Capítulo 4

PV Marylin Darlinghton

Assim que desci do barco uma rajada de vento veio em minha direção como se me desse boas-vindas, era refrescante e novo de uma forma que eu não entendia, sentia que estava de volta com a minha liberdade e com um pouco do meu eu.

Andei pelas ruas acompanhando Ulisses e Aquiles, observando aqueles rostos novos e desconhecidos, sorridentes e alegres, aqui era o oposto de tudo que vivi nos últimos meses, o sol acima de mim queimava e revigorava cada célula do meu corpo, cada machucado do meu coração, e cada pensamento ruim da minha mente. Era um novo mundo, novas pessoas,      um novo começo surgia aqui.

 — Mary. — Virei-me para Ulisses que sorria me observando. — Você combina com esse país, e essa cor fica bonita em suas bochechas, parece uma menina com um brinquedo novo.

Sorri em sua direção, um sorriso que há muito tempo eu não dava e o respondi:

 — Eu acabei de ganhar algo maior que qualquer brinquedo — respondi e andei alguns passos à sua frente antes de Aquiles me abraçar.

 — Conheça minha garota — disse, apontando para uma moto encostada em uma loja de bijuterias.

 — Amo motos, elas são como cavalos. São velozes, únicos e te libertam — disse.

 — Concordo com você, mas discordo totalmente quando meu pai dirige. Ele não devia nem ter carteira para isso, infelizmente, hoje só serão você e ele, mas antes de você ir embora irei te mostrar como um piloto de verdade dirige. — Ele me abraçou e beijou minha bochecha antes de se afastar e andar em outra direção.

 — Vou te levar para Atenas e então você poderá seguir em frente.  — Ulisses me guiou até a moto e depois de se sentar, ajudou-me a subir.

Enquanto Ulisses dirigia rápido pelas ruas de Pireu, eu observava tudo à minha volta, os turistas, os moradores, as lojas, os mercados e as casas.

O vento constante no meu rosto me trazia uma sensação de paz que nunca senti em lugar nenhum, nem mesmo em casa.

Eu tinha fé, fui criada desde de pequena acreditando em Deus, indo à igreja pelo menos uma vez ao mês, eu fui criada na perspectiva de que o mundo tinha um criador, que nós tínhamos um anjo da guarda olhando por nós lá em cima, mas nunca fui moça de igreja, aquela que ia toda semana, que orava antes de dormir, ou que falava sobre Deus, eu tinha fé e meu pai sempre disse que aquilo era o suficiente, nunca acreditei em milagres, e ao passar dos anos eu acreditava menos ainda, ao passar dos anos as visitas a igreja não aconteciam mais, e eu já não tinha mais a curiosidade que todos continham de conhecer Deus ou saber sobre ele, eu tinha fé, mas não num ser ao vento, e sim em mim. Eu tinha aprendido a ter fé em mim, no que eu era capaz, no que eu sentia, e agora eu estava num lugar onde as pessoas acreditavam ainda em deuses, não apenas em um Deus mais em vários.

Quando desci da moto e olhei em volta percebi que ali a religião, os deuses ainda predominavam, olhei para Ulisses curiosa, eu já tinha visitado lugares que tinham a religião acima de tudo. O Vaticano, a Índia, e até mesmo o Egito. Mas nunca tinha visto nada como isso.

 — Bonito, não é?

 — Sim, eu nunca vi algo assim, é um templo?

 — Sim, é o templo de Atena.

Era tão belo, que eu não teria como descrevê-lo. Era grande, com grandes vigas à sua frente desenhadas em forma de belas mulheres, e um formato triangular cobria seu teto, a estrutura era antiga assim como a escrita acima.

 — É um dos pontos mais visitados pelos turistas, aqui é só o começo da antiga Grécia. Quer entrar?

 — Sem dúvida — disse começando a subir os degraus. — O que está escrito? — Apontei, e observei Ulisses sorrir como se escondesse um segredo.

 — Vamos entrar. — Ulisses pegou em minha mão, e juntos entramos no enorme templo. — Já ouviu a história de Atena, Mary?

 — Não — respondi, parando junto a ele, em frente à estátua da Deusa.

 —  Atena era filha de Zeus com a primeira esposa, a astuciosa Métis. Quando Métis estava grávida, Zeus a engoliu depois de saber por um oráculo de Gaia, que o filho poderia nascer mais forte que ele. Com o passar do tempo, Zeus começou a sofrer fortes dores de cabeça e para curá-la pediu a seu filho Hefesto, filho de Hera casado com a bela Afrodite, que lhe cortasse a cabeça com um machado. Obediente, Hefesto lhe deu um golpe e Atena surgiu já crescida, armada e lançando um grito de guerra. Atena é considerada a deusa da sabedoria, das artes, da justiça e da guerra. Ela é forte e destemida. Ela fazia todos os homens caírem aos seus pés, mas jamais caía aos deles, porque ela sabia do que eles eram capazes. Ela jamais caiu em batalha alguma.

Observei a estátua imponente.

  — Ela é como você, Mary. Eu sei pelo seu olhar quando caiu no meu barco, que você nunca caiu. E sempre venceu todas as batalhas à sua frente. Você é forte e livre. Você tem o mundo todo à sua espera, você tem a Grécia à sua espera, e os deuses ao seu lado se você quiser. Vou te deixar aqui, peça a deusa, sabedoria e ela te guiará para conquistá-la, peça triunfo e ela te mostrará a pista para caminhar na direção certa, peça paciência para trilhar esse caminho que você escolher e mais do que isso Mary, peça a ela conhecimento sobre você mesma. Às vezes achamos que sabemos tudo sobre nós mesmos, mas, na verdade, não sabemos nem metade do que deveríamos. Esse é o templo onde você irá conhecer-te a ti mesmo.

 — É a frase que está escrito no templo? — perguntei e observei-o assentir antes de me dar um pequeno aperto no ombro, como incentivo.

Andei para debaixo do belo monumento que estava à minha frente e me ajoelhei.

E pela primeira vez em toda minha vida eu rezei.

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