AVA THOMPSON
Nunca em toda a minha vida havia sentido tanto medo. Quando aquele homem avançou em minha direção, eu pensei que seria o meu fim e, muito maior do que a dor que senti pelo golpe desferido em minha barriga, foi o pânico que me envolveu por completo.Meu coração estava acelerado, meus lábios tremiam. Olhei aterrorizada quando ele citou o que faria com a minha irmã. As lágrimas sumiram sem a minha permissão e o medo cru e agudo me dominou.Sempre fui uma sonhadora. Pensei que algum dia me casaria e me entregaria ao meu esposo por livre e espontânea vontade, e não que teria o meu corpo violado.Quando ouvi novamente sua voz, minha respiração falhou. Porém, após proferir suas palavras ameaçadoras, ele caminhou em direção à porta, enquanto as lágrimas escorriam pela minha face e meu estômago espancado doía intensamente.Meu corpo ficou imóvel e acabei perdendo a noção de tudo ao meu redor. Segundos que logo foram substituídos por minutos e minutos que pareceram uma eternidade. Não demorou muito e um de seus capangas retirou o objeto ao qual minha perna estava presa. Quando finalmente consegui me levantar, dei passos lentos em direção ao banheiro. Temendo que aquele monstro pudesse voltar, liguei o chuveiro e deixei que a água morna caísse sobre a minha pele. Assim que terminei, fui em busca de uma toalha. Com o banho já tomado e o tecido enrolado em volta do meu corpo, deixei o enorme cômodo que, por sinal, era muito luxuoso e bem maior do que o quarto onde dormia com Clara. Assim que entrei no ambiente, havia roupas limpas em cima da cama. Aumentei o ritmo dos meus passos e, com os objetos em mãos, voltei para o banheiro e tratei de fechar a porta com a chave. Quando já estava arrumada e retornei para o quarto, a mulher que tinha visto mais cedo - aquela que não mentiu ao dizer que eu iria enfrentar o meu pior pesadelo - surgiu no ambiente. - Trouxe sua comida, eu bem que te avisei. Depois de colocar a bandeja em cima de uma das camas e dizer que aquela seria a minha, ela se moveu em direção à porta e a fechou, sumindo do meu campo de visão. Trancada como um animal. Olhei para a comida em cima da bandeja e deixei as lamentações de lado assim que meu estômago começou a se manifestar. Segui até a cama e comecei a comer. Depois que terminei, fui até o banheiro e encontrei várias escovas de dentes e creme dental, ambos lacrados. Quando retornei, meus olhos passearam pelo ambiente ao meu redor. O quarto era gigantesco, com várias beliches. No entanto, por mais que aquele homem tenha me intimidado, eu não posso perder as esperanças. Aqueles dois se livraram de mim na primeira oportunidade e, depois de saber o quanto Amélia odiava a minha mãe, não posso deixar que minha irmã permaneça junto dela. VINCENZO ROMANO Depois de um dia cheio de reuniões, tudo o que eu queria era chegar em casa. Mas mudei de planos assim que recebi a ligação da minha mãe, informando que meu pai não havia passado bem esta tarde. Para um homem que, desde a sua adolescência, sempre foi muito ativo e conquistou um grande império através do seu trabalho, isso acabou por deixá-lo em um estado depressivo quando sofreu um ataque cardíaco. Meses depois, quando já estava se recuperando, foi diagnosticado com uma infecção pulmonar. Foram dias tratando uma pneumonia que o deixou bastante debilitado e, mesmo com todo o tratamento, ele passou a fazer uso frequente de aparelhos respiratórios. Deixo os pensamentos de lado quando entro no quarto e ouço a voz da minha mãe se dirigindo a mim. - Seu pai perguntou por você hoje cedo. Olho para ele por alguns segundos e então pergunto. - Há quanto tempo ele está dormindo? - Há alguns minutos. Ele não irá acordar agora, acabou de tomar aquele medicamento que sempre o deixa sonolento. Me aproximo da cama onde meu pai está, o mesmo dorme profundamente. Com os olhos fixos no homem à minha frente, as imagens da minha infância passam como flashes na minha mente. Embora vivesse cercado pelo trabalho, ele sempre reservava um tempo em seu dia para estar comigo. Seu maior sonho era ter seu primogênito, o sucessor que pudesse dar continuidade ao seu legado. Assim que minha mãe me relata como ele passou o dia, me despeço dela e, embora tenha uma bela cobertura em um dos prédios mais luxuosos de Nova York, decido que hoje ficarei aqui, assim estarei por perto quando ele acordar. Uma hora depois... Já havia tomado banho e minha mãe trouxe algo para eu comer antes de dormir. Agora me encontro deitado em cima da cama com a mente divagando. Os anos se passaram e, depois de tudo o que aconteceu, me tornei o CEO do grupo Romano antes do tempo que esperava. Meu pai ainda tem esperança de que eu me case logo, tanto que ele me entregou o anel que pertenceu à minha avó, a quem eu amava profundamente. Segundo ele, chegará o dia em que eu não conseguirei lutar contra um sentimento tão grandioso quanto o amor, e que, no momento em que encontrar a pessoa certa, algo dentro de mim mudará para sempre e farei de tudo para proteger aquela que se tornará a dona do meu coração.Sorrio ao lembrar de suas palavras, pois isso é algo que jamais acontecerá. Desta forma, o anel que me foi entregue jamais sairá do lugar onde está guardado há anos. Dias depois... AVA THOMPSON A angústia consumia meu corpo e minha mente. Minha cabeça estava pesada, pois seis dias se passaram e não consigo parar de pensar na minha irmã. A vida aqui não está sendo fácil, o que traz à minha mente lembranças do segundo dia aqui neste cativeiro. Assim como aquele homem de coração gelado falou, me foi permitido sair do quarto durante o dia, para, assim como as outras, ajudar na limpeza do lugar. Quando segui pelo corredor ao lado da senhora Fiona, que é a responsável por todas as mulheres do lugar e se certificar de que a casa esteja em ordem, fiquei olhando para tudo ao meu redor, procurando alguma brecha para que eu pudesse escapar. No entanto, engoli em seco quando ela, que parecia ler meus pensamentos, disse que era bom eu esquecer o que estava pensando, pois o tal Bernardo nunca perdoa aqueles que o devem e, de alguma forma, se eu viesse a escapar, seus homens iriam atrás da minha irmã. Depois de sentir o pânico novamente se espalhar pelo meu corpo, ultrapassamos a porta dupla de entrada, que era vermelha e tinha detalhes que pareciam ser banhados em ouro puro, dando um aspecto colossal e pomposo ao salão. Fiquei com os olhos arregalados e fixos no ambiente; aquilo era luxuoso demais para mim. Olhei para um lustre gigante, repleto de cristais coloridos, que iluminava o recinto. As paredes eram enfeitadas com pinturas que representavam a luxúria do lugar. Até o cheiro do ambiente exalava luxo. Dezenas de mulheres circulavam em volta do hall e Abigail, que estava em cima de um palco, me lançou um olhar que dava a impressão de que não gostou nada da minha presença. Tudo ao meu redor era excessivamente luxuoso. Saí do estado estático em que me encontrava quando ela mandou que continuasse a andar. Assim que ela passou as instruções, comecei a ajudar as outras nos afazeres. Acabei fazendo amizade com Gina, que foi quem falou comigo logo quando acordei do que achava ser um pesadelo. Ela me contou um pouco da sua história, onde seu pai devia uma alta quantia ao senhor Carter e o mesmo havia falecido semanas atrás. Embora sua mãe tenha lutado com todas as suas forças e suplicado, ela acabou aceitando vir para que nada acontecesse à sua mãe. As lágrimas desciam pelo seu rosto e ela também disse que nem todas estavam aqui à força, porque foram coagidas. Abigail e seu grupinho vieram por livre e espontânea vontade, e por isso pareciam tão felizes ao viver neste lugar. Minha rotina acabou se resumindo ao salão, onde tínhamos que deixar tudo brilhando, ir para o quarto e suportar as provocações de Abigail. Ontem acabei perdendo a paciência e acabamos nos atracando no meio do salão, foi quando Bernardo Carter chegou e, segundo ele, tínhamos contas a acertar assim que passasse o leilão. Afasto as lembranças e meu olhar fica fixo no meu reflexo no espelho. Amanhã será o grande dia do meu maior tormento e, embora tenha jurado que sempre iria proteger a Clara, não irei suportar que um estranho venha a tomar posse do meu corpo sem a minha permissão.Um dia depois...VINCENZO ROMANOOs dias passaram voando. Meu pai, por sinal, não teve nenhuma recaída. Ontem, após vários meses ausente, ele foi à filial dos restaurantes e foi recebido com aplausos pelos clientes e funcionários. Tenho muito orgulho de ser seu filho, de saber que ao longo de sua trajetória construiu seu império de forma honesta, sempre respeitando os direitos daqueles que contribuíam com esforço para que nosso grupo crescesse ainda mais. Totalmente focado no trabalho, faz alguns meses que não tenho ido à Luxuries. No entanto, há cinco dias recebi um convite de Bernardo Carter para um grande evento que acontecerá hoje.Apesar de não ser divulgada no site direcionado aos clientes, soube que hoje haverá um leilão, algo que vem acontecendo há vários anos. O que me chamou bastante atenção é que, somente pela descrição da mulher, o lance inicial está bem alto. Apesar de gostar desse mundo obscuro onde posso realizar meus desejos mais primitivos, assim como muitos que freque
VINCENZO ROMANOMeu coração disparou de tal forma que, mesmo tentando controlar o ritmo da minha respiração, ainda conseguia ouvir as fortes batidas que vinham dele. No instante em que ela entrou no ambiente, algo dentro de mim estava descontrolado. Comecei a beber o meu uísque numa tentativa de controlar a agitação que estava sentindo. Quando o leilão começou, parecia algo normal como já havia presenciado antes. Porém, no instante em que ela finalmente levantou a cabeça e seu olhar foi na direção de Bernardo, ao girar novamente o pescoço, ela retirou sua máscara. O que vi diante de mim fez tremores percorrerem todo o meu corpo.Não... Não... Embora tivesse certeza de que era ela, me negava a acreditar. Minha boca ficou seca no mesmo instante em que minha garganta se fechou. A bebida que havia ingerido só serviu para esquentar ainda mais o meu corpo. Uma vez que o incômodo que estava sentindo horas atrás tornou-se cada vez mais intenso. Meus pulmões continuavam funcionando em espasmos,
AVA THOMPSONEu fiquei gélida, incrédula e petrificada. Sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que justamente aquele que por anos vem ocupando os meus pensamentos, o qual sonhava tanto em conhecer, estava ali parado feito uma estátua à minha frente. Uma sensação de alívio pairou sobre mim por alguns instantes.Encaramo-nos por alguns segundos e o silêncio entre nós cresce ainda mais. Diante da calmaria que tomava conta do lugar, de repente, senti como se tivesse levado um tapa no rosto, me fazendo sair daquele estado de devaneio e aceitar a realidade à minha frente, fazendo um misto de sensações tomar conta de todo o meu ser. O alívio deu lugar à decepção, senti um bolo se formar em minha garganta e meu coração apertado dentro do peito Vincenzo Romano, o homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que estou vivendo, estava ali para usufruir do meu corpo, já que pagou uma alta quantia como se eu fosse um objeto
AVA THOMPSONNo fundo do meu coração, ainda havia um fio de esperança de que o homem à minha frente, que era muito mais bonito pessoalmente, ainda era aquele que foi o único capaz de fazer meus batimentos cardíacos ficarem tão acelerados. Em meio às dúvidas, medo e tristeza, quando ouvi sua pergunta, pude ver uma tristeza estampada em seu rosto e a repulsa em seus olhos, me dando a certeza de que ele estava enojado ao descobrir quem de fato era Bernardo Carter.Quando seus dedos tocaram meu rosto, enxugando minhas lágrimas, uma corrente de eletricidade passou por mim. Tinha certeza de que ele podia ouvir meu coração bater, e aquele simples toque trouxe uma calmaria em meio a toda aflição que vinha vivendo nos últimos dias. Ele suspirou pesadamente e pediu que eu contasse toda a verdade. Embora temerosa pelas ameaças contra minha irmã, naquele momento eu tinha a mais pura certeza de que somente Vincenzo Romano poderia me libertar daquele lugar.Nos instantes seguintes, contei tudo o que
AVA THOMPSONNão era segredo para mim que VINCENZO morava no Upper East Side, já que havia lido em uma revista que falava um pouco sobre a família Romano. Porém, quando o veículo chegou ao Central Park depois de alguns minutos, embora sonolenta, não conseguia parar de admirar a paisagem magnífica. Clara ainda não conhecia o lugar pessoalmente, mas eu sim, já que meus pais me trouxeram algumas vezes de carro. No entanto, o automóvel seguiu em movimento e tudo o que olhava fazia jus às fotos que tinha visto na internet.O bairro é considerado o mais chique de Nova York, uma área residencial e elegante, famosa pelos residentes ricos, restaurantes chiques e lojas de luxo ao longo da Madison Avenue. Pouco tempo depois, estávamos andando entre modernos prédios de estruturas diferenciadas. A competição entre eles era acirrada.Depois de alguns minutos, o veículo parou e não demorou muito para que o motorista viesse abrir a porta traseira do carro.- Chegamos, senhorita Ava.Quando saí do auto
Algum tempo depois...AVA THOMPSONTantos pensamentos se misturam em minha cabeça. Por algumas horas, me senti segura ao estar aqui, longe da crueldade daqueles que são capazes de tudo para terem o que desejam, sem se importar em destruir qualquer obstáculo que esteja em seu caminho. Vincenzo fez muito por mim e Clara, mas não poderei mais abusar de sua boa vontade.Fiquei tão perdida em meus pensamentos que só voltei ao meu estado de lucidez quando um mini furacão de cabelos loiros dourados, como de um anjo, abriu a porta e veio correndo em minha direção.__ Ava!Abri meus braços enquanto ela se jogou em cima de mim e a abracei fortemente. A sensação de paz que senti naquele instante era inexplicável. Pela minha irmã, sou capaz de desistir da minha própria vida, e tudo que mais desejo é que ela seja muito feliz. Farei o impossível para que isso aconteça. Instantes depois, era como se ela tivesse engolido um gravador, pois não sei como Clara conseguia falar tanto.Ela acabou contando c
AVA THOMPSONComo ele já havia informado horas atrás, assim que terminasse de resolver alguns assuntos, íamos sair. Clara está eufórica, afinal, jamais colocou os seus pés em um shopping. Já dentro do veículo, o mesmo foi colocado em movimento ao lado do motorista. Tinha um dos seguranças, enquanto nós três estávamos acomodados nos bancos traseiros. O homem que estava sentado ao meu lado mantinha sua atenção no seu notebook, enquanto minha irmã tinha seus olhos arregalados, analisando cada imagem por onde o automóvel passava.O trânsito estava calmo e o trajeto foi rápido. E quando o carro parou, saímos do veículo e, pela primeira vez, ela viu um shopping em sua frente. Ela ficou parada olhando por longos minutos, feito uma boba.- É muito mais bonito do que eu imaginava - Clara falou no instante em que passamos pelas enormes portas de vidro. Assim como ela, eu estava maravilhada com tudo a minha volta. Qualquer um que olhasse para nós duas logo saberia que éramos duas pobretonas que n
Na manhã seguinte...VINCENZO ROMANOUm mundo que para muitos é sinônimo de devassidão, mas no qual eu vivia em busca da lascívia carnal e do prazer absoluto. Embora já tivesse tido os mais variados tipos de mulheres à minha disposição, de várias idades, nacionalidades e temperamentos, exclusivamente para meu deleite, além da minha mãe e das funcionárias da minha casa, nenhuma outra mulher havia entrado em minha casa. No entanto, desde aquele leilão, sensações que eu não conhecia pairaram sobre mim. Meu coração está constantemente agitado e, ao ver a felicidade nos olhos de Clara, tive a confirmação de que estou fazendo a coisa certa.Foi sem dúvida obra do destino que me fez reencontrá-la novamente, e fico extremamente feliz em poder contribuir para que elas se sintam protegidas e possam recomeçar. Ontem, quando chegamos em casa, recebi uma ligação da minha mãe e acabei contando tudo o que havia acontecido no dia anterior, visto que já havia saído nos noticiários. Embora não tenham me