Depois do almoço, nos reunimos no jardim para aproveitar a tarde dourada que se estendia como um abraço morno. As árvores balançavam suavemente ao sabor do vento, suas folhas sussurrando segredos que só a natureza entendia. Samantha e Jonas conversavam animadamente sobre as próximas férias que planejavam, suas vozes misturando-se ao canto dos pássaros, enquanto Amanda balançava Natália na rede, uma cena que parecia tirada de uma pintura bucólica.De onde eu estava, sentado em uma cadeira de vime sombreada por um enorme ipê, podia observar tudo com uma tranquilidade que era quase palpável. Mas, por dentro, minha mente não parava. A quietude ao meu redor contrastava com o turbilhão de pensamentos que girava incessante. Gerenciar nossos negócios e ser pai tinha me transformado de maneiras que eu jamais imaginara.— Você está perdido em pensamentos de novo, Karan? — A voz de Amanda, doce e cheia de calor, cortou minha introspecção.Olhei para ela e vi seu rosto iluminado pelo sol que pass
Segunda-feiraA luz suave do amanhecer se infiltrava pelas cortinas do nosso quarto, com seus primeiros raios dourados acariciando o ambiente e anunciando o início de mais uma semana. Eu já estava acordado há alguns minutos, sentado na beirada da cama, meus olhos perdidos na quietude da casa, ainda imersa na calma que precede o turbilhão do cotidiano. O ar fresco da manhã se misturava com o aroma reconfortante do café, que ainda vinha da cozinha, uma promessa de conforto em meio à rotina que sempre se acelerava tão rapidamente.Amanda, ao meu lado, ainda se espreguiçava, os cabelos espalhados sobre o travesseiro, o rosto suavemente iluminado pela luz que entrava pela janela. Era uma visão que eu adorava, o modo como ela se entregava àquele momento de transição entre o sono e a vigília. A tranquilidade de ver ela ali, com o corpo esticado na cama, me trazia um conforto inusitado, como se o simples fato de tê-la ao meu lado tornasse qualquer dificuldade do dia suportável.— Já vai começ
Esse homem a encarava, seu olhar breve, mas carregado de segundas intenções. Era um gesto que eu já presenciara muitas vezes antes, mas naquele momento parecia ter um peso diferente, como se algo em mim estivesse mais atento ao mundo ao meu redor, mais consciente do valor inestimável que ela tinha. Talvez porque, ao observá-la, eu não visse apenas minha esposa, mas a mulher extraordinária que ela era.Amanda era dessas pessoas cuja presença preenchia o espaço sem esforço, mas sem alarde. Era uma força tranquila, um misto de doçura e determinação que cativava quem tivesse a sorte de conhecê-la. Sua força e graça poderiam chamar a atenção de qualquer um, mas sua essência ia além do que os olhos podiam captar. Só quem estivesse disposto a olhar mais fundo entenderia o que realmente fazia dela alguém tão especial.E eu entendia. Não apenas porque a amava, mas porque a admirava. Era como se cada pequeno gesto dela carregasse um mundo de significados, algo que só quem estivesse disposto a e
Amanda Lawrence Jones O simples fato de pensar em me casar com um estranho e morar com ele me arrepia. ―Não sei se farei isso. Parece algo de outro mundo para mim. ―Algo de outro mundo? Isso é mais comum do que você pode imaginar. É um casamento de conveniência. Simples assim ―Samantha comenta. ―Dividir o mesmo teto...não sei não. ―Amanda, meu irmão conhece bem o rapaz. Ele é uma boa pessoa. Ela diz isso pois Vitor trabalha com Karan em um restaurante especializado em comida árabe. Vitor é chefe de cozinha e Karan garçom, mas ainda assim tenho minhas dúvidas. ―Conhece bem mesmo? ―Sim. Pode apostar que sim. E mais! Karan trabalha pra caramba. Ele é garçom. Você quase não o verá. Quando trabalhar, ele estará em casa. Quando ele estiver em casa, você estará trabalhando. Eu ajeito minha máscara no rosto. Ai como odeio isso! Não vejo a hora que chegue à vacina e com ela a imunização contra esse vírus. Quero que esse pesadelo acabe. Como eu não digo nada ela continua: ―Pense co
Amanda Os ingleses são conhecidos por sua pontualidade, mas dessa vez fiz questão de chegar atrasada ao apartamento de Samantha. Não quero passar a imagem de que estou desesperada pelo acordo. Durante todo o dia, minhas preocupações me assolaram, não me deixando em paz nem por um minuto, e cheguei à conclusão de que me casar com esse estranho é o melhor caminho a seguir. Só preciso conhecê-lo melhor para ver se realmente tudo isso dará certo. Seja o que Deus quiser! Toco a campainha, Samantha logo surge na porta, mas, ao invés de me fazer entrar, me empurra para fora. Então me avalia. ― Pelo visto veio direto do trabalho? ― Sim, por quê? ― Ainda bem. Adoro quando se veste assim. Está muito atraente. Estou, mas prefiro o rosto lavado, do que essa maquiagem. Uma bela calça social ou jeans, não importa, do que esse vestido tubinho mostarda. Uma blusa legal ou camiseta, combinando com jaqueta ou blazer. Sapatos de salto baixo do que o alto que uso agora. Mas fazer o quê? Não deu par
Ele parece ter dificuldade para focar meu rosto, ainda apreciando a vista. De repente, eu me sinto bem com isso. Faz tanto tempo que ninguém olha para mim desse jeito. Sei que sou culpada por isso, ultimamente tenho me mantido invisível, saído pouco.― O que quer saber mais sobre mim? ― questiona secamente.Eu empino meu nariz, encarando o arrogante e que, infelizmente, é lindo demais para não ser notado.― Gostaria de saber por que você escolheu viver aqui? Geralmente os sírios buscam refúgio na Sérvia, Alemanha, Suécia, entre outros países.Ele solta o ar e olha para o chão, como se fugisse de meus olhos. Quando olha para mim, os sulcos da testa estão mais profundos, sua respiração sai do normal, seu olhar expressa dor, tristeza, solidão.― Antes da guerra civil estourar, eu viajei como turista para cá com meus pais e meu irmão caçula. Foi bom estar com eles aqui. Por isso escolhi esse país para recomeçar.Eu engulo em seco. Será que morreram todos? Por isso ele me encara com essa t
Minutos depois, estou sentada no sofá, bebendo uma taça de vinho gelado, refletindo sobre a conversa que tive com aquele sírio. Chego à conclusão: não terei problemas com Karan. Ele é um homem introspectivo e sabe bem os seus limites. Então, por que estou me sentindo tão estranha?A porta se abre, e meus amigos entram, tirando as máscaras e rindo muito de algo. Todos param de falar quando me veem sozinha no sofá.―E Karan? ―Samantha me questiona, e seu rosto se torna severo. ―Espera aí! Você não o colocou para correr, não é? Não haverá casamento, é isso?―Sim, haverá. Ele ficou de marcar a data.Samantha solta o ar.―Puxa! Que bom! Mas, onde ele está?―Foi embora.―Ele disse por que foi embora? ―Vitor me questiona.―Disse que estava cansado.Vitor balança a cabeça em negativa.―Desculpa dele. Hoje o movimento foi baixo. Esse vírus tem atrapalhado muito os comércios e restaurantes.Samantha se vira para eles:―Rapazes, por que não vão colocando a mesa? Só vou trocar uma palavrinha com
AmandaCom o dinheiro para liquidar minhas dívidas as preocupações acabaram, mas não estou em paz. Eu me sinto agitada.Não sei por que me sinto assim?Era para eu estar comemorando por ele ter agido de forma arredia, seca; no entanto, algo naquele sírio mexeu comigo.Ele conseguiu o impossível: despertar minha atenção.Por ser maduro e bonito?Não. Não é isso.Claro que sua masculinidade me atraiu bastante, mas acredito que seja mais do que isso. Talvez por ele ser diferente dos caras vazios de hoje em dia. Um bando de babacas mais chegados aos prazeres da carne do que no intelectual.Dou uma inspirada funda e me viro do outro lado da cama. Meus olhos nesta hora focam o rádio-relógio.Uma hora da manhã.Deus! Preciso dormir para amanhã enfrentar mais um dia de trabalho.Duas semanas depois...Casamento de Amanda Lawrence e Karan Bar QamarAmandaDeus! Estou nervosa como uma verdadeira noiva! Penso sentindo o suor frio surgindo na minha testa. Não deveria. As dívidas estão pagas, é só