PV Marylin Darlinghton2 dias depois...Olhei para a parede completamente dourada, finalmente havia terminado a sala inteira. Dois dias inteiros focados em pintar, limpar e pintar novamente. Senti o cheiro de tinta e me joguei no chão encarando o teto branco que eu havia tentado pintar, no fim, de certa forma não tinha ficado tão ruim, com certeza estava melhor que antes.Estava suja, coberta de tinta e deitada em um chão ainda mais sujo. Procurei a força que me fez levantar esses dois dias, mas não achei. Eu não tinha porquê levantar, havia terminado a sala, minha meta havia sido cumprida por hoje, tudo que eu precisava era me virar e dormir aqui mesmo nesse chão coberto de tinta, amanhã seria um novo dia, e eu teria porquê levantar.Respirei fundo, sentindo o cheiro de tinta, e o silêncio ao meu redor. Era tão diferente da cidade, lembrava-me tanto o silêncio da fazenda, o barulho leve do vento na minha janela, a luz forte em meu rosto de manhã atrapalhando meu sono. Boas lembrança
PV Marylin DarlinghtonEncarei o sol sumindo completamente e notei pela primeira vez meu fantasma sentado à beira mar, ele estava com o livro do Peter Pan em suas mãos e o encarava fixamente. Levantei meu vestido comprido e comecei a caminhar até ele, sentei-me ao seu lado ainda sem conseguir trazer sua atenção a mim, e em vez de encarar o céu começando a escurecer, encarei o homem ao meu lado, ele não virava a página apenas a olhava diferente de como fazia hoje de manhã, não havia curiosidade em seu rosto e assim como saiu do castelo, notei a mesma confusão em seu rosto e em sua testa franzida, junto com seu olhar perdido.Eu havia dado um descanso para sua mente e para mim, então sem leituras noturnas hoje. Ele saiu pela porta sem se despedir com o livro em mãos.Eu não estava à procura dele quando saí para fora do castelo, algo que não fazia quando o sol já não estava mais no céu e a luz não me protegia mais dos animais, mas algo dentro de mim me incitou a dar uma volta na praia e
PV René Carvalier1 semana depois...Olhei para a linda sereia sentada ao meu lado, ou melhor dizendo, Daphne Blake, observei a mesma tiara roxa em seu cabelo que havia me feito compará-la a personagem pela primeira vez.Observei seu rosto fixo no livro enquanto marcava avidamente com um lápis cada palavra que ela queria que eu repetisse. Eu queria achar uma forma de dizer a ela algo que eu havia começado a treinar quando não estávamos juntos. Treinar com tanto afinco que finalmente eu conseguia dizer em voz alta e agora finalmente eu poderia me apresentar para ela da forma correta e finalmente também descobrir seu nome. — Você não está prestando muita atenção hoje, não é? — falou ao meu lado, ela me observou e sorriu fechando o livro. — Que tal treinarmos o alfabeto? É bom para você ter uma ideia do som correto de cada letra — falou, observei-a abrir um novo livro, eu já estava compreendendo mais palavras do que havia conseguido quando cheguei à ilha, e também nos últimos meses que
PV René CarvalierEncarei Mary do outro lado, ela estava concentrada em cortar os legumes e cantarolar baixinho uma música que eu já havia ouvido em uma festa, lembrava das luzes azuis, das pessoas vestidas de formas despojadas, e também do sentimento de tédio que me rodeava. Com certeza não era uma boa recordação.A luz do dia estava partindo, era cedo para o jantar e para a leitura. As aulas duraram pouco hoje, Mary havia sentido muita dor de cabeça o dia todo, talvez pelo fato de não ter conseguido dormir ontem, seus pesadelos voltaram e uma parte minha sabia que ela se lembrou pelo menos um pouco do que teve ontem à noite, por isso sua dor de cabeça hoje mais cedo. Assim que ela acordou, eu saí do castelo, e a vigiei do meu posto, escondido o suficiente para ficar longe de sua visão, mas perto o suficiente para se algo acontecesse e assim que me cansei de apenas a vigiar de longe eu decidi entrar. E aqui estava eu, observando-a cantarolar e cozinhar, fui rodeado pelo cheiro de tin
PV René CarvalierOlhei para Mary ao meu lado, estávamos sentados os dois um ao lado do outro, ela segurando uma taça de vinho e bebericando tranquilamente enquanto observávamos o crepitar da lenha. Não falamos nada desde o nosso abraço, Mary simplesmente pegou o vinho e duas taças, serviu-me e se serviu, colocou a lenha na lareira e se sentou no chão. Eu a acompanhei, sentando-me no chão ao seu lado, bebendo o vinho que meu paladar rapidamente conheceu como Bordeaux de Mouton-Cadet um vinho francês ano 2015 mais sua origem veio de 1927 em uma safra que foi muito mal, mas que o Barão Phillipe Rothschild criou esse vinho para não comprometer a qualidade do vinho. Como eu sabia desse fato? Meu pai era um fanático por vinho desde adolescente, e por isso decidiu ensinar seu primogênito, porque segundo meu pai um homem que sabia apreciar um bom vinho, saberia apreciar uma bela mulher, o que me fez pensar em Francine e onde eu teria errado com ela.Foquei nos ingredientes que tocavam minha
PV Marylin DarlinghtonSempre ouvi falar daquele sentimento bonito de quando uma mulher apaixonada entra no altar e olha em direção ao noivo, ali esperando, sorrindo para ela, diziam os apaixonados que aquele momento ficava em câmera lenta, como se tudo parasse e só existisse os dois naquele local, todas essas sensações segundo os apaixonados vinham através do amor, da paixão e de todo os sentimentos desconhecidos que rodeavam o casal.Eu nunca sonhei em sentir esse sentimento, porque eu sempre soube que aquele momento lindo e que todos queriam um dia viver, significava a prisão de dois corpos, que ficariam ligados um ao outro, sem que eles pudessem viver a liberdade que eles tinham, que todos nós tínhamos, mesmo que ela fosse pouca, essa prisão que eles tanto almejavam só terminaria quando um deles percebessem que não valia a pena perder a liberdade para estar ali presos numa corrente de ouro, que jamais se quebraria se não fosse o desejo de lutar pelo animal dentro de nós que deseja
PV Marylin DarlinghtonOs dois homens me olhavam curiosos, pensei que talvez eles me expulsariam do barco, mas não foi o que aconteceu, eles me deram roupas que ficaram extremamente grandes, mas que eram confortáveis, eles não pediram explicações. Apenas me olhavam e esperavam por algo que eu dissesse além de obrigada. — As roupas ficaram grandes, mas eram as únicas que tínhamos aqui que caberia em você, era da minha filha antes dela decidir se casar – disse o senhor mais velho, observando como a roupa estava sobrando em meu corpo de modelo. — Ela era um pouco mais robusta que você — comentou sorrindo, ele mostrava um olhar de saudade no rosto. — Ela está muito longe? — Sem dúvida meu pai sentiria o mesmo que ele, e isso me entristecia, se ao menos o tivesse escutado, agido diferente, eu estaria com ele, sem precisar ter medo da minha sombra. — Ela acabou de se casar, está morando em Atenas, pelo menos por enquanto – disse com pesar. — Eu não queria que ela se casasse sabe, ela é t
PV Marylin DarlinghtonUma semana depois...Viajar pelos mares era a melhor sensação que se poderia viver, o vento e a água batiam contra você, juntos como uma faca cortante, mas em vez de ser dolorosa, era como uma massagem que te fortalecia. Meu mundo tinha se resumido àquele barco, comecei a ajudar Ulisses e Aquiles em tudo, nunca tinha sentido meus braços tão pesados, e minhas costas doloridas como estavam agora. Tudo doía, mas eu me sentia plena, sem problemas, mesmo que estivesse fedendo a peixe. — O que iremos comer hoje, Mary? — perguntou Aquiles, encostando-se ao meu lado, colocando o braço em cima do meu ombro. Não tinha como ser mais abusado do que ele. — Hoje teremos peixe frito com arroz — falei, vendo-o fazer careta antes de reclamar, que era o que ele mais fazia o dia todo e infelizmente não podia culpá-lo. Peixe era a única coisa que eles comiam, e só tinha três formas. Cru, cozido ou frito, os três com o mesmo tempero e com os mesmos acompanhamentos. Eu não reclama