Quando Jane chegou em casa, recebeu maravilhosas notícias. Ge havia aceitado se casar com Lord Benjamin Lockhart e a sua mãe havia convidado-o para jantar logo após o pedido para celebrar a união dos dois.
Jane estava ciente de que os sentimentos de sua irmã pelo rapaz eram bastante agradáveis, tanto que estava disposta a esquecer sua própria desconfiança em relação a ele. As garotas Hartford sempre foram muito protetoras entre si, então, talvez, o problema fosse apenas esse e Lockhart não fosse nada menos que um bom homem.
Ele aparentou, de fato, ter Georgie na mais alta estima. Seu sorriso – naquele dia em particular – era sincero o suficiente para aparecer sempre que ele a encarava. Estava claro que ele estava radiante diante da resposta de sua amada.
Todas as pessoas naquele cômodo – incluindo o menino de dez anos, Charles – ficaram convencidas de que aquela seria uma união para a vida toda.
– Haverá muito amor nesta cerimônia! – celebrou Lady Hartford mais tarde enquanto afastava os lençóis.
– Certamente haverá muito dinheiro... – respondeu Lord Hartford em tom de miséria.
A esposa o fitou e ele pediu desculpa enquanto tentava não rir da expressão dela.
– Mas eu estou falando sério, – ele continuou –, o dote dela é bem... generoso! Eu realmente espero que ele seja o homem que lhe trará felicidade.
Lady Hartford suspirou.
– Oh, eu também! – ela suplicou. – Eu tenho de admitir que não pensava que ele fosse adequado para ela antes, mas eu não me importaria de estar errada sobre isso.
Ele sorriu ao deitar-se na cama.
– Eu adoraria que tu estivesses errada de vez em quando também. É cansativo estar errado o tempo todo... – ele disse em um tom de divertimento que raramente usava.
Georgiana revirou os olhos, mas, na verdade, ela amava quando ele falava daquela maneira, então ele viu um discreto sorriso aparecer no canto dos lábios dela apesar do gesto.
Enquanto Lord e Lady Hartford discutiam no seu quarto sobre quem estivera errado sobre o quê (ela nunca achava que estava), Jane pegou um castiçal e atravessou o corredor silenciosamente para bater na porta da irmã.
– Ainda estás acordada? – perguntou a mais nova.
– Como poderia estar dormindo depois dos acontecimentos de hoje? – respondeu Ge após convidar Jane para entrar com um gesto.
Jane se sentou ao seu lado na cama e as duas se encararam com um sorriso sutil por um momento.
– Estás feliz? – ela perguntou embora a expressão de Georgie já deixasse a resposta óbvia.
– Estou! – confirmou e seus olhos brilharam por um segundo. – Até o momento em que ele se ajoelhou, eu ainda não tinha certeza de que ele iria pedir a minha mão. Ah, Jane, sinto-me tão sortuda! Na última vez em que o vi antes do pedido, pensei que jamais conheceria outro homem por quem tivesse sentimentos tão profundos e então ele veio hoje e disse-me que sente exatamente o mesmo!
– Que coincidência...!
– Coincidência, não; destino, Jane.
Ela ponderou sobre o assunto por um tempo. Georgie havia, de fato, dito a ela que estava prestes a desistir de esperar por Lockhart anteriormente; ela não esperava que a vida fosse tão gentil como fora naquela tarde, trazendo o seu amado com palavras tão cativantes, embora ele não houvesse sido muito encorajador antes.
– Mas estavas prestes a seguir em frente antes dele propor – disse Jane. – Como podes ter certeza de que este é realmente teu destino? Talvez pudesses ter encontrado outro homem para amar, certo? Talvez pudesses ter tido sentimentos profundos por outra pessoa também...?
Ge sorriu.
– Acho bem improvável – ela suspirou. – Isso... o que sinto... não creio que aconteça mais de uma vez na vida, Jane. É algo especial, eu sei disso porque eu sinto isso e tu também sentirás um dia.
– Então, quando acontecer... – perguntou a mais nova – eu simplesmente... saberei?
Ge assentiu.
– Porque... – continuou Jane – eu saberei exatamente como me sinto?
A irmã assentiu mais uma vez.
– Ah, que ótimo! Então, estou condenada à solidão!
Georgie riu e segurou as mãos de Jane.
– Não sejas tão dramática! – disse entre risadas.
– Mas é verdade! – protestou Jane. – Eu já tive alguns pretendentes antes e eu não tinha ideia de como realmente me sentia em relação a nenhum deles. No fim, eles simplesmente se cansavam de esperar pela minha indecisão...
A mais velha sorriu para ela enquanto passava uma mão em seu cabelo para acalmá-la.
– Se demoraste tanto e se eles não puderam esperar por ti é porque nenhum deles era adequado para ti no fim das contas – declarou Ge. – Eu disse que não esperaria mais por Lord Lockhart, mas meu coração jamais concordou com isto. Tu és jovem, Jane; não tentes apressar o tempo ou ele a deixará para trás.
A irmã mais nova sorriu tristonha.
– Estou tão feliz por ti, mas isto não ameniza a dor que a ideia de morarmos tão distantes uma da outra traz ao meu coração. Não desejo prendê-la, mas ficarei absolutamente perdida sem ti, Ge!
Georgie a abraçou com força.
– Tu és muito mais forte do que pensas, minha querida irmã! – disse ela com firmeza. – Mas, de qualquer forma, onde quer que esteja meu lar, o teu também estará.
Jane não pôde evitar pensar no quão sortuda era por ter uma irmã que era também sua melhor amiga. Não eram muitas as jovens que tinham o prazer de poder dizer isto.
– Agora, – disse Ge puxando os lençóis para dar espaço suficiente para Jane se deitar –, creio que já adiamos demais nosso sono de beleza. Vem cá.
Jane sorriu ao ver a irmã levantar o lençol como um convite.
Assim que ela se deitou, foi imediatamente abraçada por Ge, exatamente como quando tinha um pesadelo na infância.
As duas ficaram deitadas ali, quietinhas, até o sono chegar. Simplesmente aproveitaram, em absoluto silêncio, a certeza de que a distância jamais destruiria o vínculo que tinham.
Jane presenciou muitos jantares na casa do sr. Bentley nos seis meses que se seguiram ao pedido de noivado de Georgie, bem como o rapaz que ela conheceu na outra noite, mas, por mera coincidência, ela nunca estava lá quando ele estava e vice-versa. Felizmente, isso não fez muita falta à Jane. Ela até o procurou algumas vezes, mas encontrar um homem com quem podia discordar não era grande desafio para ela, afinal – ainda que a discussão raramente fosse tão interessante quanto a que tivera com o sr. Hawkins. – De vez em quando, ela encontrava alguém que a distraísse e, em um dia em particular, ficou entretida o suficiente para não escutar o que o sr. Bentley dizia a um homem baixinho próximo a ela. –Metade de seus funcionários?–perguntou o sr. Bentley estupefato.–Em apenas cinco meses? –Sim!–confirmou o homem enquanto mexia no bigode.–Desde que essa porcaria de guerra começou, todos esses jovenzinhos e
Havia precisamente dois anos desde que a Guerra fora declarada. O país estava como um caldeirão fervente prestes a desmoronar e Jane Hartford, agora com 19 anos, passara todo este tempo trabalhando entre pessoas que não tinham vergonha alguma de condenar o rei e reclamar dos impostos, da fome e da falta de um propósito real por trás daquela Guerra. Protestos explodiam por todo o país, centenas de livros eram publicados e, todos os dias, um homem famoso e irritado mandava outro homem famoso e irritado calar a boca pelos jornais. Todos estavam resistindo e dizendo algo sobre a situação, então Jane decidiu que já estava mais do que na hora de fazer o mesmo. Já que ela sempre pensara que suas palavras soavam melhor escritas do que faladas, ela estava convencida de que escrever um livro era a maneira mais esperta de fazer isto – sem contar, é claro, que seu pai teria um ataque cardíaco se ela começasse a discursar em banquetes, ou pior, protestos de rua. Tal ideia deveria
–Estou infeliz com a situação dela, minha senhora–disse Lord Hartford.–Eu penso, sim, que Lockhart é um covarde por tratar nossa amável filha assim, mas... –Mas o quê?–sua esposa interrompeu com olhos flamejantes.–Não acabamos de ouvir a mesma conversa? Jane disse que tua filha mais velha está tão descontente que mal consegue fingir um sorriso ou se concentrar em qualquer coisa por muito tempo. Ele a observou, atônito. A respiração dela estava pesada; os olhos estavam vermelhos e arregalados; seus pés tocavam no chão tão ruidosamente quanto podiam quando ela dava voltas no cômodo. Ele nunca a vira tão alterada. –És o pai dela!–Lady Hartford continuou.–O mínimo que deverias fazer é ficar ao lado dela. –Georgiana, meu amor,–ele andou em sua direção e pôs uma mão em suas costas–, eu sempre estou ao lado dela. Eu jamais disse que ele está cert
"Onovogoverno é, em conclusão, apenas uma nova forma de deixar as coisasantigas," Edmund leu em voz alta para seus amigos da turma de direito. Ele suspirou. –Eu disse que esse tal de Hartford era bom!–disse um rapaz magricela sentado ao lado dele. –Peter,–respondeu Edmund–, estás sendo injusto em classificá-lo como bom. O homem é um gênio! Estou até pensando em citá-lo na minha próxima redação... Peter rapidamente arrancou o jornal de suas mãos. –Não te atrevas! Nem sequer terias ouvido falar dele se não fosse por mim. As frases eloquentes dele vão garantir asminhasboas notas. Edmund deu de ombros. –Não é como se eu precisasse mesmo... Os rapazes reviraram os olhos e o pequeno Peter tentou dar um soco no braço de Edmund, o que só causou uma risada de todo o grupo. –Juro por Deus, Hawkins,–&n
Havia apenas uma coisa sobre a qual as pessoas falaram por semanas: um terrível artigo no Jornal do Amanhã com histórias escandalosas sobre mulheres sendo maltratadas das maneiras mais angustiantes pelos seus maridos e um ataque direto à posição de consentimento do governo. Algumas pessoas argumentavam que as histórias não eram reais, mas simplesmente o resultado da mente degenerada de um homem velho chamado Jude Hartford e isto fazia sentido porque outros afirmavam que conheciam o autor em pessoa e que ele era um senil que nunca tivera controle sobre a esposa e, portanto, escrevia aquelas loucuras para se sentir bem consigo mesmo. Embora as histórias fossem anônimas, o que sugeria que eram, de fato, inventadas, algumas pessoas começaram a encontrar traços semelhantes às vidas dos vizinhos e os rumores se espalharam o suficiente para que não tivessem mais tanta certeza de que haviam sido inventadas afinal. O impacto que o artigo de Jude teve foi tão grande qu
Thomas Harvey era o tipo de homem que tinha um bom faro para os negócios e ele acreditava de verdade no sucesso de Jude Hartford, mas nem ele poderia ter previsto o quão bem-sucedidas as vendas seriam. Peter conseguiu comprar uma cópia de "Onde Acaba a Liberdade e Começa a Lei" antes que elas esgotassem e compartilhou-a com Ed e o resto do grupo assim que acabou de ler. Até um professor deles foi visto levando uma cópia na mão pelo campus. O livro se tornou tão popular que alguns revolucionários começaram a mencioná-lo em seus discursos e o coração de Jane derretia todas as vezes que ela os ouvia na casa do sr. Bentley. Ela dava seu melhor para não levantar suspeitas, especialmente porque o governo estava investigando muitos colunistas que discordavam de suas decisões, mas ela não podia evitar olhar de relance para Ge agora que ela estava acompanhando-a aos jantares. Havia sempre esse íntimo segundo entre as duas em que elas aproveitavam a ideia de que ambas sabiam a
Lord Hartford parou de ler seu jornal apenas para olhar Georgie comendo seu café-da-manhã calmamente, então voltou para sua leitura. Gostasse ou não, ela era uma mulher casada e isso significava que, diferentemente dele, de Jane e de Charles, ela podia tomar o café na cama; mas ela nãoqueriase comportar como uma mulher casada e, embora ele não dissesse nada a respeito, isso o incomodava mais do que qualquer um podia imaginar. –Para com isso!–reclamou Jane empurrando as mãos de Charles para longe de seu prato. O menino estivera roubando a comida dela a manhã inteira. Ela fitou John e perguntou: –Papai, vais dizer algo? Ele permaneceu focado no jornal, mas respondeu em um tom ensaiado: –Charles, para de chutar tua irmã. O garoto sorriu maliciosamente. Estava tão convencido da falta de atenção do pai que nem se deu o trabalho de dizer a ele que não chutara a irmã sequer uma vez na
–Adivinha!–falou Peter. Edmund, tranquilamente sentado na grama, desviou os olhos do livro e franziu o cenho para observar o amigo bloqueando a luz do sol. –Finalmentetomaste coragem e pediste a srta. Bentley em casamento! Peter bufou. –Para de me pressionar, sabes que quero ter certeza de seus sentimentos antes de pedir... –Ainda? O que mais ela pode fazer? Escrever "Eu amo Peter Langley" na testa? Peter revirou os olhos. –Chega, não? –Diz logo o que é tão importante a ponto de interromper minha leitura. Peter observou-o pôr o livro de lado e então falou: –Já leste os jornais hoje? Edmund respondeu que não e Peter começou a ler o jornal que levara consigo: –Jude Hartford, o autor que, ultimamente, desrespeitou todos os valores morais possíveis e a própria instituição sagrada da família,–ele parou para revirar o