Capítulo 8
Ivo virou o rosto, sua voz soando um tanto artificial:

— Isso não te diz respeito. Não pense demais, ela e eu simplesmente não conseguimos mais viver juntos.

Clara, com as mãos na cintura, furiosa, apontou para Ivo e disse:

— Você ainda tem coragem de falar isso! Eu cuidei de você por três anos, já fiz o suficiente por você, não fiz? Tudo que pedi foi que você conversasse com sua filha; eu estava errada? Não era para o bem dela? Heloísa se separou, como ela vai sustentar nossa família?

Ivo, um homem honesto, não conseguia proferir palavras cruéis. Sua expressão estava sombria, as mãos firmemente segurando os apoios da cadeira de rodas:

— Você não disse isso antes!

Aquelas palavras odiosas eram insuportáveis para qualquer pai. Heloísa, querendo evitar mais conflito para o pai, se aproximou e empurrou a cadeira de rodas:

— Pai, volte para o quarto. Eu converso com a tia Clara.

Ivo segurou a mão de Heloísa, seus olhos normalmente bondosos agora cheios de determinação:

— Heloísa, não se preocupe comigo. Eu me cuido. Se ela quiser se divorciar, deixe ela ir. Não quero ver você sofrendo.

Se apegando à mão de Heloísa, sua pegada era áspera, mas transmitia calor. Heloísa forçou um sorriso:

— Pai, está tudo bem. Não se preocupe. Tive um pequeno desentendimento com a tia Clara mais cedo, ela ficou brava comigo, mas vamos esclarecer isso.

Ivo suspirou profundamente, sem dizer mais nada, permitindo que a filha o empurrasse de volta para o quarto. Quando Heloísa fechou a porta e saiu, Clara, com uma expressão altiva, declarou:

— Não adianta você me implorar. Ou você pede desculpas à família Assis e implora para que eles te aceitem de volta, ou você processa eles. Você precisa exigir uma grande quantia em dinheiro da família Assis, ou então eu não ficarei mais aqui!

Heloísa olhou para Clara e respondeu:

— Você está simplificando demais as coisas. Isaac não vai querer voltar comigo. Se isso acontecer, a família Assis perderia toda a honra, e para eles, a honra é mais importante que a vida.

Clara, franzindo a testa, insistiu:

— Então exija dinheiro deles! Os bens da família Assis são propriedade conjunta de vocês, você tem que exigir pelo menos alguns milhões de reais!

Heloísa balançou a cabeça:

— Não dá. Antes do casamento, fizemos um acordo pré-nupcial, e Isaac já adiantou dez anos de salário. Ele só terá uma renda de cem reais por ano no futuro.

Esse foi o acordo que Eunice aceitou para permitir o casamento, uma forma de proteger Heloísa.

Portanto, do ponto de vista legal, Heloísa não conseguiria nada com o divórcio.

— E mais. — Heloísa olhou para Clara. — Você sabe o que aconteceu com a última pessoa que causou problemas na porta do Grupo Assis? Ela foi processada e teve que pagar cento e vinte mil reais ao Grupo Assis.

A expressão de Clara empalideceu; ela definitivamente não tinha cento e vinte mil reais!

Só naquele momento, Clara percebeu que Heloísa não conseguiria nada da família Assis após o divórcio, acabando sendo um beco sem saída.

Clara franziu o cenho, olhando Heloísa com um olhar cortante:

— Não me culpe por isso. Olhe como eu cuidei do seu pai nestes três anos. Você pode ver. Agora você está divorciada e sem emprego, e seu pai custa mais de cinco mil reais por mês. Martim na escola custa mais de quatro mil reais por mês; somando tudo, dá mais de dez mil reais, sem contar as despesas de casa. Como você vai nos dar esse dinheiro? Eu não quero ser arrastada para essa situação!

Heloísa compreendeu a urgência de Clara. O único filho dela, Martim, estava em uma escola particular e tinha um desempenho péssimo, sempre se metendo em problemas. Clara estava preocupada com o futuro de Martim: a faculdade, o emprego, o casamento; cada etapa exigia dinheiro.

E a família Rosário, claramente, não poderia fornecer esse apoio financeiro a Clara.

Antes, Clara achava que poderia contar com a família Assis, mas agora essa possibilidade também desaparecera.

Heloísa, sem muitas alternativas, precisava que Clara cuidasse de seu pai, então decidiu negociar:

— Eu posso pagar quinze mil reais por mês. Você me dá três meses, pode ser? Nesse tempo, você pode procurar um novo parceiro. Eu só preciso de três meses. Se, ao final desse período, eu ainda não tiver dinheiro, eu te dou mais dez mil reais e você pode ir embora a qualquer momento.

Isso, sem dúvida, era um bom negócio.

Clara fez as contas mentalmente: “Quinze mil reais por mês, ficando com sete mil reais, totalizando vinte e um mil reais em três meses. Somando os dez mil que Heloísa prometeu, dá trinta e um mil reais. E ainda por cima, Heloísa não está-me limitando a procurar um novo homem.”

Clara já estava tentada, mas se lembrou das exigências dos outros pais na escola naquela tarde. Apertando os dentes, disse:

— Primeiro, preciso ver sua seriedade. Você me dá cem mil reais como garantia, e três meses depois eu te devolvo.

Heloísa franziu a testa:

— Cem mil reais? Isso é excessivo.

As condições que Heloísa ofereceu eram o máximo que podia dar.

Clara estava visivelmente incomodada, cruzou os braços, indignada:

— Se você não colocar cem mil reais na mesa, não tenho mais nada a discutir!

Heloísa mordeu o lábio, suplicando:

— Tia Clara, por favor, só me ajude um pouco...

Antes que Heloísa pudesse terminar a frase, Clara a interrompeu com uma risada amarga:

— Ajudar você? Eu não sou uma instituição de caridade! E se eu ajudar você, quem vai-me ajudar?

— Tia Clara... — Heloísa apertou os dedos, se sentindo um pouco perdida. — Eu realmente não consigo juntar esse tanto de dinheiro.

Clara soltou uma risada fria:

— Não me importa. Não diga que não estou te ajudando. Vou te dar três dias. Se você não conseguir o dinheiro até lá, eu vou embora!

Após essas palavras, Clara se levantou e foi para seu quarto, fechando a porta com força.

Heloísa ficou sentada na sala, o coração pesado.

De fato, Heloísa só tinha cinco mil reais, e com o pai precisando de cuidados, e as despesas com a casa, cada centavo precisava ser bem planejado.

Clara queria cem mil reais; dizia que devolveria em três meses, mas será que ela realmente faria isso? Ninguém podia garantir.

Os custos com cuidados domiciliares eram altos. Heloísa já havia pesquisado isso três anos atrás. Para um paciente que precisava de atenção constante como seu pai, os custos eram, no mínimo, trinta mil reais por mês, sem contar os gastos com reabilitação. Heloísa simplesmente não tinha como arcar com isso.

Além do mais, a qualidade dos cuidadores não era garantida. Heloísa tinha certeza de que, mesmo que conseguisse o dinheiro, sua situação no trabalho não permitiria essas despesas.

Ambas as estradas estão bloqueadas.

Depois de um tempo, Heloísa soltou um profundo suspiro. Forçando um sorriso, ela entrou no quarto do pai.

Ivo estava sentado à mesa, perdido em pensamentos, com uma foto de família à sua frente — uma lembrança de três anos atrás, quando os três ainda estavam juntos.

Um acidente de carro destruíra a família Rosário.

— Pai. — Heloísa conteve a dor no peito ao o chamar.

Ivo pareceu despertar de uma memória terrível. Seu corpo tremeu levemente ao ver Heloísa, mas rapidamente voltou ao normal e perguntou:

— Vocês já terminaram a conversa?

Heloísa sorriu:

— Na verdade, foi apenas um pequeno mal-entendido. Já pedi desculpas à tia Clara. Fique tranquilo, ela prometeu que cuidará de você direitinho, vamos superar isso juntos.

Ivo respirou aliviado e deu uma tapinha na mão de Heloísa:

— Você também precisa se cuidar. Eu sei que você está passando por momentos difíceis. Não se sobrecarregue. Se for necessário, podemos vender a casa. Para mim, você sempre será a mais importante.

A sensação de um nó na garganta tomou conta de Heloísa, e as lágrimas quase escaparam de seus olhos, mas ela as segurou:

— Pai, não se preocupe. Estou bem.

Temendo que Ivo percebesse sua angústia, Heloísa rapidamente inventou uma desculpa para se afastar.

Ivo, sentado à mesa, pegou o porta-retratos, observando a foto da família sorridente...

Ele olhou por um tempo, fechou os olhos, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto:

— Heloísa, eu sinto muito por você...

Mas havia coisas que Ivo não podia dizer, coisas que não tinha coragem de expressar...
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