A mansão dos Massarotti estava mergulhada em um silêncio sepulcral. Apenas o tic-tac do grande relógio no hall ecoava pelos corredores de mármore. Lana caminhava lentamente pelo salão principal, segurando um livro que pegara na biblioteca, mas não conseguia se concentrar em suas páginas. Seus pensamentos estavam longe dali, presos em um labirinto sem saída.
Havia algo de cruel na frieza de Ricardio. Não era apenas indiferença, era como se ele conscientemente se recusasse a vê-la, a reconhecer que ela estava ali, esperando por algo mais do que um casamento de conveniência. O som da porta principal se abrindo quebrou o silêncio. Lana ergueu o olhar e viu Ricardio entrar, acompanhado de seu fiel assistente, Matteo Bernardi. O homem, alto e de feições afiadas, usava um terno escuro tão impecável quanto o de Ricardio. Matteo era um mistério para Lana. Sempre discreto, sempre na sombra do marido, mas presente o suficiente para que ela percebesse que ele não era apenas um funcionário. — Os documentos estão no meu escritório? — Ricardio perguntou, tirando o paletó e entregando para Matteo. — Sim, senhor. Mas há algo que precisa saber. — Matteo lançou um olhar rápido para Lana, como se não quisesse que ela escutasse. Ricardio suspirou, incomodado com a pausa. — Fale de uma vez. Matteo pigarreou antes de responder: — Um jornalista da "Corriere della Sera" está investigando as aquisições recentes da Massarotti Banks. Parece que há suspeitas sobre a fusão com a empresa do grupo Bellucci. Ricardio fechou os olhos por um momento, como se estivesse contendo a irritação. — Sempre há alguém querendo cavar sujeira onde não existe. — Ele passou as mãos pelos cabelos escuros, frustrado. — Descubra quem é esse jornalista e me traga um relatório até amanhã. — Sim, senhor. Matteo se virou para sair, mas Ricardio o deteve. — E, Matteo... se precisar tomar medidas para impedir essa matéria, tome. Lana, que ouvia tudo em silêncio, não conseguiu esconder o desconforto. — "Tomar medidas"? O que isso significa, Ricardio? Ele olhou para ela pela primeira vez desde que entrara na casa. — Significa que negócios não são para os fracos, Lana. Ela franziu o cenho. — Negócios não deveriam ser sobre mentiras e manipulações. Ricardio riu, mas sem qualquer humor. — Você realmente acredita em contos de fadas, não é? Acha que o mundo funciona com honestidade e boas intenções? — Eu acredito que existe uma maneira de fazer as coisas sem destruir pessoas no caminho. Ele se aproximou lentamente dela, seus olhos escuros fixos nos dela. — Se você soubesse a metade do que acontece nesse mundo, Lana, entenderia que não há espaço para sentimentalismo nos negócios. Ela sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Não era medo. Era frustração. Dor. — Talvez seja por isso que você não consegue amar. Porque para você, tudo se resume a poder e controle. O olhar de Ricardio endureceu. — O amor é uma fraqueza. E eu nunca fui um homem fraco. Lana não respondeu. Apenas desviou o olhar, sentindo uma lágrima ameaçar escapar. Não lhe daria o prazer de ver sua dor. — Se me der licença, tenho coisas mais importantes para fazer. — Ele se afastou e desapareceu pelo corredor, deixando para trás um rastro de silêncio e vazio. A noite caiu sobre Milão, e Lana decidiu sair para respirar. Caminhou pelos jardins da mansão, onde as luzes da cidade brilhavam ao longe. Seu coração estava pesado, sufocado por uma dor que parecia não ter fim. — Você está bem, senhora Massarotti? Ela se virou e viu Sofia, uma das empregadas mais antigas da casa. A mulher, de meia-idade e olhar gentil, sempre fora uma presença reconfortante. — Estou apenas... pensando. Sofia sorriu de leve. — Pensamentos podem ser traiçoeiros quando estamos tristes. Lana suspirou. — Você já amou alguém que nunca olhou para você da mesma maneira? Sofia abaixou o olhar, como se revivesse algo do passado. — Sim. E foi a maior dor da minha vida. Lana engoliu em seco. — E o que você fez? Sofia hesitou antes de responder: — Aprendi que, às vezes, o amor sozinho não basta. Lana sentiu o impacto daquelas palavras. Será que ela estava se agarrando a algo que jamais existiria? Antes que pudesse continuar a conversa, um carro preto parou em frente à mansão. Ela franziu a testa ao ver um homem sair do veículo. Ele era alto, com cabelos levemente bagunçados e um sorriso que contrastava com a seriedade de Ricardio. — Luca Bellucci... — Lana murmurou. Sofia arregalou os olhos. — O filho de Enzo Bellucci? O rival de seu marido? Lana assentiu, enquanto Luca caminhava até ela com um sorriso no rosto. — Senhora Massarotti, que prazer revê-la. — A voz dele era suave, mas carregada de intenções. — O que faz aqui, Luca? Sabe que Ricardio não gosta de visitas inesperadas. — Justamente por isso vim agora. — Ele sorriu de lado. — Preciso conversar com você. Lana cruzou os braços. — Sobre o quê? Luca se aproximou um pouco mais, diminuindo a voz. — Sobre seu marido... e o que ele está escondendo de você. Lana sentiu o coração acelerar. — O que quer dizer com isso? Luca olhou ao redor, certificando-se de que ninguém os ouvia. — Você realmente sabe com quem está casada, Lana? Ela prendeu a respiração. Algo dentro dela dizia que aquela noite estava prestes a mudar tudo.A brisa da noite soprava suavemente pelo jardim da mansão Massarotti, balançando as folhas das roseiras bem cuidadas. Lana sentia o coração pulsar contra o peito enquanto encarava Luca Bellucci. O brilho enigmático nos olhos dele a deixava em alerta.— O que você quer dizer com isso, Luca? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.Luca lançou um olhar rápido para a mansão, como se esperasse que Ricardio surgisse a qualquer momento.— Acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos — disse ele, dando um passo à frente. — Mas você precisa saber a verdade sobre Ricardio.Lana hesitou. Confiar em Luca Bellucci, o filho do maior rival de seu marido, era arriscado. Mas uma parte dela ansiava por respostas.— Se tem algo a dizer, diga agora — retrucou, mantendo a voz firme.Luca suspirou.— Você sabe por que Ricardio aceitou esse casamento, Lana?Ela franziu a testa.— Nossas famílias concordaram que a união beneficiaria ambos os lados.Luca soltou uma risada seca.— Bene
A noite caía sobre Milão, e Luca Bellucci observava a cidade do alto da cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da família. Com um copo de uísque na mão e um sorriso irônico nos lábios, ele esperava notícias de seu informante.Luca não era apenas o herdeiro do império Bellucci — um conglomerado que dominava a indústria imobiliária e investimentos de alto risco na Itália — ele também era um jogador perigoso, alguém que sabia manipular as peças do tabuleiro como poucos. Diferente de Ricardio, que governava com punho de ferro, Luca preferia charme e inteligência. Seu carisma, aliado à sua astúcia, o tornava um adversário imprevisível.Fisicamente, Luca era o oposto de Ricardio. Enquanto o patriarca dos Massarotti era frio e imponente, Luca carregava um ar de sedução quase natural. Alto, com cabelos castanhos levemente bagunçados e olhos verdes profundos, exalava um magnetismo difícil de ignorar. Sua presença era intensa, e ele sabia disso.Seu celular vibrou, interrompendo seus pensamen
O vento soprava suavemente sobre o Lago de Como, trazendo consigo o perfume fresco da água misturado ao aroma das flores ao redor do restaurante. Lana encarava Luca Bellucci do outro lado da mesa, tentando decifrar o que realmente se passava por trás daquele sorriso confiante.O garçom serviu dois pratos delicados de risoto de açafrão e um vinho tinto refinado, mas Lana mal tocou na comida. Sua mente ainda estava presa às palavras que Luca havia dito momentos antes.— Você já sabe que quer muito mais do que tem agora.Ela sabia?A verdade era que, por mais que tentasse negar, havia algo na presença de Luca que a fazia sentir-se... viva. Era um sentimento que há muito tempo não experimentava dentro da mansão Massarotti, onde tudo era frio, calculado e distante.— Você está quieta, — Luca comentou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos. — O que está pensando?Lana suspirou, desviando o olhar para o lago.— Estou pensando que você é um homem perigoso, Luca Bellucci.Ele riu su
O clube ainda vibrava com a música e as luzes suaves, mas para Lana, tudo parecia ter desacelerado. O ar estava carregado de uma tensão invisível, e a sensação de que estavam sendo observados não desaparecia.Luca manteve o olhar fixo nela, esperando que ela dissesse algo mais, que explicasse seu súbito desconforto.— Tem certeza? — ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas ela ouvisse.Lana umedeceu os lábios, hesitante.— Não sei... foi só uma sensação.Luca estreitou os olhos, observando-a atentamente. Ele já havia aprendido a confiar na intuição quando se tratava de perigo.— Vem comigo.Ele pegou sua mão e a guiou para fora da pista de dança, através do clube. No caminho, Lana não pôde evitar olhar por cima do ombro, mas não viu ninguém suspeito. Apenas um mar de rostos desconhecidos, sorrisos, conversas e um ambiente que, até poucos minutos atrás, parecia ser um refúgio seguro.Quando chegaram a um corredor mais reservado, Luca encostou-a contra a parede, mantend
A escuridão era pesada, sufocante. O cheiro de terra úmida e sangue estava impregnado no ar, misturado ao frio cortante da madrugada.Lana piscou lentamente, tentando afastar a dor lancinante que pulsava em seu ombro. Seu corpo estava imobilizado pelo cinto de segurança, enquanto o carro de Luca permanecia tombado entre as árvores, os faróis iluminando fracamente a vegetação ao redor.Ao seu lado, Luca permanecia inconsciente.Mas ele estava respirando.Lana sentiu o alívio misturado ao terror. Ainda podia ouvir vozes ao redor do carro, e quando ergueu a cabeça, viu Matteo Bernardi, o homem de confiança de Ricardio, parado a poucos metros.Ele falava ao telefone, sua voz baixa e controlada:— Sim, senhor, ela está aqui. O Bellucci também, mas ele não vai durar muito tempo sem ajuda.Os olhos de Lana se arregalaram.Ricardio queria Luca morto.Seu coração disparou. Ela tentou se mover, mas o cinto a prendia. Sua respiração ficou irregular enquanto lutava contra a dor.Matteo encerrou a
A mansão Massarotti estava em um silêncio peculiar à noite, mas não era o tipo de silêncio reconfortante, mas sim um manto opressor que pesava sobre os ombros de quem vivia ali. Para Lana, aquele lugar nunca tinha sido um lar, mas agora parecia ainda mais uma prisão. A lareira queimava lentamente, iluminando as paredes de mármore com sombras dançantes. Sentada em uma poltrona de veludo azul, ela tentava encontrar um pouco de calor ali, mas era inútil, pois seus pensamentos estavam longe, aflita para saber como estava Luca.A imagem dele ferido no hospital era um fantasma que a assombrava a cada instante. O homem que sempre a tratou com gentileza estava agora lutando para sobreviver, e tudo por culpa de Ricardio.— Seus olhos dizem que sua alma não está aqui, minha querida.A voz profunda e carregada de Ricardio cortou o silêncio como uma lâmina afiada.Lana não se virou de imediato. Fechou os olhos por um instante, sentindo a irritação crescer dentro dela.— O que você quer, Ricardio?
A manhã fria de Milão se estendia sobre o horizonte, envolvendo a cidade em um véu de névoa suave. Lana Peroni observava pela janela do seu quarto, com as mãos delicadamente segurando a taça de café quente. As ruas da cidade estavam começando a ganhar vida, com os primeiros passos das pessoas apressadas para o trabalho, mas dentro da grande mansão Massarotti, o silêncio era ensurdecedor.Lana sabia que ele estava em algum lugar da casa. Ela o sentia, mas ele raramente aparecia. Ricardio Massarotti, seu marido, sempre fora assim. Frio. Distante. E, no fundo de seu coração, Lana sabia que o amor que ela sentia por ele era uma chama que, aos poucos, estava se apagando.Aquela sensação de solidão não era nova para ela. Desde o dia em que se casaram, ela sentira que o amor de Ricardio por ela era uma ilusão. Ele nunca falara sobre amor, apenas sobre o dever de manter o legado de suas famílias. Mas Lana não queria desistir. Ela acreditava, com uma inocência quase tocante, que ele podia apre