O vento soprava suavemente sobre o Lago de Como, trazendo consigo o perfume fresco da água misturado ao aroma das flores ao redor do restaurante. Lana encarava Luca Bellucci do outro lado da mesa, tentando decifrar o que realmente se passava por trás daquele sorriso confiante.
O garçom serviu dois pratos delicados de risoto de açafrão e um vinho tinto refinado, mas Lana mal tocou na comida. Sua mente ainda estava presa às palavras que Luca havia dito momentos antes. — Você já sabe que quer muito mais do que tem agora. Ela sabia? A verdade era que, por mais que tentasse negar, havia algo na presença de Luca que a fazia sentir-se... viva. Era um sentimento que há muito tempo não experimentava dentro da mansão Massarotti, onde tudo era frio, calculado e distante. — Você está quieta, — Luca comentou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos. — O que está pensando? Lana suspirou, desviando o olhar para o lago. — Estou pensando que você é um homem perigoso, Luca Bellucci. Ele riu suavemente. — E você, Lana Massarotti, é uma mulher que vive como se estivesse presa em uma gaiola de ouro. Ela apertou os lábios, desconfortável. — Você não sabe nada sobre mim. Luca ergueu uma sobrancelha, inclinando-se ligeiramente na mesa. — Sei mais do que você imagina. Sei que você se casou muito jovem, que amava Ricardio no começo, mas ele nunca te olhou da forma como você merece ser olhada. Sei que aquela mansão pertence à linhagem dele, e que, por mais que você tente, sempre será apenas uma peça no legado dos Massarotti. Sei que se sente sufocada, mas tem medo de admitir. Lana sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele estava certo. Cada palavra que dizia atingia um nervo exposto. Ela pousou os talheres no prato e cruzou os braços. — E o que exatamente você ganha trazendo essas verdades à tona? Luca sorriu, tomando um gole de vinho antes de responder. — Nada. Ou talvez tudo. Depende de você. Lana o observou por um instante, tentando entender quais eram suas verdadeiras intenções. Luca era encantador, perspicaz e extremamente perigoso. Mas o pior de tudo era que... ele fazia sentido. Ela desviou o olhar, tentando recuperar o controle sobre a situação. — Eu não sou uma peça no legado de ninguém, — ela disse, com mais firmeza do que realmente sentia. — Então prove. — Luca apoiou os cotovelos na mesa, os olhos verdes faiscando de desafio. — E como exatamente eu faria isso? Ele sorriu de canto, como se tivesse esperado exatamente essa resposta. — Deixe-me te mostrar um mundo fora do império Massarotti. Só por uma noite. Sem obrigações, sem consequências. Apenas você, Lana, vivendo por si mesma. Lana sentiu seu coração acelerar. A ideia era tentadora. Por uma noite, esquecer quem era. Esquecer que era esposa de Ricardio Massarotti. Mas valia o risco? Ela olhou para o celular sobre a mesa. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nem mesmo um aviso de Ricardio perguntando onde estava. Seu próprio marido sequer percebia sua ausência. Lana pegou a taça de vinho e tomou um gole, sentindo a bebida quente escorrer por sua garganta. Quando pousou o copo, seus olhos encontraram os de Luca novamente. — Apenas uma noite. Luca sorriu. — Apenas uma noite. *** Lana nunca tinha estado em um clube como aquele. O lugar era sofisticado, mas carregava um ar de exclusividade e mistério. As luzes eram baixas, a música vibrava suavemente no ambiente, e as pessoas pareciam se mover com uma liberdade que ela nunca tinha experimentado. Luca caminhava ao seu lado com uma confiança natural, como se pertencesse àquele lugar. — Bellucci, este é o seu território? — Lana perguntou, observando a forma como os funcionários do clube cumprimentavam Luca com respeito. Ele sorriu. — Digamos que conheço as pessoas certas. Eles se sentaram em uma área reservada, afastada do restante do salão. Um garçom trouxe dois drinks sem que eles sequer precisassem pedir. — Você frequenta muito lugares assim? — Lana perguntou, pegando o copo. — De vez em quando. Mas esta noite não é sobre mim, é sobre você. Lana riu de leve. — E o que exatamente eu deveria estar descobrindo? Luca a observou atentamente antes de responder. — O que realmente deseja para si mesma. Sem Ricardio. Sem a pressão de um casamento arranjado. Apenas você. Lana desviou o olhar. — E o que acontece quando essa noite acabar? — Isso, minha cara Lana, só depende de você. A forma como Luca dizia seu nome fazia seu coração disparar. *** Lana não percebeu imediatamente. Mas em um canto discreto do clube, um homem os observava. Matteo Bernardi, o braço direito de Ricardio Massarotti. Ele não gostava de Luca Bellucci. Odiava a maneira como ele conseguia manipular as pessoas, odiava o fato de que ele sabia onde atacar Ricardio. E agora, ele estava vendo exatamente onde o próximo golpe de Luca cairia. Matteo pegou o celular e digitou uma mensagem rápida. " Senhor Massarotti, encontramos sua esposa." Ele observou por um instante a tela do telefone, mas não houve resposta imediata. Ricardio era um homem meticuloso. Matteo sabia que ele não responderia no calor do momento. Mas aquela informação havia sido enviada. E agora, o jogo tomaria um rumo ainda mais perigoso. *** Lana estava rindo. Um riso verdadeiro, espontâneo, algo que há muito tempo não acontecia. Luca havia a puxado para a pista de dança, e ela se permitiu aproveitar aquele momento. O som da música, o calor da presença dele, a leveza que sentia no peito. Por uma noite, ela não era uma Massarotti. Por uma noite, ela era apenas Lana. Mas enquanto girava entre os braços de Luca, uma sensação estranha começou a se formar em seu estômago. Como se estivesse sendo observada. Quando ergueu os olhos para além da multidão, por um breve instante, jurou ter visto um par de olhos conhecidos. A adrenalina correu em suas veias. — Luca... — sua voz vacilou. Ele percebeu a mudança em sua expressão e se inclinou. — O que foi? Ela hesitou por um momento antes de responder. — Acho que estamos sendo observados. Luca não se virou de imediato. Em vez disso, segurou seu rosto suavemente, forçando-a a manter os olhos nele. — Confie em mim, Lana. Ela respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Mas no fundo, ela sabia. O jogo estava ficando perigoso. E Ricardio Massarotti não era um homem que gostava de perder.O clube ainda vibrava com a música e as luzes suaves, mas para Lana, tudo parecia ter desacelerado. O ar estava carregado de uma tensão invisível, e a sensação de que estavam sendo observados não desaparecia.Luca manteve o olhar fixo nela, esperando que ela dissesse algo mais, que explicasse seu súbito desconforto.— Tem certeza? — ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas ela ouvisse.Lana umedeceu os lábios, hesitante.— Não sei... foi só uma sensação.Luca estreitou os olhos, observando-a atentamente. Ele já havia aprendido a confiar na intuição quando se tratava de perigo.— Vem comigo.Ele pegou sua mão e a guiou para fora da pista de dança, através do clube. No caminho, Lana não pôde evitar olhar por cima do ombro, mas não viu ninguém suspeito. Apenas um mar de rostos desconhecidos, sorrisos, conversas e um ambiente que, até poucos minutos atrás, parecia ser um refúgio seguro.Quando chegaram a um corredor mais reservado, Luca encostou-a contra a parede, mantend
A escuridão era pesada, sufocante. O cheiro de terra úmida e sangue estava impregnado no ar, misturado ao frio cortante da madrugada.Lana piscou lentamente, tentando afastar a dor lancinante que pulsava em seu ombro. Seu corpo estava imobilizado pelo cinto de segurança, enquanto o carro de Luca permanecia tombado entre as árvores, os faróis iluminando fracamente a vegetação ao redor.Ao seu lado, Luca permanecia inconsciente.Mas ele estava respirando.Lana sentiu o alívio misturado ao terror. Ainda podia ouvir vozes ao redor do carro, e quando ergueu a cabeça, viu Matteo Bernardi, o homem de confiança de Ricardio, parado a poucos metros.Ele falava ao telefone, sua voz baixa e controlada:— Sim, senhor, ela está aqui. O Bellucci também, mas ele não vai durar muito tempo sem ajuda.Os olhos de Lana se arregalaram.Ricardio queria Luca morto.Seu coração disparou. Ela tentou se mover, mas o cinto a prendia. Sua respiração ficou irregular enquanto lutava contra a dor.Matteo encerrou a
A mansão Massarotti estava em um silêncio peculiar à noite, mas não era o tipo de silêncio reconfortante, mas sim um manto opressor que pesava sobre os ombros de quem vivia ali. Para Lana, aquele lugar nunca tinha sido um lar, mas agora parecia ainda mais uma prisão. A lareira queimava lentamente, iluminando as paredes de mármore com sombras dançantes. Sentada em uma poltrona de veludo azul, ela tentava encontrar um pouco de calor ali, mas era inútil, pois seus pensamentos estavam longe, aflita para saber como estava Luca.A imagem dele ferido no hospital era um fantasma que a assombrava a cada instante. O homem que sempre a tratou com gentileza estava agora lutando para sobreviver, e tudo por culpa de Ricardio.— Seus olhos dizem que sua alma não está aqui, minha querida.A voz profunda e carregada de Ricardio cortou o silêncio como uma lâmina afiada.Lana não se virou de imediato. Fechou os olhos por um instante, sentindo a irritação crescer dentro dela.— O que você quer, Ricardio?
A manhã fria de Milão se estendia sobre o horizonte, envolvendo a cidade em um véu de névoa suave. Lana Peroni observava pela janela do seu quarto, com as mãos delicadamente segurando a taça de café quente. As ruas da cidade estavam começando a ganhar vida, com os primeiros passos das pessoas apressadas para o trabalho, mas dentro da grande mansão Massarotti, o silêncio era ensurdecedor.Lana sabia que ele estava em algum lugar da casa. Ela o sentia, mas ele raramente aparecia. Ricardio Massarotti, seu marido, sempre fora assim. Frio. Distante. E, no fundo de seu coração, Lana sabia que o amor que ela sentia por ele era uma chama que, aos poucos, estava se apagando.Aquela sensação de solidão não era nova para ela. Desde o dia em que se casaram, ela sentira que o amor de Ricardio por ela era uma ilusão. Ele nunca falara sobre amor, apenas sobre o dever de manter o legado de suas famílias. Mas Lana não queria desistir. Ela acreditava, com uma inocência quase tocante, que ele podia apre
A mansão dos Massarotti estava mergulhada em um silêncio sepulcral. Apenas o tic-tac do grande relógio no hall ecoava pelos corredores de mármore. Lana caminhava lentamente pelo salão principal, segurando um livro que pegara na biblioteca, mas não conseguia se concentrar em suas páginas. Seus pensamentos estavam longe dali, presos em um labirinto sem saída.Havia algo de cruel na frieza de Ricardio. Não era apenas indiferença, era como se ele conscientemente se recusasse a vê-la, a reconhecer que ela estava ali, esperando por algo mais do que um casamento de conveniência.O som da porta principal se abrindo quebrou o silêncio. Lana ergueu o olhar e viu Ricardio entrar, acompanhado de seu fiel assistente, Matteo Bernardi. O homem, alto e de feições afiadas, usava um terno escuro tão impecável quanto o de Ricardio. Matteo era um mistério para Lana. Sempre discreto, sempre na sombra do marido, mas presente o suficiente para que ela percebesse que ele não era apenas um funcionário.— Os d
A brisa da noite soprava suavemente pelo jardim da mansão Massarotti, balançando as folhas das roseiras bem cuidadas. Lana sentia o coração pulsar contra o peito enquanto encarava Luca Bellucci. O brilho enigmático nos olhos dele a deixava em alerta.— O que você quer dizer com isso, Luca? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.Luca lançou um olhar rápido para a mansão, como se esperasse que Ricardio surgisse a qualquer momento.— Acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos — disse ele, dando um passo à frente. — Mas você precisa saber a verdade sobre Ricardio.Lana hesitou. Confiar em Luca Bellucci, o filho do maior rival de seu marido, era arriscado. Mas uma parte dela ansiava por respostas.— Se tem algo a dizer, diga agora — retrucou, mantendo a voz firme.Luca suspirou.— Você sabe por que Ricardio aceitou esse casamento, Lana?Ela franziu a testa.— Nossas famílias concordaram que a união beneficiaria ambos os lados.Luca soltou uma risada seca.— Bene
A noite caía sobre Milão, e Luca Bellucci observava a cidade do alto da cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da família. Com um copo de uísque na mão e um sorriso irônico nos lábios, ele esperava notícias de seu informante.Luca não era apenas o herdeiro do império Bellucci — um conglomerado que dominava a indústria imobiliária e investimentos de alto risco na Itália — ele também era um jogador perigoso, alguém que sabia manipular as peças do tabuleiro como poucos. Diferente de Ricardio, que governava com punho de ferro, Luca preferia charme e inteligência. Seu carisma, aliado à sua astúcia, o tornava um adversário imprevisível.Fisicamente, Luca era o oposto de Ricardio. Enquanto o patriarca dos Massarotti era frio e imponente, Luca carregava um ar de sedução quase natural. Alto, com cabelos castanhos levemente bagunçados e olhos verdes profundos, exalava um magnetismo difícil de ignorar. Sua presença era intensa, e ele sabia disso.Seu celular vibrou, interrompendo seus pensamen