Capítulo 5
Clara arregalou os olhos, olhando furiosa para Heloísa:

— Você está louca? A família Assis é rica, por que eles podem se divorciar sem te dar nada em troca? — Clara riu com desdém e continuou. — Seu pai gasta milhares de reais por mês em sua recuperação, e as mensalidades da escola do Martim são caras. Eu não sou tão orgulhosa quanto você; eles deveriam dar-te uma compensação! Se não, quem vai pagar essa conta é você!

Heloísa se sentiu um pouco impotente:

— Tia Clara, esse dinheiro sempre foi eu que mandei para vocês.

— Isso é diferente! Antes você tinha a família Assis para te sustentar, agora você não tem nada. Como vai conseguir nos ajudar no futuro?

Heloísa tentou explicar:

— Eu nunca pedi dinheiro para a família Assis. O que eu dei a vocês nos últimos dois anos foi das minhas economias. Eu ainda tenho um pouco guardadas e logo estarei ganhando dinheiro novamente. Garanto que continuarei a ajudar vocês.

— Você é tão ingênua! Deixe seu dinheiro para o Martim se casar, isso é mais importante! Você já se casou e por que não aproveitou o dinheiro da família dele? Você deixou que ele te usasse por dois anos sem retorno algum!

Clara empurrou Heloísa com força, como se a ação pudesse legitimar suas palavras.

Se Heloísa se atreve a se casar com uma família de um marido tão bom, não ganhará nenhum benefício!

Heloísa vacilou, percebendo que discutir com Clara era inútil. Tremendo de raiva, exclamou:

— Eu me casei e me separei de forma normal. Como posso ser considerada uma pessoa que foi usada? Eu não me vendi!

Clara parecia ignorar Heloísa, desdenhando:

— Está querendo discutir comigo? Se tiver coragem, mate seu pai! Não posso fazer nada por você! — Nesse momento, o celular de Clara tocou, e ela atendeu irritada. — Alô! Quem é?

Sem saber o que havia sido dito lá, o rosto de Clara mudou instantaneamente. Com um tom submisso, disse:

— Por favor, não fique bravo, vou aí agora mesmo para conversarmos sobre isso. — Após desligar, Clara lançou um olhar ameaçador para Heloísa. — Vou voltar para te procurar!

E saiu apressada.

Assim que Clara foi embora, Heloísa ao final conseguiu respirar aliviada.

Três anos atrás, os pais de Heloísa sofreram um acidente de carro; sua mãe morreu na hora e seu pai se feriu na perna. Um vizinho, querendo ajudar, apresentou Clara a ele.

Clara tinha um filho que já estava no ensino médio, e, no início, não via com bons olhos o pai de Heloísa por causa de sua incapacidade de trabalhar. No entanto, ao ouvir que Heloísa ia se casar com Isaac, Clara decidiu aceitar a situação.

Heloísa sempre soube que Clara estava apenas interessada em dinheiro.

Porém, com o pai necessitando de cuidados constantes e sem opções melhores, Heloísa não tinha escolha a não ser tolerar Clara.

Ela aceitou que Clara quisesse dinheiro, considerando que essa era a ajuda que deveria dar.

O que Heloísa não esperava era que Clara tentasse obter uma parte do dinheiro da família Assis. A família Assis tinha um poder enorme na Cidade B, e qualquer pessoa comum não tinha chance de os enfrentar.

“Eu já passei por tanta dificuldade nesse casamento, isso não foi o suficiente como lição?” Heloísa soltou um sorriso amargo, prestes a ir embora, quando a porta pesada se abriu de repente.

Eunice estava no alto da escada, com os braços cruzados, olhando ela com desdém:

— Já que você se divorciou do meu filho, cuide bem da sua família de malucos. A família Assis não é um lixo, não vamos permitir que qualquer um entre!

Clara havia sido imbatível antes, e Eunice não conseguiu responder a ela, preferindo se esconder. Agora, com Clara fora de cena, Eunice não tinha medo de Heloísa e decidiu se pronunciar.

Heloísa parou e olhou para Eunice, a palavra "mãe" lhe escapou dos lábios. Nos últimos dois anos, aprendeu profundamente que, se as pessoas não a respeitam, não vale a pena fazer esforços para as agradar. Mesmo que estivesse sofrendo por dentro, sua expressão permaneceu impassível.

— Desculpe, isso não acontecerá novamente. Mas, por favor, tenha cuidado com suas palavras; minha família não é composta por pessoas desequilibradas.

Sem querer prolongar a conversa, Heloísa se virou para ir embora.

— Pare aí! — Eunice desceu os degraus, observando Heloísa com frieza. — Essa é a sua atitude ao falar com um mais velho? Parece que toda a sua humildade em relação a nós era apenas uma farsa! Agora que se divorciou, você se mostra tão mal-educada!

Heloísa apertou as mãos ao lado do corpo, mas depois relaxou. O sorriso que ela esboçou era desanimado.

Heloísa riu de si mesma, se lembrando de que fora uma nora dedicada na família Assis, cuidando de Eunice quando ela precisou passar por uma cirurgia por causa de miomas. Heloísa estava ao seu lado, limpando fezes e urinando, dia e noite.

Mas, no final, o que ela ganhou? Insultos, humilhações e sarcasmo. Ninguém da família Assis nunca a respeitou de verdade.

— Em relação a você, posso dizer que agi com a minha consciência tranquila. — Heloísa olhou para baixo, sua voz calma, mas a dor dentro dela já começava a se tornar um estado de anestesia.

Nesse instante, um carro esportivo prateado parou bruscamente em frente à mansão.

Isaac desceu do carro, se aproximou furioso e perguntou friamente:

— Heloísa, você veio aqui de novo? Por que não pode simplesmente viver a sua vida?

Heloísa hesitou por um momento, querendo explicar, mas Isaac não lhe deu a chance, começando a repreender Heloísa imediatamente.

— Nos últimos dias, você tem aparecido na minha frente. Você acha que isso vai me fazer gostar de você de novo? Eu pensei que você tivesse sido tão decidida ao se divorciar, que estava fazendo isso para me ajudar a ficar com Lorena. Mas, na verdade, era sua armadilha. Sua hipocrisia me dá nojo!

A cor do rosto de Heloísa desapareceu instantaneamente. Ela o encarou, sua voz tremia de raiva, incontrolável:

— Isaac! Você acha que eu sou alguém que não pode pegar e deixar ir? Sim, eu já te amei, mas desde o momento em que saímos do Local de Registro do Casamento, eu nunca mais pensei em voltar! Com que direito você me calunia?

Lorena apareceu de repente, suspirando levemente.

— Heloísa, é normal você não conseguir deixar Isaac, ele é tão incrível. Mas de qualquer forma, você não deveria incomodar a sua mãe por causa disso.

Após dizer isso, Lorena se aproximou de Eunice com um olhar preocupado e perguntou suavemente:

— Mãe, você está bem? Vi que seu rosto está péssimo, não está tendo outra crise de pressão alta, está?

Eunice gostava muito da futura nora, ela era educada e respeitosa. Pegou a mão de Lorena e respondeu:

— Estou bem, só estou-me sentindo tonta por causa daquela mulher má. Ao te ver, meu corpo já melhorou bastante.

Lorena se sentiu culpada e disse:

— É culpa minha e de Isaac. Se tivéssemos chegado um pouco mais cedo, você não teria passado por isso.

A voz de Lorena era suave, mas suas palavras eram como facas, cravando em Heloísa e a condenando.

Isaac estava com uma expressão ainda mais sombria. Ele olhou para Heloísa, a voz gélida:

— Era isso que você queria? Deixar minha mãe doente? Você está satisfeita com isso?

Heloísa lutou para não deixar as lágrimas caírem. Estava exausta, essa sensação de impotência a desgastava.

Dois anos de casamento e incontáveis diálogos assim haviam-se passado. Sempre era desse jeito: Isaac acreditava em todo o mundo, menos nela. Todos eram mais dignos, todos mais qualificados.

“Eu apenas me apaixonei, entrei em um casamento cheio de esperanças. Como cheguei ao ponto de ficar tão desamparada?”
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