A manhã fria de Milão se estendia sobre o horizonte, envolvendo a cidade em um véu de névoa suave. Lana Peroni observava pela janela do seu quarto, com as mãos delicadamente segurando a taça de café quente. As ruas da cidade estavam começando a ganhar vida, com os primeiros passos das pessoas apressadas para o trabalho, mas dentro da grande mansão Massarotti, o silêncio era ensurdecedor.
Lana sabia que ele estava em algum lugar da casa. Ela o sentia, mas ele raramente aparecia. Ricardio Massarotti, seu marido, sempre fora assim. Frio. Distante. E, no fundo de seu coração, Lana sabia que o amor que ela sentia por ele era uma chama que, aos poucos, estava se apagando. Aquela sensação de solidão não era nova para ela. Desde o dia em que se casaram, ela sentira que o amor de Ricardio por ela era uma ilusão. Ele nunca falara sobre amor, apenas sobre o dever de manter o legado de suas famílias. Mas Lana não queria desistir. Ela acreditava, com uma inocência quase tocante, que ele podia aprender a amá-la, se ela fosse paciente o suficiente. Enquanto pensava sobre o casamento que fora arranjado entre suas famílias, ela ouviu os passos pesados de Ricardio vindo do corredor. Ele apareceu na porta do seu quarto, com o terno impecável e o semblante sério. — Lana, temos uma reunião importante na sede da Massarotti Banks hoje à tarde — disse ele, com a voz dura e sem emoção. — Estarei ocupado o resto do dia. Lana olhou para ele, tentando esconder a dor que sentia. Ela havia se acostumado com as palavras vazias, com os gestos protocolarmente frios. Mas, mesmo assim, ainda alimentava uma esperança tola de que ele pudesse olhar para ela com um pouco de carinho. — Claro, Ricardio. Vou me arrumar para o almoço, então — respondeu, forçando um sorriso. Ela não sabia mais o que era tentar resgatar algo que parecia perdido. Ricardio apenas assentiu, sem mais palavras. Ele se virou e caminhou até a porta, sem sequer lançar um olhar mais longo para ela. Lana soltou um suspiro profundo quando ele desapareceu, sua presença deixando uma sensação de vazio no ar. *** Mais tarde, na sala de jantar, Lana estava sentada à mesa, já pronta para o almoço. Seu vestido azul claro contrastava com a frieza do ambiente. Ela mexia com a colher em seu prato, mas não tinha fome. Olhou para o lado e viu Ricardio entrando, com a expressão fechada como sempre. — Não vai comer? — perguntou ele, sem um pingo de interesse real, mas como se fosse uma formalidade. — Não estou com fome. Estou apenas... pensando. — Lana tentou sorrir novamente, mas seu coração parecia apertado. Ricardio não respondeu. Ele se sentou à mesa, pegou seu copo de vinho e começou a beber com a mesma indiferença de sempre. Lana observava aquele homem, o marido que a sociedade dizia que ela deveria amar. Ela o amava, é claro, mas ele... ele nunca havia se mostrado afetuoso, nem mesmo com um olhar. — Não sei o que você espera, Lana. — Ricardio falou depois de um longo silêncio, com a voz mais fria do que o habitual. — Eu já te disse inúmeras vezes que o que temos aqui não é sobre amor. Não há espaço para isso entre nós. Lana olhou para ele, tentando processar aquelas palavras que tanto a machucavam. — Eu sei, Ricardio. Eu sei. — Ela fechou os olhos por um momento, as palavras saindo baixas. — Mas eu ainda... eu ainda tento. Tento acreditar que existe algo mais. Algo além de negócios, além de obrigações. Que você... que nós podemos ser mais do que apenas um contrato. Ricardio a olhou com um breve lampejo de irritação, mas logo sua expressão voltou ao normal. Ele não queria discutir sobre sentimentos, sobre amor ou qualquer coisa que o fizesse pensar além de números e lucros. — Você já sabia desde o início como isso funcionária, Lana. Não espere algo que eu não posso te dar. Aquelas palavras soaram como um soco no estômago de Lana. Mas ela não podia se render à tristeza. Não ainda. — Eu não espero mais nada, Ricardio. — Ela respondeu, a voz já mais firme, mas o coração apertado. — Eu só queria que você soubesse... que eu ainda estou aqui. E que, de alguma forma, ainda espero por algo que nunca virá. Ricardio não respondeu. Ele continuou a beber o vinho com a mesma expressão impassível, enquanto Lana se sentia cada vez mais distante. Ela podia sentir a distância entre eles, como se uma parede invisível os separasse a cada dia. *** O silêncio na sala de jantar era quase insuportável. Lana se levantou da mesa, sentindo a tensão no ar. Ela não queria mais ficar ali, esperando por algo que jamais aconteceria. — Ricardio... — Ela hesitou antes de falar, mas sentiu que precisava dizer algo mais. — Eu sei que não há amor entre nós. Mas eu... eu queria ao menos sentir que você se importa. Mesmo que seja apenas por um momento. Ricardio não levantou os olhos do copo. — Eu me importo com o que você representa, Lana. Com o que a nossa união representa. Não há mais nada a dizer. Ele se levantou da mesa abruptamente, sem sequer olhar para ela. Caminhou até a porta da sala, os passos ecoando no silêncio. Lana o observou, impotente, sentindo um vazio profundo tomar conta de seu peito. — Ricardio, por favor... — Ela o chamou, mas ele não parou. — Apenas... me olhe. Eu só preciso que você me veja. Ele parou por um instante, como se estivesse considerando suas palavras, mas logo a indiferença tomou conta dele novamente. — Eu não posso dar o que você quer, Lana. E você já deveria saber disso. — Ele abriu a porta e saiu sem mais palavras. Lana ficou sozinha na sala de jantar, seu corpo pesado, como se o ar ao redor tivesse se tornado mais denso. A dor em seu peito parecia insuportável, mas ela sabia que não poderia se entregar. Não ali, não naquele momento. Ela ficou em pé por um momento, olhando para a mesa, tentando encontrar alguma resposta em seu reflexo no vidro da janela. Não havia nada. Apenas uma mulher que tentava desesperadamente salvar algo que parecia perdido antes mesmo de começar. Mas Lana não desistiria. Ela sabia que o amor, mesmo que unilateral, ainda existia dentro dela. Talvez, um dia, Ricardio a visse. Talvez um dia ele entendesse o que ela sentia. Mas, até lá, ela precisaria continuar lutando. Para ela, para ele, para o que ainda restava. *** O relógio na parede marcava quase duas horas. Lana ouviu o som dos passos de novo, mas dessa vez, o som estava vindo da direção da biblioteca. Ela se levantou da mesa, com a intenção de distraí-lo, talvez tentar mais uma vez fazer com que ele a visse. Ela hesitou por um momento, mas decidiu seguir em frente. Lana entrou na biblioteca e o encontrou ali, debruçado sobre papéis, os olhos fixos em documentos financeiros. Ela se aproximou lentamente, o som de seus passos ecoando na sala. — Ricardio, — sua voz estava trêmula, mas ela conseguiu manter a firmeza, — eu... queria saber se poderíamos conversar mais tarde, depois da sua reunião. Sobre nós. Ricardio não levantou os olhos do trabalho. — Não temos nada a conversar, Lana. Não agora. Eu preciso focar no que importa. Lana sentiu o peso dessas palavras como uma lâmina afiada. Mas não desistiu. — Ricardio, por favor... Eu preciso de mais do que isso. Eu preciso saber se você ainda se importa... um pouco, talvez. Finalmente, ele levantou os olhos para ela, e por um segundo, algo como cansaço se refletiu neles. Mas logo foi substituído pela frieza habitual. — Eu já te falei antes, Lana… eu me importo com o que você representa. Com o que a nossa união representa. Nada mais além do que isso. E, sem mais uma palavra, ele voltou a olhar os papéis, a distância entre os dois aumentando cada vez mais, tornando-se insuportável. Lana deu um último olhar para ele antes de se retirar. Ela sabia que, a cada tentativa frustrada de aproximação, uma parte dela se partia.A mansão dos Massarotti estava mergulhada em um silêncio sepulcral. Apenas o tic-tac do grande relógio no hall ecoava pelos corredores de mármore. Lana caminhava lentamente pelo salão principal, segurando um livro que pegara na biblioteca, mas não conseguia se concentrar em suas páginas. Seus pensamentos estavam longe dali, presos em um labirinto sem saída.Havia algo de cruel na frieza de Ricardio. Não era apenas indiferença, era como se ele conscientemente se recusasse a vê-la, a reconhecer que ela estava ali, esperando por algo mais do que um casamento de conveniência.O som da porta principal se abrindo quebrou o silêncio. Lana ergueu o olhar e viu Ricardio entrar, acompanhado de seu fiel assistente, Matteo Bernardi. O homem, alto e de feições afiadas, usava um terno escuro tão impecável quanto o de Ricardio. Matteo era um mistério para Lana. Sempre discreto, sempre na sombra do marido, mas presente o suficiente para que ela percebesse que ele não era apenas um funcionário.— Os d
A brisa da noite soprava suavemente pelo jardim da mansão Massarotti, balançando as folhas das roseiras bem cuidadas. Lana sentia o coração pulsar contra o peito enquanto encarava Luca Bellucci. O brilho enigmático nos olhos dele a deixava em alerta.— O que você quer dizer com isso, Luca? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.Luca lançou um olhar rápido para a mansão, como se esperasse que Ricardio surgisse a qualquer momento.— Acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos — disse ele, dando um passo à frente. — Mas você precisa saber a verdade sobre Ricardio.Lana hesitou. Confiar em Luca Bellucci, o filho do maior rival de seu marido, era arriscado. Mas uma parte dela ansiava por respostas.— Se tem algo a dizer, diga agora — retrucou, mantendo a voz firme.Luca suspirou.— Você sabe por que Ricardio aceitou esse casamento, Lana?Ela franziu a testa.— Nossas famílias concordaram que a união beneficiaria ambos os lados.Luca soltou uma risada seca.— Bene
A noite caía sobre Milão, e Luca Bellucci observava a cidade do alto da cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da família. Com um copo de uísque na mão e um sorriso irônico nos lábios, ele esperava notícias de seu informante.Luca não era apenas o herdeiro do império Bellucci — um conglomerado que dominava a indústria imobiliária e investimentos de alto risco na Itália — ele também era um jogador perigoso, alguém que sabia manipular as peças do tabuleiro como poucos. Diferente de Ricardio, que governava com punho de ferro, Luca preferia charme e inteligência. Seu carisma, aliado à sua astúcia, o tornava um adversário imprevisível.Fisicamente, Luca era o oposto de Ricardio. Enquanto o patriarca dos Massarotti era frio e imponente, Luca carregava um ar de sedução quase natural. Alto, com cabelos castanhos levemente bagunçados e olhos verdes profundos, exalava um magnetismo difícil de ignorar. Sua presença era intensa, e ele sabia disso.Seu celular vibrou, interrompendo seus pensamen
O vento soprava suavemente sobre o Lago de Como, trazendo consigo o perfume fresco da água misturado ao aroma das flores ao redor do restaurante. Lana encarava Luca Bellucci do outro lado da mesa, tentando decifrar o que realmente se passava por trás daquele sorriso confiante.O garçom serviu dois pratos delicados de risoto de açafrão e um vinho tinto refinado, mas Lana mal tocou na comida. Sua mente ainda estava presa às palavras que Luca havia dito momentos antes.— Você já sabe que quer muito mais do que tem agora.Ela sabia?A verdade era que, por mais que tentasse negar, havia algo na presença de Luca que a fazia sentir-se... viva. Era um sentimento que há muito tempo não experimentava dentro da mansão Massarotti, onde tudo era frio, calculado e distante.— Você está quieta, — Luca comentou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos. — O que está pensando?Lana suspirou, desviando o olhar para o lago.— Estou pensando que você é um homem perigoso, Luca Bellucci.Ele riu su
O clube ainda vibrava com a música e as luzes suaves, mas para Lana, tudo parecia ter desacelerado. O ar estava carregado de uma tensão invisível, e a sensação de que estavam sendo observados não desaparecia.Luca manteve o olhar fixo nela, esperando que ela dissesse algo mais, que explicasse seu súbito desconforto.— Tem certeza? — ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas ela ouvisse.Lana umedeceu os lábios, hesitante.— Não sei... foi só uma sensação.Luca estreitou os olhos, observando-a atentamente. Ele já havia aprendido a confiar na intuição quando se tratava de perigo.— Vem comigo.Ele pegou sua mão e a guiou para fora da pista de dança, através do clube. No caminho, Lana não pôde evitar olhar por cima do ombro, mas não viu ninguém suspeito. Apenas um mar de rostos desconhecidos, sorrisos, conversas e um ambiente que, até poucos minutos atrás, parecia ser um refúgio seguro.Quando chegaram a um corredor mais reservado, Luca encostou-a contra a parede, mantend
A escuridão era pesada, sufocante. O cheiro de terra úmida e sangue estava impregnado no ar, misturado ao frio cortante da madrugada.Lana piscou lentamente, tentando afastar a dor lancinante que pulsava em seu ombro. Seu corpo estava imobilizado pelo cinto de segurança, enquanto o carro de Luca permanecia tombado entre as árvores, os faróis iluminando fracamente a vegetação ao redor.Ao seu lado, Luca permanecia inconsciente.Mas ele estava respirando.Lana sentiu o alívio misturado ao terror. Ainda podia ouvir vozes ao redor do carro, e quando ergueu a cabeça, viu Matteo Bernardi, o homem de confiança de Ricardio, parado a poucos metros.Ele falava ao telefone, sua voz baixa e controlada:— Sim, senhor, ela está aqui. O Bellucci também, mas ele não vai durar muito tempo sem ajuda.Os olhos de Lana se arregalaram.Ricardio queria Luca morto.Seu coração disparou. Ela tentou se mover, mas o cinto a prendia. Sua respiração ficou irregular enquanto lutava contra a dor.Matteo encerrou a
A mansão Massarotti estava em um silêncio peculiar à noite, mas não era o tipo de silêncio reconfortante, mas sim um manto opressor que pesava sobre os ombros de quem vivia ali. Para Lana, aquele lugar nunca tinha sido um lar, mas agora parecia ainda mais uma prisão. A lareira queimava lentamente, iluminando as paredes de mármore com sombras dançantes. Sentada em uma poltrona de veludo azul, ela tentava encontrar um pouco de calor ali, mas era inútil, pois seus pensamentos estavam longe, aflita para saber como estava Luca.A imagem dele ferido no hospital era um fantasma que a assombrava a cada instante. O homem que sempre a tratou com gentileza estava agora lutando para sobreviver, e tudo por culpa de Ricardio.— Seus olhos dizem que sua alma não está aqui, minha querida.A voz profunda e carregada de Ricardio cortou o silêncio como uma lâmina afiada.Lana não se virou de imediato. Fechou os olhos por um instante, sentindo a irritação crescer dentro dela.— O que você quer, Ricardio?