O clube ainda vibrava com a música e as luzes suaves, mas para Lana, tudo parecia ter desacelerado. O ar estava carregado de uma tensão invisível, e a sensação de que estavam sendo observados não desaparecia.
Luca manteve o olhar fixo nela, esperando que ela dissesse algo mais, que explicasse seu súbito desconforto. — Tem certeza? — ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas ela ouvisse. Lana umedeceu os lábios, hesitante. — Não sei... foi só uma sensação. Luca estreitou os olhos, observando-a atentamente. Ele já havia aprendido a confiar na intuição quando se tratava de perigo. — Vem comigo. Ele pegou sua mão e a guiou para fora da pista de dança, através do clube. No caminho, Lana não pôde evitar olhar por cima do ombro, mas não viu ninguém suspeito. Apenas um mar de rostos desconhecidos, sorrisos, conversas e um ambiente que, até poucos minutos atrás, parecia ser um refúgio seguro. Quando chegaram a um corredor mais reservado, Luca encostou-a contra a parede, mantendo o corpo próximo ao dela. — Escute, — ele disse, sua voz um pouco mais tensa. — Se realmente alguém estiver nos vigiando, precisamos sair daqui sem chamar atenção. — Você acha que pode ser alguém enviado por Ricardio? Luca hesitou, então suspirou. — Aposto todas as minhas fichas nisso. Lana fechou os olhos por um momento. Claro que Ricardio descobriria. Ele podia ser distante, frio, e agir como se não se importasse, mas quando se tratava de manter o controle sobre o que lhe pertencia, ele não deixava nada escapar. E ela, aos olhos dele, era sua posse mais preciosa. — Tem uma saída lateral? — ela perguntou, tentando manter a calma. Luca sorriu de canto. — Sempre há uma saída. Ele segurou sua mão mais firme e começou a guiá-la por um corredor discreto, passando por algumas portas até que chegaram a uma saída de serviço. Antes de abrir, Luca espiou pelo vão da porta. Lana prendeu a respiração, sentindo o coração bater forte contra o peito. — Tudo limpo, — Luca murmurou. — Vamos. Eles saíram silenciosamente para um beco estreito, onde um carro preto os esperava. Luca destravou as portas e ajudou Lana a entrar rapidamente antes de tomar o lugar no banco do motorista. — Segura firme. — Ele ligou o motor e arrancou. *** A estrada sinuosa ao redor do Lago de Como, passava rapidamente ao lado deles. As luzes do clube ficaram para trás, mas a tensão entre os dois continuava. Lana olhava pela janela, os dedos tamborilando contra a perna. — Você sabia que isso aconteceria, não sabia? — Ela quebrou o silêncio. Luca manteve os olhos na estrada. — Sabia que era uma possibilidade. — Então por que me trouxe para cá? Ele riu suavemente, mas não havia humor em sua expressão. — Porque você quis vir. Você queria sair daquela gaiola e sentir o que é ser livre. E agora que conseguiu... Lana fechou os olhos por um instante. — Agora que consegui, o que acontece? Luca não respondeu imediatamente. — Isso depende de você, Lana. Mas uma coisa é certa: Ricardio não vai deixar isso passar sem consequências. A ideia fez um arrepio percorrer sua espinha. Por mais que Ricardio fosse um homem distante, ele ainda era um Massarotti. E os Massarotti protegiam sua linhagem com unhas e dentes. *** Enquanto Lana e Luca atravessavam a noite, Ricardio Massarotti estava sentado em seu escritório na mansão. O cômodo era grande, decorado com madeira escura e uma vista imponente para os jardins da propriedade. Matteo Bernardi estava de pé ao lado dele, com o celular na mão. — Eles saíram do clube juntos. Entraram no carro de Bellucci e estão indo na direção do lago. Ricardio girou lentamente um copo de uísque entre os dedos, o maxilar travado. — Lana me desrespeitou. Matteo observou seu chefe por um instante antes de falar. — Talvez seja hora de lembrá-la a quem ela pertence. Ricardio finalmente ergueu o olhar. — Já providenciei isso. Matteo arqueou uma sobrancelha. — O que quer dizer? — Mandei alguém para cuidar desse problema. Matteo hesitou. Ele sabia que Ricardio não era um homem paciente quando se tratava de traição. Mas lidar com Luca Bellucci era um jogo perigoso. — Você tem certeza de que quer seguir por esse caminho? Ricardio tomou um gole do uísque, a expressão inalterável. — Luca cruzou uma linha. E quando alguém cruza uma linha comigo... eu faço questão de mostrar que sou eu quem dita as regras. Matteo assentiu lentamente. Ele sabia que, a partir daquele momento, a guerra entre Massarotti e Bellucci não poderia mais ser evitada. *** Lana sentiu o primeiro impacto antes mesmo de ver o que estava acontecendo. O carro de Luca estremeceu violentamente para o lado, jogando-a contra a porta. — O que foi isso?! — ela gritou. Luca xingou, tentando controlar o volante. — Estamos sendo seguidos. Lana virou-se para trás e viu dois faróis se aproximando perigosamente. Outro impacto veio, mais forte dessa vez, fazendo o carro derrapar. — Segura! — Luca gritou, girando o volante bruscamente. Os pneus cantaram na estrada enquanto ele tentava estabilizar o carro. Mas os perseguidores não estavam interessados em deixá-los fugir. Lana sentiu o pânico subir pelo corpo. — Ricardio fez isso? Luca apertou a mandíbula. — Claro que foi ele. Outro impacto veio, dessa vez mais brutal. O carro de Luca foi lançado para fora da pista, capotando pelo barranco antes de tudo se tornar um borrão de luzes e escuridão. *** Lana acordou com o cheiro de terra úmida e sangue. Sua visão estava turva, e sua cabeça latejava violentamente. Ela tentou se mover, mas uma dor cortante no ombro a fez gemer. Ao seu lado, Luca estava inconsciente, com um corte profundo na testa. O carro estava tombado, parcialmente destruído. Lana ouviu passos se aproximando. Com esforço, virou a cabeça e viu uma figura parada na beira do barranco. Era Matteo Bernardi. Ele a olhava com uma expressão impassível antes de puxar o celular e fazer uma ligação. — Senhor Massarotti... terminamos o serviço. Lana sentiu o pânico tomar conta dela. Ela tentou se mexer, mas a dor a fez gemer novamente. Matteo abaixou-se ao seu lado, os olhos frios. — Talvez agora você entenda, Senhora Massarotti... — Ele murmurou. — Ricardio não divide o que é dele. Lana sentiu as lágrimas quentes descerem por seu rosto. Ela havia cometido um erro terrível. E agora pagaria o preço.A escuridão era pesada, sufocante. O cheiro de terra úmida e sangue estava impregnado no ar, misturado ao frio cortante da madrugada.Lana piscou lentamente, tentando afastar a dor lancinante que pulsava em seu ombro. Seu corpo estava imobilizado pelo cinto de segurança, enquanto o carro de Luca permanecia tombado entre as árvores, os faróis iluminando fracamente a vegetação ao redor.Ao seu lado, Luca permanecia inconsciente.Mas ele estava respirando.Lana sentiu o alívio misturado ao terror. Ainda podia ouvir vozes ao redor do carro, e quando ergueu a cabeça, viu Matteo Bernardi, o homem de confiança de Ricardio, parado a poucos metros.Ele falava ao telefone, sua voz baixa e controlada:— Sim, senhor, ela está aqui. O Bellucci também, mas ele não vai durar muito tempo sem ajuda.Os olhos de Lana se arregalaram.Ricardio queria Luca morto.Seu coração disparou. Ela tentou se mover, mas o cinto a prendia. Sua respiração ficou irregular enquanto lutava contra a dor.Matteo encerrou a
A mansão Massarotti estava em um silêncio peculiar à noite, mas não era o tipo de silêncio reconfortante, mas sim um manto opressor que pesava sobre os ombros de quem vivia ali. Para Lana, aquele lugar nunca tinha sido um lar, mas agora parecia ainda mais uma prisão. A lareira queimava lentamente, iluminando as paredes de mármore com sombras dançantes. Sentada em uma poltrona de veludo azul, ela tentava encontrar um pouco de calor ali, mas era inútil, pois seus pensamentos estavam longe, aflita para saber como estava Luca.A imagem dele ferido no hospital era um fantasma que a assombrava a cada instante. O homem que sempre a tratou com gentileza estava agora lutando para sobreviver, e tudo por culpa de Ricardio.— Seus olhos dizem que sua alma não está aqui, minha querida.A voz profunda e carregada de Ricardio cortou o silêncio como uma lâmina afiada.Lana não se virou de imediato. Fechou os olhos por um instante, sentindo a irritação crescer dentro dela.— O que você quer, Ricardio?
A manhã fria de Milão se estendia sobre o horizonte, envolvendo a cidade em um véu de névoa suave. Lana Peroni observava pela janela do seu quarto, com as mãos delicadamente segurando a taça de café quente. As ruas da cidade estavam começando a ganhar vida, com os primeiros passos das pessoas apressadas para o trabalho, mas dentro da grande mansão Massarotti, o silêncio era ensurdecedor.Lana sabia que ele estava em algum lugar da casa. Ela o sentia, mas ele raramente aparecia. Ricardio Massarotti, seu marido, sempre fora assim. Frio. Distante. E, no fundo de seu coração, Lana sabia que o amor que ela sentia por ele era uma chama que, aos poucos, estava se apagando.Aquela sensação de solidão não era nova para ela. Desde o dia em que se casaram, ela sentira que o amor de Ricardio por ela era uma ilusão. Ele nunca falara sobre amor, apenas sobre o dever de manter o legado de suas famílias. Mas Lana não queria desistir. Ela acreditava, com uma inocência quase tocante, que ele podia apre
A mansão dos Massarotti estava mergulhada em um silêncio sepulcral. Apenas o tic-tac do grande relógio no hall ecoava pelos corredores de mármore. Lana caminhava lentamente pelo salão principal, segurando um livro que pegara na biblioteca, mas não conseguia se concentrar em suas páginas. Seus pensamentos estavam longe dali, presos em um labirinto sem saída.Havia algo de cruel na frieza de Ricardio. Não era apenas indiferença, era como se ele conscientemente se recusasse a vê-la, a reconhecer que ela estava ali, esperando por algo mais do que um casamento de conveniência.O som da porta principal se abrindo quebrou o silêncio. Lana ergueu o olhar e viu Ricardio entrar, acompanhado de seu fiel assistente, Matteo Bernardi. O homem, alto e de feições afiadas, usava um terno escuro tão impecável quanto o de Ricardio. Matteo era um mistério para Lana. Sempre discreto, sempre na sombra do marido, mas presente o suficiente para que ela percebesse que ele não era apenas um funcionário.— Os d
A brisa da noite soprava suavemente pelo jardim da mansão Massarotti, balançando as folhas das roseiras bem cuidadas. Lana sentia o coração pulsar contra o peito enquanto encarava Luca Bellucci. O brilho enigmático nos olhos dele a deixava em alerta.— O que você quer dizer com isso, Luca? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.Luca lançou um olhar rápido para a mansão, como se esperasse que Ricardio surgisse a qualquer momento.— Acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos — disse ele, dando um passo à frente. — Mas você precisa saber a verdade sobre Ricardio.Lana hesitou. Confiar em Luca Bellucci, o filho do maior rival de seu marido, era arriscado. Mas uma parte dela ansiava por respostas.— Se tem algo a dizer, diga agora — retrucou, mantendo a voz firme.Luca suspirou.— Você sabe por que Ricardio aceitou esse casamento, Lana?Ela franziu a testa.— Nossas famílias concordaram que a união beneficiaria ambos os lados.Luca soltou uma risada seca.— Bene
A noite caía sobre Milão, e Luca Bellucci observava a cidade do alto da cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da família. Com um copo de uísque na mão e um sorriso irônico nos lábios, ele esperava notícias de seu informante.Luca não era apenas o herdeiro do império Bellucci — um conglomerado que dominava a indústria imobiliária e investimentos de alto risco na Itália — ele também era um jogador perigoso, alguém que sabia manipular as peças do tabuleiro como poucos. Diferente de Ricardio, que governava com punho de ferro, Luca preferia charme e inteligência. Seu carisma, aliado à sua astúcia, o tornava um adversário imprevisível.Fisicamente, Luca era o oposto de Ricardio. Enquanto o patriarca dos Massarotti era frio e imponente, Luca carregava um ar de sedução quase natural. Alto, com cabelos castanhos levemente bagunçados e olhos verdes profundos, exalava um magnetismo difícil de ignorar. Sua presença era intensa, e ele sabia disso.Seu celular vibrou, interrompendo seus pensamen
O vento soprava suavemente sobre o Lago de Como, trazendo consigo o perfume fresco da água misturado ao aroma das flores ao redor do restaurante. Lana encarava Luca Bellucci do outro lado da mesa, tentando decifrar o que realmente se passava por trás daquele sorriso confiante.O garçom serviu dois pratos delicados de risoto de açafrão e um vinho tinto refinado, mas Lana mal tocou na comida. Sua mente ainda estava presa às palavras que Luca havia dito momentos antes.— Você já sabe que quer muito mais do que tem agora.Ela sabia?A verdade era que, por mais que tentasse negar, havia algo na presença de Luca que a fazia sentir-se... viva. Era um sentimento que há muito tempo não experimentava dentro da mansão Massarotti, onde tudo era frio, calculado e distante.— Você está quieta, — Luca comentou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos. — O que está pensando?Lana suspirou, desviando o olhar para o lago.— Estou pensando que você é um homem perigoso, Luca Bellucci.Ele riu su