PV Marylin Darlinghton3 dias depois...Ele não tinha aparecido mais desde que tinha desaparecido no mar, e eu tinha me segurado o máximo para não o procurar, mas as noites estavam ficando cada vez mais geladas, e era impossível dormir sem a lareira ligada e pelo menos dois grossos cobertores. Não imaginava o que ele passava lá fora, e isso me perturbava, e era por esse motivo que estava eu ali novamente, preparando mais do que uma muda temporária de roupa e de cobertores que depois de fuxicar um pouco havia suposto que provavelmente seriam dele, a maioria eram peças masculinas do seu tamanho.Olhei para os moletons que escolhi a dedo junto com os cobertores, a escova de dente, e o sabonete. Fechei a bolsa de pano e peguei o prato de comida que preparei exatamente para ele, hoje tinha tentado fazer pão, e tinha por sorte acertado de primeira, consegui colocar uns três no prato, junto com a sopa de legumes, não o sustentaria por muito tempo, mas o esquentaria por essa noite.Saí do cas
PV René CarvalierMorrer, se tornou algo desejável há muito tempo, viver nessa ilha começou a se tornar insuportável. No começo a solidão, a liberdade era algo bom. Precioso até. Mas então as memórias começaram a me possuir, o castelo já não parecia mais apenas um local de boas lembranças, e começou a virar uma prisão e então veio a floresta e a solidão que antes bem-vinda virou um tormento nas noites de pesadelos, e a liberdade? A liberdade começou a perder o sentido diante da visão que começou a me tomar. A visão e percepção que eu estava em um ciclo sem fim, preso em mim mesmo, em minhas lembranças boas e ruins. No começo, e bom, ultimamente no fim também comecei a tentar me encontrar de novo. Encontrar o homem que disseram que eu era, mas cada vez que me aproximava dele mais confuso eu ficava, mais as lembranças não faziam sentido. Se eu era aquele homem como eu me deixei chegar até aqui? Como deixei tudo aquilo acontecer comigo e com ela?Parei ao perceber onde estava. Castelo. M
PV Marylin DarlinghtonEu pensei que não o veria mais, ou encontraria seu corpo por entre as árvores, mas ali estava ele no meu sofá tremendo de frio e febre, algumas horas depois que eu havia oferecido ajuda, sua perna parecia ainda mais ferida que antes e sangue pingava dela para o sofá, para o chão e para minhas mãos, peguei a bacia com água fria e coloquei ao seu lado molhando um pano, colocando-o em seu rosto, não tinha remédio para febre, esperava que a compressa ajudasse a diminuí-la, e os delírios, antes que ele acordasse, observei seus olhos fechados, ele parecia não sentir nada, a não ser pela sua boca que emitia sons desconexos, nada de palavras, nem de gritos, apenas sons, como gemidos de dor.Ele estava apagado desde que eu o encontrei 30 minutos atrás, caído em frente à minha porta, ele parecia ter enfrentado uma guerra inteira para ter chegado até aqui, não apenas uma floresta. Ele não bateu, ele não fez nada, eu senti e quando olhei para fora lá estava ele. Peguei tudo
PV Marylin DarlinghtonOuvi um pequeno resmungo e me virei contra o chão duro dando de cara com os olhos azuis do fantasma, ele estava sentado me observando. Por que ele estava sentado? Levantei-me e observei sua perna que felizmente havia parado de sangrar, mas precisava ser limpa novamente. — Por que está tentando se levantar? Eu disse a você que precisa descansar e deixar essa perna imóvel — falei, pegando o cobertor do chão, eu não tinha ideia quando eu havia parado de ler e deixado o sono me levar, mas lembro que assim que eu tive certeza de que meu hóspede ressonava, não consegui mais ver motivos para continuar a leitura. — Você precisa ficar deitado — falei enquanto o observava forçar seus braços para levantar. — Você não está me entendendo? Precisa ficar deitado, se for lá fora sua perna continuará infeccionada, e você acabará morrendo — disse, observando-o ficar de pé e me encarar de cima, eu era alta, mas ele? Gigante, pelos menos uns 20cm a mais que eu. — Volte a se se
PV Marylin DarlinghtonDesci de banho tomado, e respirei tranquila ao ver meu fantasma deitado no sofá, aproximei-me deixando os livros que havia pegado no chão. Toquei sua testa sentindo-a quente. Febre novamente. Deixei minha mão cair para seu rosto coberto pela barba. Eu não iria desistir, só precisava saber o que era necessário para ajudá-lo. Deixei-me cair no chão e olhei os livros sobre a Austrália e sobre a França que eu havia achado. Talvez eu conseguisse achar algo nos livros, levantei-me e andei até o escritório, procurei pelas placas douradas e pelos títulos escritos neles, eu fui tirando um atrás do outro e os amontoando no chão. Desci da escada pegando um último livro. Observei sua capa instigante, era um livro sobre sobrevivência na Selva. Respirei fundo e peguei todos, amontoando-os em uma pilha e me dirigi para a sala, ajoelhei-me deixando todos caírem e me sentei encostando no sofá, ouvi a respiração pesada do meu fantasma e abri o primeiro livro.***Babosa, Copaíba,
PV Marylin Darlinghton7 dias depois...Respirei fundo encarando a cama vazia ao meu lado, não ouvi nada vindo do banheiro, levantei-me e ao sair também não o encontrei na sala, e eu sabia que ele partiu. Não havia mais febre há 3 dias, seus pesadelos diminuíram, sua perna havia começado a cicatrizar e a fechar, ele já andava sem ajuda e as noites em vez de ele cair no sono era eu que o fazia enquanto ele me vigiava.Nessas noites eu procurava o medo, ou minha mente me dizendo “cuidado”, mas não havia nada além de uma sensação tranquila e de paz, eu me sentia bem ao seu lado, com seu olhar em mim. Eu confiava na sua presença, ainda sentia algo bater forte em meu coração e em meu corpo ao seu lado, talvez porque éramos parecidos, o que havia me precavido do fato de que assim que ele pudesse ele iria embora.É como meu pai dizia:Um cavalo selvagem, nunca será domado.Sorri com o pensamento, caminhei até a porta da frente pronta para receber o ar quente do mar, mas assim que a abri fui
PV Marylin DarlinghtonRespirei fundo, olhando para o coqueiro à minha frente, eu queria pelo menos dois cocos, eu queria fazer um bolo, havia ficado com vontade depois de ver uma imagem super saborosa no livro de receitas.Eu precisava de coco, e por sorte tinha alguns coqueiros na entrada da floresta, só tinha um único problema.Eram altos demais.Eu já subi em muitas árvores quando pequena, mas as árvores costumavam ter galhos que ajudavam a escalar, totalmente diferente dos coqueiros. Olhei para cima imaginando o que eu poderia fazer. Uma escada me ajudaria. Deixei o facão no chão e caminhei até o galpão, passei por entre os painéis solares e perto das latas de tinta puxei a escada de madeira a retirando, levei com cuidado para fora e a encostei no coqueiro, subi com cuidado conseguindo alcançar o coco, percebendo que eu teria que descer para pegar o facão. Ri e desci pegando o facão, subi novamente e finalmente o cortei, observei de cima quatro cocos caírem no chão e finalmente d
PV Marylin Darlinghton2 dias depois...Olhei para a parede completamente dourada, finalmente havia terminado a sala inteira. Dois dias inteiros focados em pintar, limpar e pintar novamente. Senti o cheiro de tinta e me joguei no chão encarando o teto branco que eu havia tentado pintar, no fim, de certa forma não tinha ficado tão ruim, com certeza estava melhor que antes.Estava suja, coberta de tinta e deitada em um chão ainda mais sujo. Procurei a força que me fez levantar esses dois dias, mas não achei. Eu não tinha porquê levantar, havia terminado a sala, minha meta havia sido cumprida por hoje, tudo que eu precisava era me virar e dormir aqui mesmo nesse chão coberto de tinta, amanhã seria um novo dia, e eu teria porquê levantar.Respirei fundo, sentindo o cheiro de tinta, e o silêncio ao meu redor. Era tão diferente da cidade, lembrava-me tanto o silêncio da fazenda, o barulho leve do vento na minha janela, a luz forte em meu rosto de manhã atrapalhando meu sono. Boas lembrança