor do chão, eu não tinha ideia quando eu havia parado de ler e deixado o sono me levar, mas lembro que assim que eu tive certeza de que meu hóspede ressonava, não consegui mais ver motivos para continuar a leitura. — Você precisa ficar deitado — falei enquanto o observava forçar seus braços para levantar. — Você não está me entendendo? Precisa ficar deitado, se for lá fora sua perna continuará infeccionada, e você acabará morrendo — disse, observando-o ficar de pé e me encarar de cima, eu era alta, mas ele? Gigante, pelos menos uns 20cm a mais que eu. — Volte a se se
PV Marylin DarlinghtonDesci de banho tomado, e respirei tranquila ao ver meu fantasma deitado no sofá, aproximei-me deixando os livros que havia pegado no chão. Toquei sua testa sentindo-a quente. Febre novamente. Deixei minha mão cair para seu rosto coberto pela barba. Eu não iria desistir, só precisava saber o que era necessário para ajudá-lo. Deixei-me cair no chão e olhei os livros sobre a Austrália e sobre a França que eu havia achado. Talvez eu conseguisse achar algo nos livros, levantei-me e andei até o escritório, procurei pelas placas douradas e pelos títulos escritos neles, eu fui tirando um atrás do outro e os amontoando no chão. Desci da escada pegando um último livro. Observei sua capa instigante, era um livro sobre sobrevivência na Selva. Respirei fundo e peguei todos, amontoando-os em uma pilha e me dirigi para a sala, ajoelhei-me deixando todos caírem e me sentei encostando no sofá, ouvi a respiração pesada do meu fantasma e abri o primeiro livro.***Babosa, Copaíba,
PV Marylin Darlinghton7 dias depois...Respirei fundo encarando a cama vazia ao meu lado, não ouvi nada vindo do banheiro, levantei-me e ao sair também não o encontrei na sala, e eu sabia que ele partiu. Não havia mais febre há 3 dias, seus pesadelos diminuíram, sua perna havia começado a cicatrizar e a fechar, ele já andava sem ajuda e as noites em vez de ele cair no sono era eu que o fazia enquanto ele me vigiava.Nessas noites eu procurava o medo, ou minha mente me dizendo “cuidado”, mas não havia nada além de uma sensação tranquila e de paz, eu me sentia bem ao seu lado, com seu olhar em mim. Eu confiava na sua presença, ainda sentia algo bater forte em meu coração e em meu corpo ao seu lado, talvez porque éramos parecidos, o que havia me precavido do fato de que assim que ele pudesse ele iria embora.É como meu pai dizia:Um cavalo selvagem, nunca será domado.Sorri com o pensamento, caminhei até a porta da frente pronta para receber o ar quente do mar, mas assim que a abri fui
PV Marylin DarlinghtonRespirei fundo, olhando para o coqueiro à minha frente, eu queria pelo menos dois cocos, eu queria fazer um bolo, havia ficado com vontade depois de ver uma imagem super saborosa no livro de receitas.Eu precisava de coco, e por sorte tinha alguns coqueiros na entrada da floresta, só tinha um único problema.Eram altos demais.Eu já subi em muitas árvores quando pequena, mas as árvores costumavam ter galhos que ajudavam a escalar, totalmente diferente dos coqueiros. Olhei para cima imaginando o que eu poderia fazer. Uma escada me ajudaria. Deixei o facão no chão e caminhei até o galpão, passei por entre os painéis solares e perto das latas de tinta puxei a escada de madeira a retirando, levei com cuidado para fora e a encostei no coqueiro, subi com cuidado conseguindo alcançar o coco, percebendo que eu teria que descer para pegar o facão. Ri e desci pegando o facão, subi novamente e finalmente o cortei, observei de cima quatro cocos caírem no chão e finalmente d
PV Marylin Darlinghton2 dias depois...Olhei para a parede completamente dourada, finalmente havia terminado a sala inteira. Dois dias inteiros focados em pintar, limpar e pintar novamente. Senti o cheiro de tinta e me joguei no chão encarando o teto branco que eu havia tentado pintar, no fim, de certa forma não tinha ficado tão ruim, com certeza estava melhor que antes.Estava suja, coberta de tinta e deitada em um chão ainda mais sujo. Procurei a força que me fez levantar esses dois dias, mas não achei. Eu não tinha porquê levantar, havia terminado a sala, minha meta havia sido cumprida por hoje, tudo que eu precisava era me virar e dormir aqui mesmo nesse chão coberto de tinta, amanhã seria um novo dia, e eu teria porquê levantar.Respirei fundo, sentindo o cheiro de tinta, e o silêncio ao meu redor. Era tão diferente da cidade, lembrava-me tanto o silêncio da fazenda, o barulho leve do vento na minha janela, a luz forte em meu rosto de manhã atrapalhando meu sono. Boas lembrança
PV Marylin DarlinghtonEncarei o sol sumindo completamente e notei pela primeira vez meu fantasma sentado à beira mar, ele estava com o livro do Peter Pan em suas mãos e o encarava fixamente. Levantei meu vestido comprido e comecei a caminhar até ele, sentei-me ao seu lado ainda sem conseguir trazer sua atenção a mim, e em vez de encarar o céu começando a escurecer, encarei o homem ao meu lado, ele não virava a página apenas a olhava diferente de como fazia hoje de manhã, não havia curiosidade em seu rosto e assim como saiu do castelo, notei a mesma confusão em seu rosto e em sua testa franzida, junto com seu olhar perdido.Eu havia dado um descanso para sua mente e para mim, então sem leituras noturnas hoje. Ele saiu pela porta sem se despedir com o livro em mãos.Eu não estava à procura dele quando saí para fora do castelo, algo que não fazia quando o sol já não estava mais no céu e a luz não me protegia mais dos animais, mas algo dentro de mim me incitou a dar uma volta na praia e
PV René Carvalier1 semana depois...Olhei para a linda sereia sentada ao meu lado, ou melhor dizendo, Daphne Blake, observei a mesma tiara roxa em seu cabelo que havia me feito compará-la a personagem pela primeira vez.Observei seu rosto fixo no livro enquanto marcava avidamente com um lápis cada palavra que ela queria que eu repetisse. Eu queria achar uma forma de dizer a ela algo que eu havia começado a treinar quando não estávamos juntos. Treinar com tanto afinco que finalmente eu conseguia dizer em voz alta e agora finalmente eu poderia me apresentar para ela da forma correta e finalmente também descobrir seu nome. — Você não está prestando muita atenção hoje, não é? — falou ao meu lado, ela me observou e sorriu fechando o livro. — Que tal treinarmos o alfabeto? É bom para você ter uma ideia do som correto de cada letra — falou, observei-a abrir um novo livro, eu já estava compreendendo mais palavras do que havia conseguido quando cheguei à ilha, e também nos últimos meses que