O LEILÃO

Um dia depois...

 

VINCENZO ROMANO

 

Os dias passaram voando. Meu pai, por sinal, não teve nenhuma recaída. Ontem, após vários meses ausente, ele foi à filial dos restaurantes e foi recebido com aplausos pelos clientes e funcionários. Tenho muito orgulho de ser seu filho, de saber que ao longo de sua trajetória construiu seu império de forma honesta, sempre respeitando os direitos daqueles que contribuíam com esforço para que nosso grupo crescesse ainda mais. Totalmente focado no trabalho, faz alguns meses que não tenho ido à Luxuries. No entanto, há cinco dias recebi um convite de Bernardo Carter para um grande evento que acontecerá hoje.

 

Apesar de não ser divulgada no site direcionado aos clientes, soube que hoje haverá um leilão, algo que vem acontecendo há vários anos. O que me chamou bastante atenção é que, somente pela descrição da mulher, o lance inicial está bem alto. Apesar de gostar desse mundo obscuro onde posso realizar meus desejos mais primitivos, assim como muitos que frequentam o lugar, ciente de que Bernardo Carter é um homem que não está envolvido com negócios ilícitos, tratei de questionar aquelas com quem tive alguma aproximação sobre como elas entraram na Luxuries para não ter nenhuma dúvida.

 

Fiquei satisfeito com tudo o que ouvi, já que elas afirmam que vieram por suas próprias escolhas, pois jamais compactuaria com nenhuma exploração humana e tampouco me manteria calado diante do tráfico humano ou de alguém que possa estar sendo coagido a ter seu corpo violado sem seu consentimento. Fico perdido em meus pensamentos até o momento em que o carro se aproximou do desvio que dava acesso à praça e bastou um comando para que o homem à frente do volante seguisse adiante. Quando passamos pelo local, meus olhos foram direcionados para o lugar onde conheci a dona dos olhos que jamais saíram das minhas lembranças. Embora tão bonita, ela ainda era uma fedelha.

 

Minutos se passaram e, assim que cheguei ao meu destino, coloquei minha máscara e saí do carro. Enquanto dois dos meus seguranças vieram atrás de mim, outros 3 permaneceram do lado de fora. Com passadas firmes e precisas, seguimos em direção à entrada principal. Depois de digitar o meu código, nossa entrada foi liberada e seguimos em frente. Atravessamos o longo corredor e as portas duplas foram abertas, revelando o jogo de luzes do ambiente, fazendo um contraste perfeito com os lustres de cristais pendurados no teto, deixando o local com o cenário ideal para o momento. A multiplicidade de vozes que se misturavam com a música tocada desviou minha atenção por uma fração de segundos. A casa estava completamente cheia. Meus olhos circulam pelo grande salão. Alguns clientes dançavam rodeados das mulheres. Segui em direção à mulher que estava me aguardando e fui encaminhado até uma das mesas, e não demorou muito para Abigail aparecer em minha frente.

 

- Quanto tempo, gostosão? - disse com a voz melosa, embora muito bonita e sendo uma mulher capaz de proporcionar bastante prazer a qualquer homem. Já havia dado para perceber que ela era bastante ambiciosa.

Antes que viesse a responder algo, Carter apareceu e ao seu lado estava o leiloeiro, o qual já conhecia bem. Este fez um gesto e o homem seguiu em direção ao palco. Sob a mira de dezenas de pares de olhos, o leiloeiro pediu atenção de todos. Um desafio silencioso foi lançado. Todos estavam com sua atenção voltada para ele. E, quando a voz dele se fez presente novamente, uma grande agitação se formou ao meu redor.

 

— Senhores, uma boa noite a todos e agora quero apresentar a nossa mais bela beldade para o leilão dessa noite.

Ela é dona de uma beleza exuberante, a perfeição em forma de mulher. Acredito que seus traços são parecidos com os da própria Eva do jardim. Seu corpo escultural e beleza são ímpares e, embora ainda seja virgem, seu objetivo é lhes proporcionar muito prazer.

Com vocês, a estrela da noite, Ava Thompson.

 

Os jogos de luzes foram direcionados para um único local. Uma melodia ecoou no espaço e todos os olhares que antes estavam fixos na direção do palco se voltaram para ela. Meu corpo todo paralisou. Olhei para os lados e alguns pareciam não acreditar na imagem à sua frente. Outros tinham em seu olhar a luxúria em excesso. E, quando ela caminhou lentamente em nossa direção, embora usasse uma máscara e mantivesse a cabeça baixa, todos os meus órgãos internos dispararam. No mesmo instante, uma onda de eletricidade tomou conta de mim.

O que diabos está acontecendo comigo?

 

AVA TOMPSON

 

Hoje, finalmente chegou o dia de encarar todos os meus problemas de frente. Meu coração está a um passo de sair pela minha boca. Não tenho palavras para descrever o turbilhão de sensações que se apoderou de todo o meu ser. Estou tentando me manter calma. Desde ontem, o medo me dominou ao cogitar que estaria vestida desse jeito e sendo avaliada por vários pares de olhos de predadores famintos e loucos para devorar sua presa, "EU". Meus pulmões estavam funcionando aos espasmos. A sensação que sentia era que na minha garganta tinha uma corda e que automaticamente um nó imenso se formava. Cada vez que respirava, esse ia se apertando e me sufocando. Minhas pernas estavam tão bambas que não paravam de tremer.

 

_ Venha!_ ordenou a rabugenta da senhora Fiona. Queria me rebelar, mas logo me veio a imagem do rosto de Clara, então suspirei fundo e, com um giro nos calcanhares, me movi em direção à porta. A cada passo que dava pelo imenso corredor, a sensação era como se nunca mais fosse passar por ele novamente. Um forte incômodo pairou sobre mim. Uma sensação ruim de que algo hoje alteraria minha vida para sempre. Contudo, era algo indecifrável e não sabia distinguir se era algo bom ou ruim.

Detive-me assim que paramos em frente às portas duplas do grande hall. E, ao ouvir o meu nome, o meu coração que já estava agitado começou a bater descontroladamente. Minhas pernas ficaram petrificadas e meus pulmões estavam em chamas.

 

___Nem pense em fazer nenhuma besteira ou sabe o que vai acontecer.

 

Respirei profundamente. Assim que as portas foram abertas e as luzes focaram em minha direção, todos os olhares foram direcionados para um único lugar, onde eu estava. Embora trêmula, segui com passadas firmes e precisas, caminhando elegantemente. Agradeço mentalmente por estar de cabeça baixa e assim não ver os olhares dos abutres lançados em minha direção, como se eu fosse um prato de comida.

Quando finalmente cheguei próximo ao palco, um homem que estava impecavelmente vestido como os demais e tinha um microfone em uma das mãos se manifestou.

- O lance inicial está em $500 mil dólares. Vamos começar os lances agora.

Por alguns segundos, o silêncio se fez presente. Olhei para Carter e ele fez um sinal para que eu retirasse a máscara, e assim o fiz. O silêncio foi quebrado quando uma voz grave ecoou no ambiente, causando náuseas em mim ao ver um velho, que tinha idade para ser meu pai, levantar sua plaqueta.

- $550 mil dólares - Bernardo esboçou um largo sorriso.

Meus pensamentos foram interrompidos quando novamente outro lance foi dado. Movi a cabeça para o lado, indo de encontro ao dono da voz que tinha sua plaqueta levantada. Novamente era outro senhor, um pouco mais novo, mas devia ter uns 50 anos.

 

— $600 mil de dólares — novamente olhei para Carter, que parecia satisfeito.

 

O que aconteceu nos minutos seguintes parecia surreal. Os dois homens começaram a travar um duelo, e com ele os valores estavam cada vez mais altos. Nem minha própria saliva descia pela minha garganta. A única coisa que vinha à minha mente era o que faria quando o leilão chegasse ao fim. O leiloeiro disse um valor e fez com que o lugar ficasse em um silêncio total. — Eu ouvi alguém dizer $1 milhão de dólares?

 

O silêncio predominou no espaço e parecia que havia chegado ao fim. Tremores percorreram o meu corpo e meu estômago revirou ao saber que aquele senhor, que certamente tinha idade para ser o meu pai, havia dado o maior lance. Assim que os lábios do leiloeiro se moveram, uma voz grave ecoou, ganhando a atenção de todos.

 

— $1 milhão de dólares.

 

De repente, senti meu coração agitado. Ao contrário dos outros dois, o homem era jovem, porém, devido à máscara, não dava para ver direito suas feições.

 

Um desafio silencioso foi lançado e logo após o leiloeiro disse: — Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. O cavaleiro acabou de adquirir uma noite inteira com a nossa estrela da noite. Os aplausos ecoaram em volta do ambiente. Bernardo se aproximou do homem e eles conversaram por alguns instantes. Passaram-se minutos que pareciam uma eternidade e, quando ele fez o sinal, o homem veio em minha direção. Nunca me senti tão humilhada. Vendida como um objeto, eu estava tão atordoada que não havia percebido a aproximação da senhora Fiona, só senti ela me puxando.

 

Antes de deixar o salão em direção ao corredor, a última coisa que vi foi um sorriso de ponta a ponta de orelha estampado no rosto do tirano Bernardo Carter.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo