Capítulo 7
Patrício soltou Isaac e segurou a mão de Heloísa, levando-a para longe. Isaac massageava o pulso, que ainda doía, enquanto observava as costas dos dois, seus dentes cerrando a ponto de sangrar.

Isaac nunca se sentira tão fraco em toda a sua vida!

Lorena, sentindo pena, apertou a mão de Isaac e, com descontentamento, comentou:

— Heloísa foi muito além dos limites, como ela pude agredir você?

Isaac mantinha o olhar sombrio, em silêncio.

“Em toda a Cidade B, ninguém ousou desafiar a família Assis. Heloísa, desta vez, você se colocou nessa situação!”

Do outro lado, ao saírem da Área de Far Hills Villa, Heloísa se afastou lentamente da mão de Patrício, se sentindo culpada.

— Na verdade, pedir desculpas a eles não seria um problema. Agora, ao te envolver nisso, a família Assis não vai nos deixar em paz.

Patrício apertou a mão vazia de nervosismo, mas sorriu ao dizer:

— Não se preocupe, tenho um amigo advogado que é muito bom. Podemos vencer essa causa.

Heloísa suspirou levemente. O mundo dos ricos não era tão simples assim. O Grupo Assis mantinha uma legião de advogados, todos especialistas em litígios; um advogado comum não seria rival para eles. Contudo, agora, qualquer coisa que dissesse era inútil, especialmente porque ele tinha ajudado Heloísa.

Ela se virou para Patrício:

— Você ainda não almoçou, certo? Deixe-me te convidar. O que você gostaria de comer?

Patrício respondeu:

— Vamos comer algo simples, você ainda precisa voltar ao trabalho.

Heloísa assentiu, e os dois entraram em um pequeno restaurante, cada um pedindo um prato. O local era modesto, com poucas mesas e uma decoração simples. A presença de Patrício, com seu ar nobre, parecia deslocada naquele ambiente.

Ele se levantou para pegar um copo de água e o colocou à frente de Heloísa:

— Beba um pouco.

Heloísa agradeceu. Sem beber água por toda a manhã e sob o sol por duas horas, seus lábios estavam secos e rachados. Ela pegou o copo e tomou pequenos goles.

Ambos estavam em silêncio, a atmosfera carregava uma leve tensão. Patrício comia macarrão de arroz frito com pauzinhos elegantemente, ele tinha uma sensação de comer comida francesa, enquanto Heloísa não conseguia desviar o olhar do relógio em seu pulso.

Ela se lembrou de que Isaac também tinha um relógio idêntico ao de Patrício, uma edição limitada de uma marca de luxo, difícil de encontrar. Isaac havia pago um preço alto e ainda pedido ajuda para o conseguir. Um relógio de milhões de reais, claramente fora do alcance de um vendedor comum.

— Esse relógio... — Heloísa hesitou ao começar.

— Este relógio é emprestado de um amigo, assim como o terno. — Patrício respondeu com naturalidade. — Você sabe como é nosso trabalho; às vezes, precisamos de algumas coisas boas para nos apresentar.

Ao ouvir as palavras de Patrício, as dúvidas de Heloísa se dissiparam. No setor de vendas, ao contrário de outras profissões, era preciso uma certa "chave" para adentrar em círculos específicos.

Patrício já havia terminado de comer. Ele limpou os lábios com um guardanapo e, com as mãos sobre a mesa, perguntou casualmente:

— Como você conheceu o Isaac?

Heloísa hesitou, permanecendo em silêncio. Patrício a observou.

— Não quer falar sobre isso?

— Não é isso. — Heloísa balançou a cabeça, seu olhar carregava a dor de lembranças passadas. — Há três anos, meus pais sofreram um acidente de carro. Minha mãe morreu na hora, e meu pai ficou com a coluna ferida, paralisando as pernas. O responsável pelo acidente fugiu. Foi no meu momento mais desesperador que encontrei Isaac. Ele me ajudou a encontrar o autor do acidente e conseguiu os melhores médicos para o meu pai. Foi assim que ele conseguiu salvar as pernas do meu pai.

Os olhos de Patrício se tornaram profundos.

— Entendo agora por que um casamento com ele é tão doloroso. Ele realmente te ajudou.

Heloísa ficou surpresa, soltando uma risada amarga, baixando a cabeça.

— Eu não sou uma pessoa que desiste facilmente, mas...

Mas o significado que Isaac tinha para Heloísa ia além do amor. Há dois anos, quando ela o conheceu, Isaac era sua salvação, sua paz, a luz em meio à escuridão.

Nada é eterno. Sempre que alguém chega, outro se vai. O mais doloroso é quando a pessoa em quem você se abriu te fere com a maior das traições. Não fatal, mas se torna uma sombra, uma lição, uma dor que ressurge sempre que o ferimento é tocado.

A voz de Heloísa ficou embargada, e ela não conseguiu continuar. Ao olhar para baixo, perdeu o sinal de uma emoção complexa que passou pelos olhos de Patrício.

Ele lhe ofereceu um guardanapo e, com uma voz suave, disse:

— Tem quem não te ache boa o suficiente e quem te ache perfeita. Não vale a pena se entristecer por quem não merece.

Heloísa acenou vigorosamente, lutando contra as lágrimas enquanto terminava a refeição. Patrício a observava atentamente.

— Quem sabe, pode haver alguém ainda melhor esperando por você.

Heloísa sorriu, um leve sorriso que iluminou seu rosto.

— Não importa se existe ou não, mas obrigada.

Depois da refeição, quando Heloísa estava prestes a se despedir, Patrício interrompeu:

— Vou pegar um táxi de volta para a empresa. Se quiser, pode vir comigo.

Heloísa hesitou, mas não recusou:

— Então, posso-te pagar a corrida depois.

Patrício não respondeu.

Ao chegarem à empresa, Heloísa desceu do carro e transferiu trinta reais para Patrício. Dois segundos depois, o valor foi devolvido a ela, acompanhado de uma mensagem.

“Não precisa.”

Talvez temendo que Heloísa se sentisse constrangida, Patrício enviou outra mensagem:

“É normal ajudar os vizinhos.”

Heloísa guardou essa gentileza em seu coração.

À tarde, as atividades continuaram com o treinamento. Após o expediente, enquanto Heloísa organizava suas coisas para sair, recebeu uma ligação de Clara, que soava um pouco brava:

— Heloísa, volte imediatamente. Eu e seu pai precisamos conversar com você!

Heloísa já sabia que Clara não desistiria facilmente do assunto sobre o divórcio. Aproveitando a ocasião, decidiu esclarecer tudo de uma vez.

— Tudo bem, estou indo agora.

O pai dela morava em um imóvel fornecido pela antiga empresa, e ao chegar, encontrou um grupo de pessoas jogando cartas na área comum. Elas a cumprimentaram calorosamente:

— Heloísa, você voltou para ver seu pai?

Heloísa sorriu.

— Sim, estou aqui para fazer uma visita.

Subindo as escadas, ela percebeu que algumas mulheres trocaram olhares cúmplices, com expressões estranhas. Antes, quando Heloísa se casou com um homem rico, todas a admiravam. Mas agora, ao ver Clara voltar irritada, todas estavam cientes de que Heloísa tinha sido expulsa da família rica. Logo, começaram a especular que ela havia traído o marido. Afinal, quem abandonaria alguém como ela, se não fosse por isso?

A aparência de Heloísa, que não combinava com a imagem de uma mulher de caráter, alimentava os rumores, e a reputação da família Rosário parecia estar em jogo. As mulheres sussurravam e se divertiam criando histórias, obtendo uma satisfação maliciosa com isso.

Inocente ao que se passava por trás de suas costas, Heloísa subiu para seu apartamento. Assim que entrou, viu Clara empacotando duas malas, com uma expressão furiosa.

— Você voltou na hora certa! Estou-me divorciando do seu pai!

Ivo Rosário, sentado em sua cadeira de rodas, exibia um semblante abatido.

Heloísa não esperava encontrar uma situação assim ao voltar. Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, antes de perguntar suavemente:

— É por causa do meu divórcio?
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