A escuridão era pesada, sufocante. O cheiro de terra úmida e sangue estava impregnado no ar, misturado ao frio cortante da madrugada.
Lana piscou lentamente, tentando afastar a dor lancinante que pulsava em seu ombro. Seu corpo estava imobilizado pelo cinto de segurança, enquanto o carro de Luca permanecia tombado entre as árvores, os faróis iluminando fracamente a vegetação ao redor. Ao seu lado, Luca permanecia inconsciente. Mas ele estava respirando. Lana sentiu o alívio misturado ao terror. Ainda podia ouvir vozes ao redor do carro, e quando ergueu a cabeça, viu Matteo Bernardi, o homem de confiança de Ricardio, parado a poucos metros. Ele falava ao telefone, sua voz baixa e controlada: — Sim, senhor, ela está aqui. O Bellucci também, mas ele não vai durar muito tempo sem ajuda. Os olhos de Lana se arregalaram. Ricardio queria Luca morto. Seu coração disparou. Ela tentou se mover, mas o cinto a prendia. Sua respiração ficou irregular enquanto lutava contra a dor. Matteo encerrou a ligação e se virou lentamente para ela. — Senhora Massarotti, — ele disse, com um meio sorriso frio. — Imagino que essa não seja a noite que você planejou. Lana engoliu em seco. — Por favor... — sua voz saiu mais fraca do que gostaria. — Luca precisa de um médico. Matteo inclinou a cabeça levemente. — A questão é... Ricardio não quer que ele receba ajuda. Os olhos dela brilharam com desespero. — Então me leve para ele. Eu falo com Ricardio. Eu... eu o convenço. Matteo riu suavemente, cruzando os braços. — Você acha mesmo que tem esse poder sobre ele? Lana mordeu o lábio, os olhos fixos no homem à sua frente. — Se Ricardio me quer de volta, ele precisa me ouvir. Houve um momento de silêncio. Matteo olhou para seus homens, que aguardavam suas ordens. — Certo... — ele finalmente disse. — Vamos ver até onde vai sua influência. *** Com dificuldade, Matteo ajudou Lana a sair do carro. Seu ombro latejava de dor, mas ela se forçou a ignorar. Seus olhos voltaram para Luca. Ele ainda estava inconsciente, sua testa coberta de sangue seco. — E ele? — ela perguntou. Matteo suspirou, como se estivesse entediado. — Deixe-me adivinhar... você quer que salvemos o Bellucci também? Lana assentiu rapidamente. — Se ele morrer, Ricardio vai me perder para sempre. Matteo arqueou uma sobrancelha. — Interessante. Ele ponderou por um momento, então fez um sinal para dois dos homens que estavam com ele. — Tirem o Bellucci do carro e levem-no ao hospital. Digam que foi um acidente. Lana soltou um suspiro trêmulo. Luca tinha uma chance. — E você, senhora Massarotti... — Matteo estendeu a mão para ela. — Vamos para casa. *** A viagem de volta foi silenciosa. O carro preto cortava a noite em alta velocidade, e Lana mantinha os olhos fixos na estrada à frente. Seus pensamentos estavam confusos. Ela queria ver Luca, queria saber se ele sobreviveria. Mas agora, teria que enfrentar Ricardio. Quando chegaram à mansão, Matteo a guiou diretamente para o escritório de Ricardio. A porta já estava aberta, e ele estava lá, sentado atrás de sua mesa de mogno, com um copo de uísque na mão. Seus olhos encontraram os dela no instante em que ela entrou. — Deixem-nos a sós. — Sua voz soou fria. Matteo hesitou por um instante antes de se retirar, fechando a porta atrás dele. Lana se manteve firme, mesmo sentindo o coração bater violentamente contra o peito. Ricardio se levantou lentamente, caminhando até ela. — Então, meu anjo rebelde voltou para casa. Havia ironia em sua voz, mas também algo mais sombrio. — Por que fez isso? — Lana perguntou, sua voz vacilante. — Por que mandou matar Luca? Ricardio parou diante dela, seus olhos analisando cada detalhe de seu rosto. — Porque ele tentou roubar algo que me pertence. Lana sentiu a raiva crescer dentro dela. — Eu não sou sua posse, Ricardio! Ele sorriu, mas não havia humor ali. — Você é minha esposa. Isso faz de você minha. Lana balançou a cabeça. — Isso não é amor. Ele inclinou a cabeça. — Amor? — Ele riu baixinho. — Que conceito frágil. Você acha que Luca Bellucci te ama? Lana abriu a boca para responder, mas Ricardio continuou: — Ele se aproximou de você porque é um Bellucci. E os Bellucci sempre quiseram destruir os Massarotti. Ela franziu o cenho. — Você está dizendo que Luca me usou? Ricardio deu um passo para trás, voltando para sua mesa. — Estou dizendo que tudo tem um preço, minha querida. E agora você vai aprender isso da pior maneira. Lana sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Algo dentro dela dizia que a verdadeira batalha estava apenas começando. *** Luca abriu os olhos lentamente. As luzes do hospital eram fortes demais, e ele piscou algumas vezes até sua visão se ajustar. — Ele acordou! Uma voz ao seu lado fez seu coração acelerar. Ele virou a cabeça e viu Sofia Bellucci, sua irmã mais velha, de pé ao lado da cama, segurando sua mão. — Onde... onde estou? — sua voz saiu rouca. — No hospital. Alguém te encontrou e te trouxe para cá. Luca franziu a testa, lembrando-se do acidente. — Lana... Sofia apertou sua mão com mais força. — Ela está bem. Mas, Luca... ela voltou para Ricardio. Os olhos de Luca se arregalaram. — O quê? Sofia assentiu lentamente. — Ela fez um acordo. Salvou sua vida, mas teve que voltar para ele. Luca tentou se sentar, mas a dor o fez gemer. — Não... não pode ser. Sofia passou a mão pelo cabelo, preocupada. — Luca, me escuta... Ricardio é perigoso. Você precisa se recuperar antes de fazer qualquer coisa. Luca cerrou os punhos. — Eu não vou deixar Lana sozinha com ele. Sofia suspirou. — Então é melhor você se preparar, irmãozinho... porque essa guerra está longe de acabar.A mansão Massarotti estava em um silêncio peculiar à noite, mas não era o tipo de silêncio reconfortante, mas sim um manto opressor que pesava sobre os ombros de quem vivia ali. Para Lana, aquele lugar nunca tinha sido um lar, mas agora parecia ainda mais uma prisão. A lareira queimava lentamente, iluminando as paredes de mármore com sombras dançantes. Sentada em uma poltrona de veludo azul, ela tentava encontrar um pouco de calor ali, mas era inútil, pois seus pensamentos estavam longe, aflita para saber como estava Luca.A imagem dele ferido no hospital era um fantasma que a assombrava a cada instante. O homem que sempre a tratou com gentileza estava agora lutando para sobreviver, e tudo por culpa de Ricardio.— Seus olhos dizem que sua alma não está aqui, minha querida.A voz profunda e carregada de Ricardio cortou o silêncio como uma lâmina afiada.Lana não se virou de imediato. Fechou os olhos por um instante, sentindo a irritação crescer dentro dela.— O que você quer, Ricardio?
A manhã fria de Milão se estendia sobre o horizonte, envolvendo a cidade em um véu de névoa suave. Lana Peroni observava pela janela do seu quarto, com as mãos delicadamente segurando a taça de café quente. As ruas da cidade estavam começando a ganhar vida, com os primeiros passos das pessoas apressadas para o trabalho, mas dentro da grande mansão Massarotti, o silêncio era ensurdecedor.Lana sabia que ele estava em algum lugar da casa. Ela o sentia, mas ele raramente aparecia. Ricardio Massarotti, seu marido, sempre fora assim. Frio. Distante. E, no fundo de seu coração, Lana sabia que o amor que ela sentia por ele era uma chama que, aos poucos, estava se apagando.Aquela sensação de solidão não era nova para ela. Desde o dia em que se casaram, ela sentira que o amor de Ricardio por ela era uma ilusão. Ele nunca falara sobre amor, apenas sobre o dever de manter o legado de suas famílias. Mas Lana não queria desistir. Ela acreditava, com uma inocência quase tocante, que ele podia apre
A mansão dos Massarotti estava mergulhada em um silêncio sepulcral. Apenas o tic-tac do grande relógio no hall ecoava pelos corredores de mármore. Lana caminhava lentamente pelo salão principal, segurando um livro que pegara na biblioteca, mas não conseguia se concentrar em suas páginas. Seus pensamentos estavam longe dali, presos em um labirinto sem saída.Havia algo de cruel na frieza de Ricardio. Não era apenas indiferença, era como se ele conscientemente se recusasse a vê-la, a reconhecer que ela estava ali, esperando por algo mais do que um casamento de conveniência.O som da porta principal se abrindo quebrou o silêncio. Lana ergueu o olhar e viu Ricardio entrar, acompanhado de seu fiel assistente, Matteo Bernardi. O homem, alto e de feições afiadas, usava um terno escuro tão impecável quanto o de Ricardio. Matteo era um mistério para Lana. Sempre discreto, sempre na sombra do marido, mas presente o suficiente para que ela percebesse que ele não era apenas um funcionário.— Os d
A brisa da noite soprava suavemente pelo jardim da mansão Massarotti, balançando as folhas das roseiras bem cuidadas. Lana sentia o coração pulsar contra o peito enquanto encarava Luca Bellucci. O brilho enigmático nos olhos dele a deixava em alerta.— O que você quer dizer com isso, Luca? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.Luca lançou um olhar rápido para a mansão, como se esperasse que Ricardio surgisse a qualquer momento.— Acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos — disse ele, dando um passo à frente. — Mas você precisa saber a verdade sobre Ricardio.Lana hesitou. Confiar em Luca Bellucci, o filho do maior rival de seu marido, era arriscado. Mas uma parte dela ansiava por respostas.— Se tem algo a dizer, diga agora — retrucou, mantendo a voz firme.Luca suspirou.— Você sabe por que Ricardio aceitou esse casamento, Lana?Ela franziu a testa.— Nossas famílias concordaram que a união beneficiaria ambos os lados.Luca soltou uma risada seca.— Bene
A noite caía sobre Milão, e Luca Bellucci observava a cidade do alto da cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da família. Com um copo de uísque na mão e um sorriso irônico nos lábios, ele esperava notícias de seu informante.Luca não era apenas o herdeiro do império Bellucci — um conglomerado que dominava a indústria imobiliária e investimentos de alto risco na Itália — ele também era um jogador perigoso, alguém que sabia manipular as peças do tabuleiro como poucos. Diferente de Ricardio, que governava com punho de ferro, Luca preferia charme e inteligência. Seu carisma, aliado à sua astúcia, o tornava um adversário imprevisível.Fisicamente, Luca era o oposto de Ricardio. Enquanto o patriarca dos Massarotti era frio e imponente, Luca carregava um ar de sedução quase natural. Alto, com cabelos castanhos levemente bagunçados e olhos verdes profundos, exalava um magnetismo difícil de ignorar. Sua presença era intensa, e ele sabia disso.Seu celular vibrou, interrompendo seus pensamen
O vento soprava suavemente sobre o Lago de Como, trazendo consigo o perfume fresco da água misturado ao aroma das flores ao redor do restaurante. Lana encarava Luca Bellucci do outro lado da mesa, tentando decifrar o que realmente se passava por trás daquele sorriso confiante.O garçom serviu dois pratos delicados de risoto de açafrão e um vinho tinto refinado, mas Lana mal tocou na comida. Sua mente ainda estava presa às palavras que Luca havia dito momentos antes.— Você já sabe que quer muito mais do que tem agora.Ela sabia?A verdade era que, por mais que tentasse negar, havia algo na presença de Luca que a fazia sentir-se... viva. Era um sentimento que há muito tempo não experimentava dentro da mansão Massarotti, onde tudo era frio, calculado e distante.— Você está quieta, — Luca comentou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos. — O que está pensando?Lana suspirou, desviando o olhar para o lago.— Estou pensando que você é um homem perigoso, Luca Bellucci.Ele riu su
O clube ainda vibrava com a música e as luzes suaves, mas para Lana, tudo parecia ter desacelerado. O ar estava carregado de uma tensão invisível, e a sensação de que estavam sendo observados não desaparecia.Luca manteve o olhar fixo nela, esperando que ela dissesse algo mais, que explicasse seu súbito desconforto.— Tem certeza? — ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas ela ouvisse.Lana umedeceu os lábios, hesitante.— Não sei... foi só uma sensação.Luca estreitou os olhos, observando-a atentamente. Ele já havia aprendido a confiar na intuição quando se tratava de perigo.— Vem comigo.Ele pegou sua mão e a guiou para fora da pista de dança, através do clube. No caminho, Lana não pôde evitar olhar por cima do ombro, mas não viu ninguém suspeito. Apenas um mar de rostos desconhecidos, sorrisos, conversas e um ambiente que, até poucos minutos atrás, parecia ser um refúgio seguro.Quando chegaram a um corredor mais reservado, Luca encostou-a contra a parede, mantend