Uma semana depois...
AVA THOMPSON Meus olhos se abriram quando ouvi vozes através da porta do meu quarto. Um único pensamento surgiu em minha cabeça e, com ele, um sorriso largo tomou conta do meu rosto. Clara certamente deve estar com a TV ligada e, conhecendo bem aquela sapeca, vai aprontar uma boa travessura por ser meu aniversário. Corri para o banheiro e, minutos depois, já tinha feito minha higiene matinal e trocado de roupa. Deixei o quarto rumo à sala e, assim que entrei no ambiente, ao ver a cena, minha respiração ficou irregular. Um nó se formou em minha garganta ao ver minha irmã em desespero, enquanto um brutamontes tinha enjaulado seus braços fortes e musculosos, puxando seu corpo. Respirei fundo para acalmar meus batimentos, enquanto a voz dela se fazia presente. — Ava, me ajude. Socorrooooo — Clara começou a se debater, tentando se livrar das garras do maldito. — Solte minha irmã, seu infeliz! — gritei furiosa, e as órbitas negras logo ficaram fixas em minha direção. E uma voz potente ecoou no ambiente. — Ou esses dois pagam o dinheiro das drogas que vendem dentro dos potes de doce, que estão devendo ao chefe, ou ela será quem vai sofrer as consequências.As palavras do homem martelavam em minha cabeça, e tudo começou a fazer sentido. Saí do estado em que me encontrava no momento em que o som da voz de Logan preencheu todo o cômodo. Por uma fração de segundos, minha respiração falhou; parecia que o tempo havia parado e nada se movia. — Deixem a Clara. Afinal, qual serventia teria para vocês essa fedelha? Podem levar essa imprestável aí. Apesar de ter 21 anos, ela ainda é virgem. Desta forma, nossa dívida estará quitada, e tenho certeza de que Bernardo Carter ganhará muito mais. — Ele soltou uma risada diabólica que ecoou pelas paredes do ambiente. Nada daquilo fazia sentido. Mil pensamentos se fizeram presentes, e antes que meu cérebro tentasse encontrar as respostas, pois esperava desesperadamente que tudo isso fosse apenas um sonho ruim, o homem que segurava minha irmã a soltou, e sua atenção ficou direcionada para mim. Ele me analisou de cima a baixo e ficou em silêncio. Voltei minha atenção novamente para o homem, que continuava me encarando. Notei como seu olhar era malicioso. Seus lábios se mexeram, e assim que abriu a boca, o silêncio foi quebrado novamente no ambiente. — Pegue-a! — berrou ele. Dois dos homens se moveram e caminharam em minha direção. Senti como se todo o sangue do meu corpo tivesse sido drenado, causando arrepios em todo o meu ser. Não me dando chance de reagir, senti quando as mãos ásperas de um deles seguraram firmemente o meu braço e um grito devastador escapou entre meus lábios. — Nãooooooooo — supliquei desesperada. Quando a mulher a quem sempre amei, apesar de toda a crueldade que vem demonstrando comigo, ouviu o som do ruído, deu alguns passos enquanto o homem intensificou o contato contra o meu corpo. Sendo assim, comecei a me debater, pedindo para ele me soltar. — Tia, não deixem que me levem — supliquei, já com os olhos cheios de lágrimas, mas ela se deteve ao ficar à minha frente. Encontramos os nossos olhares, seus olhos esverdeados fixos nos meus, e tudo que via dentro deles era um ódio que jamais havia percebido. — Nunca mais terei que ouvir a sua voz irritante e olhar para o seu maldito rosto. A única razão pela qual ficamos com vocês era para ter posse do que aquela infeliz da minha prima deixou, algo que serviu para sanar nossas dívidas e nos proporcionou alguns meses de regalias. Por oito anos tive que suportar você, que é a cópia fiel daquela m*****a que tinha por prima, a qual nunca suportei, mas tratei de desempenhar uma boa atuação na frente dela. Porém, hoje eu estou livre desse tormento de ter que olhar para sua cara todos os dias. Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto o som daquelas palavras me atingiu como se tivesse cravado algo no meu peito. Tanto ela quanto o seu esposo pareciam ter ganhado na loteria, tamanho era a felicidade estampada em suas expressões. E quando finalmente saí do estado catatônico em que me encontrava, notei algo perfurando a minha pele e, antes que fosse envolvida por uma escuridão sem fim, ouvi o grito angustiante de Clara. — Ava, não! Algumas horas depois... Escutei alguns barulhos. Meu corpo estava dolorido e meus olhos pareciam grudados. Mal consegui entreabri-los. Respiro fundo e abro os meus olhos bem devagar. Minha cabeça dolorida começa a latejar e a vista está enevoada. As lembranças recentes surgem, causando uma sensação de mal-estar no estômago, e o medo cruza minha mente. De imediato, meus olhos se abrem por completo. Ao tentar me levantar, sinto todo o meu corpo dolorido. No entanto, toda a minha atenção se volta para as mulheres à minha frente e, principalmente, para o som da voz de uma delas que reverbera no ar. — Bem-vinda a Luxuries. — Eu quero sair desse lugar! — Digo firme. — Você precisa ficar calma e fazer tudo que mandarem. Daqui a pouco, todas devem tomar banho e estar arrumadas, pois à noite aqui nesse lugar é uma criança. Engulo em seco. E não preciso ser muito esperta para saber onde estou, já que o nome do ambiente e o jeito como estão vestidas me dão a confirmação. Movida pelo pânico, tento me levantar e correr em direção à porta. Porém, caio no chão e só então percebo o objeto preso em um dos meus tornozelos. Este está interligado a uma corrente que está fixada na parede. Embora aqueles dois que prometeram perante a justiça que iriam nos proteger, porém só queriam o dinheiro que nossos pais haviam deixado, me venderam para pagar sua dívida. Eu não vou ficar aqui. Para isso, eles terão que me matar.Momentos mais tarde... Toda uma movimentação acontecia ao meu redor. O som de várias vozes se fazia presente, no entanto, permaneci sentada no chão, encolhida, enquanto as mulheres andavam de um lado para o outro. O cheiro de diversas fragrâncias impregnava o lugar, assim como a multiplicidade de cores. O brilho e o luxo em excesso predominavam no recinto, mas logo minha atenção se voltou para uma mulher, que aparentava ter cerca de uns cinquenta anos, que surgiu em meu campo de visão. Mas, antes que ela pudesse dizer algo, uma loira muito bonita, que devia ser uns dois anos mais velha do que eu, se pronunciou. — E essa daí não vai se arrumar não, ou a novata pensa que vai ter alguma regalia? – perguntou num tom sarcástico. — Se deseja tanto isso, terão que me forçar. Pois não pertenço a este lugar e não vou sair daqui. - retruquei imediatamente. Sua expressão se tornou uma máscara fria, enquanto um largo sorriso surgiu em seu rosto e, em seguida, o som de sua voz repercutiu. — Pobre criança — disse, sacudindo a cabeça em negativa, e instantes depois prosseguiu — Abigail, aqui todas têm o mesmo tratamento, no entanto, a insolente aí ainda é virgem e você sabe muito bem o que isso significa. — Uma gargalhada estrondosa dada por Abigail tomou conta do lugar, mas logo a voz da mulher ecoou novamente pelos quatro cantos do lugar. "Quero todas vocês no hall em cinco minutos. Não será comigo que terão que mostrar toda essa determinação, mas sim com o seu pior pesadelo." Fiquei desorientada diante de suas palavras. Ela caminhou em direção à porta e, depois de alguns instantes, no lugar que antes estava lotado, fiquei sozinha. Encolhi-me ainda mais e apenas um pensamento se repetia em minha cabeça. "Seja quem for a pessoa a quem ela se referiu, ele ou qualquer outra pessoa, não poderá me obrigar a nada."AVA THOMPSONAs lágrimas grossas transbordam pelo meu rosto e um peso esmagador tomou conta do meu coração ao pensar que Clara ainda está sob os domínios daqueles dois infelizes.Minha cabeça continuava latejando e as palavras que ouvi de Amélia se reproduziam em minha mente como um mantra. Sempre busquei dar o meu melhor, até porque acreditava que eles só me tratavam daquela forma porque não era fácil cuidar de duas pessoas que nem eram suas filhas. Embora cansada por passar a tarde toda sob o sol escaldante, eu acordava cedo para preparar o café da manhã, arrumar a Clara para que juntas pudéssemos ir para a escola e sempre me esforcei para ter as melhores notas. Quando chegava o final de semana, acreditava que poderia descansar, no entanto, eles sempre diziam que precisávamos do dinheiro, então em vez de ir só na parte da tarde, eu trabalhava os dois turnos.Acabei perdendo a noção do tempo que passou. Meus olhos já estavam ardendo de tanto chorar, o barulho de uma melodia ressoava n
AVA THOMPSONNunca em toda a minha vida havia sentido tanto medo. Quando aquele homem avançou em minha direção, eu pensei que seria o meu fim e, muito maior do que a dor que senti pelo golpe desferido em minha barriga, foi o pânico que me envolveu por completo.Meu coração estava acelerado, meus lábios tremiam. Olhei aterrorizada quando ele citou o que faria com a minha irmã. As lágrimas sumiram sem a minha permissão e o medo cru e agudo me dominou.Sempre fui uma sonhadora. Pensei que algum dia me casaria e me entregaria ao meu esposo por livre e espontânea vontade, e não que teria o meu corpo violado.Quando ouvi novamente sua voz, minha respiração falhou. Porém, após proferir suas palavras ameaçadoras, ele caminhou em direção à porta, enquanto as lágrimas escorriam pela minha face e meu estômago espancado doía intensamente.Meu corpo ficou imóvel e acabei perdendo a noção de tudo ao meu redor. Segundos que logo foram substituídos por minutos e minutos que pareceram uma eternidade. N
Um dia depois...VINCENZO ROMANOOs dias passaram voando. Meu pai, por sinal, não teve nenhuma recaída. Ontem, após vários meses ausente, ele foi à filial dos restaurantes e foi recebido com aplausos pelos clientes e funcionários. Tenho muito orgulho de ser seu filho, de saber que ao longo de sua trajetória construiu seu império de forma honesta, sempre respeitando os direitos daqueles que contribuíam com esforço para que nosso grupo crescesse ainda mais. Totalmente focado no trabalho, faz alguns meses que não tenho ido à Luxuries. No entanto, há cinco dias recebi um convite de Bernardo Carter para um grande evento que acontecerá hoje.Apesar de não ser divulgada no site direcionado aos clientes, soube que hoje haverá um leilão, algo que vem acontecendo há vários anos. O que me chamou bastante atenção é que, somente pela descrição da mulher, o lance inicial está bem alto. Apesar de gostar desse mundo obscuro onde posso realizar meus desejos mais primitivos, assim como muitos que freque
VINCENZO ROMANOMeu coração disparou de tal forma que, mesmo tentando controlar o ritmo da minha respiração, ainda conseguia ouvir as fortes batidas que vinham dele. No instante em que ela entrou no ambiente, algo dentro de mim estava descontrolado. Comecei a beber o meu uísque numa tentativa de controlar a agitação que estava sentindo. Quando o leilão começou, parecia algo normal como já havia presenciado antes. Porém, no instante em que ela finalmente levantou a cabeça e seu olhar foi na direção de Bernardo, ao girar novamente o pescoço, ela retirou sua máscara. O que vi diante de mim fez tremores percorrerem todo o meu corpo.Não... Não... Embora tivesse certeza de que era ela, me negava a acreditar. Minha boca ficou seca no mesmo instante em que minha garganta se fechou. A bebida que havia ingerido só serviu para esquentar ainda mais o meu corpo. Uma vez que o incômodo que estava sentindo horas atrás tornou-se cada vez mais intenso. Meus pulmões continuavam funcionando em espasmos,
AVA THOMPSONEu fiquei gélida, incrédula e petrificada. Sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que justamente aquele que por anos vem ocupando os meus pensamentos, o qual sonhava tanto em conhecer, estava ali parado feito uma estátua à minha frente. Uma sensação de alívio pairou sobre mim por alguns instantes.Encaramo-nos por alguns segundos e o silêncio entre nós cresce ainda mais. Diante da calmaria que tomava conta do lugar, de repente, senti como se tivesse levado um tapa no rosto, me fazendo sair daquele estado de devaneio e aceitar a realidade à minha frente, fazendo um misto de sensações tomar conta de todo o meu ser. O alívio deu lugar à decepção, senti um bolo se formar em minha garganta e meu coração apertado dentro do peito Vincenzo Romano, o homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que estou vivendo, estava ali para usufruir do meu corpo, já que pagou uma alta quantia como se eu fosse um objeto
AVA THOMPSONNo fundo do meu coração, ainda havia um fio de esperança de que o homem à minha frente, que era muito mais bonito pessoalmente, ainda era aquele que foi o único capaz de fazer meus batimentos cardíacos ficarem tão acelerados. Em meio às dúvidas, medo e tristeza, quando ouvi sua pergunta, pude ver uma tristeza estampada em seu rosto e a repulsa em seus olhos, me dando a certeza de que ele estava enojado ao descobrir quem de fato era Bernardo Carter.Quando seus dedos tocaram meu rosto, enxugando minhas lágrimas, uma corrente de eletricidade passou por mim. Tinha certeza de que ele podia ouvir meu coração bater, e aquele simples toque trouxe uma calmaria em meio a toda aflição que vinha vivendo nos últimos dias. Ele suspirou pesadamente e pediu que eu contasse toda a verdade. Embora temerosa pelas ameaças contra minha irmã, naquele momento eu tinha a mais pura certeza de que somente Vincenzo Romano poderia me libertar daquele lugar.Nos instantes seguintes, contei tudo o que
AVA THOMPSONNão era segredo para mim que VINCENZO morava no Upper East Side, já que havia lido em uma revista que falava um pouco sobre a família Romano. Porém, quando o veículo chegou ao Central Park depois de alguns minutos, embora sonolenta, não conseguia parar de admirar a paisagem magnífica. Clara ainda não conhecia o lugar pessoalmente, mas eu sim, já que meus pais me trouxeram algumas vezes de carro. No entanto, o automóvel seguiu em movimento e tudo o que olhava fazia jus às fotos que tinha visto na internet.O bairro é considerado o mais chique de Nova York, uma área residencial e elegante, famosa pelos residentes ricos, restaurantes chiques e lojas de luxo ao longo da Madison Avenue. Pouco tempo depois, estávamos andando entre modernos prédios de estruturas diferenciadas. A competição entre eles era acirrada.Depois de alguns minutos, o veículo parou e não demorou muito para que o motorista viesse abrir a porta traseira do carro.- Chegamos, senhorita Ava.Quando saí do auto
Algum tempo depois...AVA THOMPSONTantos pensamentos se misturam em minha cabeça. Por algumas horas, me senti segura ao estar aqui, longe da crueldade daqueles que são capazes de tudo para terem o que desejam, sem se importar em destruir qualquer obstáculo que esteja em seu caminho. Vincenzo fez muito por mim e Clara, mas não poderei mais abusar de sua boa vontade.Fiquei tão perdida em meus pensamentos que só voltei ao meu estado de lucidez quando um mini furacão de cabelos loiros dourados, como de um anjo, abriu a porta e veio correndo em minha direção.__ Ava!Abri meus braços enquanto ela se jogou em cima de mim e a abracei fortemente. A sensação de paz que senti naquele instante era inexplicável. Pela minha irmã, sou capaz de desistir da minha própria vida, e tudo que mais desejo é que ela seja muito feliz. Farei o impossível para que isso aconteça. Instantes depois, era como se ela tivesse engolido um gravador, pois não sei como Clara conseguia falar tanto.Ela acabou contando c