Capítulo 3
Heloísa estava em uma entrevista com uma multinacional do setor farmacêutico.

O cargo que ela realmente desejava era o de supervisora de vendas, mas, devido à sua idade de trinta anos sem filhos e dois anos fora do cargo, acabou recebendo a posição de assistente de vendas.

O salário base era de quatro mil e quinhentos reais, com comissões mensais sobre vendas; se Heloísa não vendesse nada nos primeiros três meses, teria que se demitir.

Ao se lembrar de quando pediu demissão, Heloísa se sentiu amarga.

Ela tinha-se saído muito bem no trabalho, e seu gerente a incentivou a não deixar a empresa por causa do casamento.

Porém, Heloísa, como uma mariposa atraída pela chama, mergulhou na vida conjugal, buscando a felicidade que, no fim, trouxe apenas dor.

Agora, ao tentar voltar ao trabalho, encontrava muitas dificuldades.

Esse era o preço do casamento.

Com um sorriso amargo, Heloísa assinou os papéis de admissão. Ela acreditava em si mesma e estava determinada a ter sucesso, nunca vai parar por aí.

Ela só irá trabalhar oficialmente amanhã. Após finalizar o processo, saiu da empresa e seguiu para o endereço que Patrício lhe havia dado. Ao bater à porta, foi rapidamente atendida por ele, que, com uma expressão neutra, disse:

— Voltou.

Heloísa, mantendo a cortesia, respondeu:

— Sim, comprei algumas coisas para comer. Se você não jantou, poderíamos comer juntos?

Patrício hesitou por um momento, e Heloísa pensou que ele fosse recusar, mas, para sua surpresa, aceitou:

— Certo, vou buscar a tigela.

Ele também trouxe uma garrafa de vinho de frutas.

Na mesa, Heloísa ergueu seu copo em agradecimento:

— Obrigada por me ajudar hoje no Local de Registro do Casamento.

Patrício sorriu de forma sutil e não se importou e disse em voz profunda:

— Apenas pense que sou corajoso. Somos parceiros, afinal.

Um pouco envergonhada, Heloísa comentou:

— O aluguel do quarto será pelo preço de mercado; vou-te pagar os dois primeiros meses quando receber meu salário.

Patrício assentiu.

Após o jantar, ele sugeriu:

— Ainda é cedo. Que tal irmos ao shopping? Com a casa mais cheia, precisamos de algumas coisas. Dividimos os gastos.

Heloísa concordou e se levantou, sorrindo:

— Claro.

Como não tinham carro, foram a pé. Felizmente, o shopping não era longe, e em menos de quinze minutos chegaram.

Ao entrarem e começarem a empurrar o carrinho de compras, quando foram para a área doméstica, Patrício de repente parou.

Heloísa seguiu o olhar de Patrício e, por um momento, seu corpo ficou paralisado.

O caminho dos inimigos é estreito.

A poucos passos à frente, Lorena estava de braços dados com Isaac, repousando carinhosamente sua cabeça em seu ombro.

Ao lado deles, a irmã de Isaac, Nicole Assis, observava a cena com um sorriso sarcástico.

Lorena, ao perceber Heloísa, pareceu surpresa e exclamou:

— Heloísa, você também está aqui comprando coisas para a nova casa?

O semblante de Isaac escureceu instantaneamente.

Nicole cruzou os braços, rindo de forma desdenhosa:

— Heloísa, você ainda tem coragem de aparecer? Você acabou de se divorciar e logo casou com outro homem. Está desonrando a família Assis!

Assim que essas palavras saíram, muitos olhares se voltaram para Heloísa. Aquela moça tão bonita, e ainda assim tão rebaixada?

Heloísa apertou inconscientemente o edredom que segurava nas mãos.

Ela sempre teve uma relação ruim com Nicole, que a atormentou durante os dois anos em que foi parte da família Assis, até mesmo uma vez jogando suco de pêra quente nela. Essa cena de humilhação não era nova.

No passado, por Isaac, Heloísa suportou tudo isso. Mas sua paciência não resultou em paz.

Uma sensação de sufocamento tomou conta dela, e, olhando para Nicole, sua voz saiu baixa e contida:

— Eu me casei imediatamente após o divórcio, mas e você? Seu irmão também não fez o mesmo? Eu e meu marido temos um casamento legítimo; você e Lorena ainda não se casaram. Quem é mais digno aqui?

Isaac, ao ouvir isso, franziu a testa, a raiva tomando conta dele:

— Heloísa, o que você quer dizer com isso? Eu e Lorena nos amamos de verdade, e você não tem direito de opinar! Entenda seu lugar!

Nicole se juntou a ele, zombando:

— Olha para você! Falar de casamento legítimo quando você mesma foi infiel? Você realmente se acha comparável a eles?

Foi como se um soco tivesse atingido o peito de Heloísa, fazendo seu coração apertar. “Identidade? Quando Isaac estava com Lorena, eu era a nora da família Assis, agora sou esposa de Patrício. Eu os deixei juntos, mas sou eu quem recebe insultos sobre a minha dignidade.”

Olhou para Isaac, seus olhos estavam um pouco silenciosos e sua voz ficou suave:

— Você pode ficar tranquilo, eu desejo mais do que tudo não ter mais nada a ver com vocês.

Enquanto falava, seu rosto mostrava uma expressão de desolação, como se uma flor que estava prestes a desabrochar tivesse sido brutalmente atingida pela geada, perdendo de uma só vez toda a sua vitalidade.

Uma sensação estranha passou pelo coração de Isaac. Ele não pôde evitar lembrar do sorriso radiante de Heloísa no dia do casamento, dois anos atrás e disse:

— Por favor, me dê mais conselhos para o resto da minha vida.

Lorena, percebendo a distração dele, deu um leve toque na mão dele e sussurrou:

— Isaac, talvez devêssemos deixar isso para lá. Heloísa não parece ter má intenção...

Isaac voltou a si. “Casar com Heloísa foi apenas uma estratégia; o amor da minha vida é Lorena.”

Patrício, impaciente, lançou um olhar a Heloísa e comentou:

— Melhor que você diga isso mesmo!

Isaac puxou Lorena e se virou para ir embora. Nicole, frustrada, se lançou contra Heloísa, fazendo com que ela não tivesse tempo de se defender. Quando Heloísa pensou que iria cair, uma mão apareceu ao seu lado, segurando sua cintura e a puxando para o lado.

Nicole usou toda a sua força, mas Heloísa conseguiu desviar. Nicole acabou caindo em cima de uma prateleira, fazendo com que os produtos se espalhassem pelo chão.

“Chuck!”

A cena atraiu mais olhares curiosos.

Nicole, furiosa, gritou:

— Heloísa, você fez isso de propósito, não foi?

Funcionários correram até o local, chocados com a bagunça:

— O que aconteceu aqui?

Nicole apontou para Heloísa, indignada:

— Encontrem ela! É culpa dela!

Os funcionários hesitaram, olhando para Heloísa:

— Senhora, você vai ter que pagar pelos danos causados aqui...

Todos estavam olhando para Heloísa, mas ninguém a defendia, nem mesmo Isaac e Lorena, que haviam visto a agressão.

Heloísa sentiu um aperto no coração, invadida por uma solidão e impotência profunda. Ela tentou se explicar:

— Não fui eu...

Mas suas palavras pareciam vazias no ar.

De repente, uma mão forte se posicionou ao seu lado, envolvendo ela suavemente na cintura, como se estivesse ali para lhe dar apoio. A figura alta e firme de Patrício estava ao seu lado.

— Eu testemunhei. Minha esposa não encostou nos produtos. Foi a Srta. Nicole que a abalou e derrubou a prateleira.

Nicole gritou, sua voz cheia de raiva:

— Você está mentindo! Estão todos tentando-me difamar. Você quer proteger essa mulher maldosa e está-me acusando injustamente!

Patrício, com uma expressão impassível, olhou fixamente para os funcionários:

— Verifiquem as gravações das câmeras. Se houver disputas sobre isso, podem chamar a polícia. Mas minha esposa não vai aceitar uma acusação que não cometeu.

A voz de Patrício era calma e firme, como uma pílula tranquilizadora, e a segurança que ele transmitia fez o coração de Heloísa se acalmar lentamente.
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